Uso das formas bourriaud

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UóSsO – DpAr So FdOuRçMãAoS

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como a arte reprograma o mundo contemporâneo Outubro de 2013

Edição Especial NICOLAS BOURRIAUD

Os anos 1980 e o nascimento da cultura DJ: para um comunismo das formas A forma como enredo: um modo de utilização do mundo Rirkrit Tiravanija Pierre Huyghe Dominique Gonzalez-Foerster Liam Gillick Maurizio Cattelan Bertrand Lavier. Walt Disney Productions, 1947 – 1995. Obras imaginárias de uma história em quadrinhos que se tornam pintura e escultura

Pierre Joseph. Little Democracy


Revista Digital: Uso das formas Hipertexto Porto Alegre - RS Edição: outubro de 2013

A numeração das páginas indicadas no texto referem-se ao: Pós-produção: como a arte reprograma o mundo contemporâneo / Nicolas Bourriaud. Tradução: Denise Bottmann - São Paulo: Martins, 2009.


| sumário | 04

Introdução |Elisete|

05

Sobre o autor

06

Apropriação

08

Os anos 1980 e o nascimento da cultura DJ: para um comunismo das formas

11

Internacional situacionista

15

O usuário das formas

32

A forma como enredo: um modo de utilização do mundo (Quando os enredos se tornam formas) |Juliana|

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Rirkrit Tiravanija

40

Pierre Huyghe

46

Dominique Gonzalez-Foerster

48

Liam Gillick |Sandra|

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Maurizio Cattelan

60

Pierre Joseph. Little Democracy

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Glossário: Conceitos


|introdução| María Acaso - Considera que uma das necessidades mais urgentes que temos como professores(as) de arte é que os estudantes com quem compartilhamos a experiência de aprendizagem, entrem em contato com as práticas artísticas emergentes, aquelas realizadas em paralelo às nossas vidas e, portanto, compartilhar muitas das características de nossas experiências contemporâneas. E um dos conceitos relacionados a este assunto é o de pós-produzir, "aprender a usar as formas... é, em primeiro lugar, saber tomar posse delas e habitá-las.” (p. 14). Essa obsessão há tempo está contagiando algumas pessoas através do que denomina TIFS - o Talleres Inesperados en Familia (Inesperadas Oficinas Familiares) microprojetos de arte contemporânea que tenta reunir as três características da educação artística contemporânea: conhecimento, criatividade e processo. Assim a qualquer hora, em qualquer lugar, sem ter que ir comprar materiais... para pós – produzir, tal como recomenta Bourriaud.

“Para eles (os artistas contemporâneos) não se trata de elaborar uma forma a partir de um material bruto, e sim de trabalhar com objetos atuais em circulação no mercado cultural, isto é, que já possuem uma forma dada por outrem. Assim, as noções de originalidade (estar na origem de...) e mesmo de criação (fazer a partir do nada) esfumam-se nessa nova paisagem cultural, marcada pelas figuras gêmeas do DJ e do programador, cujas tarefas constituem em selecionar os objetos culturais e inserí-los em contextos definidos." (p. 8)

A pergunta artística não é mais: "o que fazer de novidade?", e sim: "o que fazer com isso?" (p. 13)


|sobre o autor|

Nicolas Bourriaud, 47 anos, é curador, ensaísta, crítico de arte, foi diretor de instituição de arte (Palais de Tokyo, Paris, 1999-2006), criou e dirigiu revistas especializadas e hoje é diretor da Escola de Belas Artes de Paris. É autor de ensaios que rapidamente ganharam a dimensão de teorias de arte e atingiram notoriedade mundial, sendo traduzidos para 15 línguas. Seu primeiro trabalho, Livro Pós-produção: como a arte reprograma o mundo contemporâneo / Nicolas Bourriaud. Tradução Denise Bottmann - São Paulo: Martins, 2009.

Estética Relacional (1998), teoriza as práticas artísticas que eclodiram no fim dos anos 1990.


|apropriação| A apropriação é a primeira fase da pós-podução, não se trata mais de fabricar um objeto, mas de escolher entre os objetos existentes e utilizar ou modificar o item escolhido segundo uma intenção específica. (p. 22)

Duchamp define o termo criar: é inserir um objeto num novo enredo, considerá-lo como um personagem numa narrativa. p.22

Why Not Sneeze Rose Sélavy? 1921-1964. 152 cubos de mármore, termômetro e um cuttlefishbone em uma gaiola de 12,4 x 22,2 x 16,2 cm

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Nelson Leiner. XequeMate, 2008/2012 Técnica mista, 53x53cm

“Um item antes utilizado de acordo com o conceito com que fora produzido encontra novas possibilidades de uso...” (p. 27)

Nelson Leiner. Futebol, 2000. Técnica mista, 123x83x22cm

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| os anos 1980 e o nascimento da cultura DJ: para um comunismo das formas | |

A paisagem cultural dos anos 1990 (democratização da Rave: mais excitante que o concerto

Remixador: mais importante que o instrumentista

Clive Campbell ou Kool Herc e DJ Kool Herc, é um DJ jamaicano

informática e o surgimento do sampleamento) tem as figuras emblemáticas: DJs e programadores. A arte contemporânea tende a abolir a propriedade das formas. Supremacia das culturas da apropriação e do novo tratamento dados às formas gera uma moral: as obras pertencem a todos. Seria o Comunismo das formas? (p. 35-36) O estilo de um DJ revela-se em sua capacidade de habitar uma rede aberta e na lógica que organiza as ligações entre os trechos que ele junta. (p. 40)

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DJ Mark the 45 King

DJ Mark the 45 King: “Eu não roubo a música toda deles, uso a pista de bateria, uso esse pequeno bip do fulano, uso a linha do teu baixo, já que você não está mais interessado mesmo”. (p. 40)

O DJ lida com discos. Mostra seu itinerário pessoal no universo musical, cuida tanto do encadeamento quanto da construção de um ambiente, e ele pode reagir aos movimentos da multidão dançante. Também pode agir fisicamente sobre o objeto utilizando o scratching, ou um repertório de ações de mixagem, acréscimos sonoros, etc. O set do DJ assemelha-se a uma exposição de objetos como um "redymade aided, mais ou menos “modificados”... (p. 39-40)

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Segundo o músico japonês Ken Ishit: “Agora cada um pode compor músicas ao infinito. Músicas que se dividem cada vez mais em diferentes gêneros, conforme a personalidade de cada um. O mundo inteiro ficará repleto de músicas diferentes, pessoais, que sempre irão inspirar outras mais.” (p. 39)

K-pop. Psy As recentes tendências musicais banalizaram o desvio, as obras de arte já não são consideradas obstáculos, e sim materiais de construção. Qualquer DJ hoje trabalha a partir de princípios herdados da história das vanguardas artísticas: redy-mades, desvio, desmaterialização da atividade. (p. 38-39)

É possível produzir uma obra musical sem saber tocar uma única nota, utilizando os discos existentes [...] O trabalho de um DJ consiste na concepção de um encadeamento em que as obras deslizam umas sobre as outras, representando ao mesmo tempo um produto, um instrumento e um suporte. (p.41)

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|internacional situacionismo| Com a Internacional situacionista surge uma nova noção – o desvio artístico – ready-made recíproco de Duchamp. A Intenacional situacionista preconiza

Manifesto Internacional

o desvio das obras

Situacionista, publicado em

existentes para

1960

"devolver paixão à vida

O grupo se define como uma

cotidiana", privilegiando

"vanguarda artística e política",

a construção de

apoiada em teorias críticas à

situações vividas em

sociedade de consumo e à

vez da fabricação de

cultura mercantilizada. A idéia

obras que ratificam a

de "situacionismo", segundo

divisão entre atores e

eles, se relaciona à crença de

espectadores da

que os indivíduos devem

existência. (p. 36-37)

construir as situações de sua vida no cotidiano, cada um explorando seu potencial de modo a romper com a alienação reinante e obter prazer próprio.

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Livro A Sociedade do espetáculo , inclui acréscimos de 1979 e de 1988 — autor comenta sua própria obra.

Filme Sociedade do espetáculo, Guy Debord 1973. Baseado no livro publicado em 1967.

Principais criadores da teoria do desvio: Guy Debord / Asger Jorn / Gil Wolman O desvio situacionista não é uma

Em A sociedade do espetáculo,

opção dentro de um leque de

Debord especifica que o desvio

técnicas artísticas, mas consiste

“não é uma negação do estilo,

no único modo possível de

mas o estilo da negação”.

utilização da arte – que representa apenas um obstáculo à realização do projeto vanguardista. Asger John afirma que todas as obras do passado devem ser “reinvestidas” ou

O desvio de obras preexistentes é comum hoje, mas os artistas recorrrem a ele não para “desvalorizar a obra de arte”, e sim para utilizá-la. (p. 38)

desaparecer. Logo, não pode existir uma “arte situacionista”, mas apenas um uso situacionista da arte, que passa por sua depreciação. (p. 37-38)

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The Naked City,

• situacionista - Aquilo que se relaciona com a teoria ou a atividade prática duma construção das situações. O indivíduo que constrói situações. Membro da Internacional Situacionista. • psicogeografia - Estudo dos efeitos exatos do meio geográfico, conscientemente ordenado ou não, que age diretamente sobre o comportamento afetivo dos indivíduos. O mapa psicogeografia mais famoso é de Debord Guia Pychogéographique de Paris.

illustration de l’hypothèse des plaques tournantes, assinado por Debord em 1957

DEFINIÇÕES

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• desvio - Empregase como abreviação da seguinte fórmula: desvio de elementos estéticos préfabricados. Integração de produções artísticas atuais ou antigas numa construção superior do meio ambiente. Neste sentido, é impossível existir uma pintura ou uma música situacionista; o que pode ocorrer é uma utilização situacionista destes. • deriva – Modo de comportamento experimental ligado às condições da sociedade urbana: técnica da passagem brusca através de ambientes variados. Emprega-se também, mais particularmente, para designar a duração dum exercício continuo desta experiência. Jorge Macchi - obra Buenos Aires Tour

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| o usuário das formas |

♪Mike Kelley – desconstrói as figuras

[...] agora todo artista se move numa rede de formas contíguas que se encaixam ao infinito. [...] E a

para confrontá-las com as práticas da cultura popular. (p. 48) ♫Bertrand Lavier –

qualidade de uma obra depende da

mostra como as

trajetória que descreve na paisagem

próprias categorias

cultural. É instaurada uma rotatividade do produto, este pode servir para fazer

artísticas (a pintura, a escultura, a arquitetura, a fotografia) tratadas ironicamente como

uma obra, a obra pode voltar a ser um

fatos inegáveis,

objeto. O produtor é simples emissor

produzem formas que

para o produto seguinte. (p. 41-42)

constituem sua crítica mais aguda. (p. 48)

Podemos pensar que essas

♦John Armleder –

estratégias de reativação e de

um dos primeiros a

deejaying (discotecagem) das formas

entender a urgência

visuais representam uma reação

de substituir a noção moderna de novidade

diante da superprodução, da inflação

por um conceito mais

de imagens. (p. 48)

operacional. (p. 45)

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Mike Kelley – O trabalho de Kelley opera por curtos-circuitos entre esses dois focos: o enquadramento cerrado da cultura de museu mesclando-se com a vagueza indistinta que cerca a cultura pop. (p. 44) 1954-2012

Os Garbage Drawings – 1988 Os desenhos partem da representação do lixo nas histórias em quadrinhos.

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A obra “Test room containing multiple stimuli know to elicit curiosity and manipulatory responses” (1999). faz uma verdadeira arqueologia da cultura modernista ao organizar a confluência de fonte iconográficas no mínimo heterogêneas: as cenografias de Noguchi para os balés de Martha Graham, certas experiências científicas sobre as reações de crianças à violência na TV, as experiências de Harlow sobre a vida afetiva dos macacos, a performance, o vídeo e a escultura minimalista. (p. 42).

TEST ROOM - 1999, 51:18

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Mike Kelley - Framed and Frame. 1999 - Miniature Reproduction "Chinatown Well"

Kelley reconstrói e decompõe o “Poço dos desejos” de Chinatown, mesclando estéticas heterogêneas: o kitsch sino-americano, a estatuária budista e cristã, o spray de tinta dos grafiteiros, as esculturas de Max Ernest e a arte informal. A obra transmite as formas que serve para representar o amorfo, figurar a confusão visual, a instabilidade das culturas que se entrechocam, representando a experiência cotidiana do morador das cidades do começo do século XXI. (p. 43)

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Obras

O aplique (a superposição das imagens) aparece como a figura principal da cultura contemporânea: inscrustações da iconografia popular no sistema da grande arte, descontextualização do objeto em série, transferência das obras do repertório consagrado para contextos triviais.(p. 44)

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Bertrand Lavier (1949). “A arte deve se ocupar do real, mas ela questiona toda e qualquer concepção do real. Ela sempre transforma a realidade numa fachada, numa representação, numa construção. Mas ela também indaga os motivos dessa construção.” (p.44-45) (Bertrand Lavier, depuis 1969. Centre Pompidou. Exposição 2012.)

Série Walt Disney Productions Os quadros e esculturas que formam o pano de fundo de uma Aventura de Mickey no Museu de Arte Moderna, publicada em 1947, se transformam em obras reais. Ao recortar formas culturais ou sociais (histórias em quadrinhos, etc.) e aplicá-las num outro contexto, ) Kelley utiliza as formas enquanto ferramentas cognitivas, libertadas de seu condicionamento original.

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Lavier explora o limite da arte e o cotidiano, em seus trabalhos são as categorias, os gêneros e os modos de representação que geram as formas, e não o inverso.

"Gaveau" (1981)

piano recouvert de peinture acrylique A ideia de “pintar um piano” resulta num piano expressionista, recoberto de uma camada de pintura expressionista.

Zenit (1983)

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Vitrine – Rue de Sévigné – 2005

A visão da vitrine de loja pintada com branco-deespanha gera uma pintura abstrata

Lavier toma como material as categorias estabelecidas que delimitam nossa percepção da cultura. (p.48)

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John Armleder (1948) - Poderia ser considerado o protótipo do artista pós-moderno, por ter sido um dos primeiros a entender a urgência de substituir a noção moderna de novidade por um conceito mais operacional. (p. 45)

Escultura Móveis (1986) Cadeira, duas mesas finais e duas pinturas – 200x268x130cm

Armleder também manipula fontes heterogêneas: objetos em série, indicadores estilísticos, obras de arte, móveis, etc. Adquire objetos e os dispõe de certa maneira.

O artista atribui um valor positivo ao remake, de articular usos, relacionar formas, em lugar da heróica busca do inédito e do sublime que caracterizou o modernismo. (p. 45)

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Para Armleder, toda a arte moderna constitui um gênero fechado com que se pode brincar, tal como John Woo, Quentin Tarantino gostam de manipular as convenções do filme noir. (p. 46)

Untitled (1986) Salpicos de tinta à Larry Poons nos lados de uma guitarra elétrica

Seus trabalhos mostram um uso defasado das formas, segundo um princípio de apresentação que privilegia as tensões entre elementos triviais e outros considerados sérios... (p. 46)

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O trabalho volta-se para um uso mais explícito das subculturas Globos Espelhados

"Sem título", 2001, por John M. Armleder . 10 vidros espelhados de fibra de vidro em bolas de discoteca.

Quando superpõe uma poltrona e uma geladeira, está enxertanto objetos num questionamento lúdico da categoria "escultura".

Bransdt sur Rue de Passy A Conversation with John Armleder

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Se a proliferação caótica da produção levava os artistas conceituais à desmaterialização da obra de arte, hoje ela desperta nos artistas da pós-produção estratégias de mixagem e de combinações de produtos. A superprodução não é mais vivida como um problema, e sim como um ecossistema cultural. (p. 48)

O mundo já está saturado de objetos não quero produzir ainda mais. – Douglas Huebler, anos 1960. (p. 48)

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Obras expostas na 9ª Bienal do Mercosul - 2013

Projeto What are you doing here? (O que você está fazendo aqui?) – Cao Fei

Tania Pérez Córdova Coisas em pausa, 2013


preenchida pela inspiração do criador,

Vista como "pós-produção", a obra de arte

não é mais uma página em branco

mas vem de reciclar o já existente. Bourriaud


|a forma como enredo: um modo de utilização do mundo| (Quando os enredos se tornam formas)

Na pós-produção os artistas inventam novos usos para as obras: formas sonoras ou visuais do passado em suas próprias construções, um novo recorte das narrativas históricas e ideológicas, inserem elementos em enredos alternativos. Toda a sociedade está inserida em narrativas e enredos imateriais, as formas que nos cercam são as materializações desses enredos. (p. 49)

A obra de arte representa o lugar de uma negociação entre realidade e ficção, narrativa e comentário. (p. 51)

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RIRKRIT TIRAVANIJA (Buenos Aires, 1961. Pai diplomata tailandês) Trabalha e explora as relações sociais e o artista. Seu trabalho emerge desde uma expressão referida à estética relacional, termo que fora inventado pelo crítico francês Nicolas Bourriaud, ou é possível situar os seus gêneros no que é chamado de arte social.

Quem visita uma exposição de Rirkrit Tiravanija Untitled (One Revolution per Minute) - tem dificuldade em distinguir a fronteira entre a produção do artista e sua própria produção. Untitled, 1996

(p. 51)

Propõe ao público de suas exposições modelos de narrativas possíveis cujas formas mesclam a arte e a vida cotidiana. (p. 55)

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“[...] A obra que consiste essencialmente no consumo de um prato, e por meio da qual o visitante, tal

Untitled, 2002

como o artista, são levados a executar gestos cotidianos, onde termina a cozinha e onde começa a arte? [...]” (p.51)

Untitled, 2002 (the raw and the cooked)

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Vídeo

O sentido da exposição constitui-se conforme ela é usada pelas pessoas que comparecem, como uma receita culinária só tem sentido quando é executada por alguém e depois apreciada pelos convidados. Tiravanija é alternadamente ativo e passivo, incitando os atores a adotar uma atitude específica, para depois deixar que improvisem. Produz modos de socialidade em parte imprevisíveis, uma estética relacional que tem na mobilidade sua primeira característica. (p.52)

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Sem título 1992/1995 (free / still). Exposição no Moma

A obra fornece uma trama narrativa, uma estrutura a partir da qual se forma uma realidade plástica, espaços destinados à realização de funções cotidianas (ouvir música, comer, descansar, ler, discutir). O visitante da exposição é colocado diante do processo de constituição do sentido de sua própria vida, por meio do processo paralelo de constituição do sentido da obra. (p. 52) A precariedade ocupa o centro do universo formal das obras, nada é duradouro, tudo é movimento, o trajeto entre dois pontos é mais importante do que o próprio ponto, e os encontros são mais privilegiados do que os indivíduos postos em contato. Associar as noções de comunidade e efêmero opõe-se à ideia de uma identidiade indissolúvel ou permanente. (p.54)

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O verdadeiro tema de sua obra é o nomadismo. Por meio da problemática da viagem se consegue enxergar seu universo formal. (p. 53)

Sri | Jieb | Jeaw | Moo | Jiew | Rirkrit

Sem título – 1998 viagem de Los Angeles ao local da exposição, na Filadélfia, com cinco estudantes da universidade de Chiang Mai.

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Palm Pavilion Uma adaptação da famosa Maison Tropicale (1951), do arquiteto francês Jean Prouvé (19011984)

Palm Pavilion, 2006-2008. Inhotim – Brumadinho MG.

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Soup / No Soup - 7 de abril 2012, a partir do meio-dia à meia-noite - acesso livre. La Trienale. Grand Palais, Paris

A arte de Tiravanija sempre mantém uma relação com a oferta ou a abertura de um espaço. Ele nos oferece as formas de seu passado, seus instrumentos, e transforma os locais de suas exposições, em áreas abertas a todos. (p. 54) Suas obras são acessórios e os cenários de um enredo planetário, de um roteiro in progress cujo tema seria como habitar o mundo sem residir em lugar algum? (p. 55)

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Pierre Huyghe (1962 em Paris, França). Cria cenários que exploram as fronteiras da ficção e realidade. Seu trabalho varia de teatros de fantoches para os pequenos desfiles da cidade e parques de diversões do modelo. Muitas vezes filmando cenários recriados, ele tenta usar o poder do cinema para re-imaginar a memória.

“Pierre Huyghe organiza seu trabalho como uma crítica às narrativasmodelos que nos são propostas pela sociedade” (p.55) O mundo descrito pelo artista é sustentado por estruturas narrativas mais ou menos opressoras que têm na sitcom apenas uma versão mais branda; a função da prática artística é acionar esssas estruturas para revelar sua lógica coercitiva, antes de recolocá-las à disposição de um público capaz de se reapropriar delas. Teoria próxima de Michael Foucault sobre a organização do poder: uma "micropolítica" reprodruz, de cima para baixo da escala social, ficções ideológicas que prescrevem modos de vida e organizam tacitamente o sistema de dominação. (p. 56)

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Chantier Barbès-Rochechouart (1994)

Fotografa operários no trabalho, e depois expõe essa imagem durante todo o período de construção num outdoor urbano acima do canteiro de obras, está propondo uma imagem do trabalho em tempo real: nunca se documenta a atividade de um grupo de operários num canteiro de obras urbano,e na obra a representação vem duplicá-la, como um documentário ao vivo. (p.56-57)

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Bar du peuple, Marselha (1994)

Club (2003)

Rue Longvic, Dijon (1995)

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A representação indireta, no trabalho de Huyghe é o ponto central da falsificação social: ele quer devolver a palavra aos indivíduos, ao mesmo tempo mostrando o trabalho invisível de dublagem em curso. Dubbing - vídeo que mostra atores sincronizando a dublagem de um filme em francês, contribui para mostrar o processo geral de espoliação: o timbre da voz reapresenta e manifesta a singularidade de uma palavra que é minimizada ou apagada pelos imperativos da comunicação globalizada.

Filme sobre Lucie Dolène (Blanche Neige Lucie, 1997) uma cantora francesa cuja voz foi utilizada pelos estúdios Walt Disney para dublagem do filme Branca de Neve: ela pretende reivindicar os direitos sobre sua voz. (p. 57)

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Alfred Hitchcock, "Janela Indiscreta" (1954)

Pierre Huyghe, 'Remake' (1995)

Remake – 1995, é um vídeo filmado num imóvel parisiense que retoma, cena por cena, a ação e os diálogos do fime Janela indiscreta, de Alfred Hitcock, reinterpretado por jovens atores franceses no cenário de um bairro popular de Paris. O remake afirma a ideia de uma produção de modelos remontáveis ao infinito, de sinopses disponíveis para a ação cotidiana.

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A reversibilidade do real (2006) - Por Nicolas Bourriaud - Tate Gallery Centro Cultural Maria Antônia – São Paulo - SP Centre Pompidou – obra do acervo

Por que não usar a arte para olhar o mundo, em vez de manter o olhar preso às formas que ela põe em cena? (p. 61) Gallery Schipper: diversas obras do artista.

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Dominique Gonzalez-Foerster (França. 1965) Explora a esfera doméstica relacionando-a com as problemáticas sociais mais candentes: mas o fato é que ela trabalha mais na textura do que na composição da imagem (p.61)

Diante de uma peça de Gonzalez-Foerster, cabe ao espectador a tarefa de fazer a mistura sensível, tal como sua retina tem de fazer a mistura poética perante os pontilhados de Seurat. (p. 61)

Curta-metragem Riyo (1998), o espectador precisa inclusive imaginar os traços dos protagonistas, cuja discussão pelo telefone segue um travelling ao longo do rio que atravessa Quioto, e os rostos nunca aparecem. As fachadas dos imóveis filmados num plano contínuo nos dão o quadro da ação, como se a esfera da intimidade, em toda a sua obra, se projetasse literalmente em objetos comuns e quartos, imagens-lembrança e plantas de casas. Ela não se limita a mostrar o indivído contemporâneo se debatendo com suas obsessões íntimas; ela apresenta as estruturas complexas do cinema mental com que esse indivíduo dá forma à sua experiência: é o que chama de automontagem, que parte da constatação de uma evolução de nosss modos de vida. (p.61-62)

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Desert Park - 2010. A composição da obra compila variados tipos de ponto de ônibus em uma grande área de areia branca. O ambiente quase lunar ajuda a compor uma paisagem de um certo modernismo, presente na arquitetura dos pontos, típico das áreas urbanas brasileiras. A artista conta sobre o processo de construção da obra Desert Park

O universo de Dominique Gonzalez-Foerster caracteriza-se por esse lado vago, ao mesmo tempo íntimo e impessoal, austero e livre, que forma os contornos de todas as narrativas da vida cotidiana. (p. 64). Gallery Schipper: diversas obras da artista.

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Lian Gillick (1964, Londres). Os trabalhos de Liam Gillick questionam a fronteira entre ficção e informação, redistribuídas a partir de um conceito de enredo do ponto de vista social. (p. 50)

Installation. Bonn, 2010

O trabalho apresenta-se como um conjunto de estratos de informações (arquivos, cenas, cartazes, paineis, livros), essas obras poderiam constituir o cenário de um filme ou a redação de um roteiro [...] a narrativa em que consiste sua obra circula por entre e ao redor dos elementos expostos, sem que estes de limitem a ilustrá-la. Mas cada um desses objetos funciona como um roteiro esquemático, com indicadores provenientes de campos paralelos do saber (arte, indústria, urbanismo, política...). (p. 64)

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As exposições de Gillick supõem a participação do público, mas sem ostentação sua obra é composta por mesas de negociação, estranhas plataformas de discussão, cenas vazias, painéis de cartazes, pranchetas, tela, salas de informação: estruturas coletivas, abertas - como as ágoras concebidas pelos urbanistas dos anos 1970. (p. 65)

Platform Bench Discussão, 2010

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Se as formas expostas por Gillick parecem se confundir com o cenário da alienação cotidiana, os títulos e as narrativas a que remetem evocam incertezas, engajamentos possíveis, decisões a tomar. Suas formas sempre parecem em suspenso; elas preservam a ambiguidade entre o "acabado" e o "inacabado". (p. 66)

A kitchen cat speaks (How Are You Going to Behave? A Kitchen Cat Speaks), 2009 Wood, lamps, stuffed cat, text, door blinds, MP3 player Dimensions variable Guggenheim Bilbao Museo

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Os materiais utilizados provêm da arquitetura da empresa: plexiglas, aço, cabos, madeira tratada ou alumínio colorido. Ao conectar a estética da arte minimalista ao tímido design das empresas multinacionais, Liam faz um paralelo entre o modernismo universalista e a Reaganomics, entre o projeto de emancipação das vanguardas e o protocolo de nossa alienação gerada por uma economia "moderna". (p. 67)

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Project and work 2

Os trabalhos de Liam, mais do que esculturas, representam zonas, e eles constituem a sinalética dessas zonas aqui, é uma questão de renunciar, discutir, projetar imagens, falar, legislar, negociar, aconselhar, dirigir, preparar alguma coisa... Mas essas formas, que projetam enredos possíveis, implicam que o observador elabore outras formas para si mesmo. (p. 68)

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Maurizio Cattelan (1960). Artista italiano. As formas de Cattelan nos mostram sempre elementos familiares reproduzidos, numa voz in off, em anedotas cruéis ou sarcáticas. (p. 69)

Cattelan puxa as formas para o conflito e para a comédia, a provocação de atritos com os operadores do sistema da arte, com trabalhos que envolvem cada vez mais incômodos, estorvos e entulhamento; a revelação da comédia que sustenta as relações de força nesse sistema, com o uso de grades narrativas que dão uma guinada burlesca à história da arte recente. Em suma, seu comportamento de artista consiste em orientar as formas para a delinquência. (p. 73) S/Título (1996) acrílico s/tela

A tela é rasgada três vezes em forma de Z, numa referência ao Z de Zorro no estilo de Lucio Fontana. Cattelan lança Fontana no ridículo ao classificá-lo junto com uma série de televisão de Walt Disney (Zorro) praticamente contemporânea a eles. O ziguezague é o movimento por essência cômico, chapliniano, que corresponde a um perambular por entre as coisas. (p. 69) Lucio Fontana Conceito Espacial "de espera" (1960)

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O animal vivo não é apresentado como beleza ou como novidade, mas como uma proposição perigosa para o público e extremamente problemática para a galerista. A referência à Kounellis não é gratuita, e fica claro que a arte povera representa a principal matriz formal da obra de Maurizio, no que se refere à composição das imagens e à distribuição espacial dos elementos ready-mades. (p. 70)

Quando instala um jumento vivo numa galleria nova-iorquina sob um candelabro de cristal (1993), é uma referência indireta aos doze cavalos que Jannis Kounellis expôs na galeria L’Attico em Roma, em 1969. (p. 70)

Warning! Enter at your own risk. Do not touch, do not feed, no smoking, no photographs, no dogs, tank you (1993)

Jannis Kounellis. Doze cavalos vivos (1969). Vista da instalação na Galería L’Attico, Roma.

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'Bidibidobidiboo', 1996 (um esquilo empalhado)

Trotsky, 1997

Sem título, 1997

O amor dura para sempre, 1999. (esqueletos de um burro, um cão, um gato e um galo, empilhados)

Not afraid of love, 2004

O amor salva a vida, 1997

[...] o criatório de Cattelan, com cavalos, jumentos, cães, avestruzes, pombos e esquilos.

[...] seus animais não simbolizam nada, não remetem a nenhum valor transcendente, e se contentam em encarnar tipos, personagens ou situações o universo simbólico desenvolvido pela arte povera [...] Essa maneira de voltar as formas modernistas contra a ideologia que lhes deu origem, mas também contra o meio artístico e suas crenças, demonstra não um cinismo vulgar, e sim uma ferocidade caricatural. (p. 71) Galeria de obras do artista

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'La nona ora', 1999 (photorealist escultura do papa atingido por um meteorito - blasfêmia transformado em sacrifício)

'Ele', 2001 (photorealist escultura de uma miniatura hitler em oração – um ícone do medo)

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Espírito maldoso, o espírito do eterno mau aluno que se senta no fundo da classe. Temse a impressão de que Cattelan considera seu repertório formal como um conjunto de lições de casa e de figuras impostas, como uma espécie de programa escolar que o artistacabulador se diverte transformando um jogo de cena. (p. 72) A obra consiste em livros escolares com a capa e o título modificados por crianças, numa espécie de desforra e gozação contra todos os programas.

Em 1998, durante o Manifesta II em Luxemburgo, Cattelan expõe uma oliveira plantada num imenso quadrilátero de terra.

Edizioni dell'obligo (1991)

Um observador mais apressado poderia pensar num remake de Beuys ou de Penone, no final esse elemento vegetal não tem nenhuma participação no sentido da obra, a não ser articular-se em torno da sintaxe ofensiva desenvolvida pelo artista: cutucar os limites físicos e ideológicos dos indivíduos e das comunidades, testar as possibilidades e a paciência das instituições. (p. 72)

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|59 Maurizio Cattelan: All. Exposição no Guggenheim


Nossas vidas transcorrem sobre um fundo cambiante de imagens [...] Toneladas de imagens são formatadas como produtos ou destinadas a vender outros objetos, circulam volumes maciços de informações. (p. 73)

PIERRE JOSEPH – (1965. França) Joseph desenvolve uma relação lúdica e instrumental com as formas que ele manipula, compara ou adapta a novos usos estabelecendo diversos processos de reativações. (p.74)

O projeto artístico de Pierre consiste em conferir sentido a esse ambiente, se trata de uma prática produtiva [...] partindo do postulado de que agora estamos dentro de uma imensa zonaimagem, e não mais diante das imagens, a arte é um exercício de aplique. (p. 74) Cache cahe killer O minimalismo lhe serve como base para essa obra. (p. 74)

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Little Democracy - título para designar o conjunto de personagens, o primeiro deles surgido em 1991, se apresentam como figurantes vestindo uma panóplia, "instalados" na galeria ou no museu como se fossem uma obra qualquer, na noite da abertura; a seguir eles serão

Super-Homem

substituídos por fotografias, simples indicador que permite que seu futuro proprietário "reative" a peça à vontade. Esses personagens provêm do imaginário da mitologia, dos videogames, das histórias em quadrinhos, do cinema ou da publicidade. (p. 75)

Mulher-gato

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Ladrões de cores da Kodak

Jogador de Paintball

Gasparzinho

Joseph planta seus personagens num museu de arte moderna convertido em cenário. Seu trabalho busca sempre o horizonte de uma exposição onde o heroi é o público: a obra de arte torna-se um efeito especial numa encenação interativa. [...] também é um projeto político: ele fala do convívio inteligente entre os sujeitos e os fundos sobre os quais eles se ativam; do convívio inteligente entre os humanos e as obras expostas à sua dmiração. (p. 76)

Em Little Democracy - a galeria de personagens representa uma forma essencialmente democrática, sem demagogia nem demonstrações pesadas. (p. 76)

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As figuras dos contos de fadas, os personagens dos quadrinhos e os heróis de ficção científica que povoam essa "democracia não convidam a fugir da realidade; ao contrário, fazem a aprendizagem do real nos levam, a fazer aprendizagem de nossa realidade, mas a partir da ficção. (p.76)

Cupido - 1997

A fada - 1997

O artista deve remontar ao máximo possível dentro do maquinário coletivo para produzir um tempo-espaço alternativo, para reintroduzir o múltiplo e o possível dentro do circuito fechado do social. [...] Pierre Joseph, com o auxílio de dispositivos capazes de "atingir e afetar seu local de exposição", propõe-nos objetos de experiência [...] obras que sugerem novos modos de apreensão do real e novos tipos de investimento do mundo da arte. (p. 78)

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| Glossário: Conceitos | Apropriação O termo é empregado pela história e pela crítica de arte para indicar a incorporação de objetos extra-artísticos, e algumas vezes de outras obras, nos trabalhos de arte. Objetos utilitários sem nenhum valor estético em si são retirados de seus contextos originais e elevados à condição de obra de arte ao ganhar uma assinatura e um espaço em exposições, museu ou galeria. Muitas obras atuais apresentam modalidades diversas de apropriações de elementos do cotidiano ou de fragmentos de outras obras. (CATTANI, 2007, p.30)

Hibridismo o termo híbrido em estética possui um sentido pejorativo e refere-se a obras "que misturam influências, estilos e gêneros disparatados e mal-assimilados, provocando falta de unidade e desarmonia". Os hibridismos não visam à manutenção das tensões e da integridade dos diversos componentes, mas sim à fusão dos elementos díspares que os estruturam. (CATTANI, 2007, p.25-26).

Mestiçagem mudanças ocorridas a partir da década de 1980 [...] as novas experimentações podem ser em alguns casos analisadas a partir do conceito de mestiçagems. Isso ocorre quando os múltiplos cruzamento produzem novos sentidos que são marcados por tensões. Esse conceito não abrange toda a produção artística atual, mas apenas as obras que se constituem em suas poiéticas e/ou em suas poéticas, a partir de cruzamentos. (CATTANI, 2007, p.24). A mestiçagem constitui uma rede sem centro nem margens e sem hieraquias, à semelhança do conceito de rizoma, de Deleuze e Guatarri (1973). [...] Porque seus sentidos são móveis e sem hierarquias, circulam entre os diversos elementos constitutivos das obras, indo de suas poéticas às poiéticas que as estruturam e vice-versa, a cada vez trazendo novos significados; [...] Ela é fluida, pode escorregar entre os elementos, manifestando-se nos aspectos mais inesperados das obras, em suas fissuras e vãos. (CATTANI, 2007, p.26-27).

Sincretismo é uma "totalização que introduz o compacto, a essência e o essencial no pensamento"; [...] O sincretismo elimina a alteridade pela adição, constituindo totalidades indiferenciadas. (CATTANI, 2007, p.26).

Referências CATTANI, Icleia Borsa. Mestiçagens na arte contemporânea: conceito e desdobramento. In: Mestiçagens na arte contemporânea / organizado por Icleia Borsa Cattani. - Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2007. Enciclopédia ItaúCultural de Artes Visuais. Disponível em: http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_ic/. Acesso em:15.out.2013.


Criação e diagramação: Elisete S. Armando Apresentação: Elisete S. Armando, Juliana Sommer e Sandra O. Moreira Matos Porto Alegre, Outubro - 2013


UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL Faculdade de Educação – Programa de Pós-Graduação em Educação Seminário Avançado Leituras da visualidade: análise de macro e micronarrativas Profª Drª Analice Dutra Pillar

Arte Contemporânea: múltiplas leituras

Uso das Formas In: Pós-produção: como a arte reprograma o mundo contemporâneo/ Nicolas Bourriaud. Tradução Denise Bottmann – São Paulo: Martins, 2009, p. 35 - 78. _________________________________________________________________________

Apresentação: Elisete S. Armando Juliana Sommer Sandra O. Moreira Matos


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