Olhar: criatividade e experiências

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OLHAR

Criatividade e experiências

De dentro para fora Um mundo em ponto e linha Palavras em movimento Uma estampa da cidade A forma da natureza A casa de cadeiras Entre ciclos

Sumário 12 20 28 36 42 48 58 66 79 10 09
O lugar da sensibilidade Referências Bibliográficas Ver é uma experiência Introdução

AGRADECIMENTOS

Este livro é para todos aqueles que sabem e aqueles que não sabem, porém enxergam o mundo com curiosidade.

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Este livro é fruto de todo aprendizado que recebi durante meus anos de formação no curso de Design gráfico. Agradeço imensamente ao professor Luiz Bagno, importante guia para indicações de livros e referências, além de diversas conversas e conselhos que trocamos durante as aulas. Ao professor Rafael Miyashiro por todo tempo que ele disponibilizou para tirar minhas dúvidas, dando direcionamentos desde o momento em que as primeiras ideias deste livro começaram a surgir. E à minha orientadora, professora Marcia Pinto por acreditar no meu trabalho e por todos os conselhos que me ajudaram a dar um caminho nas etapas finais do projeto. Este trabalho não aconteceria se não fosse por todo o suporte, apoio e confiança dados pela minha mãe e minha família. Agradeço também à minha irmã Victória por colaborar com a finalização do projeto.

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INTRODUÇÃO

Com o avanço da tecnologia, o profissional criativo precisa se adaptar às novas necessidades que surgem dentro do meio digital, onde as mensagens estão cada vez mais rápidas. Nos últimos dois anos de pandemia e isolamento social, ocorreu uma aceleração do uso da tecnologia em todos os âmbitos, o que diminuiu ainda mais as barreiras entre a presença do estar no digital e no mundo real. Essa aceleração trouxe muitos benefícios e avanços, mas também malefícios, como por exemplo: a exaustão causada pela saturação de informações e estímulos recebidos durante o uso excessivo de telas.¹ Entretanto, para o desenvolvimento da sensibilidade visual se faz necessário, não somente a instrução teórica, mas também a experiência da criação ativa, que estimula o pensamento crítico. Dentro deste cenário surgiu a iniciativa que este projeto se dispõem a enfrentar: Explorar novos caminhos no ensino e apresentação da percepção visual para uma juventude que possui uma atenção cada vez mais limitada, visto que, "estar plugado, no entanto, nem sempre é benéfico para o pensamento criativo.²

O livro está dividido em capítulos temáticos que relacionam a criação com os conceitos da percepção visual. Aqui entenderemos percepção como percepção consciente definida por Fayga Ostrower em seu livro Criatividade e Processos de criação (1997). Este livro foi criado com o propósito de ser uma porta de entrada ao leitor que deseja conhecer a sua consciência criativa. Aqui iremos iniciar alguns diálogos para discutir temas ligados à percepção visual e à consciência criativa, trabalhando com exercícios perceptivos que irão instigar o leitor a procurar maneiras de abordar e solucionar problemas visuais ampliando a sua experiência com os temas. Considero que a formação do profissional criativo enquanto comunicador

visual, pensando que seu processo de criação não deve somente se limitar a seguir ações que surgem pelo acaso ou convenções estilísticas do mercado, visto que, o design, a arte e demais campos criativos possuem um papel social a desenvolver para a sociedade.

Ilustração do livro Design as art, Bruno Munari, 1966.

1 OSTROWER, Fayga. Criatividade e processos de criação - São Paulo, Editora Vozes, 120 edição 1997.

2 LUPTON, Ellen. Phillips, Jennifer Cole. Novos fundamentos do design - São Paulo, Cosac Naify, 10 edição 2008.

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Ver é uma experiência

Você consegue contar o número de imagens que te vêm na mente quando você pensa em uma pessoa querida? É difícil colocar em números o quanto estas memórias nos marcam, entretanto nós somos capazes de estabelecer relações entre esses eventos com a nossa experiência do viver dando-lhes significado. Quando observamos o mundo estabelecemos relações entre as coisas e nós; vejamos um exemplo. Você está dentro de uma loja de departamentos e se depara com este objeto: Um estetóscopio. Se você possui interesse na área da saúde ou já passou em alguma consulta médica e se deparou com ele em um exame de rotina, você provavelmente já criou uma imagem mental do objeto e relacionou-o com a sua função. Mas se uma pessoa nunca tiver entrado em contato ou percebido a presença do mesmo, sua mente irá cair em uma zona cinzenta onde você tentará imaginar sem muita certeza do que é. Podemos dizer que no mundo pessoal desta pessoa não existe nenhum ponto de contato que a relaciona ao objeto. Desta maneira podemos dizer que a maneira como enxergamos as coisas é afetada pelo que sabemos, conhecemos ou acreditamos.⁴

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A experiência de ver está longe de ser passiva pois está ligada à nossa sensibilidade e consciência. Entretanto, a correria da vida contemporânea, o bombardeio de informações diário e o avanço da tecnologia que diminui a barreira entre o estar no digital e o estar no mundo real, faz surgir um indivíduo superinformado e superestimulado com sua sensibilidade debilitada e em última instância alienado de si (ego) e distante do mundo.⁵ Considerando a gravidade do problema que me levou a criar este material como meu projeto de graduação, desejo propor uma experiência oposta ao caso citado acima. Partiremos da criação de propostas que precisarão de um bem individual do leitor: seu tempo. Vejamos que este tempo não possui um limite específico de horas, já que ele deve ser um momento que você deve tirar para se dedicar à leitura e realização das atividades.

Ilustração "Talking Forks". Bruno Munari, 1958.

→ Estetóscopio Um aparelho médico que funciona como um amplificador de sons internos do corpo ou uma palavra comprida dividida em 6 sílabas.

4 MUNARI, Bruno.Comunicação Visual. Martins Fontes - São Paulo, 40 edição, 2001.

5 PALASMAA, Juhani. Os olhos da pele: A arquitetura dos sentidos. BookmanSão Paulo, 100 edição, 2011.

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DE DENTRO PARA FORA

Você já deve ter ouvido a frase: “Essa pessoa vive no mundo da lua” para se referir a alguém distraído que está com a mente em qualquer outro lugar menos ali onde seu corpo está. Pensando neste exemplo, podemos dizer que vivemos em dois mundos: O externo (o ambiente, o mundo, o lado de fora) e o interno (o pensamento, o mundo interior, o lado de dentro). No livro Drawing on the artist Within (Desenhando com o artista interior), Betty Edwards define o mundo interior do ser humano com o "pensamento ou melhor, como pensamento sobre sentimentos que raramente aparecem na superfície, pois as palavras não são suficientes para expressar sua complexidade."⁶ Aqui iremos nos deparar com o nosso primeiro problema: a complexidade do pensamento. Somos capazes de experienciar as emoções por causa das nossas sensações internas que estão vinculadas ao nosso inconsciente. Entretanto, "uma parte dessas sensações é capaz de chegar a nossa consciência e ela chega de forma organizada e articulada: a nossa percepção."⁷ A percepção delimita o que somos capazes de sentir e compreender; a partir dela somos capazes de perceber o mundo que está a nossa volta, a nós mesmos, através de nossos sentidos. Dito isso, vamos para o nosso primeiro exercício: Iremos explorar o nosso “mundo interior” usando como linguagem visual o desenho. Este desenho dará forma ao nosso mundo interno, mas calma, aqui não será cobrado de você nenhuma habilidade de desenho pois o que estamos propondo é um exercício de expressão da sua consciência.

6 Edwards, Betty. Drawing on the Artist

Within: An Inspirational and Practical Guide to Increasing Your Creative Powers. Simon & Schuster - New York, 20 edição, 1986.

7 Ostrower, Fayga. Criatividade e Processos de criação, Editora Vozes, p.12,13 - Petrópolis, 60 edição, 1987,

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EXERCÍCIO

Desenho intutivo

Neste exercício você deve representar através do desenho 6 emoções: alegria, raiva, solidão, calma, cansaço e uma outra de sua escolha. Este primeiro exercício é com base no execício do analogue drawing (desenho analógo) de Betty Edwards. Esses desenhos são feitos puramente para expressão. Neste tipo de exercício, o importante é que o participante não crie nenhuma forma que seja reconhecível (desenhos realistas, ilustrações, símbolos, sinais, letras, etc.)

Materiais necessários • Lápis HB ou 2B • Caneta esferográfica 0.5

Esta atividade serve como ponto de partida para o desenvolvimento do pensamento criativo, a ideia é tomarmos consciência de como os movimentos criados nos desenhos se relacionam com cada emoção. Esta tomada de consciência é um dos requisitos necessários para o desenvolvimento da percepção consciente. VAMOS COMEÇAR →

ALEGRIA TRISTEZA RAIVA
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PAZ CALMA ?

ETAPAS DA ATIVIDADE

As marcas de cada secção indicam o espaço que deve ser respeitado, não ultrapasse esse limite.

A partir daí comece a enumerar as seções comas respectivas emoções → 1. alegria, 2. raiva, 3. solidão, 4. amor, 5. calma.

O último retângulo está livre para você escolher. Pode ser qualquer emoção, qualidade ou condição como: medo, angústia, ansiedade, felicidade, esperança etc.

Para o desenho use um lápis, você pode querer completar com uma linha ou várias linhas, também pode querer preencher a seção inteira ou usar a lateral do lápis para formar linhas mais grossas e finas.

Antes de começar a desenhar, feche os olhos um pouco e tente relembrar e sentir novamente como é cada uma dessas emoções.

Cada emoção não deve levar mais do que 2 minutos para ser ilustrada, você deve confiar na sua mão sua e agir intuitivamente deixando o desenho aparecer.

Importante relembrar que não pode haver aqui formas reconhecíveis, somente rabiscos, linhas e pontos.

*Neste tipo de exercício, o importante é que o participante não crie nenhuma forma que seja reconhecível.

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3 4 2 1 5 6 7

Desenho de alunos que realizaram a proposta "De dentro para fora."

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Quando terminar, observe o desenho. Este é um desenho que surge a partir do seu "ver interior”, das suas emoções e ritmos internos. Aqui o objetivo do desenho, não é extrair o que você acha que sabe ou buscar uma resposta, mas sim praticar e descobrir sensações e percepções em sua mente em um nível consciente de consciência.

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um mundo em ponto e linha

O nosso mundo é formado por ponto e linha. Algumas são visíveis e outras invisíveis.

Você já deve ter encontrado uma folha de árvore no chão ou uma trilha de formigas viajando de volta para o seu ninho. O nosso mundo é formado de pontos e linhas, algumas visíveis e invisíveis.

Vamos ao exemplo: Quando você olha para uma folha de uma árvore, o olhar entende as nervuras da folha como linhas. A partir da sensação percebida na superfície da folha, a sua mente ordena as linhas por suas espessuras (grossas e finas) e tamanho (comprimento), classificando entre os nervos centrais e as ramificações. O mesmo acontece para a trilha das formigas; Percebemos a “linha invisível” que se encontra na trilha entre as formigas enfileiradas, se olharmos de longe perceberemos as formigas como pontos que se locomovem. Entretanto, quanto mais nos aproximamos delas começamos à perceber os pontos como formas circulares e as linhas como as patas e as antenas que formam a sua estrutura.

Mesmo que o ponto seja um elemento simples, ele possui grande poder de atração visual. Se desenharmos um ponto preto em uma folha branca criamos uma separação entre sua forma e o campo; se diversos pontos se aglomeram em um espaço, criamos uma textura se colocamos eles enfileirados lemos como se fosse uma linha e podemos dizer que uma linha é formada por pontos.

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EXERCÍCIO

Uma biblioteca de sensibilidade

Iremos agora trabalhar com o ponto e linha, escolhendo 2 elementos que possuam textura e que façam parte de um mesmo grupo de objetos como por exemplo: frutas, tecidos, plantas. Você irá fazer um estudo desta superfícies através do desenho para criar um pequeno livro de amostras (como o indicado abaixo) do tema escolhido.

Materiais necessários • Lápis HB ou 2B • Caneta esferográfica 0.5

VAMOS COMEÇAR →

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PARA MONTAR O LIVRO

D

Siga as instruções para montar o seu livreto antes de começar a atividade.

A B C

Para montar o livro, comece dobrando a folha no meio na horizontal.

Em seguida dobre a folha no meio novamente na vertical.

Após isso, dobre novamente as pontas da folha ao meio você terá 8 retângulos no total.

D E

Recorte a linha vermelha que se encontra no meio da folha.

Numere as páginas com lápis: 1-6 + frente e verso. Reserve essa folha.

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A C
E B 1 2 3 4 5 6 VERSO FRENTE

ETAPAS DA ATIVIDADE

Observe bem a superfície dos objetos, como estão distribuídos os elementos que formam a sua textura? Aqui é interessante observar como esses elementos se comportam quando olhamos para a figura em sua totalidade e quando fazendo o seu recorte.

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Explore os tipos de movimentos que podem ser atribuídos aos pontos e linhas: traçados curtos e rápidos, linhas arrastadas. Pontos maiores e menores serão percebidos de maneiras diferentes.

Apague as marcações e comece desenhando no papel das amostras as estruturas estudadas usando pontos e linhas. (você pode colocar um nome ou fazer uma ilustração na capa e contracapa do livro)

Quando desenhamos, além de criar uma imagem, nós também estaremos a sensibilizar a superfície lisa do papel.

Quando estiver satisfeito com o resultado, vamos fazer as dobras no papel. Dobre no meio para expor o espaço cortado, em seguida faça um vinco entre todos os lados da folha para o meio formando uma cruz.

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3  4 5
1

Observe como cada desenho, partindo de um objeto comum se torna um padrão único e atraente a partir de um desenho simples de ponto e linha. Com poucos recursos (papel e caneta) você pode criar uma pequena biblioteca de texturas explorando o conteúdo de objetos.

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Você já deve ter se deparado com alguma dessas imagens aqui ↘

1 Ronaldo Azevedo. Velocidade, 1957.

2 Arnaldo Antunes. Rio, o ir, 1997.

3 Guillaume Apollinaire. Il Pleut, 1918.

4 Décio Pignatari. Terra, 1956.

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1 2
4
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PALAVRAS EM MOVIMENTO

Estes são exemplos de poemas concretos, um tipo de poema experimental onde ocorre exploração dos aspectos sonoros das palavras contidas no poema visualmente. Nos exemplos ao lado podemos dizer que as palavras “rio” e “chove” evocam noções de movimento e, a maneira como a composição foi organizada dentro do campo visual, cria uma relação dinâmica entre as formas. ”Como projetamos nossa própria relação dinâmica com a gravidade e no campo, isto se torna dinâmico. Os elementos horizontais se percebem como uma condição estática. Os verticais são estáveis, mas estão carregados de um movimento potencial, igual a nós (pessoas) que devemos manter o equilíbrio ou caímos. As diagonais são a superfície em movimento e profundidade, que desenrolam a maior atividade.”⁸

8 Gillan, Robert Scott. Fundamentos del diseno, p.28 tradução livre da autora. Editor Victor Leru - Buenos Aires, 10 edição, 1974.

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EXERCÍCIO

Um poema visual

Neste exercício trabalharemos direções visuais desenvolvendo um poema visual e três variações dele. Um poema visual é uma expressão poética que valoriza os efeitos visuais, ou seja, sua estrutura forma imagens. Essas imagens completam o sentido do poema dando maior expressividade. Para esta atividade você deve escolher uma palavra que evoque movimento, pode ser: um nome, um objeto ou um fenômeno, o importante na escolha da palavra é que ela tenha para você algum significado, a partir disso vamos trabalhar as relações entre a palavra e as direções usando um estêncil. VAMOS COMEÇAR →

Materiais necessários • Lápis coloridos • Giz de cera ou pastel E R A A
A A E
E E
H H
M M
N N 29
C C R

ETAPAS DA ATIVIDADE

Nas próximas páginas você terá 3 campos numerados - 1. a composição inicial, 2. A primeira variação, 3. A segunda variação, 4. A terceira variação.

Separe o stencil que veem junto ao livro.

Comece fazendo um esboço da sua ideia em um papel menor antes de passar para a folha da composição final. Caso vá direto para a folha determinada você pode encontrar algumas dificuldades para dar um primeiro passo.

Com a palavra escolhida, comece a desenhar. Pense nas relações entre as letras da palavra, se a palavra se relaciona com alguma forma,etc. Assim você poderá começar a construir novas associações.

Após pré definir as orientações do seu desenho, vá com o stencil decalcando as letras no papel para formar o poema e passe para a criação das variações.

As variações aqui são importantes, pois a partir delas propomos novas soluções para o nosso problema inicial e nos envolvemos ainda mais com o nosso trabalho.

Você pode propor as variações tendo como ponto de partida a sua composição inicial ou buscar novamente novas relações entre a palavra escolhida e como ela se comporta como imagem, criando uma nova expressão.

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3 4 2 1 5 6 7
31
32
33

E E

N N

A A

R R

D D

T T C

E E E R

R

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Quando terminar, observe as composições na sua frente e perceba como o desenho criado se relaciona com a palavra. Perceba como os elementos se comportam entre as composições criadas, cada composição expande o sentido da palavra, pois a palavra se tornou uma imagem.

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UMA ESTAMPA DE CIDADE

No passado os povos nômades se deslocavam de um lugar para o outro em busca de recursos para garantir a sua sobrevivência. Entretanto, com a descoberta da agricultura, esses povos começaram a fixar a sua moradia e com isso deu-se início às primeiras aldeias e em seguida às cidades. Uma cidade pode ser definida como uma aglomeração urbana em uma determinada localização. A maioria das cidades no mundo se desenvolveu de maneira espontânea, com diversas ruas escondidas, vielas e caminhos desconhecidos, o que pode transformar as cidades em um caos urbano. Entretanto algumas cidades passaram por um processo de urbanização planejada, como Brasília por exemplo, pensadas para facilitar a vida dos moradores. Ao olhar para as imagens abaixo, podemos notar a diferença de equilíbrio visual entre as cidades de Palmanova e São Paulo. No entanto, uma cidade que não foi planejada como São Paulo quando observamos o seu caos urbano em uma vista aérea, consegui mos enxergar relações de harmonia em sua configuração; isto porque a distribuição dos elementos na imagem evocam para nós uma sensação de organização a partir da assimetria. No caso da cidade de Palmanova essa sensação surge por um outro princípio que é a simetria.

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Palmanova, Itália. São Paulo, Brasil.

EXERCÍCIO

Estamparia da cidade

Neste exercício iremos abordar a simetria e assimetria a partir da criação de uma estampa abstrata simétrica e assimétrica usando como tema o mapa de uma cidade. A partir da análise das formas encontradas no mapa da cidade de São Paulo, você irá compor a sua estampa fazendo uma colagem com papéis coloridos.

Materiais necessários

• Lápis HB

• Papéis coloridos

• Tessoura e cola

VAMOS COMEÇAR →

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ETAPAS DA ATIVIDADE

Na próxima página você irá encontrar o mapa cidade de São Paulo e dois campos para criar uma estampa simétrica e outra assimétrica.

Observe as linhas que formam as ruas, os cortes entre o encontro delas e as formas que surgem de cada quadra e da distribuição das casas e comércios. Como iremos trabalhar com estas formas, tome um tempo para analisá-las.

Depois que você fizer a análise das formas, comece a esboçar algumas figuras que você encontrou no mapa em uma folha separada. Tente desenhar 10 figuras.

Agora vamos trabalhar nestas formas. Para cada desenho tente modificar um pouco sua forma: expandindo as suas arestas, ajustando sua forma, criando incisões, etc.

Selecione 5 desenhos para montar a estampa com eles. Separe as folhas de papel colorido e trace os modelos dos desenhos no papel colorido.

Recorte as figuras e coloque elas em cima dos campos: uma para a composição simétrica e outra assimétrica. Comece a experimentar a organização visual dos elementos, você não precisa utilizar todos os recortes, o importante é manter o equilíbrio nas composições.

Quando estiver satisfeito com a sua composição, termine de colar e dê um nome a sua estampa.

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3 4 2 1 5 6 7

*Lembre-se que iremos criar uma estampa abstrata com estes desenhos, por isso quando estiver satisfeito com as modificações feitas, pegue uma caneta e defina as margens da forma e recorte para criar seu modelo.

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A FORMA DA NATUREZA

A natureza é a fonte primária de inspiração do homem. Foi observando a natureza que o homem construiu diversas das tecnologias presentes hoje. O elemento mais comum do nosso imaginário quando pensamos na natureza é a árvore. A árvore possui alguns significados simbólicos para nós; Em O livro dos símbolos, Kathleen Martin faz uma comparação de como nós nos parecemos com as árvores “Nós e as árvores somos parecidos, uma figura esbelta de braços compridos, ereta no tronco e pisando na terra.”⁹ Entretanto viver no planeta Terra significa estar submetido à gravidade, e para que possamos nos manter eretos e nos locomovermos. "Devemos conservar o equilíbrio e manter o nosso centro de gravidade dentro das bases de sustentação.”¹⁰

9 MARTIN, Kathleen. O livro dos símbolos, 10 Edição. São Paulo, Taschen do Brasil, 2012.

10 Gillan, Robert Scott. Fundamentos del diseno, p.37 tradução livre da autora. Editor Victor Leru - Buenos Aires, 10 edição, 1974.

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EXERCÍCIO

Palavras & esculturas

A partir destes conceitos de equilíbrio você irá criar uma escultura de uma árvore a partir de peças de encaixe encontradas no livro. Para esta atividade você irá construir três esculturas abstratas a partir de nomes de árvores com as peças de encaixe encontradas em um “alfabeto de formas”. Cada forma representa uma letra e cada escultura irá seguir uma organização diferente explorando equilíbrio. Durante a construção você deve observar com atenção as formas e os encaixes para a criação da estrutura da árvore ajustando até obter um resultado desejado.

VAMOS COMEÇAR →

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Materiais necessários • Suas mãos :) PENSAR
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ETAPAS DA ATIVIDADE

1

2

Comece recortando as peças e separando-as por cor.

Temos 3 exemplos de arvóres que você pode seguir para brincar com as peças:

Quando terminar, veja se as esculturas permanecem firmes em sua base sem tombar para as laterais.

Agora teste e explore as peças com outras palavras para formar novas esculturas :)

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3
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Cajueiro Palmeira Jacarandá Araucária

Quando terminar, observe as composições na sua frente e perceba como o desenho criado se relaciona com a palavra. Perceba como os elementos se comportam entre as composições criadas, cada composição expande o sentido da palavra, pois a palavra se tornou uma imagem.

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A forma de um objeto não é mais importante que a forma do espaço em torno dele - Malcolm Grear Ilustração do livro Design as art, Bruno Munari, 1966.

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CASA DE CADEIRAS

A casa possui um papel importante na vida do ser humano. Ela é um lugar que acolhe, protege e nos dá privacidade, separando-nos do mundo externo para o nosso mundo interno.

Negativo

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Quando olhamos para a figura de uma casa em preto e branco, entendemos que os elementos em preto na figura são as suas paredes e teto, enquanto as formas em branco são a porta e a janela. Entretanto estes elementos vazados (porta e janela) quando observados junto ao fundo percebe-se que nada se encontra ali, é um espaço vazio, mas a nossa percepção lê estes espaços como uma janela e porta. Isto acontece por causa do contraste figura fundo que é continuamente necessário para que possamos ver as formas¹¹, o contraste nos ajuda a distinguir as partes do todo da imagem. A figura fundo também é conhecida como positivo/ negativo, sendo o espaço positivo o que ocupa o objeto e o espaço negativo o que ocupa o fundo do objeto no campo visual. Voltando para a casa, iremos propor um exercício de criação de figuras.

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Gillan, Robert Scott. Fundamentos del diseno, p.37 tradução livre da autora. Editor Victor Leru - Buenos Aires, 10 edição, 1974. Positivo

EXERCÍCIO

Construções em figura fundo

"Gerador de formas" *tradução livre da autora,página do livro Graphic design manual: principles and practice. Armin Hofmann, 1965. (a direita)

Papel preto

Tesoura e cola

Neste exercício você experimentará criar formas a partir de um objeto de mobiliário: a cadeira. Para isso você irá conectar os pontos para formar as figuras seguindo o modelo de “gerador de formas” (shape generator) de Armin Hofmann, professor e designer gráfico suiço. No seu livro Graphic design manual: principles and practice, um dos principais temas de sua pesquisa é a variação e a experimentação de uma mesma forma. Mesmo que sejam pequenas as alterações entre as formas criadas, o processo de repetição nos ajuda a entender melhor como elas funcionam, assim nos tornando mais cientes das mesmas e de nosso próprio processo de criação. VAMOS COMEÇAR →

Materiais
necessários
Lápis HB
Caneta marcadora preta
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ETAPAS DA ATIVIDADE

Partiremos de um mobiliário simples: a cadeira, na página ao lado você encontrará diversos modelos de cadeiras, das mais simples às mais rebuscadas. A partir destas referências iremos fazer experimentações com o gerador de formas.

Temos um layout do gerador de formas com um conjunto de 6 de círculos de 4x4. Esta será a folha de experimentação para o seu trabalho.

Para criarmos as formas, estaremos trabalhando com a linha. Dentro podem seguir em qualquer direção, vertical, diagonal, o importante é que elas sejam fluidas e orgânicas.

Com um lápis ou caneta preta comece a explorar a forma das cadeiras nos grids, lembre-se que não existe certo ou errado neste exercício, a ideia aqui é que não fique igual à referência, mas que a partir dela possamos começar a explorar as formas dos objetos.

Após concluir o exercício, selecione 4 das melhores formas que você criou, iremos montar uma composição com ela em um campo positivo e negativo.

A etapa final é na próxima página você irá encontrar campos casa, com as formas selecionadas você irá montar três composições no positivo e negativo desenhando as formas. Aqui é importante que os elementos completem todo o espaço do campo.

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3 4 5 6
1
2
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Após o exercício, observe como as formas se comportam em cada campo. O objetivo principal aqui, além de explorar a forma, é de entender o seu comportamento em diferentes contrastes. Quando as formas estão positivas (branco no campo preto) elas tendem a passar uma sensação de expansão da forma em, comparação no preto elas tendem a parecer “menores” e mais contidas nelas mesmas.

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ENTRE CICLOS

As fases da lua correspondem aos diferentes estágios de sua iluminação em relação à terra e ao sol. A sua rotação passa por 4 estágios diferentes: lua nova, minguante, crescente e lua cheia, levando 29 dias para completar o seu ciclo. Podemos concluir que as fases da lua possuem um certo ritmo gradual, na medida em que o sol ilumina sua superfície a imagem se completa (lua cheia), enquanto nos demais ciclos observamos ela desaparece (lua nova). Robert Scott define que o ritmo difere da simples repetição (..) já que, é uma recorrência esperada semelhante à música, nele as sequências de tons se sucedem para outros ao longo do tempo.¹² Podemos encontrar o ritmo visual em todos os elementos presentes no mundo sejam eles estáticos ou não. Quando olhamos para as fases da lua em uma foto, conseguimos enxergar um ritmo gradual, enquanto para uma fileira de carros em meio ao trânsito da cidade, estas repetições se tornam mais aparentes.

12 Gillan, Robert Scott. Fundamentos del diseno, p.67 tradução livre da autora. Editor Victor Leru - Buenos Aires, 10 edição, 1974.

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EXERCÍCIO

Fragmentações do metrô

Neste exercício trabalharemos com a fragmentação do mapa de Transporte Metropolitano de São Paulo. A malha conta com 6 linhas de metrô, 9 linhas de trem e os pontos de ônibus intermunicipais que conectam a cidade de São Paulo à região metropolitana. Usaremos como referência este mapa para a nossa atividade, exploraremos ritmos e intervalos encontrados na fragmentação do mapa para criar uma composição. VAMOS COMEÇAR →

Materiais necessários • Lápis HB • Caneta marcadora preta

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FRAGMENTAÇÃO E COLAGEM

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ETAPAS DA ATIVIDADE

Destaque a página do mapa e comece recortando em pequenos quadrados como indicado. (6x6)

Depois que recortarmos o mapa em pequenos quadrados, começaremos a reorganizar as peças. O importante aqui é que estabeleçamos uma nova relação de ordem para a imagem contida nos quadrados.

Busque nesta fase explorar dinâmicas de conexões entre as linhas, quando estiver satisfeito com o resultado da composição cole-os no campo.

Com este resultado em mãos partiremos para a segunda parte do exercício que é a abstração. Na folha ao lado você tem uma malha quadriculada, separe algumas cores de canetinhas ou lápis coloridos você irá desenhar todas as linhas encontradas nesta nova imagem que você organizou.

Antes de começar a desenhar, passe um tempo observando a colagem. Diferente do mapa inicial, a fragmentação e reorganização do mapa formou uma nova imagem, que possui um novo tempo e comportamento dependendo de como você montou a sua colagem. Ela pode ter ficado mais caótica em comparação à imagem inicial ou mais lenta; Por isso é importante observar como os elementos (no caso as linhas) se comportam.

Comece a desenhar. Para conseguirmos chegar na abstração da forma devemos nos desapegar de todo tipo de detalhe contido na imagem, como: palavras, ícones, etc. A malha quadriculada servirá como guia para o desenho.

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3 4 5 6 2 1
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O ENCONTRO DA SENSIBILIDADE

Trecho retirado do artigo do trabalho de conclusão de curso: Alfabetização Visual - O lugar de encontro com a sensibilidade.

Nos últimos anos de pandemia, ocorreu uma aceleração do uso da tecnologia em todos os âmbitos, o que diminuiu ainda mais as barreiras entre a presença do estar no digital e no mundo real. Essa aceleração trouxe muitos benefícios e avanços, mas também malefícios, como a exaustão causada pela saturação de informações e estímulos pelo uso excessivo de telas. Jorge Larrosa afirma que o desgaste causado por este excesso é “em primeiro lugar pelo excesso de informação, já que a informação não é experiência. E mais, a informação não deixa lugar para a experiência, ela é quase o contrário da experiência, quase uma anti experiência.” (LARROSA, 2002).

A pobreza da experiência em decorrência aos excessos de estímulos nos distancia do mundo; carregada de uma sensação de cansaço e angústia levando-nos a uma alienação da nossa própria existência. “ Ao contrário, o homem contemporâneo, colocado diante das múltiplas funções que deve exercer, pressionado por múltiplas exigências, bombardeado por um fluxo de informações contraditórias, em aceleração crescente que quase ultrapassa o ritmo orgânico de sua vida, em vez de se integrar com o ser individual e ser social, sofre um processo de desintegração. Aliena-se de si, de seu trabalho, de suas possibilidades de criar e de realizar em sua vida conteúdos mais humanos.” (OSTROWER,1997)

Convém aqui pensar qual é o papel da alfabetização visual, visto que “a experiência visual humana é fundamental no aprendizado para que possamos compreender o meio ambiente e reagir a ele.” ( DONDIS,2001).

A percepção atribui significados a estímulos sensoriais sonoros, táteis, luminosos e químicos. Estes estímulos junto a outras funções mentais como memória, atenção, linguagem, aprendizagem se integram para a construção de conhecimento. “Os cinco sentidos estão relacionados com a percepção sensorial que estabelece relações entre o meio interno e externo, despertando uma variedade de sensações que são percebidos pelo nosso sistema nervo-

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so. “Interpretamos o mundo e aprendemos através das sensações.” (OSTROWER, 1997). Para as áreas ligadas à arte, a percepção visual é um conhecimento fundamental para a formação profissional, atuando como base do conhecimento para a organização de ideias dentro do campo visual, além de contribuir para o desenvolvimento da sensibilidade do olhar e do pensamento analítico, ampliar o repertório visual e estimular o processo criativo do indivíduo. Dondis A. Donis no primeiro capítulo de seu livro Sintaxe da Linguagem Visual inicia com uma pergunta: “Quantos de nós vêem?”(DONDIS, 1997, pg.5), esta pergunta incorpora o grau de complexidade sobre o tema, já que para enxergarmos o mundo não precisamos fazer muito esforço visto que, observar as imagens que compõem o mundo à nossa volta é algo natural. Porém,"conhecer as imagens que nos circundam significa também alargar as possibilidades de contato com a realidade; significa ver mais e perceber mais.”(MUNARI, 1997, p.11). Partindo desta afirmação do autor, podemos julgar que para a criamos imagens precisamos percebê-las primeiro, e para obter uma compreensão maior de suas qualidades se faz necessário a alfabetização visual.

“O movimento atrai a nossa atenção porque nos ajuda a sobreviver. Quanto mais conteúdo temos à disposição, maior é o nosso déficit de atenção e a nossa urgência em buscar conteúdo novo.” WGSN, Consumidor do futuro 2024.

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The world expand through the differences between perception and recognition. - Ken Miki

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BONDIA, Jorge Larrosa. Notas sobre a experiência e o saber de experiência. Revista Brasileira de Educação, Rio de Janeiro, ANPEd, n. 19, p. 20-28, Abr. 2002.

DONDIS, Donis A. Sintaxe da Linguagem Visual - São Paulo, Martins Fontes, 1‘ edição, 2007.

MUNARI, Bruno. Comunicação Visual - São Paulo, Martins Fontes, 40 edição, 2001.

OSTROWER, Fayga. Universo da arte. São Paulo: Editora CampusSão Paulo,1991.

OSTROWER, Fayga. Criatividade e processos de criação - São Paulo, Editora Vozes, 12‘ edição 1997.

EDWARDS, Betty. Drawing on the Artist Within: An Inspirational and Practical Guide to Increasing Your Creative Powers - New York, Simon & Schuster, 20 edição, 1986.

LUPTON, Ellen. Phillips, Jennifer Cole. Novos fundamentos do design - São Paulo, Cosac Naify, 10 edição, 2008.

MARTIN, Kathleen. O livro dos símbolos - São Paulo, Taschen do Brasil, 1‘ Edição, 2012.

MIKI,Ken. Apple: Learning to design, design to learn - Zurich, Lars Mullers Publishers, 2014.

PALASMAA, Juhani. Os olhos da pele: A arquitetura dos sentidos - São Paulo, Bookman, 10 edição, 2011.

SCOTT, Robert Gillam. Fundamentos del diseñoBuenos Aires, Editorial Victor Leru, 1978.

WONG, Wucius. Princípios de forma e desenho - São Paulo: Martins Fontes, 2001.

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