Revista Campus Repórter 1

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Mudança histórica

Nessa primeira edição do Tucan, de oito espetáculos três contabilizavam a participação do professor em alguma etapa da criação. Foi dele também a palavra final antes do grupo fechar o espetáculo Adubo. Mesmo assim, pôde-se perceber a voz e a visão dos alunos. “Como fui chamado no último mês, eu cortava, tirava cenas sem dó. Dizia o que era bom ou não. Foi a primeira vez que dirigi assim. O processo de criação coletiva deixa o ator muito livre, mas funciona quando eles te respeitam e não lutam para conservar tudo o que fizeram. Lembro que quando vi Adubo... a peça demorava duas horas e eu comentei: “nossa, mas isso está careta, careta, careta”. Lembro que o Juliano [Cazarré] se levantou e falou: “não disse?”. Ou seja, eles já sabiam e prepararam todo o material para que fosse editado. Tanto que me chamavam de oráculo.” Sônia Paiva, coordenadora do Departamento de Artes Cênicas da UnB, resume o processo dizendo que o Tucan é um mosaico de várias tendências. Há trabalhos autorais onde os alunos afirmam sua identidade – justamente refletida nos projetos coletivos que resultam em textos originais.

Desde o século XIX o teatro estudantil se mostra atuante no cenário cultural brasileiro. Mas é nas décadas de 1940 e 1950 que a produção universitária alcança seu auge, impulsionada pela criação do Teatro Universitário (TU) e pela recémfundada União Nacional dos Estudantes (UNE), no Rio de Janeiro. O ator Sérgio Britto, grande nome dos palcos brasileiros, viveu sua primeira experiência teatral em 1945, no TU, onde interpretou Benvólio em montagem de Romeu e Julieta, de William Shakespeare, dirigida por Esther Leão. Britto tem ressalvas quanto à participação da produção estudantil no mercado atual. “Hoje não existe o teatro universitário como eu conheci, que era uma abertura de campo, de outros valores. Ele tinha importância tão diferente do que é feito hoje que não dá para comparar. Hoje não assisto muito, mas as peças não têm repercussão pública”. A maneira como a produção acadêmica é vista também mudou muito daquele tempo para cá. “Hoje o teatro universitário é mal visto. As pessoas pensam nele como algo amador” diz Pedro Martins, do Adubo. Mas o palco de experimentação continua sendo o teatro universitário. “É um espaço de respiração. Pela falta de patrocínio no teatro profissional, é dentro da universidade ou da faculdade que é possível fazer pesquisas”, define Adriano Guimarães. “É onde o teatro local é oxigenado”, emenda o irmão Fernando.

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