CROSS-CULT: desenho urbano/urban design - Pelotas/BR Oxford/UK

Page 1

oxford|uk

Eduardo Rocha Laura Novo de Azevedo Bárbara de Bárbara Hypolito Débora Souto Allemand Fernanda Tomiello

urban design

CROSS-CULT pelotas|br

desenho urbano



oxford|uk

Eduardo Rocha Laura Novo de Azevedo Bárbara de Bárbara Hypolito Débora Souto Allemand Fernanda Tomiello

urban design

CROSS-CULT 1a. Edição

Pelotas, RS, Brasil 2017

pelotas|br

desenho urbano


Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo (PROGRAU) Rua Benjamin Constant, 1359 - CEP 96010-020 Pelotas/RS/Brasil - Fone 53 32845511 E-mail: prograu@ufpel.edu.br Coordenação: Profa. Dra. Nirce Saffer Medvedovski Vice-Coordenação: Prof. Dr. Sylvio Dick Jantzen Conselho Editorial Prof. Dr. Mauricio Couto Polidori Prof. Dr. André de Oliveira Torres Carrasco Profa. Dra. Laura Lopes Cesar Profa. Dra. Emanuela Di Felice Prof. Dra. Celma Paese Profa. Dra. Nirce Saffer Medvedovski (suplente) Profa. Dra. Celina Britto Correa (suplente) Projeto gráfico e capa| Edu Rocha e Bárbara Hypolito Editoração eletrônica| Edu Rocha e Débora Allemand Ilustrações| Edu Rocha e Fernanda Tomiello Revisão | Débora Allemand Tradução Português-Inglês| Ana Maia Auxiliares de Tradução|Luana Schumann, Greyci Bolzan e Laura Novo de Azevedo C951

Cross-Cult desenho urbano/urban design: Pelotas/BR, Oxford/UK. / Eduardo Rocha... [et al.] Pelotas: PROGRAU/Débora Souto Allemand, 2017. 116 p. ISBN: 978-85-922427-0-1 1. Desenho urbano 2. Fotografia 3. Qualidades urbanas 4. Filosofia da diferença 5. Pedagogia da viagem I. Rocha, Eduardo [et al.] II. Título - Cross-Cult urban design: Oxford/UK CDD 720 Catalogação na Publicação: Simone Godinho Maisonave – CRB-10/1733


acknowledgmentsagradecimentos To the Graduate Program in ArchitectureAo Programa de Pós-Graduação em Arquitetura and Urbanism (PROGRAU) of thee Urbanismo (PROGRAU) da Faculdade Architecture and Urbanism Schoolde Arquitetura e Urbanismo (FAUrb) da (FAUrb) of the Federal University of PelotasUniversidade Federal de Pelotas (UFPel), pelo (UFPel), for their support in all activities.apoio em todas as atividades. To the Research and Postgraduate Programs OfficeA Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação (PRPPG) and Extension and Culture Programs(PRPPG) e Pró-Reitoria de Extensão e Cultura Office (PREC) at UFPel, especially to the deans(PREC) da UFPel, em especial aos Pró-Reitores Luciano Volcan Agostini and Denise MarcosLuciano Volcan Agostini e Denise Marcos Bussoletti; and the Postgraduate ProgramsBussoletti; e a Coordenadora de Pós-graduação Coordinator Professor Maria Cecília LoreaProfa. Maria Cecília Lorea Leite, pelo auxílio Leite, for their always prompt and friendly help.sempre pronto e amigo. To Professor Georgia Butina Watson, forÀ Profa. Georgia Butina Watson por ter nos hosting us at the Joint Centre for Urban Designrecebido no Join Centre for Urban Design (JCUD) at Oxford Brookes University (OBU).(JCUD) da Oxford Brookes University (OBU). To everyone at the Urbanism Lab (LabUrb) atA todos do Laboratório de Urbanismo (LabUrb) FAUrb/UFPel, which hosted the Project andda FAUrb/UFPel que sediou o projeto e nos received us all along the comings and goings.acolheu em todas as idas e vindas. To the Rio Grande do Sul Research SupportA Fundação de Amparo à Pesquisa do Rio Foundation (FAPERGS) and the CoordinationGrande do Sul (FAPERGS) e a Coordenação de for the Improvement of Higher Level PersonnelAperfeiçoamento de Pessoal do Nível Superior (Capes) for financial support to the project.(CAPES) pelo financiamento do projeto. Thanks to all the participants of the workshopsObrigado a todos os participantes das oficinas e and activities for the great meetings.atividades do projeto pelos bons encontros.


oxford|uk

pelotas|br


contentssumårio 7.......................................................boardingembarcando................................................7 12.....................................................itineraryroteiro.........................................................12 16...................................urban cartographies cartografias urbanas...................................16 21................................contemporary images imagens contemporâneas..........................21 25.......................................urban qualities qualidades urbanas..............................25 ^ 29..................................wandering routes trajetos de errancia...............................29 ^ 36...................cross-cultural experience experiencia cross-cultural..................36 41....................................................ritornelloritornelo.....................................................41 44............................................territorializing territorializando.........................................44 60.....................................[de]territorializing [des]territorializando.................................60 77.......................................[re]territorializing[re]territorializando....................................77 80.......................................................landingdesembarcando......................................80 80..................with the cross-cult experiencecom a experiência cross-cult.....................80 94...............with the pedagogy of traveling com a pedagogia da viagem.....................94 ^ 106...............................................referencesreferencias.............................................106 109.........................................images authors autores das imagens.................................109 110.............................about the travellers sobre os viajantes.................................110 112....................................travelling partners parceiros na viagem..................................112



boardingembarcando This book was produced as a registerEste livro foi produzido como registro do of a project called “Cultural Differencesprojeto intitulado “Diferenças Culturais and Urban Design: an experience ofe Desenho Urbano: experiência de transferability of principles between thetransferenciabilidade de princípios entre cities of Pelotas and Oxford”, funded by theas cidades de Pelotas e Oxford”, financiado Call for Postgraduate Internationalizationpelo Edital Internacionalização da Pós2013 by the Rio Grande do Sul Researchgraduação 2013 da Fundação de Amparo à Support Foundation (FAPERGS) and thePesquisa do Rio Grande do Sul (FAPERGS) Coordination for the Improvement ofe Coordenação de Aperfeiçoamento de Higher Level Personnel (CAPES). Pessoal de Nível Superior (CAPES). The project gathered researchers, professorsO projeto reuniu pesquisadores, docentes e and graduate students of the Postgraduatemestrandos do Programa de Pós-graduação Program in Architecture and Urbanism1em Arquitetura e Urbanismo1(PROGRAU) (PROGRAU) of the Federal University ofda Universidade Federal de Pelotas2 Pelotas2 (UFPel) and of the Joint Centre for(UFPel) e do Join Centre for Urban Design3 Urban Design3 (JCUD) of Oxford Brookes(JCUD) da Oxford Brookes University4 University4 (OBU), who carried studies(OBU), que realizaram missões de estudos out in both countries – Brazil and Unitednos dois países - Brasil e Reino Unido Kingdom – during 2014 and 2015. entre os anos de 2014 e 2015. The research that was simultaneouslyA investigação desenvolvida developed was dedicated to experimentesimultaneamente se dedicou a experimentar and map – from photography workshopse mapear - a partir de oficinas fotográficas with researchers and the local communitiescom a participação dos pesquisadores e 1 http://prograu.ufpel.edu.br/ 2 http://portal.ufpel.edu.br/ 3 http://planning.brookes.ac.uk/research/jcud/ 4 http://www.brookes.ac.uk/

1 http://prograu.ufpel.edu.br/ 2 http://portal.ufpel.edu.br/ 3 http://planning.brookes.ac.uk/research/jcud/ 4 http://www.brookes.ac.uk/


– the urban design qualities found in thedas comunidades locais - as qualidades central areas of Pelotas (Brazil) and Oxfordde desenho urbano encontradas em áreas (UK). These qualities were lived on a dailycentrais das cidades de Pelotas (Brasil) basis by the users of these cities, each ofe Oxford (Reino Unido). Qualidades them culturally diverse and similar tovividas no dia a dia pelos usuários dessas one another, capable of teaching us newcidades, cada uma culturalmente diversa and different strategies to improve thee semelhante uma da outra, capazes de experience of urban places. The choice ofnos ensinar novas e diferentes estratégias both cities was due to their medium-sizea fim de melhorar a experiência do espaço and to the fact that both have a centralurbano. A escolha das duas cidades pedestrian street, with similar features andocorreu em função de serem cidades de uses. Also, both cities are home to researchporte médio e por possuírem uma rua groups with long tradition in urban studies.central para pedestres, com características geográficas e usos semelhantes. As duas Pelotas is located in Rio Grande do Sulcidades também sediam os núcleos de state, in Southern Brazil, South America,pesquisas envolvidos, ambos com longa and founded on July 7th, 1814, by thetradição na investigação urbana. Pelotas Brook. Pelotas é uma cidade do estado do Rio The section of Andrade Neves Street usedGrande do Sul na região sul do Brasil, in the Pelotas study is popularly known asAmérica do Sul, fundada em 7 de julho de Calçadão (Pedestrian) and is mostly used1814, às margens do Arroio Pelotas. commercially, with a strong integration between the shops inside and public space.O trecho da rua Andrade Neves, que foi o On the street space we find several treesalvo de estudo em Pelotas, é popularmente and benches which provide an intensechamado de Calçadão e tem predominância social interaction characteristic, allowingde uso comercial, com forte integração people to stop and meet for a long time. entre o interior das lojas e o espaço público da rua. No espaço da rua se encontram Oxford is in the Oxfordshire county invárias árvores e bancos que proporcionam England, UK, and was officially declareduma característica forte de interação social, a city in the 9th century, on the banks ofque permitem longas paradas e encontros. the Thames. The street chosen for the studyOxford é uma cidade no condado de 8 cross-cult


was Cornmarket Street, also mostly usedOxfordshire, Inglaterra, Reino Unido, for commerce and with strong integrationoficializada como cidade no século IX às between public and private on the groundmargens do rio Tamisa. A rua escolhida para floor. Differently of the Andrade Neveso estudo foi a Cornmarket Street, também Street Calçadão, there are no trees and thecom uso predominantemente comercial e benches are few and all turned to the shopsforte integração entre o espaço público e windows and to the road. The benchesprivado no andar térreo. Diferentemente do Calçadão da rua Andrade Neves, a were projected to not allow a long stay. Cornmarket não possui vegetação no The starting questions for the researchespaço da rua e somente alguns bancos process were: “What is a good placeque são orientados para as vitrines das made of?”; “What are the differences andlojas e para o meio da rua. Os bancos similarities between the urban designsforam especificamente projetados para não found in Pelotas (Brazil) and Oxford (UK)?”;proporcionar uma estada prolongada. “Are the principles found transferable from a culture to another?”; and “How canAs questões disparadoras do processo de photography be used to visualize urbanpesquisa foram: “Do que é feito um bom lugar?”; “Quais as diferenças e semelhanças design qualities in public space?” entre os desenhos urbanos encontrados nas Based on these questions, the study usedcidades de Pelotas (Brasil) e Oxford (Reino photography to identify and systematizeUnido)?”; “Os princípios encontrados são the urban design qualities experienced intransferíveis de uma cultura para outra?” the urban environments for Pelotas (Brazil)e; “Como a técnica da fotografia pode ser and Oxford (UK). Systematizing theseutilizada na visualização de qualidades de qualities promoted discussion about thedesenho urbano no espaço público?”. possibility of studying and transferring urban design principles to create goodCom base nestas questões o estudo utilizou a técnica da fotografia para identificar e places. sistematizar as qualidades de desenho In this context, urban design is thought asurbano experimentadas nos ambientes the urban local project, a multidisciplinaryurbanos escolhidos para a as cidades de activity directed to the processes of urbanPelotas (Brasil) e Oxford (Reino Unido). transformation and the spaces that resultA sistematização dessas qualidades cross-cult 9


from it. Urban design must be thought moreproporcionou larga discussão acerca as a process than as finished product, whichda possibilidade de estudar e transferir deals directly with different users in cities’princípios de desenho urbano para a everyday life (GEHL, 2009). The urbancriação de bons lugares. qualities and the urban design principles used for the workshops were based on theO desenho urbano é pensado nesse work of the Joint Centre for Urban Designcontexto como o projeto do lugar urbano, of Oxford Brookes University. uma atividade multidisciplinar voltada para o processo de transformação urbana e Theoretical considerations were neededseus espaços resultantes. Deve ser pensado for an initial discussion about concepts,mais como um processo do que como um however, each workshop in each cityproduto acabado, que lida diretamente was based on the urban experiences ofcom os diferentes usuários no cotidiano participants and users of the spaces, aimingdas cidades (GEHL, 2009). As qualidades to identify what makes a “good place”. urbanas e os princípios de desenho urbano trabalhados nas oficinas se basearam no During the research we started namingtrabalho do Joint Centre for Urban Design it “Cross-Cult: Urban Design”5, tryingda Oxford Brookes University. to synthesise the essence of the ideas that were developed during the wholeAs considerações teóricas foram necessárias process and bring to life questionspara gerar uma discussão inicial sobre os regarding urban design from culturallyconceitos, no entanto, cada oficina, em cada comparative|interactive studies. uma das cidades se baseou na experiência urbana dos participantes e dos usuários do 5 The expression cross-cultural appeared in social sciences in espaço a fim de identificar o que faz um the 1930s, mainly as a result of the Cross-Cultural Research started by Yale’s anthropologist George Peter Murdock. Firstly“bom lugar”. it referred to comparative studies based on the compilation of cultural data statistics, then the expression gradually aquired a wider sense of cultural interactivity. Durante

o tempo decorrido da pesquisa passamos a denominá-la de “Cross-

10 cross-cult


Cult: Desenho Urbano”5, como uma forma de sintetizar a essência das ideias desenvolvidas durante todo o processo e, trazer à tona as questões relacionadas ao desenho urbano a partir dos estudos comparativos/interativos culturalmente. 5 O termo cross-cultural, surgiu nas ciências sociais na década de 1930, em grande parte como resultado da Pesquisa de Cross-Cultural empreendida por George Peter Murdock, um antropólogo Yale. Inicialmente referindo-se a estudos comparativos baseados em compilações estatísticas dos dados culturais, o termo gradualmente adquiriu um sentido mais amplo de interatividade cultural.

Images: Tin feet.Imagens: Pés de lata. Source: sisperdesign.com, 2013.Fonte: sisperdesign.com, 2013.

cross-cult 11


itineraryroteiro The methodology was based on the collective experiments and urban cartographies1 principles and an action strategy divided into 3 stages: territorialization, deterritorialization and reterritorialization (DELEUZE & GUATTARI, 1997; HAESBAERT, 2006). The concepts (territorialization, deterritorialization and reterritorialization) were approached and experienced through activities developed for the project (workshops, lectures, round tables, seminars, exhibitions and photographic incursions in both cities. Our city, the other’s city and the return. The Territorialization stage (april to july/2014) was dedicated to recognition of the 1 Urban Cartography have their origin and refer to the following “lines of thought”: the philosophy of difference and poststructuralism, especially as proposed by Gilles Deleuze, Félix Guattari, Michel Foucault, Jacques Derrida and Michel de Certau; the situationist analysis proposed by Guy Debord and the Situationists; the polemological analysis of practices proposed by Michel de Certau; the processes carried out by visual artists immerse on the so-called ethnographic turn in arts, ethnography and cultural studies; and the visual tools from photography and filmic images”. (ROCHA, 2012, pp. 123-124 [our translation]).

A metodologia utilizada esteve pautada nos princípios dos experimentos coletivos e das cartografias urbanas1, com a estratégia de ação dividida em 3 etapas: territorialização, desterritorialização e reterritorialização (DELEUZE & GUATTARI, 1997; HAESBAERT, 2006). Os conceitos (territorialização, desterritorialização e reterritorialização) foram abordados e experimentados através das atividades desenvolvidas no projeto (oficinas, palestras, mesa redonda, seminário, exposições e incursões fotográficas) nas duas cidades. A nossa cidade, a cidade do outro e o retorno. A etapa de Territorialização (abril/2014-julho/2014) se ocupou do reconhecimento dos 1 As Cartografias Urbanas têm origem e se referem às seguintes “linhas de pensamento: a filosofia da diferença e o pósestruturalismo, em especial proposto por Gilles Deleuze, Félix Guattari, Michel Foucault, Jacques Derrida e Michel de Certau; as análises situacionistas propostas por Guy Debord e os Situacionistas; a análise polemológica das práticas proposta por Michel de Certau; os processos levados a cabo por artistas visuais, imersos no chamado giro etnográfico das artes e diversos campos das artes visuais, a etnografia e os estudos culturais; e nas ferramentas visuais a partir da fotografia e das imagens fílmicas”. In: (ROCHA, 2012, pp. 123-124).


central places of both cities, delimitation of the areas, the paths, a wide litterature review and production of the instruments for collecting data. Two workshops were proposed in Pelotas: “Taking a Peek at Urban Design” and “Expanded Photography”. The workshops investigated urban design principles found by participants and local researchers through videos and fotos. With that, the “Calçadão da Andrade Neves” area was chosen, gazing upon the qualities that contribute to create good places. Through the expanded photography experience, deconstructing and overlaying images, new possibilities to qualify the area were proposed. The Deterritorialization stage (august to september 2014) took place in Oxford and allowed researchers to experience urban design from another place, its differences and similarities, through exchange between the research groups from Pelotas and Oxford. At this stage the same two workshops were proposed, following the same methodology of the Brazil ones, as well as an exhibition presenting the results of the Pelotas. Just like in Pelotas, the experience happened through recognizing the Cornmarket Street area, investigating urban design qualities found there and proposing new possibilities. The main difference between the Pelotas and Oxford workshops were the groups of lugares centrais das duas cidades, a delimitação das áreas, os trajetos, ampla revisão bibliográfica e confecção de instrumentos para coleta de dados. Foram propostas duas oficinas na cidade de Pelotas, “Espiando o Desenho Urbano” e “Fotografia Expandida”. As oficinas investigaram os princípios de desenho urbano encontrados pelos participantes e pesquisadores locais, através de vídeos e fotografias. Assim, se fez o reconhecimento da área escolhida, “Calçadão da Andrade Neves”, lançando o olhar às qualidades que contribuem na criação de bons lugares, através da experiência com a fotografia expandida, desconstruindo e sobrepondo imagens, foram propostas novas possibilidades de qualificação da área. A etapa de Desterritorialização (agosto/2014-setembro/2014) ocorreu em Oxford, e possibilitou aos pesquisadores experimentar o desenho urbano de outro lugar, as diferenças e semelhanças, através da troca de experiências entre os grupos de pesquisa de Pelotas e Oxford. Foram propostas, nessa etapa, duas oficinas “Taking a Peek at Urban Design” e “Expanded Photography”, que seguiram a mesma metodologia das realizadas em solo brasileiro, e uma exposição apresentando os resultados das oficinas realizadas em Pelotas na etapa anterior. Assim como em Pelotas, a experiência cross-cult 13


participants. While in Pelotas the group was quite homogeneous in terms of cultural background and heterogeneous in terms of expertises, in Oxford the group was culturally heterogeneous (different nationalities) and more homogeneous regarding their focus on urban design studies. The research group also had the opportunity to know and discuss local projects of the Planning Department of Oxford Brookes University and to get together with Oxford Brookes graduate students. These meetings allowed them to present the researches developed by the students from Pelotas and Oxford, to exchange experiences and to discuss collectively about Urban Design, the idea of a Good Place and the different possibilities in urbanism and urban qualities research. The Oxford stage facilitated the beginning of the cross-cultural comparisons of qualities found in both cities. The last stage, Reterritorialization (October 2014 to February 2015) helped discussing comparatively about how transferable the ideas about qualities and urban design principles are and what is necessary to achieve it. In this stage all the material collected se fez através do reconhecimento da área, “Cornmarket Street”, a investigação das qualidades de desenho urbano encontradas ali e a proposta de novas possibilidades. A diferença das oficinas realizadas em Pelotas e Oxford foi a composição dos grupos participantes. Enquanto em Pelotas o grupo foi mais homogêneo em termos de bagagem cultural e mais heterogêneo em termos de especializações, em Oxford o grupo foi mais heterogêneo culturalmente (diferentes nacionalidades) e mais homogêneo com relação ao foco de estudos no desenho urbano. O grupo de pesquisa teve ainda a oportunidade de conhecer e discutir projetos locais do Departamento de Planejamento da Oxford Brookes University, e a aproximação com estudantes da pós-graduação da Oxford Brookes. Os encontros possibilitaram a apresentação das pesquisas desenvolvidas pelos estudantes em Pelotas e Oxford, a troca de experiências e a discussão coletiva acerca do tema do Desenho Urbano, a ideia do Bom Lugar e as diferentes possibilidades de pesquisa acerca do urbanismo e qualidades urbanas. A etapa em Oxford propiciou o início das comparações cross-culturais das qualidades encontradas nas duas cidades. A última etapa, de Reterritorialização (outubro/2014-fevereiro/2015), auxiliou na discussão comparativa sobre o quão transferíveis são as ideias sobre qualidades e 14 cross-cult


in the workshops was gathered and conversations via Skype were used for discussion and decisions between researchers from both cities. There was also the visit to Brazil of the B.U.D.S2 group, which approached the qualities that make a good place, the difficulties and possibilities of transferring through different cultures and the importance of developing these studies, through lectures and workshops. The records of this work in this book, at the project website3 and presentation of the results in conferences and academic meetings aims to promote discussion about the whole process, the results found and mostly to show the importance of understanding and responding to cultural context in urban studies and projects. 2 The “Brazilian Urban Design Study” group, coordinated by Professor Laura Novo, proposes an extra-curricular activity that is focused on promoting intercultural experiences for Brooke students to experience urban design and planning in partner universities in Brazil. The project offers the students a transforming experience with different aspects of Brazilian culture and work with local communities, dealing with the problems that come from strong social inequality. 3 Project website. Available at: <https://crosscultdesenhourbano.wordpress.com/>

princípios de desenho urbano e o que é necessário para atingi-los. A etapa reuniu todo o material coletado nas oficinas e se utilizou de conversas via skype para a discussão e encaminhamentos entre os pesquisadores das duas cidades. Contou ainda, com a vinda ao Brasil do grupo B.U.D.S2 , que através de palestra e oficinas abordou sobre as qualidades que fazem um bom lugar, as dificuldade e possibilidades da transferenciabilidade destas entre culturas diferentes e a importância do avanço nesses estudos. O registro do trabalho neste livro, no website3 do projeto e as apresentações dos resultados em conferências e encontros acadêmicos, têm o objetivo de promover a discussão acerca de todo o processo, dos resultados encontrados e, principalmente, acerca da importância de se entender e responder ao contexto cultural em estudos e projetos urbanos. 2 O grupo “Brazilian Urban Design Study”, orientado pela Prof. Laura Novo de Azevedo, propõe uma atividade extracurricular com foco na promoção de experiências interculturais, de vivências de desenho urbano e planejamento para estudantes da Brookes em Universidades parceiras no Brasil. O projeto oferece aos alunos uma experiência transformadora com diferentes aspectos da cultura brasileira e o trabalho com as comunidades locais, tratando sobre os problemas causados por um elevado grau de desigualdade social. 3 Website do projeto. Disponível em: <https://crosscultdesenhourbano.wordpress.com/>

cross-cult 15


Urban cartographies Throughout history we notice the main methodological paradigms of modernity and post-modernity – regarding the different views about cities and their intervention logic – in two remarkable recent moments. The first one is about ideological conceptions associated with the speech of the modern movement on architecture and the city during the first half of the 20th century. This paradigm is founded on a rational-functionalist conception of city, which is reductionist and systematic. Its ideological basis is built from three aspects: the accelerated development of the industrial city and the great migrations from the countryside to cities; the influence of historical avant-garde arts such as futurism, cubism, purism and suprematism; and the need for cleaning the customs created by urban life in the 17th and 19th centuries, which stopped the real efficiency of the city productive systems and their growing economic and social flows. The second period appeared in the 50s, as a result, among others, of the application of the previous urban model. The so-called crisis of the modern project, which took place

Cartografias urbanas

Podemos reconhecer historicamente os principais paradigmas metodológicos da modernidade e da pós-modernidade - quanto às distintas visões que vêm existindo sobre a cidade e suas lógicas de intervenção - em dois grandes momentos recentes. O primeiro acerca das concepções ideológicas associadas ao discurso do movimento moderno, sobre a arquitetura e a cidade durante a primeira metade do século XX. Este paradigma se funda sobre a concepção racional-funcionalista da cidade, reducionista e sistemática. Sua base ideológica se constrói basicamente a partir de três aspectos: o acelerado desenvolvimento da cidade industrial e as grandes migrações do campo para a cidade; a influência das vanguardas históricas da arte tais como o futurismo, cubismo, purismo e o suprematismo; e a necessidade de fazer uma limpeza geral nos costumes gerados pela vida urbana dos séculos XVII e XIX, que impediam a real eficácia do sistema produtivo da cidade e seus crescentes fluxos econômicos e sociais. O segundo período surgiu nos anos 50, produto, entre outros, da aplicação do modelo 16 cross-cult


due to several critical reactions to the ideological and spatial conceptions of modern urbanismo, according to which the urban experience of the inhabitants and of the street was reduced to objective and scientific parameters. Among the critical schools we can mention the situationists4 Jane Jacobs, Henri Lefebvre, Archigram etc. These movements were severely critical (claiming the streets diversity and the political issues that were involved) through project theory or a qualified, impositive and authoritarian urban model. The rational-functionalist paradigma of city surely recognizes urban practices and their analysis, but reduces it to strictly functional parameters, using zoning as its main tool5. On the other hand, what it proposed here as urban cartography is a complement to these theories and appears as a critique in the 70s modern urbanism; an experimental 4 The Situationists appear in London in 1957, referring to Marx without his comments and explanations. Anarchy ends up reinventing some surrealist formulas, now taken to a social-political context. Refusing ideological formulations, the movement aimed to illustrate the alienation of contemporary society through certain “situations”. 5 Such as proposed by Kevin Lynch and others. See more in: LYNCH, Kevin. The image of the city. Cambrige/London: HarvardMIT Joint Center for Urban Studies Series, 1960.

urbano anterior. A chamada crise do projeto moderno, acontecida devido a uma série de reações críticas às concepções ideológicas e espaciais do urbanismo moderno para a qual a experiência urbana de seus habitantes e da rua se resumia a parâmetros objetivos e científicos. Entre as correntes críticas, podemos citar os situacionistas4 , Jane Jacobs, Henri Lefebvre, Archigram, etc. Movimentos esses que faziam duras críticas (reivindicando a diversidade das ruas e as questões políticas envolvidas) através da teoria do projeto ou de um modelo urbano qualificado, impositivo e autoritário. É evidente que o paradigma racional-funcionalista da cidade reconhece as práticas urbanas e suas análises, mas só sabe reduzi-las a rígidos parâmetros funcionais, utilizando como principal instrumento o zoneamento5. Por outro lado, o que se propôs aqui como cartografia urbana é um complemento a essas teorias e surge como 4 Os situacionistas, nascem em Londres no ano de 1957, referindo-se a um Marx despojado de seus comentários e explicações, a anarquia acabando por reinventar certas formulas surrealistas, transportadas para um contexto sociopolítico. Recusando qualquer formulação ideológica, o movimento procurou ilustrar, através de certas “situações”, a alienação da sociedade contemporânea. 5 Como os propostos por Kevin Lynch e outros. Ver mais em: LYNCH, Kevin. A imagem da cidade. São Paulo: Martins Fontes, 2011.

cross-cult 17


approach to the urban reality and events analysis – on Giorgio Agamben’s sovereign power and bare life6. It is a kind of micro-analysis of urban environment, which proposes an approach that does not operate from pre-established (deductive) models or defined cases, a thought that faces external forces rather than resorting to an inner form (DELEZE & GUATTARI, 1997). Thus, we doubt about judgements, identities, reductionisms and casualties. Then, cartography is not configured as a traditional method, a way to proceed that does not take place without first modifying its own nature. This is one of the main instruments that make up an urban cartography. As an anti-method, dynamic, consisting of endless lines that intersect, folds and unfolds, territories, deterritories and reterritories. What is worth here is the event experience. From current contemporary issues emerge a strategy for observing territories that is 6 AGAMBEN, Giorgio. Homo Sacer: Sovereign Power and Bare Life. Stanford: Stanford University Press, 1998.

uma crítica ao urbanismo moderno dos anos 70; uma aproximação experimental das análises da realidade urbana, dos acontecimentos – sobre o poder soberano e a vida nua de Giorgio Agamben6 . É uma espécie de micro análise do ambiente urbano, que propõe uma aproximação, que não trabalha a partir de modelos preestabelecidos (dedutivos) ou de casos definidos, um pensamento que se confronta com forças exteriores em lugar de recorrer a uma forma interior (DELEZE & GUATTARI, 1997). Diante disso, colocamos em dúvida os juízos, as identidades, os reducionismos e as casualidades. Sendo assim, a cartografia não se configura como um método tradicional, uma maneira de proceder que não se procede, sem antes modificar sua própria natureza. Esse é um dos principais instrumentos que constituem a cartografia urbana. Como um anti-método, dinâmico, constituído de infinitas linhas que se cruzam, de dobras, desdobras, de territórios, desterritórios e reterritórios. O que vale aqui é a experiência do acontecimento.

6 AGAMBEN, Giorgio. Homo Sacer: o poder soberano e a vida nua I. Belo Horizonte, UFMG, 2002.

18 cross-cult


able to complement and enrich the ones we usually know. The challenge is to create our own emerging conceptual folds in other contexts, in other disciplinary boarders or involved in other times. The contemporary perspective that is searched is to experience a place, with lateral views, through cracks, which tend to reduce the distance between observer and observed, enabling a sort of subjective and circumstantial mediation when approaching the cartographed territory. Views that interrogate on the correspondences between space and society, which search the codes of these everyday dynamics, which re-read the cityscape beyond its physical value, with rich and complex transversality and transition processes. In this regard, the experience with photography in the workshops aimed to develop the skill to see the place’s difference and potential and also to stimulate the creation of new views regarding cityscape and the city where one lives. Questioning the dimension of the city’s environment, dismembering its configuration modes and allowing the construction of re-lives, and of what is fragile and vulnerable, of mixtures and mutations, of time and speed, of what is singular, of the gray, of Da problemática atual e contemporânea emerge uma estratégia de observação territorial, capaz de complementar e enriquecer as que conhecemos habitualmente. O desafio é criar nossas próprias dobras conceituais emergentes em outros contextos, em outras margens disciplinares ou envolvidas em outros tempos. A perspectiva contemporânea que se busca é a de experimentar um lugar, com olhares laterais, pelas frestas, que tendem a diminuir a distância entre o observador e o observado, habilitando, assim, uma espécie de mediação subjetiva e circunstancial durante a aproximação ao território cartografado. Olhares que indagam as correspondências entre espaço e sociedade, que busquem códigos dessas dinâmicas cotidianas, que realizem uma releitura da paisagem, muito além de seu valor físico, mas como um rico e complexo processo de transversalidades e transições. Nesse sentido, a experiência com a fotografia, durante as oficinas, buscou desenvolver a capacidade de ver a diferença, as potencialidades do lugar, e ainda, estimulou a criação de novos olhares acerca da paisagem e da cidade que se habita. Questionando as dimensões dos ambientes da cidade, desmembrando os modos em que cross-cult 19


the accessible and the segregated, ofela se conforma, permitindo a construção accumulated densities, of informal, ofde relivies 7, e do que é frágil e vulnerável, central and peripheral, of public anddas misturas e mutações, dos tempos e private. velocidades, do singular, do cinza, do acessível e do segregado, das densidades Thus, enhancing the outlook on urbanacumuladas, do informal, do central e do places. An outlook that is able the representperiférico, do público e do privado. their diversity, that put into the question arrogance of a traditional paradigm as theAssim, esse projeto se fez, potencializando only approach to knowledge and to projecto olhar. Olhares que resultem capazes de cities. apresentar um quadro de multiplicidades, que coloquem em cheque a arrogância de um paradigma tradicional, como o único capaz de realizar aproximações para o conhecimento e a projetação das cidades. 7 Relive, do inglês, quer dizer reviver, voltar à vida, recordar trazer a lembrança.

20 cross-cult


Contemporary images:

from photography as representation to expanded photography The relation between city and photography exists since the first photographic registries appeared in history, usually exploring urban landscapes as a theme. For Rouillé (apud. THOMAZ, 2012), photography was product and tool of two modernity phenomena: urbanization and expansionism. In this industrialization, urban growth and technological development context, photography was consolidated as a relevant and effective tool for documentation. Photographic image was compared to a mirror, “a perfectly analogical image, completely reliable, absolutely unfalsifiable, because it is automatic, without men” (id., p. 527 [our translation]). However, documentphotography from industrial society did not bear the aspirations of information society, so it leaded to expression-photography, able to contemplate not only the objects and their states, but also the events involved, the “extra-photographic data” (id., p. 533 [our translation]).

Imagens contemporâneas:

da fotografia como representação à fotografia expandida A relação entre cidade e fotografia existe desde que surgiram os primeiros registros fotográficos da história, que frequentemente exploravam paisagens urbanas como tema. Para Rouillé (apud. THOMAZ, 2012), a fotografia foi produto e instrumento de dois fenômenos da modernidade: a urbanização e o expansionismo. Nesse contexto de industrialização, crescimento urbano e desenvolvimento das tecnologias de comunicação, a fotografia se consolidou como uma ferramenta de documentação pertinente e eficaz. A imagem fotográfica era comparada a um espelho, “uma imagem perfeitamente analógica, totalmente confiável, absolutamente infalsificável, porque automática, sem homem” (idem, p. 527). No entanto, a fotografia-documento proveniente da sociedade industrial não comportava os anseios da sociedade da informação, então ela deu lugar à fotografia-expressão, capaz de contemplar não somente os objetos e seus estados, mas também os acontecimentos envolvidos, os “dados extra fotográficos” (idem, p. 533). cross-cult 21


Despite the apparent neutrality of photographic equipment, photography is always the photographer’s interpretation, bringing “visual information of one fragment of reality, ideologically and aesthetically selected and organized” (KOSSOY, 2001, p. 114 [our translation]). Even the photographer’s ideology and state of mind interfer on the final result, which makes his action culturally filtered. Persichetti and Trigo (2004) state that it is always controversial to deal with city photography, because with the language changes photography went through during the 20th century, photographers would have stopped registering and started interpretating the city. In the transition from 20th to 21st century it is also possible to locate the transition from analogical to digital and from modern to contemporary. In this context, the association of photographic image to a specific instant gives place to a digital image, which contains complex temporal relations and stands out also for the autonomy of the means. The double movement, of both erasing and stating the analogic, puts photography limits into tension, creating crossings that contain the presence of a fixed dimension of photography in moving image and the virtual aspect of movement in fixed image (FATORELLI, 2013). According to Flusser (1985, p. 07), images are “codes that translate Apesar da aparente neutralidade do equipamento fotográfico a fotografia é sempre uma interpretação do fotógrafo, trazendo “informações visuais de um fragmento do real, selecionado e organizado estética e ideologicamente” (KOSSOY, 2001, p. 114). Até mesmo a ideologia e o estado de espírito do fotógrafo interferem no resultado final, configurando sua ação como filtro cultural. Persichetti e Trigo (2004,) afirmam que é sempre controverso tratar de fotografia de cidade, pois com as mudanças na linguagem da fotografia registradas no século XX, os fotógrafos teriam deixado de somente registrar a cidade passando a interpretá-la. Na transição do século XX para o século XXI também é possível situar a transição do analógico para o digital e do moderno para o contemporâneo. Nesse contexto, a associação da imagem fotográfica a um instante específico dá lugar à uma imagem digital, que abriga relações temporais complexas e se destaca também pela autonomia dos meios. O duplo movimento, de apagamento e afirmação da analogia, tenciona os limites da fotografia, gerando atravessamentos que comportam a presença da dimensão fixa da fotografia na imagem em movimento e do aspecto virtual do movimento na imagem fixa (FATORELLI, 2013). Para Flusser (1985, p. 07), as imagens “são códigos 22 cross-cult


event into situations, processes into scenes” [our translation], they result from an effort towards abstraction of two out of four time-space dimensions. Imagination is what allows to encode, in one plan, phenomena that occur in four dimensions, it is the “capacity to make and decipher images”. Opposite from the theories that study relations between reality and representation and by understanding photography as a document, Flusser states that photography overcomes the division of culture between Science and art (FERNANDES JÚNIOR, 2006). It was Flusser who best asserted the construction of the idea of expanded photography, which came to name the production of more bold images, free from the constraints of conventional photography. This way, expanded photography emphasizes on the making, on the artist’s creation process. Its goal is to produce disturbing images, pointing to a re-orientation of the aesthetic paradigms and to broaden the limits of photography as a language (FERNANDES JÚNIOR, 2006). It is a synonym of contemporary, hybrid, creative, multiple, experimental, manipulated, built, contaminated, precarious photography, among others. The architecture, que traduzem eventos em situações, processos em cenas”, são resultado do esforço de abstração de duas das quatro dimensões espaço-temporais. A imaginação é o que permite codificar, em um plano, fenômenos que ocorrem em quatro dimensões, é a “capacidade de fazer e decifrar imagens”. Ao contrário das teorias que estudam as relações entre a realidade e a representação, entendendo a fotografia como documento, Flusser afirma que a fotografia supera a divisão da cultura entre ciência e arte (FERNANDES JÚNIOR, 2006). Flusser foi quem melhor ancorou a construção da ideia de fotografia expandida, que surgiu para denominar a produção de imagens mais arrojadas e livres das amarras da fotografia convencional. Assim, a fotografia expandida tem ênfase no fazer, no processo de criação do artista. Sua finalidade é a produção de imagens perturbadoras, apontando para uma reorientação dos paradigmas estéticos e ampliação dos limites da fotografia enquanto linguagem (FERNANDES JÚNIOR, 2006). Ela é sinônimo de fotografia contemporânea, híbrida, criativa, múltipla, experimental, manipulada, construída, contaminada, precária, entre outros. A fotografia na cross-cult 23


urbanism and urban design photography is traditionally more technical than artistic, more representative than creative. Expanded photography searches to overcome these conventions and proposes to subvert “traditions” and produce images with more remarkable artistic and creative features (TOMIELLO, 2015). The concept of expanded photography guided the planning and the execution of the workshops in Cross-Cult project, whose principles are: appreciation of creation processes and artist’s procedures; freedom from the constraints of conventional photography; production of disturbing images; subversion of models, dismantling of references; invention of a process instead of fulfilling a program; broadening the limits of photography as a language; and escape from visual homogeneity. This way, the project proposed to use photography to [re]think the city, first as a document device for registering urban qualities and then as a tool for deconstructing the scene, adding or removing elements from a certain space in order to create a good place there. arquitetura, urbanismo e desenho urbano tradicionalmente é mais técnica do que artística, mais representativa do que criativa. A fotografia expandida procura superar essas convenções e a proposta foi a de subverter “as tradições” e produzir imagens com caráter artístico e criativo mais marcantes (TOMIELLO, 2015). O conceito de fotografia expandida orientou a elaboração e a realização das oficinas do projeto Cross-Cult, cujos princípios são: valorização do processo de criação e dos procedimentos do artista; libertação das amarras da fotografia convencional; produção de imagens perturbadoras; subversão dos modelos, desarticulação das referências; invenção de um processo ao invés do cumprimento de um programa; ampliação dos limites da fotografia enquanto linguagem e; fuga da homogeneidade visual. Dessa forma, o projeto propôs a utilização da fotografia para [re]pensar a cidade, primeiro como um dispositivo de registro das qualidades urbanas e depois como ferramenta para desconstruir a cena, acrescentando ou retirando elementos de determinado espaço a fim de criar ali um bom lugar.   24 cross-cult


urbanqualidades qualitiesurbanas O desenho urbano trata de uma área do conhecimento aplicado que se apresenta como uma potente ferramenta para lidar com a estrutura, a aparência, a experiência e o desenvolvimento do espaço e da forma urbana. A partir de um planejamento aliado às políticas públicas, aos princípios arquitetônicos e as manifestações culturais de uma época, criam-se cidades e principalmente espaços urbanos que respondem melhor às necessidades e desejos de seus usuários. Hoje em dia é impossível trabalhar o desenho urbano sem o entendimento de como as pessoas percebem e se comportam em lugares urbanos. A expressão “cidade para pessoas” (GEHL, 2010) vem se tornando cada vez mais importante no pensar do desenho urbano contemporâneo. O foco na criação de “bons lugares” guia e determina abordagens inteiras para o projeto de cidades, bairros e ruas. Mas, do que é feito um bom lugar? Urban design is an applied knowledge area that stands out as powerful tool to deal with structure, appearance, experience and development of space and urban form. From planning together with public policies, architecture principles and cultural expressions of a certain time, cities and especially urban spaces are created to satisfy the users’ needs and wishes. Nowadays, it is impossible to work on urban design without understanding how people see and behave in urban places. The expression “city for people” (GEHL, 2010) is becoming more and more important for thinking about contemporary urban design. Focus on creating “good places” guides and determinates the whole approaches for projecting cities, neighborhoods and streets. But, what is a good place made of? According to litterature on urban design (JACOBS, 1961; LYNCH, 1960; BENTLEY, 1985; GEHL, 2010), the idea of a good place is based on the creation of public spaces that


De acordo com a literatura existente na área de desenho urbano (JACOBS, 1961; LYNCH, 1960; BENTLEY, 1985; GEHL, 2010) , a ideia de um bom lugar se baseia na criação de espaços públicos caracterizados por segurança, fácil acesso, legibilidade e percepção (onde os habitantes possam manter um controle passivo sobre o espaço urbano, “olhos nas ruas”), balanço ecológico (com áreas verdes e azuis), permeabilidade (através de conexões e acessos), identidade cultural (a partir do reconhecimento do lugar e do seu patrimônio, enraizado no passado e criando o novo), viabilidade econômica (que conecta as redes de emprego e demais usos da cidade), vitalidade (referente ao fator bem-estar, aos lugares atrativos, confortáveis e seguros; produto da interação de fatores psíquicos, ambientais e econômicos; com as edificações interagindo com os espaços públicos, “fachadas ativas”) e variedade (diversidade cultural, usos mistos, variedade tipológica), entre outras. No entanto, essa literatura é, em grande parte, baseada em estudos feitos no mundo teórico anglo-saxão e poucos são os trabalhos que se dedicam a investigar a validade das “qualidades urbanas” em diferentes contextos culturais. O objetivo do CrossCult é justamente promover a discussão sobre a transferenciabilidade das qualidades are characterized by safety, easy access, legibility and perception (where inhabitants can keep a passive control over urban spaces, “eyes on the streets”), ecologic balance (with green and blue areas), permeability (through connections and accesses), cultural identity (from recognizing the place and its heritage, rooted in past and creating the new), economic viability (which connects employment networks with the other uses of the city), vitality (refers to well-being, to attractive, comfortable and safe places; product of the interaction of psychological, environmental and economic factors, with buildings that interact with public spaces, “active façades”) and variety (cultural diversity, mixed uses, variety of types), among others. However, this litterature is largely based on studies conducted in the Anglo-Saxon theoretical world and there are few works dedicated to investigation on validity of “urban qualities” in different cultural contexts. Cross-cult aims precisely on promoting discussion on transferability of urban qualities and urban design principles in different cultures from analysis about the good place in the cities of Pelotas and Oxford. Each place has its own urban qualities and needs to develop others. It is not about 26 cross-cult


urbanas e princípios de desenho urbano em culturas diferentes através da análise do bom lugar nas cidades de Pelotas e Oxford. Cada lugar possui suas próprias qualidades urbanas e necessita desenvolver outras, não se trata de transferir qualidades, mas um processo de se pensar a cidade como uma estrutura físico-espacial, cujos elementos são dispostos de forma a contribuir na criação da imagem urbana e na experiência do indivíduo pela espacialidade da cidade. Nesse contexto, evidencia-se a importância do papel do planejador urbano auxiliando na criação de cidades que atendam aos propósitos da população, descobrindo, a partir da análise do ambiente físico e dos objetivos de sua sociedade, critérios de chegar a soluções locais para problemas globais (HYPOLITO, 2015). No Joint Center for Urban Design, Oxford Brookes University, o ensino de desenho urbano começa pelo questionamento da ideia do “bom lugar”. Três questões principais guiam a abordagem de desenho adotada: 1) Quais são as qualidades mínimas de um espaço urbano que satisfaça as necessidades e desejos de seus usuários?; transferring qualities, but about a process of thinking the city as a physical-spatial structure whose elements are disposed to contribute with creation of urban image and the subject’s experience through the city’s spatiality. In this context, the importance of the role of the urban planner becomes evident, helping to create cities that answer to their populations aspiration, discovering, from the analysis of the physical environment and the society’s goals, criteria to get to local solutions to global problems (HYPOLITO, 2015). At the Joint Centre for Urban Design, Oxford Brookes University, teaching urban design start from discussing the idea of a “good place”. Three questions guided the design approach adopted: 1) What are the minimum qualities for a urban space to meet the needs and wishes of its users?; 2) What is the material for the work of urban designers (planners)? Which urban elements can we manipulate to create these qualities? 3) How can we manipulate these elements to create urban qualities? Which are the urban design principles needed to develop each quality? cross-cult 27


2) Qual é a matéria-prima dosThis way, strategies for a good urban desenhadores (projetistas) urbanos?design are creating well dimensioned Quais os elementos urbanos que podemospublic spaces, which meet the expectations of different users, allowing circulation with manipular para criar essas qualidades? 3) Como podemos manipular estesa signaling and information system that elementos para criar as qualidades urbanas?helps people go to their destinies, creating Quais são os princípios de desenholoitering and leisure areas with functional, urbano necessários para desenvolver cadadurable, safe and aesthetically pleasant equipment that also makes it possible qualidade? to surprise and thus stimulate affection, Dessa forma, são estratégias para um bommeetings, dialogue and the will to live in desenho urbano criar espaços públicossociety. bem dimensionados, que atendam às expectativas de diferentes usuários, propiciando a circulação com um sistema de sinalização e informação que auxilie as pessoas a se dirigirem aos seus destinos, criando áreas de estar e lazer com equipamentos funcionais, duráveis, seguros e esteticamente agradáveis; e ainda que possibilitem a surpresa, estimulando os afetos, o encontro, o diálogo e a vontade de viver em sociedade.

28 cross-cult


wanderingtrajetos de ^ routeserrancia Pelotas is considered one of Brazil’sPelotas é considerada uma das capitais regional capitals and is located by Sãoregionais do Brasil e se localiza às margens Gonçalo Channel, which connects thedo Canal São Gonçalo, que liga as Lagoas lagoons Mirim and dos Patos, at 250dos Patos e Mirim, e à 250 quilômetros da kilometres away from the state capital,capital do estado Porto Alegre, no Estado Porto Alegre, in Rio Grande do Sul state,do Rio Grande do Sul, extremo sul do in the Southernmost part of Brazil. It is aBrasil. Uma cidade de porte médio1 que medium-sized city1 which comprehendscompreende uma área de 1.609 Km² e possui an area of 1609 km² and a population ofuma população de 327.778 habitantes 327,778 inhabitants (2010 Census), which(Censo de 2010), é a terceira cidade mais makes it the third most populous city inpopulosa do Estado2 e onde cerca de 92% the state2. Of the total population, 92% liveda população total reside em zona urbana. in urban area. O primeiro dado histórico do qual se tem The first known historical data aboutconhecimento do surgimento de Pelotas Pelotas is from 1758, when Gomes Freiredata de 1758, quando Gomes Freire de de Andrade, Earl of Bobadela, escapingAndrade, Conde de Bobadela, fugindo da from Spanish invasion, donated the landsinvasão espanhola fez uma doação das by dos Patos Lagoon to Colonel Thomázterras que ficavam às margens da Lagoa Luiz Osório. In 1753, the inhabitants ofdos Patos ao Coronel Thomáz Luiz Osório. Rio Grande village sought shelter in theEm 1753, habitantes da Vila de Rio Grande colonel’s lands and in 1777, refugeesbuscaram abrigo nas terras do Coronel from Colônia do Sacramento joined them. 1 Pelo IBGE, as cidades médias têm entre 100 mil e 1 According to IBGE – Brazilian Institute of Geography and500 mil habitantes. Fonte disponível em: <http://www. Statistics, medium-sized cities have between 100,000 and 500,000centrocelsofurtado.org.br/interna.php?ID_M=496>. Acesso em inhabitants. Source available at: <http://www.centrocelsofurtado.maio de 2014. 2 Dados gerais de Pelotas/RS. Fonte disponível em: <http://www. org.br/interna.php?ID_M=496>. Acess in May 2014. 2 General data on Pelotas-RS. Available at: <http://www.pelotas.pelotas.rs.gov.br/cidade/dados-gerais.php> Acesso em maio de 2014. rs.gov.br/cidade/dados-gerais.php> Acess in May 2014.


Historical buildings are recognized by theire, com eles, juntaram-se os retirantes historicist ecletism style and were builtda Colônia do Sacramento, em 1777. As between 1870 and 1931, which correspondsedificações históricas são reconhecidas to a rich economic period due to charquepelo estilo eclético historicista, construídas (dried salted meat) production (SANTOS,entre os anos de 1870 e 1931, coincidindo 2014). com o rico período econômico devido à produção de charque (SANTOS, 2014). Known as “Rio Grande do Sul’s Athens”, Pelotas is a rich cultural, political andReconhecida como a Atenas Rio-Grandense, academic centre, home to five higher-Pelotas possui um rico centro cultural, education institutions, among which ispolítico e universitário que abriga cinco the Federal University of Pelotas (UFPel),instituições de ensino superior, dentre elas that attracts thousands of students froma Universidade federal de Pelotas (UFPEL), the whole country. Today, with 203atraindo milhares de estudante de todas as

Images: Pelotas City.Imagens: Cidade de Pelotas. Source: Fernanda Tomiello, 2014.Fonte: Fernanda Tomiello, 2014.

30 cross-cult


years of foundation, Pelotas economy isregiões do país. Atualmente, com 203 anos, attached to commerce and the city has beenmantém sua principal economia vinculada suffering a major population swelling. Allao comércio e tem sofrido um grande this make a powerful cultural mix, whereinchaço populacional. Fator que propicia à differences live together on a daily baisis,cidade uma potente mistura cultural, é um with different habits, accents, styles andconviver entre as diferenças diariamente, aspirations sharing Pelotas’ contemporarydiferentes costumes, sotaques, estilos e urban space. desejos convivendo no cenário urbano da contemporânea cidade de Pelotas. Experiencing its streets – in a context that is marked by the recent celebration of itsA experiência por suas ruas - no contexto 200 years and that maintains a postcardmarcado pela recente comemoração dos image highlighting touristic and formationseus duzentos anos e que mantém uma symbols, drawing tourists and selling itimagem cartão-postal, evidenciando os to investors – shows that reality is quitesímbolos turísticos e de formação da different from the photographs we find incidade, chamando os turistas e vendendo websites and advertisement. suas terras a investidores de fora demonstra que a realidade é um tanto The real city presents characteristicsquanto diferente da fotografia vista através that are in general very similar to manyde sites e materiais publicitários. contemporary cities and phenomena that occur repeatedly in most – if not in all –A realidade da cidade apresenta, num Latin American cities, such as constructiongeral, características muito semelhantes às of closed housing estates in areas that aredas cidades contemporâneas, fenômeno far from the central zone and precariousque se repete na maioria, senão totalidade public transportation, which promotesdas cidades latino-americanas, a exemplo individual means of transportation, leadinga construção de diversos loteamentos to several circulation problems. fechados em zonas afastadas da área central e a precariedade do transporte público Urban experience is then marked by amunicipal, que incentivam a utilização do difficult mobility and weak participationtransporte individual acarretando diversos of the people in public administrationproblemas de circulação no sistema viário. decisions, and also by insecurity and cross-cult 31


polution. The greater green areas are mostlyA experiência urbana que se inscreve é squares, which concentrate vegetation inmarcada pela difícil mobilidade e pouca the midst of growing urbanization. Thereparticipação popular nas decisões de gestão are almost no urban parks and the qualitypública, caracterizada ainda, e cada vez of public spaces is poor. mais, pela insegurança e pela poluição. As grandes áreas verdes são, principalmente, However, even unattended by publicpraças que concentram a vegetação em power and by the city’s masterplan, themeio à crescente urbanização, a presença population is finding creative solutions tode parques urbanos é inexistente e a qualify the urban experience. qualidade dos espaços públicos é precária. Oxford is an English city, located atNo entanto, desassistida pelo o poder approximately 60 kilometres from Londonpúblico e pelo plano diretor da cidade, and with an area of 45,59km2. Its originscriativas soluções são inventadas pela

Images: Oxford City.Imagens: Cidade de Oxford. Source: Fernanda Tomiello, 2014.Fonte: Fernanda Tomiello, 2014.

32 cross-cult


date back to the 12th century, when Kingpopulação, a fim de qualificar a experiência Henry II brought back home the youngurbana. British who studied in Paris. Nowadays Oxford’s population is around 115,000Oxford é uma cidade inglesa, situada inhabitants and its name became a synonymaproximadamente a 60Km de Londres, of university. There are several buildings ofpossui 45,59km2 e teve sua origem medieval and gothic architecture. To walkno século XII, quando o Rei Henrique around there is almost like going back toII trouxe de volta à pátria os jovens the 18th and 19th century. The city is homebritânicos que estudavam em Paris. to the Joint Centre for Urban Design ofAtualmente, Oxford tem uma população Oxford Brookes University, created in 1972com, aproximadamente, 115.000 habitantes to promote a better conception of urbane tornou-se sinônimo de universidade. space and treat urban design as an activityPossui diversos edifícios de arquitetura medieval e gótica. Caminhar por suas with an interdisciplinary nature. ruas é quase uma volta aos séculos XVIII e Regarding cultural specificities relatedXIX. Em Oxford encontra-se o Joint Centre to urban design in Pelotas and Oxford, itfor Urban Design da Oxford Brookes is noted that both cities carry remarkableUniversity, criado em 1972, para promover historical and social accumulations whenuma melhor concepção de espaço urbano, it comes to their images and their urbantratando o desenho urbano como uma design. Identity and differences. Hence,atividade de natureza interdisciplinar. what are the differences/identities in urban Acerca das especificidades culturais design in Pelotas and Oxford? relacionadas ao desenho urbano das The sections chosen by the research groupcidades de Pelotas (Brasil) e Oxford to work on were the cities’ central areas,(Inglaterra), salienta-se que ambas cidades due to their commercial characteristics,possuem acumulações históricas e sociais density of constructions and people flows.bastante marcantes, no que diz respeito In Pelotas, the studied area is a section ofà imagem das cidades e no seu desenho Andrade Neves Street and in Oxford, aurbano. Identidades e diferenças. Portanto, quais serão as diferenças/identidades section of Cornmarket Street. no desenho urbano de Pelotas (Brasil) e Founded in the beginning of the 1980s, theOxford (Inglaterra)? cross-cult 33


pedestrian on Andrade Neves Street has a valuable strategic potential for commerceOs trechos escolhidos pelo grupo and regional integration, placing the citypesquisador para trabalhar foram áreas in a competitive position regarding tradecentrais das cidades, em função de suas productivity and cultural exchange. Thecaracterísticas comerciais, a densidade pedestrian is a place of leisure, meetings,de construções e o fluxos de pessoas. Em citizenship and artistic expressions in aPelotas, a área de estudo é um trecho da daily encounter of different urban tribesRua Andrade Neves e em Oxford, um and lifestyles. On the corner of Sete detrecho da Cornmarket Street. Setembro and Andrade Neves streets is the so-called Democratic Corner, where isFundado no início dos anos 80, o calçadão located the Três Meninas Fountain, whichda Rua Andrade Neves cidade tem um came from France in 1874. valioso potencial estratégico para o comércio e a integração regional, dando Since the year 1000, the street that is todayposição competitiva à cidade no que called Cornmarket has been one of thetange a produtividade mercadológica e o main commerce streets in Oxford. Over theintercâmbio cultural. O calçadão é espaço years, it has been through lots of spatialde lazer, encontros, cidadania e expressões changes in order to adjust to the growingartísticas, neste encontro cotidiano de flux of people walking and it was turneddiferentes tribos e vidas. Na Sete de into a pedestrian in 1999. In addition toSetembro esquina Andrade Neves, temos a the people flow, the street is also a kindchamada Esquina Democrática, onde está of public stage for artistic demonstrations.localizado o Chafariz das Três Meninas, The only elements found in the streetvindo da França em 1874, local de encontro space are trash cans and benches. Theree descanso de muitos pedestres. is no vegetation on the section chosen for research. Desde o ano 1000 a rua que hoje se chama Cornmarket Street tem sido uma das principais ruas comerciais da cidade de Oxford. Ao longo dos anos a rua sofreu inúmeras modificações espaciais para acomodar o crescente fluxo de pedestres e foi pedestrianizada em 1999. Além do 34 cross-cult


fluxo de pedestres a rua se comporta como um palco público para demonstrações artísticas. Os únicos elementos encontrados no espaço da rua são lixeiras e bancos. Não existe vegetação no trecho escolhido para a pesquisa.

Images: Oxford City and Pelotas.Imagens: Cidade de Oxford e Pelotas. Source: Fernanda Tomiello, 2014.Fonte: Fernanda Tomiello, 2014.

cross-cult 35


^ cross-culturalexperiencia experiencecross-cultural A experiência cross-cultural atentou às seguintes questões: Como se dá o uso do espaço público pelos corpos-sujeitos em diferentes contextos urbanos, quais as demandas e quais qualidades fazem daquele lugar um bom lugar? Experimentar o vaguear em um lugar estrangeiro, ver-se mesmo estrangeiro, outra língua, outros costumes, outro clima, cores, texturas, outras qualidades e regras urbanas. Assim se fez essa experiência cross-cultural, entre as cidades Pelotas|Brasil– Oxford|ReinoUnido, pelo grupo pesquisador do projeto. A cidade contemporânea é um lugar de fronteira -de interação constante com o meio e entre diferentes culturas, um território aonde a memória coletiva vai construindo o lugar ao mesmo passo em que influencia suas práticas cotidianas -de ruptura, uma cidade troca (culturas, experiências, mercadorias) onde proliferam zonas abandonadas, baldias e, ao mesmo tempo, surgem novas culturas e subculturas, que são manifestações cotidianas da cidade. A cidade contemporânea é o caos, a coexistência de diversos tipos de pessoas, de diferentes classes econômicas, que buscam diferentes modos de vida, o lugar da diversidade. A cidade é “um campo de processos em que o corpo está co-implicado” (BRITTO, 2013, p. 37), afastando-se da ideia de cidade como um lugar em que o corpo se insere. Ou seja, o espaço não é um vazio, mas está sempre em troca com o corpo que interage com ele, e vice-versa. As cidades exercem um grande poder sobre os corpos que com ela interagem, e quando são, por exemplo, projetadas privilegiando os automóveis em detrimento dos pedestres, intervém diretamente na saúde e nos hábitos de seus habitantes dificultando a possibilidade de diferentes experiências sensoriais entre o corpo e a cidade.


The cross-cultural experience laid attention on the following questions: how is the public space used by people focused in different urban contexts?, what are the demands and what qualities make a good place? To experience wandering in a foreign place, to see oneself as a foreigner, another language, other habits, another weather, other colours, textures, other qualities and urban rules: that is what the cross-cultural experience between Pelotas and Oxford was made of, for this project’s research group. The contemporary city is a border – of constant interaction with the environment and between different cultures, a territory where collective memory is building the place at the same time as it affects its daily practices –, a place of rupture, of exchange (of cultures, experiences and commodities), where abandoned, vacant zones proliferate at the same time as new cultures and subcultures are born, as usual expressions of the city. Contemporary city is chaos, is a coexistence of multiple kinds of people and economic classes seeking different lifestyles, it is the place of diversity. The city is “a field of processes in which the body is co-implicated” (BRITTO, 2013, p. 37 [our translation]), withdrawing itself from the idea of city as a place in which the body inserts itself. In other words, it is not an empty space, it is always in exchange with the body that interacts with it and vice-versa. Cities wield great power over the bodies that interact with it. When, for example, they are planned privilege cars instead of pedestrians, it has a direct effect over its inhabitants health and habits, weakening the possibility of different sensitive experience between the body and the city. We are our bodies, we are the environment in which we live and we are the relations we establish with everything that surrounds us. We communicate through the body, all that we feel and think is expressed through it and the relation between body and city occurs mostly in public spaces. This is also how urban qualities are perceived. A process that happens from an active cross-cult 37


Somos nossos corpos, somos o ambiente em que vivemos e somos as relações que fazemos com tudo o que está à nossa volta. Comunicamo-nos através do corpo, tudo o que sentimos e pensamos é transmitido por ele e a relação entre corpo e cidade se dá principalmente nos espaços públicos. Assim também se dá a percepção das qualidades urbanas. Um processo que ocorre através da experiência ativa dos lugares com todos os sentidos do nosso corpo, uma relação corporal que deixa marcas na cidade ao mesmo tempo em que é marcado por ela. Hábitos, costumes, espaços e equipamentos urbanos vão sendo experimentados e adaptados a partir da interação corporal. Por essas questões, a criação de espaços planejados e desenhados para as pessoas, projetados à escala humana, é um dos princípios fundamentais para fazer do lugar um “bom lugar”. Em Oxford, a questão que mais marcou o grupo foi a coexistência entre os meios de transporte, o bom convívio entre carros, bicicletas, transportes coletivos e pedestres. Na hierarquia viária o pedestre está à frente, depois a bicicleta, o ônibus e por último os carros. A atenção dada ao ser humano em sua prática cotidiana de circular e se movimentar pela cidade, incentiva a experiência urbana. Mesmo que os automóveis, no caso da cidade de Oxford, ainda tenham maior prioridade quando comparado aos espaços oferecidos as pessoas. Outras questões como sinalização, limpeza pública, dimensionamento de passeios e vias, segurança e qualidade de equipamentos urbanos manifestam cuidados com o lugar e possibilitam a experiência corporal ativa. Assim, os sentidos ganham espaço para explorar as texturas, os sons, as cores e as formas do lugar. O grupo experimentou uma “[des]territorialização” corporal e cultural. Um processo que implica adaptar-se, estimular outras formas de comunicação além da fala, ter olhos e ouvidos atentos aos sinais da cidade e de seus corpos. Atravessar a rua se torna uma aventura quando os veículos parecem andar na contramão (mão inglesa) e a atenção tem de ser dobrada. Desacostumar o corpo da brasilidade e reacomodá-lo ao lugar estrangeiro. De semelhante, as pessoas, a miscigenação cultural, o cotidiano, a arte na rua, o uso da 38 cross-cult


experience of the places with all the senses in our bodies, a physical relation that leaves marks in the city at the same time as it is marked by the city. Urban habits, manners, spaces and equipment are constantly experienced and adapted from body interaction. Because of these issues, to create spaces that are planned and drawn for people, designed in a human scale, is a fundamental principle to make somewhere a “good place”. In Oxford, coexistence of transportation means drew most of the group’s attention, as cars, bikes, public transportation and pedestrians live well together. In the street hierarchy pedestrians come first, followed by bikes and then buses and finally cars. The attention given to human beings in their daily practices of circulating and moving throughout the city stimulates urban experience, even though cars can be prioritized over people regarding the spaces offered in Oxford. Other issues such as signaling, public cleaning, streets and routes dimensions, safety and urban equipment qualities show the care taken with the place and allow an active body experience. Space is given to the senses, to explore the place’s textures, sounds, colours and shapes. The group experienced a body and cultural “[de]territorialization”. A process that implies adaptation and stimulation of other means of communication than speaking: to have eyes and ears wide open to the city signals and bodies. To cross the street turns into an adventure when cars seem to go on the opposite direction (“English direction”) and attention must be doubled. To withdraw the body from “Brazilianness” and reaccomodate it to a foreign place. People, cultural miscigenation, daily life, art in the street, the use of the city and social practices were similar. Differences laid on dealing with urban elements, quality of the spaces, street hierarchy, time lived in these cities and quality of urban design. The possibility of experiencing a different foreign place helped to renew the thoughts and actions regarding urban space planning, by observing cultural differences and similarities in different urban contexts. Thus, designing action and architectural thought were updated, with an intention to create cities that are more corporal and take sensitive issues of the individuals into account and contribute to modes of existence cross-cult 39


cidade, a prática social. De diferente, o tratothat potentialize life. com os elementos urbanos, a qualidade dos espaços, a hierarquia viária, o tempo de vida dessas cidades, a qualidade do desenho urbano. A possibilidade de experimentar um outro lugar, estrangeiro, contribuiu na renovação do pensamento e da ação de planejar o espaço urbano, através da observação acerca das diferenças e das semelhanças culturais entre diferentes contextos urbanos. Atualizando, assim, a ação projetual e o pensar arquitetônico na intenção de criar cidades mais corporais, levando em conta as questões sensoriais do indivíduo e contribuindo para a construção de modos de existência que potencializem a vida.

40 cross-cult


ritornelloritornelo ritornelo The “Cross-Cult – urban design” activitesAs atividades “Cross-Cult – desenho were planned as a ritornello, a trip thaturbano” foram organizadas como searches deterritorializations and goes deepum ritornelo, uma viagem que busca into the will to territorialize. A ritornello –desterritorializações e aprofunda-se na territorializing, [de]territorializing and [re]ânsia de territorizalizar-se. Um ritornelo territorializing. – territorializando, [des]territorializando e [re]territorializando. This ritornello1 is always relating to other ritornellos. A ritornello of the photographicEsse ritornelo1 está sempre em relação image and another one of the experience.com outros ritornelos. Um ritornelo da One when we are in our own territory andimagem fotográfica e outro da experiência. another one when we go out of it, and againUm quando estamos em nosso território, when we enter another one and so on. Eachoutro quando saímos dele, e, ainda, outro one with its own yelling. This Deleuze-quando adentramos o território do outro, Guattarian ritornello may present itselfassim sucessivamente. Cada um com in three aspects, single or simultaneouslyseu grito próprio. Esse ritornelo deleuze(DELEUZE & GUATTARI, 1997): guattariano pode apresentar-se em três aspectos, sozinhos ou ao mesmo tempo 1 - Sometimes one goes from chaos to(DELEUZE & GUATTARI, 1997): search a territory, a territorial assemblage. When from chaos a centre, a direction is1 - Ora se vai do caos à busca de um território, searched: this search for the centre, for thede um agenciamento territorial. Quando point, is the first aspect of the ritornello,do caos se procura um centro, uma direção: also called directional component. It is inesta busca em direção ao centro, ao ponto, the order of the child in the dark, lookingé o primeiro aspecto do ritornelo, também for the only direction of the stable point,chamado de componente direcional. É da ordem da criança no escuro que busca a 1 A Thousand Plateaus (1987) and What is philosophy? (1994) are books by Deleuze and Guattari in which the concept of1 Mil Platôs (1997) e O que é a Filosofia? (1992) são os livros de ritornello appears the most. Deleuze e Guattari em que mais aparece o conceito de ritornelo.


única direção do ponto estável, cantarolando sua cantiga reconhecível, seu pequeno tralalá; 2- Ora se organiza o agenciamento, se traça um território em torno do ponto, do centro. Com um centro, um crivo ou ponto no caos, tem-se a segurança mínima para que um território possa ser constituído. A busca não se dá mais por um ponto, pela única e repetitiva cançãozinha, mas sim pela construção de um espaço dimensional a ser habitado (território que se dá ao redor do ponto). Trata- se de um espaço íntimo, onde as forças do caos são mantidas numa exterioridade, criando condições para que a tarefa possa ser cumprida, para que uma obra seja realizada. Este é o segundo aspecto do ritornelo, seu componente dimensional. Aqui os ritornelos estão mais a serviço de criar e consolidar o território, já que se tem a segurança mínima para que alguns “motivos territoriais” possam ser empregados e; 3 - Ora se sai do agenciamento territorial em direção a outros agenciamentos. É a operação das linhas de fuga, das pontas de desterritorialização que colocam o território como uma instância provisória – um território que é sempre transitório. Este movimento é o que Deleuze e Guattari (1997) chamam de componentes de passagem, componentes de fuga, onde se dão os interagenciamentos. Trata-se do terceiro aspecto do ritornelo. Portanto, primeiro nos colocamos nas cidades de Pelotas (Brasil) e Oxford (Reino Unido), que se abrem como novos territórios para nós (componente direcional), depois buscamos consolidá-los, entender as cidades (componente dimensional) e, por fim, vamos embora das cidades, passamos a outros encontros e agenciamentos. A sensação de ritornelo, nas cidades experimentadas, coexiste nesses três dinamismos, ou seja, numa só mesma coisa, num só mesmo. Sempre circulares. O movimento circular operado pelo ritornelo garante-nos o território, nosso “estar em casa”, mesmo diante de uma rua outra, ao mesmo tempo em que opera a fuga do mesmo. Sempre desterritorializando2 . 2 A desterritorialização relativa diz respeito ao próprio socius. Esta desterritorialização é o abandono de territórios criados nas sociedades e sua concomitante reterritorialização. A desterritorialização absoluta remete-se ao próprio pensamento. Os dois processos se relacionam, um perpassa o outro. Além disso, devemos ressaltar novamente que, para os dois movimentos, existem também movimentos de reterritorialização relativa e reterritorialização absoluta. A desterritorialização absoluta refere-se ao pensamento, à criação. Para Deleuze e Guattari o pensamento se faz no processo de desterritorialização. Pensar é desterritorializar. Isto quer dizer que o pensamento só é possível na criação e para se criar algo novo, é necessário romper com o território existente, criando outro. Dessa forma, da mesma maneira que os agenciamentos funcionavam como elementos constitutivos do território, eles também vão operar uma desterritorialização. Novos agenciamentos são necessários. Novos encontros, novas funções, novos arranjos. No entanto, a desterritorialização do pensamento, tal como a desterritorialização em sentido amplo, é sempre acompanhada por uma reterritorialização: “a desterritorialização absoluta não existe sem reterritorialização” (DELEUZE & GUATTARI, 1992, p. 131). Essa reterritorialização é a obra criada, é o novo conceito, é a canção pronta, o quadro finalizado.

42 cross-cult


always chanting a recognizable chant, his little tralala; 2 – Sometimes the assemblage is organized, a territory is traced around the point, the centre. With a centre, a cribble or a point in chaos, we have a minimum safety to compose a territory. The search is no longer for a point, for the only and repetitive little chant, but for the construction of a dimensional space that will be inhabited (the territory around the point). It is an intimate space, where the powers of chaos are kept out, creating the conditions for the task to be accomplished, for a work to be done. This is the second aspect of the ritornello, its dimensional component. Herein, ritornellos are more likely to serve for creating and consolidating the territory, since there is a minimum safety for some “territorial motives” to be employed; 3 – Sometimes one leaves the territorial assemblage towards other assemblages. It is the escape line operation, the tips of deterritorialization that set the territory as a temporary instance – a territory which is always transitional. This movement is what Deleuze and Guattari (1997) call passage components, escape components, where inter-assemblages occur. It is the third aspect of the ritornello. Then, first we place ourselves in the cities of Pelotas (Brazil) and Oxford (U.K.), which open themselves as new territories for us (directional component), then we seek to consolidate them, to understand the cities (dimensional component) and finally we leave to other encounters and assemblages. The ritornello feeling in the experienced cities coexists in these three dynamics, that is to say in one single same thing, in one same. Always circular. The circular movement performed by the ritornello assures the territory for us, our “being at home”, even facing another street, at the same time as it acts for the escape from it. Always deterritorializing2. So we start from recognizing the daily life place, Pelotas (territorializing); then we experience the foreign place, Oxford (deterritorializing); and finally we investigate 2 Relative deterritorialization refers to socius. This deterritorialization is the abandonment of the territories that have been created in society and their simultaneous reterritorialization. Absolute deterritorialization refers to thinking itself. The two processes are related, one runs through the other. Besides that, we must also note again that for both movements there are also relative and absolute reterritorialization movements. For Deleuze and Guattari, thinking is made in the deterritorialization process. To think is to deterritorialize. That means thinking is only possible within creation and to create something new it is necessary to disrupt the existent territory and create another one. This way, just like assemblages worked as a territory’s constitutive elements, they also perform a deterritorialization. New assemblages are necessary. New encounters, new functions, new arrangements. However, the deterritorialization of thinking, just like deterritorialization in a wide sense, is always followed by a reterritorialization: “absolute deterritorialization does not exist without reterritorialization” (DELEUZE & GUATTARI, 1992, p. 131 [our translation]). This reterritorialization is the created work, the new concept, the ready song, the finished painting.

cross-cult 43


territorializandoterritorializing Durante três meses nos ocupamos emFor three months, we were dedicated to territorializar, estudando, mapeando,territorializing, by studying, mapping, criando estratégias e trajetos a fimcreating strategies and routes to get to de reconhecer os lugares propostos àknow the places we were to study and investigação e nos identificar com eles.identify with them. A litterature review A revisão bibliográfica acompanhou owas carried out during this process and we processo e também foram confeccionadosalso created data collection instruments, os instrumentos para a coleta de dados,such as monoculars, maps, videos etc. The como monóculos, mapas, vídeos, etc. Amain task was to observe and identify the tarefa principal foi a de observar e identificarqualities of urban design and the principles as qualidades de desenho urbano e osthat guide the construction of a good place princípios norteadores na construção doin Pelotas. To understand how they are bom lugar em Pelotas. Compreender comoexpressed and how they function. se expressam e como funcionam. At this stage two workshops were proposed A etapa propôs duas oficinas em Pelotas,in Pelotas and received participants e contou com participantes de diferentescoming from different knowledge areas, áreas do conhecimento, o que contribuiuwhich turned into a great contribution positivamente ao projeto. As oficinasto the project. The workshops explored exploraram a técnica da fotografia,the photography technique, firstly with a primeiramente como um dispositivo paradevice to take a peek at the place and then espiar o lugar, e, após como uma ferramentawith a tool to build new possibilities for the de construção de novas possibilidades paraAndrade Neves Pedestrian. o ambiente urbano do Calçadão Andrade An initial conversation explored the Neves. concepts of urban design and good place, Uma conversa inicial explorou osunderstanding the first one as the urban conceitos de desenho urbano e bom lugar,place project – its spaces, structure, entendendo o primeiro como o projeto doappearance, roads, mobilities, colours,


lugar urbano - seus espaços, a estrutura, a aparência, suas vias, mobilidades, cores, sons e estética – com o fim de construir um bom lugar para as pessoas. A proposta de trabalho foi para que os participantes não se detivessem aos conceitos de qualidades urbanas, mas que explorassem o lugar com o corpo e a intuição. E assim se deu o primeiro momento das oficinas, espiando o desenho urbano de Pelotas. Num segundo momento, a ideia foi a de cria o que seria um bom lugar, através de diferentes técnicas fotográficas, de fácil manuseio, apresentadas pelo grupo pesquisador, que auxiliou os participantes durante todo o processo da oficina. Assim, construímos lugares, parcerias e coletamos dados do lugar Pelotas que foram impressos, organizados e embalados rumo à Europa, para dar continuidade nesse ritornelo cross-cultural. sounds and aesthetics – aiming to build a good place for people. The work proposal was for the participants to not attach themselves to the concepts of urban qualities but to explore the place with their bodies and intuition. This is how the first moment of the workshops happened, by taking a peek at Pelotas’ urban design. On a second moment, the idea was to create which is a good place, through different easy-to-handle photography techniques presented by the research group, to help participants during the whole workshop process. This way, we built places, partnerships and collected data about the Pelotas place, which were printed, organized and packed to be taken to Europe and go on with this cross-cultural ritornello.

cross-cult 45


calçadão da rua andrade neves|pelotas|rs




ESPIANDO O DESENHO URBANO Imagem de: 1. Gabriela Pasqualin Cavalheiro|2. Gustavo Nunes|3. Luiza Hypolito|4. Lorena Maia Resende|5. Thiago Gonçalves.

‘TAKING A PEEK’ IN URBAN DESIGN Image by: 1. Gabriela Pasqualin Cavalheiro|2. Gustavo Nunes|3. Luiza Hypolito|4. Lorena Maia Resende|5. Thiago Gonçalves.

cross-cult 49


ESPIANDO O DESENHO URBANO Imagem de: 1.Thaís Duarte Moura|2. Thiago Gonçalves|3. Antonella dos Santos Pons|4. Cláudia Mariza Mattos Brandão|5. Eduardo Souza|6. Ana Paula Tejada.

‘TAKING A PEEK’ IN URBAN DESIGN Image by: 1.Thaís Duarte Moura|2. Thiago Gonçalves|3. Antonella dos Santos Pons|4. Cláudia Mariza Mattos Brandão|5. Eduardo Souza|6. Ana Paula Tejada.

50 cross-cult



‘TAKING A PEEK’ IN URBAN DESIGNESPIANDO O DESENHO URBANO Image by:Imagem de: 1. Manuela Farias Amaral|2. Leandro da1. Manuela Farias Amaral|2. Leandro da Conceição OliveiraConceição Oliveira.


PARTICIPANTES EM PELOTAS|BRASIL Barbara de Barbara Hypolito Débora Allemand Pierre Moreira dos Santos Gustavo Nunes Carla Gonçalves Rodrigues Rodrigo de Assis Brasil Valentini Paola Brum Laura Novo de Azevedo Fernada Tomiello Eduardo Rocha Lorena Maia Resende Vanessa Signorini Thiago Gonçalves de Andrades Thaís Duarte Moura Maria Clara Lysakowski Hallal Manuela Farias Amaral Manoela Neves Siewerdt Leandro da Conceição Oliveira Leila Rosani Gisler Lopes Luiza Hypolito Isabel Cristina Pires dos Santos Gabriela Pasqualin Cavalheiro Francine Costa Amaral Eliene Barbachan Dubreuilh Gabriela Beraldi Ribeiro Eduardo Souza Cássia Correa Pereira Cláudia Mariza Mattos Brandão Antonella dos Santos Pons André de Oliveira Torres Carrasco Ana Paula Tejada Talita Vieira Carolina Magalhães Falcão Rafaela Barros de Pinho Sara Teixeira Munaretto Mauricio Leal Pons Imagens: Atividades na Universidade Federal de Pelotas. Fonte: Fernanda Tomiello e Paola Brum, 2014.


FOTOGRAFIA EXPANDIDA Imagem de: 1. Antonella dos Santos Pons|2. Manoela Neves Siewerdt|3. Carolina Falcão|4. Leila Rosani Gisler Lopes|5. Sara Teixeira Munaretto.

EXPANDADED PHOTOGRAPHY Image by: 1. Antonella dos Santos Pons|2. Manoela Neves Siewerdt|3. Carolina Falcão|4. Leila Rosani Gisler Lopes|5. Sara Teixeira Munaretto.




FOTOGRAFIA EXPANDIDA Imagem de: 1. Fernanda Tomiello|2. Maria Clara Lysakowski Hallal|3. Thiago Gonรงalves|4. Thiago Gonรงalves.

EXPANDADED PHOTOGRAPHY Image by: 1. Fernanda Tomiello|2. Maria Clara Lysakowski Hallal|3. Thiago Gonรงalves|4. Thiago Gonรงalves.

cross-cult 57



FOTOGRAFIA EXPANDIDA Imagem de: 1.Eduardo Rocha|2. Isabel Cristina Pires dos Santos|3. Carla Gonรงalves Rodrigues|4. Cรกssia Correa Pereira.

EXPANDADED PHOTOGRAPHY Imagem de: 1.Eduardo Rocha|2. Isabel Cristina Pires dos Santos|3. Carla Gonรงalves Rodrigues|4. Cรกssia Correa Pereira.

cross-cult 59


[de][des] territorializingterritorializando For one month, the group of researchersDurante um mês, o grupo de from Pelotas went on an adventurepesquisadores de Pelotas se aventurou in English lands, to investigate urbanpor terras inglesas, a fim de investigar experience in that place. Througha experiência urbana naquele local. Por workshops, life experiences and meetings,meio de oficinas, vivências, palestras e they experienced and studied Oxford’sencontros, experienciaram e estudaram urban qualities. as qualidades urbanas de Oxford. This stage was dedicated to experiencesA etapa buscou a troca de experiências exchanges between the Brazilian and theentre os grupos de pesquisa brasileiro e English groups and to give researchersinglês, e pretendeu dar aos pesquisadores the opportunity to experience the other’sa oportunidade de experimentar o urban design. To live a foreign place,desenho urbano do outro. Vivenciar to get close to it and to show your owno lugar estrangeiro, aproximá-lo de reality to the other. That was the basis ofsi, apresentar a própria realidade ao this experience, through several meetings,outro. Assim se fez essa experiência, talks, presentations and lots of walking. através de diversos encontros, conversas, apresentações e muita caminhada. At first, there was a recognition of the studied area, Cornmarket Street. Then,No início houve o reconhecimento da área an exhibition was set up, with photos em estudo, a Cornmarket Street, em seguida, in monoculars that resulted from theuma exposição foi montada com fotos em workshops in Pelotas, about the Andrademonóculos, resultantes das oficinas em Neves Pedestrian map. This was thePelotas, sobre o mapa do Calçadão Andrade moment to introduce our place to theNeves. Este foi o momento de apresentar other, to see our differences, qualities ando nosso lugar ao outro, olhar nossas possibilities. diferenças, qualidades e possibilidades.

60 cross-cult


After, there were two workshops, similar to the Pelotas ones, but focused on Cornmarket Street. Participants were mostly urban design students, so the activity was to use photography as a device and tool to take a peek on the place and deconstruct it. Finally, [de]territorialized, the group came back to Brazil. In the luggage, memories of a unique experience, one of those things that only body and memory can carry. A life experience that resulted in videos, photos, friendships and knowledge to be shared in Pelotas. Dando seguimento à etapa, foram executadas duas oficinas, semelhantes às de Pelotas, mas com o foco nas qualidades urbanas da Cornmarket Street. Os participantes eram em sua totalidade estudantes de desenho urbano, portanto a novidade aqui foi a utilização da fotografia como dispositivo e ferramenta para espiar o lugar e desconstruí-lo. Ao fim, [des]territorializado, o grupo seguiu viagem de retorno ao Brasil. Na mala, lembranças de uma experiência sem igual, dessas coisas que só o corpo e a memória são capazes de carregar. Uma vivência que gerou frutos, vídeos, fotos, amizades, conhecimento, prontinhos para compartilhar em solo pelotense.

cross-cult 61


cornmarket street |oxford|uk



ESPIANDO O DESENHO URBANO Imagem de: 1. Ivan Ribeiro Kuhlhoff|2. Pablo Newberry|3. Ivan Ribeiro Kuhlhoff|4. Alisha Paul|5. Ivan Ribeiro Kuhlhoff.

‘TAKING A PEEK’ IN URBAN DESIGN Image by: 1. Ivan Ribeiro Kuhlhoff|2. Pablo Newberry|3. Ivan Ribeiro Kuhlhoff|4. Alisha Paul|5. Ivan Ribeiro Kuhlhoff.

64 cross-cult



FOTOGRAFIA EXPANDIDA Imagem de: 1. Rosa Teixeira|2. Senem Doyduk|3. Charlie Herd|4. Laura Novo de Azevedo|5. Jéssica Bohmer.

‘TAKING A PEEK’ IN URBAN DESIGN Image by: 1. Rosa Teira|2. Senem Doyduk|3. Charlie Herd|4. Laura Novo de Azevedo|5. Jéssica Bohmer.

66 cross-cult



ESPIANDO O DESENHO URBANO Imagem de: 1. Fernanda Tomiello.

‘TAKING A PEEK’ IN URBAN DESIGN Image by: 1. Fernanda Tomiello.


PARTICIPANTS IN OXFORD|UK Fernada Tomiello Eduardo Rocha Barbara de Barbara Hypolito Débora Allemand Pierre Moreira dos Santos Paola Brum Jéssica Bohmer Charlie Herd Rosa Teixeira Senem Doyduk Ivan Ribeiro Kuhlhoff Pablo Newberry Laura Novo de Azevedo Alisha Paul

Images: Activities in Oxford Brookes University. Source: Fernanda Tomiello and Paola Brum, 2014.


FOTOGRAFIA EXPANDIDA Imagem de: 1. Laura Novo de Azevedo|2. Laura Novo de Azevedo|3. Senem Doyduk|4. Barbara de Barbara Hypolito|5. Fernanda Tomiello.

EXPANDADED PHOTOGRAPHY Image by: 1. Laura Novo de Azevedo|2. Laura Novo de Azevedo|3. Senem Doyduk|4. Barbara de Barbara Hypolito|5. Fernanda Tomiello.

70 cross-cult



FOTOGRAFIA EXPANDIDA Imagem de: 1. Eduardo Rocha|2. Senem Doyduk|3. Alisha Paul|4. Débora Souto Allemand|5. Charlie Herd|6. Rosa Teira.

EXPANDADED PHOTOGRAPHY Image by: 1. Eduardo Rocha|2. Senem Doyduk|3. Alisha Paul|4. Débora Souto Allemand|5. Charlie Herd|6. Rosa Teira.

72 cross-cult




FOTOGRAFIA EXPANDIDA Imagem de: 1. Débora Souto Allemand|2. Ivan Ribeiro Kuhlhoff|3. Pablo Newberry|4. Jéssica Bohmer|5. Jéssica Bohmer.

EXPANDADED PHOTOGRAPHY Image by: 1. Débora Souto Allemand|2. Ivan Ribeiro Kuhlhoff|3. Pablo Newberry|4. Jéssica Bohmer|5. Jéssica Bohmer.

cross-cult 75


Images: Exhibition [de]territorializingImagens: Exposição [des]territorializando. Source: Fernanda Tomiello and Paola Brum, 2014.Fonte: Fernanda Tomiello e Paola Brum, 2014.

76 cross-cult


[re][re] territorializingterritorializando At the last stage, the experience was invertedNa última etapa, a experiência foi inversa, and a group of researchers from Oxfordquando um grupo de pesquisadores de (B.U.D.S – Brazil Urban Design Studies1),Oxford (B.U.D.S - Brazil Urban Design coordinated by a foreign researcher,Studies1), coordenado pela pesquisadora landed in Brazil. Again, through lecturesestrangeira, fez pouso no Brasil. E and workshops, urban qualities in Pelotasnovamente, através de palestras e oficinas, estudaram e vivenciaram as qualidades were studied and experienced. urbanas em Pelotas. The meeting fed the discussion about urban qualities and the results obtainedO encontro alimentou a discussão from the cross-cultural process. It wasacerca das qualidades urbanas e dos also a moment to look once more to theresultados obtidos durante o processo differences and similarities between thecross-cultural. Foi também um momento two territories, understanding both asde olhar novamente para as diferenças two universes which contain their owne semelhanças entre os dois territórios functioning principles and that differentexperimentados, entendendo-os como cultures produce different places. dois universos que contém seus próprios princípios de funcionamento; diferentes A photographic exhibition including allculturas produzem diferentes lugares. the moments of this process and images resulting from the workshops in PelotasFoi montada uma exposição fotográfica and Oxford was assembled. Participants ofenglobando todos os momentos do the workshops in Pelotas were able to seeprocesso, com as imagens resultantes their images again and interact with thosedas oficinas em Pelotas e Oxford. Os produced by the participants of the Oxfordparticipantes das oficinas em Pelotas workshop and pay attention to urbanpuderam rever suas imagens e interagir 1 See more at: <http://brookesbuds.wix.com/brookesbuds>.

1 Ver mais em: <http://brookesbuds.wix.com/brookesbuds>.


differences and similarities.

com as dos participantes de Oxford, e ainda, atentar às diferenças e às proximidades At this stage, the material that had beenurbanas. collected was systematized and the experience was shared in events and lecturesA etapa sistematizou o material coletado, a for the academic community, and this bookexperiência foi compartilhada em eventos came as a kind of [re]territory, aiming toe palestras para a comunidade acadêmica, continue to assess the group’s experiencese este livro nasceu como que uma forma and maybe create new territories andde [re]território, a fim de continuar dando partnerships to discuss about urban design,voz às vivências do grupo e talvez criar its qualities and possibilities of transferringnovos territórios e parcerias de debate through different cultures. acerca do desenho urbano, suas qualidades e possibilidades de transferência entre diferentes culturas.


Imagens: Exposição [re]territorialização. Fonte: Fernanda Tomiello e Paola Brum, 2014. Images: Exhibition [re]territorializing Source: Fernanda Tomiello and Paola Brum, 2014.

cross-cult 79


landingdesembarcando After two years of experiences in PelotasApós dois anos de experiências nas cidades and Oxford, we “land” as other people,de Pelotas e Oxford, desembarcamos sendo thinking from the Cross-Cult experienceoutros, pensando com a experiência Crossand the travelling pedagogy. Cult e a pedagogia da viagem.

With the cross-cultCom a experiência experience cross-cult Cultural differences are very importantAs diferenças culturais são aspectos muito aspects when studying contemporary city.importantes na investigação da cidade Each place has its own characteristics andcontemporânea. Cada lugar tem suas adapts itself according to the population’scaracterísticas e se adapta de acordo com need. It is noted that the city of Oxfordas necessidades de sua população. Notouseems to be more planned and morese que a cidade de Oxford apresenta maior surveilled regarding urban space and thisplanejamento e a posterior fiscalização allows it to be more organized, with moresobre o espaço urbano, isso possibilita que clear activities and spaces that everyonea cidade se apresente mais organizada, as respects. atividades são mais claras e os espaços são respeitados por todos. However, Pelotas seems to presents a more adapted and flexible urban space,Entretanto, em Pelotas, o espaço urbano where surveillance is not very harsh,se mostra mais adaptado e maleável, a which disorganizes the space and doesfiscalização não é rígida o que, por um not establish conviviality rules, but on thelado, desorganiza o espaço e não estabelece other hand, allows the population to createas regras de convívio, mas por outro lado, places within the city – characteristics thatpermite que a população crie diferentes


lugares dentro cidade, características da estética latina que constitui cidade e cidadãos. Locais de permanência e passagem Durante as oficinas, em Pelotas, os participantes salientaram que um lugar é considerado “bom” quando permite que os usuários se sintam à vontade nele, tanto para permanecer quanto como para passagem, a fim de realizar suas atividades. No entanto, para que seja possível a permanência no espaço público, este deve estar dotado de equipamentos, mobiliário confortável e vegetação, a fim de atender ao bem-estar dos usuários.

Imagens: Locais de permanência e passagem. Fonte: Images: Places of permanence and passage. Source: Eduardo Souza, Fernanda Tomiello e Manoela Eduardo Souza, Fernanda Tomiello e Manoela Neves Siewerdt, 2014. Neves Siewerdt, 2014.

come from the latin aesthetics that makes the city and its citizens. Places of permanence and passage During the workshops in Pelotas, participants pointed that a place is considered “good” when it allows users to feel comfortable, not only as a passage but to carry on with their activities. Nevertheless, to make permanence in public spaces possible, it must provide equipment, comfortable furniture and vegetation, to meet the users’ well-being needs.

cross-cult 81


A presença de vegetação, por exemplo, foi indicada como um elemento importante no Calçadão de Pelotas, por contribuir no conforto térmico em dias de muito sol ou calor. A existência de diversos bancos nos canteiros centrais possibilitam longas paradas e encontros entre as pessoas. Os lugares de passagem foram indicados principalmente pela existência de vitrines de vidro e grandes portas abertas das lojas, tais caraterísticas proporcionam uma mistura entre os espaços de dentro e de fora, uma zona de transição entre o público e o privado. Em Oxford, os equipamentos urbanos para permanência são inexistentes, bem como

Imagens: Locais de permanência e passagem. Fonte: Images: Places of permanence and passage. Source: Fernanda Tomiello, Charlie Herd e Laura de Fernanda Tomiello, Charlie Herd e Laura de Azevedo, 2014. Azevedo, 2014.

For example, the presence of vegetation was highlighted as an important element, since it contributes for thermal comfort in very sunny or hot days. Several benches in the central medians allow people to make long stops and meet each other. The passage places were indicated due to the glass windows and wide open doors in the shops, which promote a mix of in and out, a transition from public to private. In Oxford, there is no urban equipment for permanence nor vegetation, which makes Cornmarket Street a passage-only place. There are benches, but they are not comfortable, so they function more as a support and barrier to define the street limits: 82 cross-cult


a vegetação, caracterizando a Cornmarket Street como um lugar basicamente de passagem. Existem bancos, mas eles não são confortáveis, de tal forma que funcionam mais como apoio e barreira física, definindo os limites da rua: as linhas mais próximas das lojas e a linha central, onde as pessoas passam de um lado a outro. O grupo sugeriu que a rua poderia ser mais estruturada, apresentar mobiliário em maior quantidade e mais confortáveis, para estimular a permanência dos usuários. A necessidade da presença de vegetação, de diferentes tipos, foi outra questão salientada pelo grupo, a fim de contribuir com o conforto térmico das pessoas, tanto para as que permanecem como para as que circulam.

Imagens: Identidade. Fonte: Eduardo Rocha, Pablo Newberry e Carolina Falcão, 2014.

Images: Identity. Source: Eduardo Rocha, Pablo Newberry e Carolina Falcão, 2014.

the lines that are closer to the shops and the central line, where people come and go. The group suggested that the street could be more structured and present more numerous and more comfortable furniture, stimulating users to stay. The need for different kinds of vegetation was another point that was highlighted by the group, which could contribute with thermal comfort for those who stay and those who pass by.

cross-cult 83


Identidade Nas duas cidades o patrimônio arquitetônico foi considerado um elemento que desempenha papel importante na relação de identificação das pessoas com o lugar; como exemplos foram indicados o chafariz e o ladrilho hidráulico em Pelotas e os edifícios antigos em Oxford e Pelotas. Os grupos também concordaram sobre a preferência de lugares onde possam realizar suas atividades costumeiras, de identidade local. Na cidade inglesa é costume fazer uma pausa no meio do dia para tomar café e conversar com os amigos, no entanto, essa atividade tem de ser paga na Cornmarket Street, diferente do hábito gaúcho de

Imagens: Identidade. Fonte: Sara Teixeira Munaretto, Images: Identity. Source: Sara Teixeira Munaretto, Leila Gisler Lopes, Lorena Maia Resende e Leandro Leila Gisler Lopes e Lorena Maia Resende e da Conceição Oliveira , 2014. Leandro da Conceição Oliveira, 2014.

Identity In both cities, architectural heritage was considered as an element with an important role in the identification relation people establish with the place. Pelotas’ fountain and hydraulic tile and the old buildings in both cities were mentioned as examples. Groups also agreed on preference for places where one can perform their usual activities, connected to local identity. In the British city, it is a custom to take a break for coffee and chatting with friends and one must pay for it in Cornmarket Street, differently

84 cross-cult


sentar nos bancos públicos para tomar chimarrão que é produzido em casa e, em geral, costuma reunir amigos para a atividade. Flexibilidade/Moldabilidade/Apropriação/Lugar dentro do lugar Um lugar que permite mudanças, cujo espaço possa ser alterado de acordo com as necessidades de seus usuários, passando a se tornar mais aconchegante, são características apontadas pelos grupos na criação de um “bom lugar”. No calçadão em Pelotas, a falta de planejamento do desenho urbano cria a necessidade de que os próprios usuários adaptem o espaço para os seus usos, assim, desenvolvem

Imagens: Flexibilidade. Fonte: Thaís Duarte Moura Images: Flexibility. Source: Thaís Duarte Moura e e Gabriela Pasqualin Cavalheiro, 2014. Gabriela Pasqualin Cavalheiro, 2014.

of the gaucho1 habit of sitting on public benches to drink chimarrão (a typical kind of mate tea), which is prepared at home and usually gathers friends around. Flexibility/Moldability/Apropriation/Place within the place A place that allows changes and whose space can be altered according to users’ needs 1 Gaucho is a word with several meanings. In its historical sense a gaucho was amestizo who, in the 18th and 19th centuries, inhabited Argentina, Uruguay and Rio Grande do Sul in Brazil. Today, in Argentina and Uruguay, a gaucho is simply a country person, experienced in traditional cattle ranching work. In Portuguese the word gaúcho (note the accent) means an inhabitant of the plains of Rio Grande do Sul or the pampas of Argentina descended from European man and [Amer]Indian woman who devotes himself to lassoing and raising cattle and horses. In Brazil, gaúcho is the official demonym given to those born in the state of Rio Grande do Sul.

cross-cult 85


seus “lugares dentro do lugar”, buscando ampliar o conforto térmico, a visibilidade, etc. São projetos com uma escala mais próxima dos corpos das pessoas, como exemplo dos profissionais que verificam pressão na rua ou aqueles que carregam sua própria cadeira e a dispõe no espaço público à sua maneira e desejo. Em Oxford, o espaço se mostrou menos flexível, mas ainda assim é possível a criação de “lugares dentro do lugar”, como no exemplo da montagem das bancas de artesanato e na exposição de quadros para venda em frente a uma loja fechada. A falta de equipamentos urbanos apropriados, em Pelotas, faz com que os sujeitos

Imagens: Flexibilidade. Fonte: Charlie Herd, Ivan Ribeiro Kuhlhoff e Senem Doyduk , 2014.

Images: Flexibility. Source: Charlie Herd, Ivan Ribeiro Kuhlhoff e Senem Doyduk , 2014.

and becomes more cozy are characteristics that are pointed by the groups for creating a “good place”. In the pedestrian landscape of Pelotas, the lack of urban design results in a need for the users themselves to adapt the space for their usages, thus, “places within the place” are developed, seeking to have more thermal comfort, visibility and so on. These projects are closer in scale to people’s bodies, such as professionals who verify blood pressure on the street or those who bring their own chairs and place them in the public space according to their own manner and wish. 86 cross-cult


inventem soluções para as suas necessidades, como exemplo a inexistência de bicicletários no Calçadão, assim, os ciclistas passam a criar novas formas de prender as bicicletas, em um dos casos a lixeira serviu para o fim. A crise financeira também contribui na criação de alternativas, como os equipamentos móveis para venda de comida na rua, como o carrinho com suportes térmicos, tal ação permitiu que o “lugar” se tornasse móvel também, se adequando às necessidades dos vendedores e dos compradores de comida de rua. Em Oxford, o planejamento e a fiscalização do espaço urbano são mais rígidos, o que possibilita uma maior organização e funcionalidade dos espaços da cidade, as

Imagens: Flexibilidade. Fonte: Antonella dos Santos Pons, 2014.

Images: Flexibility. Source: Antonella dos Santos Pons, 2014.

In Oxford, the space seems less flexible, but it is still possible to create “places within the place”, such as artisans stalls and exhibition of pictures for sale in front of a closed shop. The lack of proper urban equipment in Pelotas makes subjects create solutions for their needs. For example, in the absence of bike raks for parking, people started to create new ways for holding their bikes and in one case a trash can was used for it. Financial crisis also contributes for creating alternatives such as mobile equipments for selling food in the street, like a cart with thermal holders, making the “place” also mobile and fitting to the needs of those who sellers and buyers of street food. cross-cult 87


pessoas respeitam as regras estabelecidas pelo projeto urbano. Em Pelotas, entretanto, a realidade é diferente, como na maioria das cidades latinas as regras urbanas são mais flexíveis, o que torna a cidade mais aberta para intervenção pela população na criação de territórios e a constante transformação dos mesmos. Diversidade Um bom lugar também é caracterizado por aglutinar diferentes tipos de pessoas. O espaço público é primariamente o espaço da diversidade, da união das diferenças e precisa ser acessível a todas as idades, raças, classes sociais, culturas, etc. Em Pelotas, o calçadão da Andrade Neves proporcionou uma diversidade de atividades e de idades

Imagens: Diversidade. Fonte: Lorena Maia Resende, Images: Diversity. Source: Lorena Maia Resende, Laura Novo de Azevedo, Eduardo Souza e VanessaLaura Novo de Azevedo, Eduardo Souza e Vanessa Signorini , 2014. Signorini , 2014.

In Oxford, planning and surveillance over urban space are more strict, which allows a better organization and functionality of the city’s spaces and encourages to people respect the rules established by the urban project. In Pelotas, however, the scenery is quite different, just like most Latin American cities, where urban rules are more flexible, which makes the city more open for interventions by the population, creating and constantly transforming territories. Diversity A good place is also characterized by bringing together different kinds of people. Public space is primarily the space of diversity, of union of differences, hence, it needs to be 88 cross-cult


dos cidadãos que por ali passavam ou permaneciam. E em Oxford, o espaço reúne principalmente uma grande variedade de culturas, encontram-se pessoas de vários lugares do mundo. Oxford é uma cidade turística e a época em que foi feita a pesquisa (verão) proporcionou o encontro de diversas culturas, como japoneses e indianos. Em Pelotas, mesmo no inverno, muitos senhores reúnem-se para conversar ou para ler o jornal do dia, inclusive aproveitando o sol, já os jovens e adultos estão principalmente indo de um lado a outro, e as crianças podem deliciar-se com as comidas de rua.

Imagens: Diversidade. Fonte: Débora SoutoImages: Diversity. Source: Débora Souto Allemand, Allemand, Fernanda Tomiello, Leandro da Fernanda Tomiello, Leandro da Conceição Oliveira Conceição Oliveira e Gustavo Nunes, 2014. e Gustavo Nunes, 2014.

accessible for all ages, ethnies, social classes, cultures etc. In Pelotas, the Andrade Neves pedestrian allowed a great diversity of activities and ages among those who passed by or stayed there. In Oxford, the space gathers mostly a great variety of cultures, where people from all over the world meet. Oxford is a touristic city and the season in which the research was conducted (Summer), allowed an encounter of several cultures. In Pelotas, even in summer, many seniors get together to chat or read the daily newspaper while enjoying the sun, whereas young people and adults are coming and going and children delight themselves with street food. cross-cult 89


Surpresa/Experiência sensorial/Eventos temporários Surpreender-se durante a experiência urbana foi uma característica considerada importante no uso da cidade. A arte de rua se mostrou como uma possibilidade dessa experiência, tanto em Pelotas quanto em Oxford. Nas duas cidades, atividades artísticas como música, estátuas vivas e animadores foram apontadas como atributos responsáveis por contribuir na qualificação do uso dos espaços públicos e enriquecer a experiência urbana. Com relação à experiência sensorial, foram consideradas qualidades surpreendentes: o colorido das flores e frutas vendidas em Pelotas, o desenho sinuoso do traçado urbano

Imagens: Surpresa. Fonte: Thiago Gonçalves de Images: Surprise. Source: Thiago Gonçalves de Andrades, Ivan Ribeiro Kuhlhoff, Jéssica Bohmer e Andrades, Ivan Ribeiro Kuhlhoff, Jéssica Bohmer e Rosa Teira, 2014. Rosa Teira, 2014.

Surprise/Sensorial experience/Temporary events To surprise oneself during urban experience was a characteristic considered as important in city usage. Street art showed itself as one of the possibilities of this experience, both in Pelotas and Oxford. In the two cities, artistic activities like music, living statues and entertainers were pointed out as features that contribute for qualifying the use of public spaces and enriching urban experience. About the sensorial experience, these were considered surprising qualities: the colorfulness of flowers and fruits for sale in Pelotas, the sinuous urban trace and the little entrances in Oxford’s architecture, as well as construction details and different 90 cross-cult


e as pequenas entradas na arquitetura de Oxford, bem como os detalhes construtivos e as diferentes texturas da cidade inglesa. Ainda que, nas duas cidades, a presença de artistas de rua qualifiquem o espaço urbano, em Oxford inexiste um ambiente apropriado para receber tais atividades culturais e recreativas. O “Coelho”, por exemplo, ocupa um dos bancos da rua para realizar sua performance, impossibilitando o seu uso por outras pessoas. Em Pelotas, as atividades informais são, por vezes, demasiadas, com exagero sonoro ou várias atividades culturais ocorrendo ao mesmo tempo. Características de um território mais livre, que permite maior apropriação do espaço, mas, por outro lado, pode atrapalhar

Imagens: Surpresa. Fonte: Ana Paula Tejada, Images: Surprise. Source: Ana Paula Tejada, Cláudia Mariza Mattos Brandão e Francine Costa Cláudia Mariza Mattos Brandão e Francine Costa Amaral, 2014. Amaral, 2014.

textures in the British city. Even though street artists qualify urban space in both cities, Oxford does not have a proper environment for such cultural and recreational activities. For example, the “Rabbit” - a street performer - uses one of the street benches for his performance, making it impossible to be used by other people. In Pelotas, cultural activites are sometimes excessive, with sound exaggeration or several cultural activities taking place at the same time. This is characteristic of a more free place, which allows a greater appropriation of the space, but on the other hand disturbs passage for the high number of people who walk by. cross-cult 91


a passagem do grande número de pessoas que circulam pelo Calçadão. Permeabilidade Nas duas cidades, as galerias foram apontadas como importantes elementos de conexão no espaço urbano. Em Pelotas, em função do traçado reticulado/xadrez as galerias conectam duas ruas paralelas, em apenas um caso a galeria conecta duas vias perpendiculares. Esses lugares são muito utilizados pela população para proteção de intempéries climáticas e para encurtar trajetos, é possível atravessar quatro quarteirões seguindo as conexões das galerias. Outra questão interessante é a diversidade de atividades comerciais no interior das galerias. Em Oxford, existem diversas entradas,

Imagens: Permeabilidade. Fonte: Isabel Cristina Images: Permeability. Source: Isabel Cristina Pires Pires dos Santos, Senem Doyduk, Vanessa Signorini dos Santos, Senem Doyduk, Vanessa Signorini e e Pablo Newberry, 2014. Pablo Newberry, 2014.

Permeability In both cities galleries were pointed as important elements of connection in urban space. In pelotas, due to its straight/chess tracing, galleries connect two parallel streets, there is only one case of a gallery that connects two perpendicular streets. These places are largely used by the population for protection from bad weather or to shorten routes, as it is possible to cross four blocks by following galleries connections. Another important feature is the diversity of commercial activities inside the galleries. In Oxford there are several entrances, with tears in the architecture that take walkers to various places. This way, Cornmarket Street is connected to squares in the middle 92 cross-cult


como rasgos na arquitetura, que levavam os transeuntes para espaços diversos. Dessa forma, a Cornmarket Street faz conexão com praças no centro do quarteirão, cafeterias, pequenas lojas e acesso a edifícios.

Imagens: Permeabilidade. Fonte: Jéssica Bohmer e Rosa Teira , 2014.

Images: Permeability. Source: Jéssica Bohmer e Rosa Teira , 2014.

of the block, cafeterias, small shops and accesses to buildings.

cross-cult 93


Com a pedagogia da viagem A pedagogia da viagem acontece pelo universo da descoberta, além da viagem exploratória, mas uma constatação de certos aspectos que estavam ali – ocultos. A viagem embora trace caminhos preparados, conhecidos – “porque de certa forma conhecemos para onde vamos” – pode nos apontar novos e diversos caminhos a seguir (pensar). E no mesmo caminho abrindo brechas para abrir nossos próprios caminhos e sempre reorientar criticamente nossas concepções (cartografia). Então podemos dividir a experiência da pedagogia da viagem em 3 partes: temos uma bagagem antes da viagem, preparamos as malas com as intenções da viagem; viajamos e nos abrimos ao novo, carregamos coisas pelo caminho e deixamos outras e ; por fim chegamos, desfazemos as malas, com todas as coisas coletadas junto com as que levamos, é preciso organiza-las, pensa-las, saber o que guardar, o que dar, o que presentear, o que devolver e o que esquecer (resistências). Seguimos na pedagogia da viagem uma espécie de coexistência entre o pensar e o

With the pedagogy of traveling The pedagogy of traveling happens through a discovery universe, beyond the exploratory trip, but on finding certain aspects which were already there – hidden. The trip, even taken by prepared, known routes – “because somehow we know where we are going” – can point new different ways to follow through (to think). And in the same route, to find new paths to open our own ways and always re-conduct our conceptions in a critical way (cartography). Thus, we can divide the pedagogy of traveling experience into three parts: we have a given luggage before the trip and we pack with the trip intentions; we travel and open ourselves to the new, gathering and leaving things along the way; and finally we arrive, unpack all that we collected together with all we had taken and we need to organize these things, think about them, know what to keep, what to give away, what to give as gifts, what to return and what to forget (resistences). 94 cross-cult


escrever. A escrita como uma espécie de declaração do pensamento. Enquanto o pensamento é orgânico, vai e volta, segue o caminho, entra em atalhos e becos, atravessa muros, erra a passagem e flui com a vida (rizoma). A viagem possibilita ver a vida, a ciência e a educação para além do pensamento dicotômico do mercado diário da educação. Um mercado da antecipação das respostas, “mais seguro”, onde não se podem fazer novas perguntas. A pedagogia da viagem ao contrário, baseada em Popkewitz (2001) nos indica que devemos buscar perguntas, as respostas não as extinguem ou reduzem. “Que nem o homem, nem a vida, nem a natureza são domínios que se oferecem espontânea e passivamente à curiosidade do saber” (FOUCAULT,1987,p.87). Na universidade nos habituamos a coincidir respostas, os métodos de pesquisa dizem que estamos em busca, mas nos apontam diversas respostas prontas e imediatas. Seria essa uma pedagogia da viagem, uma pedagogia do entre, da fresta nas cidades e nas concepções de qualidades de um bom lugar. Por outro lado, essas experiências no On the pedagogy of traveling we follow a kind of coexistence of thinking and writing. Writing is like a statement of the thoughts, while thinking is organic, something that comes and goes, follows the way, take shortcuts and alleys, crosses walls, makes mistakes and flows with life (rhizome). Traveling allows to look to life, science and education beyond the dichotomous thought of the daily education market: a market that anticipates the answers, that is “more safe”, where one cannot ask new questions. On the other hand, the pedagogy of traveling, based on Popkewitz (2001), indicates that we should seek questions and that does not extinguish or reduce them. “Nor man, nor life, nor nature are domains that offer themselves spontaneous and passively to the curiosity of knowledge” (FOUCAULT, 1987, p.87 [our translation]). In university, we get used to coincide answers, research methods state that we are searching but point to several ready immediate answers. Pedadogy of traveling would be a pedagogy of the inbetween, of the cracks in the cities cross-cult 95


entre, são do que se agita na fresta, “o sentido é apenas um vapor movendo-se no limite das coisas e das palavras (DELEUZE, 2006, p. 225). Por isso adentrar no mundo da viagem nas frestas da cidade é da ordem da complexidade e das multiplicidades. A pedagogia da viagem por frestas permite experimentá-la, descobri-la e vive-la inventando novas relações, para fazer emergir quem sabe relações menores, desterritorializantes, provocando novos encontros e acontecimentos (qualidades inventadas). Assim sendo, o processo de pesquisa Cross-Cult foi estabelecendo conexões, redes, paralelos e diferenças entre os territórios, cidades e países, permitindo-nos pensar a potência dessas relações e possibilitando a criação de novas formas de vida nas cidades de Pelotas/Brasil e Oxford/Reino Unido (LATOUR, 2004). Durante a viagem a fragmentação da informação e do tempo transforma-se constantemente e misturam-se com os diversos interesses e fugas que a própria viagem proporciona. Mesmo com o trabalho tendo um foco nas qualidades dos lugares, das áreas centrais das cidades de Oxford e Pelotas. and in the conceptions of qualities of a good place. On the other hand, these experiences on the inbetween are what moves within the cracks, “sense is just a steam moving on the boarder of the things and the words” (DELEUZE, 2006, p. 225 [our translation]). Hence, to enter the world of traveling in the city cracks belongs to the complexity and multiplicities field. The pedagogy of traveling in cracks allows to experience, discover and live them, creating new relations and making smaller, deterritorializing relations maybe emerge, provoking new encounters and events (invented qualities). This way, the Cross-Cult research process gradually established connections, networks, parallels and differences between territories, cities and countries, allowing us to think about the potential of these relations and to create new ways of living in Pelotas/Brazil and Oxford/U.K. (LATOUR, 2004). During the trip, the fragmentation of information and time is in constant transformation and different interests and escapes from the trip are mixed, even with a focus on the places’ qualities, on the central areas of Oxford and Pelotas. 96 cross-cult


Tais fugas atravessam esse eixo central da problemática de tal forma a transformálo e transmutá-lo, em um núcleo de interesses bastante flutuante e inesperado. Ao redor dos registros fotográficos identificamos diversidades de olhares e sensações: fotografar, escutar, escrever, mapear, anotar, rascunhar, relatar, falar e “pensar”. Junto a esses movimentos identificamos vários espaços de espera e deslocamento, espaços de pensamento vazio – paradas, necessários para a elaboração e avanço das problemáticas. O tempo da experiência in loco (nas áreas centrais das cidades) e o tempo da experiência estendida (nos aeroportos, hotéis, estações de trem, rodoviárias, etc.).

Images: Paper plane.Imagens: Avião de papel. Source: cmais.com.br, 2016.Fonte: cmais.com.br, 2016.

Such escapes cross this central axis of the problematic in a way that transforms and transmutates it, into a core of interests that is quite floating and unexpected. Around the photographic registries we notice a variety of looks and sensations: to photograph, to listen, to write, to map, to take notes, to draft, to describe, to speak and “to think”. With these movements we identify several waiting and displacement spaces of empty thoughts – stops that are needed for elaborating and advancing in what concerns the problematics. The time of the in loco experience (in the cities central areas) and the time of the expanded experience (in airports, hotel, train and bus stations etc.). cross-cult 97


São nessas fendas, na viagem, que passam a predominar a troca e a coexistência1 entre modos de vida distintos, sem que um modelo ideal de sociedade – determinado – venha a se sobrepor a outras formas de olhar e de compreender a existência e o mundo. Coexistentes. Coexistência entre uma ou mais cidades, um ou mais corpos, compondo uma fronteira que, ao mesmo tempo, contém essas naturezas diferentes, bem como as relações e trocas que elas estabelecem entre si. No sentido de desvelar as qualidades dos lugares experimentados e desnudá-los. Tudo através de uma superfície de contato, ou seja, 1 Espinosa mostra-nos que a lei da vida é a lei dos encontros. Todo corpo vivo faz necessariamente, ao longo de sua existência, uma série de encontros com outros corpos, e é neles que o ser vivo efetua a sua potência de afetar e ser afetado, ou, poderíamos dizer, de interferir e sofrer interferências. O ser espinosiano é essencialmente produzido. Cada indivíduo é um grau de potência que corresponde a um poder de afetar e ser afetado, de ter paixões e ações. Desse modo, esta diferença ética é já coletiva, traça-se em meio à multiplicidade dos encontros como avaliação dos modos de existência em sua imanência. Esta avaliação se faz nos atravessamentos, dobras e traçados das diferentes linhas (sedentárias, flexíveis e de fuga) que compõem, nos encontros, a vida e o viver como acontecimento singular que não se reduz a um sentido prévio. Assim é que Deleuze e Guattari vão afirmar que a experimentação é a estratégia principal da micropolítica ou da esquizoanálise, pois implica a problematização e o mapeamento destas linhas em suas composições no socius. O pensar só se dá como condição nestas experimentações; tal condição não é maior que o condicionado, mas coincide com ele e o desloca sempre na direção de um pensamento por vir.

It is in these cracks, during the trip, that exchange and coexistence2 of different lifestyles, without an ideal – determined – society model prevails, laying upon other ways of looking at and understanding existence and the world. Coexistent ones. Coexistence of one or more cities, one or more bodies, making up a border that at the same time has within itself these different natures, as well as the relations and exchanges they establish between themselves. In a sense that unveils the qualities of the places that are experienced and denudes them. All through a contact surface, that is to say, a surface that congregates sensitive elements. It lays close to the plane of 2 Spinoza shows us that the law of life is the law of encounters. Each living body, all along its existence, goes through a series of encounters with other bodies and that is where living beings perform their potential to affect and to be affected, or so to say, to interfer and to suffer interferences. The spinozian being is essentially produced. Each individual is a degree of potential that corresponds to a power to affect and to be affected, to have passions and actions. This way, the ethical difference is already collective and traces itself around the multiplicity of encounters as an evaluation of the existence modes in their immanence. This evaluation is carried out in the crossings, folds and tracings of different (sedentary, flexible and escape) lines that make up life and living in the encounters as a singular event that is not reduced to a previous sense. This is how Deleuze and Guattari will state that experience is the main strategy of micropolitics or schizoanalysis, since it implies problematization and mapping these lines in their compositions within the socius. Thinking only happens as a condition in these experiences; such condition is not bigger than the conditioned but coincides with it and displaces it always towards a future thought.

98 cross-cult


uma superfície que congrega elementos sensíveis. Próxima do plano de imanência proposto por Espinosa, no qual se diferenciam as coisas ditas artificiais e naturais, quanto tanto das do espírito como as dos objetos do mundo exterior. Como se pudessem coexistir vários mundos, mesmo no interior de uma composição maior – duas ruas, em duas cidades, em dois países, dois continentes e assim por diante –, sem que sejam todos reduzidos a um mesmo e único mundo. A partir daí, podese pensar a constituição de um “corpo” múltiplo. Por exemplo, composto de vários indivíduos, com suas relações específicas de velocidade e de lentidão. Um coletivo pode ser pensado como essa variação contínua entre seus elementos heterogêneos, como afetação recíproca entre potências singulares, numa certa composição de velocidade e lentidão. Mas, como pensar a consistência deste “conjunto” composto de singularidades, de multiplicidade, de elementos heterogêneos? Deleuze e Guattari invocam com frequência um “plano de consistência”, um “plano de composição”, um “plano de imanência”. Num plano de composição, trata-se de acompanhar as conexões variáveis, immanence proposed by Spinoza, in which we distinguish artificial and natural things, as well as those related to the spirit and the ones of the objects from the exterior world. As if several worlds could coexist within something bigger – two streets, in two cities, in two countries, two continents and so on – without reducing them to one same and particular world. From there, it is possible to think about the constitution of a multiple “body”. For example, one that is composed by various individuals, with their specific relations of speed and slowness. Collectiveness can be thought as this continuous variation of its heterogeneous elements, which affect each other reciprocally, in singular potentials and in a given composition of speed and slowness. But how to think about the consistence of this “ensemble” made of singularities, of multiplicity, of heterogeneous elements? Deleuze and Guattari frequently evoque a “plane of consistency”, a “plane of composition”, a “plane of immanence”. In a plane of composition, it is about following the variable connections, the relations of speed and slowness, the anonymous and intangible matter, dissolving forms and people, extracts and subjects, freeing movements, extracting particles and affections. It is a cross-cult 99


as relações de velocidade e lentidão, a matéria anônima e impalpável, dissolvendo formas e pessoas, estratos e sujeitos, liberando movimentos, extraindo partículas e afectos. É um plano de proliferação, de povoamento e de contágio. Num plano de composição o que está em jogo é a consistência com a qual ele reúne elementos heterogêneos, disparatados, e também como favorece acontecimentos múltiplos. Tudo com certo poder de afectar e de ser afectado. Não separando mais sujeito e objeto, arquitetura e usuário, espaço público e privado, Pelotas e Oxford, mas entendendo as qualidades dos espaços públicos dessas cidades como entidades que carregam potência de agir, ou como Espinosa mesmo coloca: “força de existir”. Essa potência envolve afecções e afetos, os quais vão se desencadeando, se articulando e se desdobrando quando ocorre o encontro entre corpos (ALLEMAND, 2016). As afecções são estados que um corpo imprime em outro por meio de sua força de existir, já os afetos são transições vivenciadas entre uns e outros estados do corpo, ou seja, enquanto durações que os conectam e os fazem permanecer à deriva num território de puro movimento. No entanto, acessar essa transitividade própria do afeto requer um estado de suspensão, plane of proliferation, of settlement and of contamination. In a place of composition what is at stake is the consistency with which heterogeneous disjunct elements are reunited and multiple events are favored. Everything has a certain power to affect and to be affected. Subject and object, architecture and user, public and private space, Pelotas and Oxford are no longer apart, but the qualities of public spaces in these cities are seen as entities that can potentially act, or they have, as Spinoza states: “power to exist”. This potential involves affections and affects which trigger, articulate and unfold when the encounter of bodies occurs (ALLEMAND, 2016). Affections are the states that a body prints into another one through its power to exist, while the affects are the transitions that are experienced through the states of a body, meaning durations that connect them and make them drift in a territory of pure movement. However, accessing this transitivity that is characteristic of the affects requires a state of suspension, that refers to immerse into a temporary interruption in which all the certainties about identity and permanence dissolve and give place to difference 100 cross-cult


o qual significa imergir numa interrupção temporária, na qual todas as certezas de identidade e permanência se dissolvem para dar lugar à diferença e ao desequilíbrio: uma zona que, até então, parecia abrigar apenas respostas neutras, únicas, lineares e convencionais, revela-se com a interrupção, um pleno território de forças. É nessa suspensão que o espaço onde ocorre a “coexistência” se efetiva enquanto espaço desprovido de materialidade ou de gravidade, preenchido apenas por fluidez e movimento. Sendo essa suspensão que permite, aos elementos, atravessarem o campo onde formam relações e entrelaçarem suas forças de existir. Gilles Deleuze, em parceria com Félix Guattari, sob a influência de Espinosa, Nietzsche e Bergson, criticam os postulados da representação e propõem a apreensão das diferenças em si, também denominadas singularidades, todas as singularidades (ROCHA, 2010). Entende-se as qualidades do espaço público (desenho urbano) rizomáticas, onde a realidade é concebida como coexistência e conexões entre vários rizomas que estão em constante transformação. Essas conexões, mais do que complementar os elementos que as compõem, podem criar o novo, operar a favor da invenção. and unbalance: a zone that, up to then, seemed to shelter neutral, single, linear and conventional answers, shows itself through interruption as a full territory of forces. It is in this suspension that the coexistence space becomes effective as a space that is destituted of materiality or gravity, filled only by fluidity and movement. This suspension allows elements to cross the field where relations are built and weave their powers to exist. Gilles Deleuze, together with Félix Guattari and under the influence of Spinoza, Nietzsche and Bergson have criticized the postulates of representation and proposed the aprehension of the differences, also named singularities, all of the singularities (ROCHA, 2010). The qualities of public space (urban design) are understood as rhizomatic, in which reality is conceived as the coexistence and the connection among several rhizomes that are in constant transformation. These connections, more than complementing the elements that they are made of, can create the new and function for invention. cross-cult 101


Encontros com as qualidades dos espaços públicos nas cidade de Pelotas e Oxford, conexões, não só entre as subjetividades humanas, mas entre todo o tipo de intensidade existente. Dessa maneira, existe um corpo de sentido – arquitetura – que não é algo corpóreo, semelhante ao corpo humano, mas que diz respeito aos incorporais, ou seja, aos efeitos, aos acontecimentos, os quais têm sua origem na relação entre os corpos e não possuem identidade plena e imutável. Cada encontro e cada situação possuem efeitos que emergem nas relações estabelecidas e nas conexões que os compõem. Essas conexões se dão entre as intensidades, corporificadas ou não, criando e recriando incessantemente o que é e o que está por vir. Nessa lógica, as dicotomias perdem o sentido, uma vez que não há lugar para oposição em uma forma de pensamento que defende a multiplicidade e a heterogeneidade. Não há lugar, também, para as hierarquias, já que há um descentramento, permitindo infinitas ligações e religações de quaisquer partes dos rizomas, sem privilégio de umas sob as outras. Cabe ressaltar que a filosofia da diferença, sustentada pelo raciocínio de imanência, propõe outro modo de conceber a vida. Rompemos com a forma de pensar o que são essas “qualidades”, no sentido da representação clássica, bem como Encounters with the qualities of public spaces in Pelotas and Oxford, connections, not only among human subjectivities, but among all kinds of intensity that exists. This way, there is a meaning body – architecture – which is not something physical, similar to human body, but refers to the immaterial, that is to say, the effects, the events, that have their origin in the relation of bodies and do not have a complete immutable identity. Each encounter and each situation have effects that emerge in the relations that are established and in the connections that make them up. These connections happen among intensities, corporal or not, creating and re-creating what it is and what it will be, non-stop. In this logic, dichotomies lose their meaning, since there is no place for opposition within a way of thinking that stands for multiplicity and heterogeneity. There is no place for hierarchies either, for there is a decentring, allowing infinite connections and reconnections of any of the rhizomes parts, without privilege of ones over others. It should be mentioned that the philosophy of differences, based on the immanence reasoning, proposed another mode of conceiving life. We break up with the way of thinking about what these “qualities” are in the sense of classic representation, as well as everything that is impregnated with it. That is to fight moral and the ideas 102 cross-cult


tudo que está impregnado nela. Combatendo a moral, as ideias de transcendência e de verdade absoluta para que a vida possa fluir, sem que fique aprisionada a conceitos transcendentes, superiores. Qualidades de espaços públicos e construções da diferença, as quais buscam conhecer a diferença em si, o singular. Singularidade não como sinônimo de particularidade, mas no sentido de combinações de forças originais, inéditas e provisórias, que só podem ser conhecidas após sua composição e antes de serem novamente capturadas. Assim, o singular não se refere ao individual, mas ao original, pois as combinações de forças, que inauguram constantemente o singular são dinâmicas e produzidas nos agenciamentos e nas conexões com outras forças provenientes da exterioridade. Toda essa forma de pensar é que sustenta nossa análise de encontro – Cross-Cult Pelotas e Oxford– e das forças e dos afectos que nelas circulam. of transcendence and of an absolute truth, so that life can flow without being locked inside transcendent, superior concepts. The qualities of public spaces and the constructions of difference aim to get to know difference in itself, the singular. Singularity is not a synonym of particularity, but refers to the combination of original, new and temporary forces that can only be known after they are composed and before they are captured again. Thus, singular does not mean individual, but original, for the combination of forces that constantly inaugurate the singular are dynamic and produced in the assemblages and connections with other forces that come from outside. This whole way of thinking is what supports our encounter analysis – Pelotas and Oxford Cross-Cult – and all of the forces and affections that circulate within them.

Imagens: Avião de papel. Fonte: tumtumkids.com.br, 2016. Images: Paper plane. Source: tumtumkids.com.br, 2016.

cross-cult 103




^ referencesreferencias ALLEMAND, Débora Souto. Corpografias da Cidade através da Dança: uso da rua pelo...AVOA!Núcleo Artístico. Pelotas: PROGRAU/UFPel, 2016. [dissertação de mestrado]. Disponível em: <http://prograu.ufpel.edu.br/uploads/biblioteca/ corpografias_da_cidade_atraves_da_danca.pdf>. AGAMBEN, Giorgio. Homo Sacer: o poder soberano e a vida nua I. Belo Horizonte, UFMG, 2002. AGAMBEN, Giorgio. Homo Sacer: Sovereign Power and Bare Life. Stanford: Stanford University Press, 1998. BENTLEY, Ian (editor). Responsive Environments. Oxford: Architectural Press, 2008. BRITTO, Fabiana Dultra. A ideia de Corpografia Urbana como pista de análise. In: Revista Redobra. Salvador, EDUFBA, n° 12, ano 4, 2013. DELEUZE, Gilles. Diferença e Repetição. São Paulo: Graal, 2006. DELEUZE, Gilles. Difference and Repetition. New York: Columbia University, 1995. DELEUZE, Gilles & GUATTARI, Félix. A Thousand Plateaus. London: Bloomsbury, 2013. DELEUZE, Gilles & GUATTARI, Félix. Mil Platôs: capitalismo e esquizofrenia. vol. 2. São Paulo: Ed. 34, 1997. DELEUZE, Gilles & GUATTARI, Félix. O que é a filosofia? São Paulo: Ed. 34, 1992. DELEUZE, Gilles & GUATTARI, Félix. What Is Philosophy? New York: Columbia University, 2014. FATORELLI, Antonio. A fotografia contemporânea: entre o cienma, o vídeo e as novas mídias. Rio de Janeiro: Senac Nacional, 2013.


FERNANDES JUNIOR, R. Processo de criação na fotografia: apontamentos para o entendimento dos vetorese das varaiáveis da produção fotográfica. Facom. n.16, 2006. FOUCAULT, Michel. As palavras e as coisas – uma arqueologia das ciências humanas. São Paulo: Martins Fontes Editora, 1987. FOUCAULT, Michel. The order of thinks - an archaeology of human sciences. New York: Vintage, 2012. FLUSER, Vilém. A filosofia da caixa preta. São Paulo: Hucitec, 1985. FLUSER, Vilém. Towards a Philosophy of Photography. Glasgow: Reaktion Books, 2005. GEHL, Jan. Cidades para as pessoas. São Paulo: Perspectiva, 2014. GEHL, Jan. Cities for people. São Paulo: Island Press, 2009. HAESBAERT, Rogério. O mito da desterritorialização: do “fim dos territórios” à multiterritorialidade. Rio de Janeiro: Bertrant Brasil2006. HYPOLITO, Bárbara de Bárbara. Cidade, corpo e escritas urbanas: cartografia no espaço público contemporâneo. Pelotas: PROGRAU/UFPel, 2015. [dissertação de mestrado]. Disponível em: <http://prograu.ufpel.edu.br/uploads/biblioteca/dissertacao_barbara_ hypolito_2015.pdf>. JACOBS, Jane. Morte e vida de grandes cidades. São Paulo: Martins Fontes, 2011. JACOBS, Jane. The death and life of the great american cities. New York: Vintage Books, 1992. KOSSOY, Boris. Fotografia & História. São Paulo: Ateliê Editorial, 2001. LATOUR, Bruno. Why is critique run out of steam? From matters of fact to matters of concern. In: Critical Inquiry. No30, 2004, p.225-248. LYNCH, Kevin. A imagem da cidade. São Paulo: Martins Fontes, 2011. cross-cult 107


LYNCH, Kevin. The image of the city. Cambrige/London: Harvard-MIT Joint Center for Urban Studies Series, 1960. PERSICHETTI, Simonetta; TRIGO, Thales. Nelson Kon. São Paulo: Senac, 2004. POPKEWITZ, Thomas. Lutando em defesa da alma. Porto Alegre: Artmed, 2001. POPKEWITZ, Thomas. Struggling for the soul: The politics of schooling and the construction of the teacher. New York: Teachers College Press, 1998. ROCHA, Eduardo. Arquiteturas do abandono : [ou uma cartografia nas fronteiras da arquitetura, da filosofia e da arte]. Porto Alegre: PROPAR/UFRGS, 2010. [tese de doutorado]. Disponivel em: < http://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/24722>. ROCHA, Eduardo. Cartografias urbanas: método de exploração das cidades na contemporaneidade. In: ESCUDERO, Beatriz & TETAMANTI, Juan Manuel Diez (orgs.). Cartografía social : investigaciones e intervención desde las ciencias sociales: métodos y experiencias de aplicación. Comodoro Rivadavia: Universitaria de la Patagonia, 2012. SANTOS, Carlos Alberto Avila. Ecletismo em Pelotas 1870-1931. Pelotas: UFPel, 2014. THOMAZ, Tatiana dos Santos. Fotografia e geografia: relação entre paisagem, espaço e imagem. In: Revista Espaço e Geografia. v.15, p.517-549, Brasília, 2012. Disponível em: < http://lsie.unb.br/espacoegeografia/index. php?journal=espacoegeografia&page=article&op=view&path%5B%5D=197>. TOMIELLO, Fernanda. Fotografia sequencial e fotomontagem: alternativas para o estudo da dinâmica da paisagem urbana. Pelotas: PROGRAU/UFPel, 2015. [dissertação de mestrado]. Disponível em: <http://prograu.ufpel.edu.br/uploads/biblioteca/ dissertacao2015final_entrega.pdf>.

108 cross-cult


Autores das imagens Image authors

Jéssica Bohmer

Alisha Paul

Laura Novo de Azevedo

Ana Paula Tejada

Leandro da Conceição Oliveira

André de Oliveira Torres Carrasco

Leila Rosani Gisler Lopes

Antonella dos Santos Pons

Lorena Maia Resende

Bárbara de Bárbara Hypolito

Luiza Hypolito

Carla Gonçalves Rodrigues

Manoela Neves Siewerdt

Carolina Magalhães Falcão

Manuela Farias Amaral

Cássia Correa Pereira

Maria Clara Lysakowski Hallal

Charlie Herd

Mauricio Leal Pons

Cláudia Mariza Mattos Brandão

Pablo Newberry

Débora Allemand

Paola Brum

Eduardo Rocha

Pierre Moreira dos Santos

Eduardo Souza

Rafaela Barros de Pinho

Eliene Barbachan Dubreuilh

Rodrigo de Assis Brasil Valentini

Fernada Tomiello

Rosa Teixeira

Francine Costa Amaral

Sara Teixeira Munaretto

Gabriela Beraldi Ribeiro

Senem Doyduk

Gabriela Pasqualin Cavalheiro

Talita Vieira

Gustavo Nunes

Thaís Duarte Moura

Isabel Cristina Pires dos Santos

Thiago Gonçalves de Andrades

Ivan Ribeiro Kuhlhoff

Vanessa Signorini cross-cult 109


about the travellers Eduardo Rocha is architect and urbanist, professor and researcher at the Graduate Program in Architecture and Urbanism/FAUrb of the UFPel. He likes cinema, philosophy and the city. He loves to travel. amigodudu@yahoo.com.br http://lattes.cnpq.br/6927803856702261 Laura Novo de Azevedo is architect and urbanist, principal lecturer and researcher at the Joint Center for Urban Design, of the Oxford Brookes University. She likes cities. She loves cooking and cycling. lnovo@brookes.ac.uk http://planning.brookes.ac.uk/staff/lauranovodeazevedo.html Bárbara de Bárbara Hypólito is architect and urbanist. She likes urban art. She loves music. barbarahypolito@hotmail.com http://lattes.cnpq.br/0741704260227015 Débora Souto Allemand is architect and urbanist. She likes friends. She loves to travel and to dance. deborallemand@gmail.com http://lattes.cnpq.br/2809172806147764 Fernanda Tomiello is architect and urbanist, and professor at the Universidade Catolica de Pelotas (UCPel). She likes the beach, chimarrão and sunsets. She loves to photograph. fernandatomiello@gmail.com http://lattes.cnpq.br/1770912662486261


sobre os viajantes Eduardo Rocha é arquiteto e urbanista, professor e pesquisador no Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo/FAUrb, da UFPel. Gosta de cinema, filosofia e cidade. Adora viajar. amigodudu@yahoo.com.br http://lattes.cnpq.br/6927803856702261 Laura Novo de Azevedo é arquiteta e urbanista, professora no Joint Center for Urban Design, da Oxford Brookes University. Gosta de cidades. Adora cozinhar e andar de bicicleta. lnovo@brookes.ac.uk http://planning.brookes.ac.uk/staff/lauranovodeazevedo.html Bárbara de Bárbara Hypólito é arquiteta e urbanista. Gosta de arte urbana. Adora música. barbarahypolito@hotmail.com http://lattes.cnpq.br/0741704260227015 Débora Souto Allemand é arquiteta e urbanista. Gosta de amigos. Adora viajar e dançar. deborallemand@gmail.com http://lattes.cnpq.br/2809172806147764 Fernanda Tomiello é arquiteta e urbanista, professora na Universidade Católica de Pelotas (UCPel). Gosta de praia, chimarrão e pôr-do-sol. Adora fotografar. fernandatomiello@gmail.com http://lattes.cnpq.br/1770912662486261


Imagens: Making of. Source: Fernanda Tomiello and Paola Brum, 2014.

Imagens: Making of. Fonte: Fernanda Tomiello and Paola Brum, 2014.

travellingparceiros na partnersviagem


Paola Brum is a Visual Arts student at UFPel. She likes photography and music. She loves to dance. paolahbrum@gmail.com

Paola Brum é acadêmica do Curso de Artes Visuais, da UFPel. Gosta de fotografia e música. Adora dançar. paolahbrum@gmail.com

Luana Schumann is an Architecture and Urbanism student at UFPel. She likes to read and play with her dogs. luana_schumann@hotmail.com

Luana Schumann é acadêmica do Curso de Arquitetura e Urbanismo, da UFPel. Adora ler e brincar com seus cachorros. luana_schumann@hotmail.com

Pierre Moreira dos Santos is a social scientist and has a degree in Languages: Portuguese-Spanish. He likes to travel and to collect antiques. pierre.moreira@hotmail.com

Pierre Moreira dos Santos é cientista social e licenciado em letras português-espanhol. Gosta de viajar e colecionar antiguidades. pierre.moreira@hotmail.com

Greyci Bolzan is an Architecture and Urbanism student at UFPel. She likes to travel, know new places, people and cultures. greycibbolzan@gmail.com

Greyci Bolzan é acadêmica do Curso de Arquitetura e Urbanismo, da UFPel. Gosta muito de viajar, conhecer novos lugares, pessoas e culturas. greycibbolzan@gmail.com


O turista já andou léguas, já gastou a sola dos sapatos e todos os rolos da máquina – e o viajante continua ali, aprisionado, inerme, sem máquina, sem prospectos, sem lápis, só com os seus olhos, a sua memória, o seu amor. Cecilia Meireles The tourist has already walked for miles, has already spent his shoes soles and all the camera rolls – and the traveller is still there, imprisoned, helpless, with no camera, no prospects, no pencil, only with his eyes, his memory, his love. Cecilia Meireles


https://crosscultdesenhourbano.wordpress.com/





Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.