Avaliação psicológica: desafios e possibilidades da psicologia contemporânea

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Avaliação psicológica: desa os e possibilidades para a psicologia contemporânea

Pode-se observar que todas as progenitoras realizaram algum po de trabalho quando eram crianças, conforme as citações: P1: Com 7 anos eu já tava na roça, a gente derrubava o mato pra fazer a lavoura ; P2: Eu trabalhei de babá, cuidei de uma guriazinha de 3 meses até os 6 anos ; P3: Eu trabalhei, eu ia junto com minha mãe para o serviço e ajudava ela ; P4: Com treze anos eu comecei a trabalhar na casa do patrão do meu pai, eu limpava a casa, lavava roupa, eu fazia todo o serviço pra ele . Outro aspecto revelado nas entrevistas refere-se ao sen mento das progenitoras quanto ao fato de terem trabalhado quando criança: P1: Naquele tempo era tudo uma brincadeira, porque a gente era criança. Hoje eu sou revoltada, eu não ve infância. Eu não nha uma boneca, eu não sabia o que era um batom, o que era um anelzinho . Foi possível perceber que as progenitoras revelaram sen mentos nega vos sobre o fato de terem trabalhado quando criança, como revolta, desvalorização, impotência, privação, falta de oportunidade de ter estudado, tais aspectos são salientados nas falas de P1: Eu estudei até a quarta série, o pai me rou e nunca mais . Em consonância com os aspectos iden cados no discurso das progenitoras, o autor de ne o trabalho infan l como aquele realizado em condições inadequadas, prejudiciais e/ ou perversas, que exige da criança uma a vidade constante e desproporcional a suas forças, ao seu estágio de desenvolvimento psicossocial, e que impede as brincadeiras, os jogos, o descanso e, em especial, a escolarização regular (GOMES, citado por FEITOSA e DIMENSTEIN, 2004). No discurso das progenitoras foi possível iden car os mo vos que as levaram ao trabalho infan l: P2: O que eu recebia no trabalho era metade minha e metade eu dava para minha mãe, o meu pai tava desempregado, aí nha que ajudar (...) ; P4: (...) muitas vezes a gente comia arroz puro porque o pai não nha condições de comprar. Aí depois eu comecei a trabalhar, eu ajudava ele . Nos relatos apresentados, pode-se veri car que a principal causa para o trabalho realizado pelas progenitoras na infância, foi a falta de recursos nanceiros para o sustento da família, exigindo que elas ajudassem no orçamento familiar. Corroborando os achados, Gomes e Pereira (2005) con rmam que a situação socioeconômica é o fator que mais tem contribuído para a desestruturação da família, repercu ndo diretamente nos mais vulneráveis desse grupo: os lhos, que se veem ameaçados e violados em seus direitos fundamentais. A pobreza e a falta de perspec va de um projeto existencial que vislumbre a melhoria da qualidade de vida impõem à família uma luta desigual e desumana pela sobrevivência. Dentro desse contexto, o trabalho infan l é visto como uma maneira de auxiliar na renda familiar. À medida que a família encontra di culdades para cumprir sa sfatoriamente suas tarefas básicas de socialização e de amparo aos seus membros, criam-se situações de vulnerabilidade. A vida familiar, para ser efe va e e caz, depende de condições para sua sustentação e manutenção de seus vínculos (GOMES e PEREIRA, 2005). Categoria 3: Perspec va de Futuro A presente categoria tem como obje vo analisar e discu r a perspec va de futuro que as progenitoras têm sobre os seus lhos, conforme as falas: P1: Que eles sejam umas crianças bem-educadas, que estudem, que eles tenham algum futuro na vida pra eles mesmos . P4: Eu quero o melhor pra eles, eu quero que eles estudem, que façam uma faculdade e arrumem um serviço bom, sabe .


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