Caminhos da fé: A Boa Morte de São Gonçalo dos Campos - BA

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Importante salientar que o sincretismo das religiões africanas com outras religiões foi engendrado na própria África. Já existia uma relação de trocas entre as religiões africanas. Mas o intercâmbio cultural e religioso começou com o contato com o islamismo, que maometanizou, em graus variados, povos africanos. Logo depois, foi a vez de o cristianismo interagir com o povo africano, de forma intensa e profunda. Nestes aspectos, as religiões africanas, desde o começo da escravidão, quando chegaram ao Brasil, foram religiões misturadas (VALENTE, 1955). Assim, podemos falar numa religião nagô, que fazia parte da cultura iorubá; numa religião jeje que pertencia à cultura daomeiana; e numa religião banto, que integrava a cultura do mesmo nome, ou mais particularmente angola-congolesa. A estas devemos ainda ajuntar a religião mina, aos Fanti-Ashanti, da qual quase nada ficou no Brasil, a não ser a cerimônia do inhame, em parte também daomeiana, talvez porque os chamados negros minas fossem em número relativamente pequeno ou houvessem desaparecido rapidamente (VALENTE, 1955, p.65).

Se, por um lado, os negros, no Brasil, adequaram-se aos ensinamentos católicos, por outro lado, não podemos esquecer que a Igreja Católica, no Brasil colônia, foi uma instituição permissível, na qual se desenvolveu um catolicismo não puro (AZEVEDO, 2002). É por isso que podemos identificar um diálogo entre os sacerdotes do candomblé e da Igreja Católica. Muitas das grandes Ialorixá baianas chegaram a frequentar cultos católicos, outras criaram relações de diálogo e respeito com padres e bispo. Algumas delas como Júlia Nazaré, a fundadora do Gantois, Pulquéria e Menininha, suas substitutas, Mãe Aninha de Opô Afonjá, citando apenas as mais conhecidas – fizeram parte de irmandades religiosas da Igreja romana. Mãe Menininha do Gantois costumuva rezar o terço para a Mãe de Jesus. Sociedade Cruz Santo do Ilê Axé Apô Afonjá é o nome civil do candomblé de São Gonçalo do Retiro, nome dado por Mãe Aninha ao terreiro que fundou em 1910, onde até hoje está fincada a cruz de madeira benzida pelo bispo durante uma missa solene celebrada na abertura da casa (BARRETO, 2009, p.74).


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