Caminhos da fé: A Boa Morte de São Gonçalo dos Campos - BA

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Caminhos da Fé: A Boa Morte de São Gonçalo dos Campos - BA

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ou protetores das suas lavouras, de suas profissões ou de suas pessoas, – um culto em grande parte doméstico e que não se conforma muito estritamente com o calendário oficial da Igreja nem com as prescrições litúrgicas; esse culto traduz-se muito em novenas e orações recitadas e cantadas, em procissões e em romaria aos santuários em que se veneram as imagens mais populares ou têm sede algumas devoções favoritas do povo; manifestam-se também por meio de promessas propiciatórias, com oferendas materiais ou ‘Sacrifícios’ aos santos para que atendam às suplicas dos seus devotos. Este culto, em certos aspectos perfeitamente ortodoxo, mas sem dúvida exagerado em sua importância com detrimento da vida espiritual propriamente dita, tem curiosidades muito significativas: uma delas é que, não raro, associa-se a práticas de natureza mágica aprendidas sobretudo dos indígenas que habitavam o país por ocasião da descoberta e que estão hoje reduzidos a algumas centenas de milhares nas florestas mais afastadas do litoral; outra é o fato das imagens dos santos sofrerem castigos quando tardam ou deixam de atender aos rogos dos seus devotos, o que assimila esse culto a uma idolatria. [...] A mistura do dogma católico com crenças encontradas entre os indígenas ou importadas com os escravos africanos é outra peculiaridade da religião de considerável porção da população (AZEVEDO, 2002, p.36).

A maioria dos membros da Boa Morte de São Gonçalo possui mais de uma década na Irmandade e grande parte se considera católica, apesar de frequentar ou ter participado de rituais candomblecistas, conforme afirmei anteriormente. A pluralidade do catolicismo brasileiro permite que indivíduos que se consideram católicos transitem em outros espaços religiosos. Na Boa Morte de São Gonçalo dos Campos, a maioria dos membros se consideram católicos, porém, através das entrevistas do tipo semiestruturada, afirmam frequentar ou ter frequentado ou participado de rituais candomblecistas. Isso nos leva a pensar que o que liga a Irmandade ao candomblé não são, necessariamente, os rituais da Festa da Boa Morte, e sim a trajetória vivida dos membros da Boa Morte, pois eles trazem consigo experiências de outros espaços religiosos.


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