VEREDAS POÉTICAS DE JUVENAL ANTUNES

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Veredas poéticas de Juvenal Antunes

Contradita

A Sérvulo do Amaral Requestada por mim, disse Constância: Nunca amarei os poetas e os cantores! Passam a vida em plena extravagância, E só nos dão cuidado e dissabores. Disse Marta, arfando o seio, em ânsia: Enquanto um louco sonhador tu fores, De ti só quero os versos e a distância, Porque não creio em tuas falsas dores! Mas Laura, que as ouvira silenciosamente, Abriu os lindos lábios cor-de-rosa, E, indignada, exclamou: Que grande absurdo! Se o poeta me quiser, a ele me entrego, Pois sempre ouvir dizer, que o amor é cego, Pois sempre ouvi dizer, que o amor é surdo.

Controvérsia

Sim! O primeiro amor, dizia Alfredo, É cego, é louco, é virginal e casto Chega-nos muito tarde, ou muito cedo, E enche, sozinho, o coração mais vasto. Povoa-nos o peito insonte ou gasto, Entra-nos a alma docemente, a medo, Sendo em geral, um crime tão nefasto Que se confessa assim como um segredo... Mas Laura, que cismática e calada, Ainda nada dissera, interpelada Sobre o magno assunto transcendente, Respondeu com um sorriso feiticeiro: Para mim todo amor é o amor primeiro, Porque o primeiro amor é o amor presente!

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