Currículo e Interdisciplinaridade

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VA L D A I N Ê S F O N T E N E L E P E S S O A

aguçam o olhar e fazem enxergar mais além, brotando a coragem para voos mais livres e mais ousados. Fazenda (1994) assevera que os estudos interdisciplinares no Brasil se configuraram em preocupações diferentes, iniciadas na década de 70 do século XX. Nessa década primeira, as preocupações centravam-se marcadamente na busca de uma explicação filosófica, em que se procurava definir o termo interdisciplinaridade. São dessa época os debates sobre a necessidade de esclarecê-lo, diferenciando seu prefixo (inter) dos de múlti, plúri, inter e trans. Também são dessa fase as discussões sobre o que seria uma verdadeira interdisciplinaridade. Nos anos 80, os estudos foram caracterizados pela busca de uma diretriz sociológica, em que se tentava explicitar métodos interdisciplinares. Muitos esforços foram empreendidos com a finalidade de anunciar a importância do registro das práticas docentes, o que resultou na publicação de várias coletâneas sobre a prática de professores e pesquisadores interdisciplinares. Ainda na década de 90, o movimento envolveu-se na busca de um projeto antropológico, cujo empreendimento direcionava-se para a construção de uma proposição interdisciplinar. Nesse período é detectada a vivência das mais inusitadas formas “interdisciplinares” na educação, com a proliferação de práticas ditas interdisciplinares. Projetos foram e são concebidos sem o aprofundamento da abordagem interdisciplinar, muito mais pautados pela intuição ou pelo modismo que o termo interdisciplinar atingiu. A última década do movimento tem sido a de releitura das principais produções do movimento com a finalidade de aprofundar a teoria interdisciplinar. Com esse intuito, Fazenda (2006a) ao dialogar com muitas das produções, extrai delas seis fundamentos que embasam a compreensão de uma prática interdisciplinar. O primeiro fundamento de uma atitude interdisciplinar está na perspicácia de rever o velho para torná-lo novo ou tornar novo o velho. Voltar a olhar as práticas realizadas, os escritos de tempos passados, os conceitos antigos elaborados. O segundo fundamento demonstra a importância da estratégia utilizada pela autora pré-citada: a memória – memória-registro e memória vivida. O artifício da memória possibilita interpretar o já vivido, gerando novas perspectivas, à medida que suscita, do já realizado e que vem à tona, o movimento dialético contraditório. O quadro vivido, ao ser analisado em outro tempo e em outro espaço, ressurge com outros contornos, outras feições. Ao se acionar a memória, inevitavelmente, vem à superfície o que mais marcou 86


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