A psicologia na politica para as mulheres em situacao de violencia

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lizada. Nessa oportunidade, os/as psicólogos/as pareciam tentar trazer para sua prática o que era solicitado e não propor qual seria o trabalho que uma psicologia poderia contribuir nesse contexto. Se as psicólogas puderem fazer o trabalho para o qual se prepararam, intervindo na subjetividade, emoções, processos mentais, e os demais membros da equipe aquilo que lhe compete – advogada com as questões do direito; assistente social com as questões do serviço social, do apoio material –, a psicóloga atuaria de forma a contribuir com o enfrentamento de um fenômeno multideterminado, onde cada profissional atuaria no aspecto para o qual se preparou para realizar, dentro de um conjunto de ações com o mesmo objetivo, ou seja, oferecer às mulheres em situação de violência uma oportunidade de mudança de suas vidas. Só assim será possível que a intervenção da equipe multiprofissional possa atuar de forma a considerar as diversas faces do fenômeno da violência contra as mulheres. Ademais, é colocada a cobrança para que a psicóloga atue de forma a não intervir nas questões emocionais, aspecto trabalhado pela psicologia clínica, por exemplo, pois assim estaria atuando de forma a naturalizar a violência. Contudo, essa visão naturalizante pode existir também na atuação da/o advogada/o ou da assistente social, por não compreenderem o fenômeno da violência como é compreendido pelas feministas e pelas publicações da SPM, e não porque atuem utilizando uma perspectiva clínica ou uma atuação clínica. Essas/es profissionais também podem ser limitantes em suas atuações e, por isso, a limitação eventual de uma psicóloga não é, necessariamente, por conta de sua intervenção nos aspectos intrapsíquicos. A formação da graduação em psicologia oferece ferramentas para o desenvolvimento de um trabalho com a subjetividade e o comportamento, a partir de diferentes escolas e teorias. Essa formação, na maioria dos casos, não exclui as questões sociais, culturais e históricas, pelo contrário, há o entendimento de uma via de mão dupla entre o ‘individual/eu’ e a ‘sociedade/o outro’, como já foi exposto. E, quando se trabalha a psicologia no foco das questões da subjetividade, não se negam e não se podem negar os aspectos sociais ou culturais, e que um não se reduz ao outro e é justamente nesse ponto que as questões das relações de gênero poderiam ser trabalhadas. Também é importante destacar que esse tema já começa a integrar a formação em psicologia no Brasil. Todavia, o foco de uma intervenção

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