que não só encanta e mexe com as pessoas, mas, uma opção de vida e de carreira profissional. Outra dificuldade encontrada pelos que fazem teatro de rua com base em texto escrito é a escassez de texto dramatúrgico especificamente pensado para encenação no espaço aberto. A carência de textos específicos para encenação na rua tem levado os artistas, que trabalham com essa modalidade teatral, a buscarem nos textos literários, sejam estes dramatúrgicos ou não, suporte e/ou referenciais para suas encenações. Nos anos oitenta, quando a Escarcéu decidiu montar seu espetáculo para a rua, a dificuldade para encontrar um texto que pudesse ser encenado em espaços abertos era bem mais acentuada. Quase sempre esses textos encontrados eram, e ainda são, decorrência de criações coletivas dos grupos de teatro, servindo especificamente a propostas de trabalhos em contextos sócio-histórico bem particulares, ou resultados de apropriações de outros gêneros literários, como por exemplo, o Grupo Imbuaça de Sergipe que trabalha com encenação de folhetos de cordel. O texto A Árvore dos Mamulengos utilizado como matriz estética literáriodramatúrgica pela Companhia para encenação de seu espetáculo de rua foi originalmente escrito para ser encenado em palco italiano. O verbete matriz significa: /Lugar onde algo se cria./ que é primordial./ molde para a fundição de qualquer peça./22 Armindo Bião (2009) define matriz como: “uma família de formas culturais aparentadas, como se fossem ‘filhas de uma mesma mãe’, identificadas por suas características sensoriais e artísticas, portanto estéticas, tanto num sentido amplo, de sensibilidade, quanta num sentido estrito, de criação e de compreensão do belo”. Foi então, a partir da apropriação de um texto construído para um espaço fechado que a Companhia montou seu espetáculo na rua. Muito tem se falado em “adaptação” de textos para a rua, Pavis (2007: 10 -11) considera este termo como uma espécie de “transposição ou transformação” de uma linguagem para outra por meio de “manobras textuais” que “recriam o texto” adaptado. Segundo o autor “a adaptação tem por objeto os conteúdos narrativos que são mantidos, enquanto a estrutura discursiva conhece uma transformação radical”. O que, no caso específico do texto dramatúrgico, não é plenamente contemplado pelo referido termo.
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In. Minidicionário Brasileiro da Língua Portuguesa (FERREIRA, 2001:452).
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