Aletheia digital 01

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ALETHEIA Publicação digital de sociologia e filosofia do CEP

Projeto Aletheia

Mídias escolares no CEP Uma proposta para o uso de técnicas de comunicação para a aprendizagem na área de humanas do ensino médio

Filosofia e sociologia: Encontros e desencontros 50 anos golpe militar Opção por sociologia e filosofia Democratização dos meios de comunicação

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Comunicação na

educação

É reconhecida a grande importância da criação de ferramentas didáticas comunicativas nas escolas públicas, que visam o aprimoramento do ensino e aprendizagem, cujas iniciativas têm como objetivos motivar e sensibilizar, a partir de

Projeto Aletheia Inicialmente, as coorde-

atividades produzidas e desenvol-

nações das disciplinas de

vidas por meios principalmente tec-

filosofia e sociologia do

nológicos, ofertando comunicação

CEP implementarão seu

e conhecimento. Essa forma de

projeto de mídias escolares

elaboração e compartilhamento de

desenvolvendo três veícu-

conteúdos favorece o engajamento

los de comunicação, que

do aluno, que passa a desenvolver

servirão de suporte para

uma análise crítica a respeito do

as primeiras atividades, as

que está sendo produzido, a partir

quais são:

da investigação, análise e reflexão sobre temas do interesse comum.

Jornal Mural: Painel impresso, fixado em locais de fácil visuali-

Reavaliando os conceitos utilizados

zação, com informações básicas

socialmente e trabalhando com as

a respeito das atividades do

possibilidades abertas por meio de

projeto.

sua própria atividade comunicativa, a sua participação como coautor do conhecimento será possibilitada de uma forma mais ampla.

Revista Digital On-line: Material em formato eletrônico com os conteúdos na íntegra. Blog: Endereço eletrônico na internet

Dirlô Saldanha Professor de filosofia do CEP

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Projeto Aletheia

www.projetoaletheia.wordpress.com

Objetivo Geral:

Objetivos Específicos: Incentivar a produção de texto, a análise, síntese e reflexão a respeito dos conheci-

Elaborar plataformas

mento adquiridos.

e estratégias comu-

Promover a livre expressão e autonomia, convidando o estudante a ser um coautor na produção

nicativas educativas (mídias escolares)

do conhecimento e sua divulgação. Desenvolver uma comunicação didática que permita ao aluno estabelecer uma relação com o que se aprende em sala de aula e sua própria prática. Motivar a curiosidade e o interesse pelas matérias de humanas através de técnicas comunicativas.

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ALETHEIA Nos ensina Heidegger que “na essência da verdade como do desencobrimento vige uma espécie de luta com o encobrimento e com o retraimento. (...) encobrimento, ao contrário, nós conhecemos, seja porque as próprias coisas e seus contextos se ocultam a nós e para nós, seja porque nós mesmos antecipamos, realizamos e admitimos um encobrimento, seja porque ambos, um encobrir-se das ‘coisas’ e um encobrir-se deste encobrimento ocorrem num jogo mútuo por nosso intermédio”. Mais adiante ele afirma “‘Verdade’ não é jamais, ‘em si’, apreensível por si, mas necessita ser ganha na luta.” Temos então que aletéia significa desencobrimento, desvelamento, no sentido de tirar o véu ou descobrir. Tudo isso Heidegger nos diz quando interpreta o poema de Parmênides, filósofo que viveu aproximadamente em 530 a 460 a.n.e. Nesse poema Parmênides diz que foi até a morada de aletéia, que seria uma deusa, a verdade. Note que não é a deusa “da” verdade, mas “a verdade”

“Parmênides nos relata acerca de uma deusa. O aparecer de um ‘ente divino’ no pensamento de um pensador nos é estranho. Primeiro, simplesmente, porque um pensador não tem a anunciar a mensagem de uma revelação divina, mas traz à fala, em si mesmo, o próprio interrogado. Também, mesmo quando os pensadores pensam sobre ‘o divino’, como acontece em toda ‘metafísica’, este pensar é ( o divino), como Aristóteles diz, um pensar a partir da ‘razão’ e não uma reprodução de sentenças de uma ‘fé’ cúltica e eclesiástica. Em particular, porém, causa estranheza o aparecimento ‘da deusa’ no poema doutrinário de Parmênides pelo motivo de que ela é a deusa ‘Verdade’. Pois ‘a verdade’, como ‘a beleza’, ‘a liberdade’, ‘a justiça’, tem valência para nós como algo ‘universal’. Este universal é extraído do particular e atual, do que é cada vez verdadeiro, justo e belo, e é, então, representado de modo ‘abstrato’, num mero conceito. Fazer ‘da verdade’ uma ‘deusa’, isto significa certamente fazer de uma mera noção de algo, ou seja, do conceito da essência da verdade, uma ‘personalidade’”. Vilma Luiza, professora de filosofia do CEP (texto completo no blog do Projeto Aletheia)

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Publicação digital de sociologia e filosofia do CEP

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Conteúdo: Encontros e desencontros

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50 anos do Golpe Militar

16 Democratização dos meios de comunicação

Opção: Humanas

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Mafalda: 50 anos

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Ex p ed iente Grupos de trabalho

Aula Magna

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Coordenações de sociologia e filosofia do CEP

Educação - Leonardo Camargo, Vilma Luiza, Simone Hay, Fernando Ciello. Comunicação - Eli Passos, Ney Jansen, Julliane Picetskei, Eliana dos Santos. Editoração - Dirlô Saldanha

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Minha opção: Humanas (1)

Ao serem questionadas, duas ex-alunos do CEP relataram os motivos que as levaram a optar por ciências sociais na graduação, suas opiniões a respeito do curso e a relação entre essa escolha e o CEP:

Bruna Maier dos Santos, 22 anos, contou que a graduação foi decidida nos “45 minutos do segundo tempo”, no terceiro ano do Ensino Médio em 2008. O principal motivo foi o contato com a disciplina somente nessa fase, pois nos outros anos não existia na grade curricular e alguns colégios sequer tinham no seu currículo, pois já na graduação ouviu muitas pessoas dizerem que não tiveram na sua formação e conheceram por outros caminhos. Foi na metade daquele ano que entrou no turno da tarde (estudou alguns meses à noite) e conheceu o Professor Ney. “Ele teve fundamental importância na escolha da minha formação, arrisco a dizer que foi através dele e da sua visão de mundo, além da forma que ministrava a matéria,que acabei me interessandode verdade por Sociologia, diferentemente de outros colegas do meu ano. As aulas eram temáticas, o Prof Ney sempre trazia temas, exercícios e conteúdos atuais e rotineiros e isso é um grande diferencial dentro da sala de aula.” Com relação ao curso, continuou Bruna, suas considerações mudaram muito ao longo desses cinco anos de graduação. Ela diz: “eu entrei no currículo antigo, quando ainda contávamos com as duas opções de formação: bacharelado

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e licenciatura. Sendo assim, me licenciava para a prática docente em Sociologia e optava pelo bacharelado nesta área ou em Ciência Política ou Antropologia. Foi somente em 2011 que o currículo e as opções de formação mudaram e você deveria optar por uma ou outra área.”. Ela afirma que o curso é muito rico teoricamente e por isso a grande confusão e a dificuldade em decidir o que estudar e pesquisar. As disciplinas e as linhas de formação são amplas e dialogam com diversas formas de conhecimento, pois tudo pode ser abarcado e discutido. Por outro lado, adverte a aluna, esta qualidade também pode ser problemática se você não tiver certo do que realmente quer para o seu futuro e com o que quer trabalhar, pois numa questão financeira e profissional as opções são bem definidas. A grosso modo, dentro da atual modalidade de formação, você escolhe entre a licenciatura ou o bacharelado, sendo que na primeira você tem a possibilidade de dar aulas para o Ensino Médio e continuar se especializando (mestrado, doutorado) e seguir carreira acadêmica, na segunda você pode continuar sua linha de pesquisa e tornar-se um pesquisador da área escolhida. Claro, há também as possibilidades de trabalhar com empresas

Gradu

Filosofia e

de pesquisas, recursos humanos, Ong’s, concursos públicos, projetos diversos dentre outros. Mas, talvez o mais importante seja o conhecimento de mundo. Conhecimento que não se restringe à sala de aula, é um saber que você vivencia, idealiza e identifica no seu cotidiano. É uma identificação que você vai construindo com o passar do tempo, de acordo com a maturidade. Bruna diz: “ Hoje eu consigo entender melhor e ver muito de mim no que estudei e isso é importante, pois, às vezes nós fazemos coisas que nem sequer refletimos sobre a real necessidade daquilo para a nossa vida... Então, eu diria que era diferente sim do que eu esperava, pois no Ensino Médio nós temos uma noção muito ínfima do que as coisas são e realmente significam e acarretam. E não acaba na graduação, vai além disso. “ Com relação ao CEP, ela admite, o que todos nós ouvimos num determinado momento da vida: deveria ter aproveitado mais o Colégio, rs. Quando você se depara com a realidade de outros colégios e outras formas de ensino (atualmente sou professora


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ciências sociais

uação

e Sociologia

temporária PSS), se dá conta de quantas coisas tinha em mãos e não percebia, cursos que ele oferece, uma biblioteca com diversos matérias à disposição, laboratórios que funcionam e têm recursos de verdade! “Sim, eu também falo das piscinas, jogos, das viagens de formatura, dos espaços que não necessariamente são os de estudo, mas que integram e “somatizam” sua formação social e que são importantes para reconhecer e definir o que você gosta do que definitivamente não gosta, com o que quer trabalhar e o que quer para a sua vida. É difícil fazer esta opção aos 17 anos, mas arriscar e ter coragem de mudar é importante, em qualquer momento da vida.” Bruna finaliza que aproveitou o CEP como muitas pessoas, conheceu uma ou outra coisa, e hoje, ela aproveitaria e se permitiria conhecer muito mais, tudo que ele pode oferecer. Mas ela pode fazer isso de outra forma agora, lecionando e continuando a estudar, buscando sempre aprimorar mais e mais o caminho que percorreu até agora.

Rafaela Lourenço, estudante de ciências sociais na PUC-PR. formado no CEP em 2013, relata que vários motivos o levaram à decisão de cursar sociais. Desde o 1° ano do E.M, quando a disciplina lhe foi apresentada, já começou a analisar a sociedade com certo estranhamento. No decorrer do 2° e 3° anos aprofundou seus conhecimentos com ênfase no último ano, visto que prestaria vestibular. A aluna assegura que a postura dos seus professores de sociologia sempre a influenciou a entender um pouco mais as sociedades, os indivíduos no coletivo, as relações e as transformações sociais. Ela garante que “Sair do senso comum e tornar-me uma cidadã crítica me motiva tanto para auxiliar no progresso da minha comunidade científica, como licenciar na área da educação, ajudando os adolescentes/jovens a perceberem que o mundo em que vivem não é do jeito que aparenta ser.” Rafaela admite que já era fascinada pelo curso antes de ingressar na Universidade, mas após ingressar, ficou ainda mais encantada, sentiu que era realmente o que almejava e que finalmente haviaencontrado sua vocação, sua identidade. Ela fala queo curso exige grande demanda de leitura, produção de textos, pesquisas e outros trabalhos no geral. Requer desenvolvimento do vocabulário, e maior atenção para compreender textos mais complexos, mas isso só a motiva ainda mais a prosseguir o curso, e conquistar maiores graus de intelectualidade. A respeito do CEP ela responde que teve grande importância na escolha, motivação e ingresso no curso. Excelentes professores que, trabalhando com seriedade, dedicação e compromisso, mostraram que a educação transforma. Lembrou que o Curcep também ajudou na sua preparação para o vestibular, mesmo sendo somente uma aula complementar na semana, o material fornecido pelo professor, somado aos materiais do professor das aulas normais, agregaram muito conteúdo nas suas noções referentes às ciências sociais, tornando possível seu ingresso na Universidade como bolsista integral.

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Filosofia e Sociologia: Encontros e desencontros

Vilma Luiza, professora de filosofia do CEP

Após a abertura política e econômica que aconteceu no Brasil na década de 80 a sociedade exigiu as disciplinas de filosofia e sociologia no currículo do ensino média da escola pública. Foram mais de 10 anos de intensos debates entre aquele(a)s que entendiam o ensino público como simples formação de mão de obra e os que o pensam como formação cidadã, até que a lei foi aprovada em 2008. Ainda hoje há questões acerca do que seriam esses ensinamentos e uma pergunta frequente é se as duas disciplinas são a mesma coisa. O que elas ensinam, do que trata cada uma delas? Esse pequeno texto tem o objetivo de explicitar o que é filosofia e sociologia, suas diferenças esemelhanças. Comecemos com a questão se ambas são ciências humanas. Rigorosamente apenas a sociologia é. A filosofia surgiu há 2600 anos, aproximadamente, na Grécia antiga quando só havia o pensamento mitológico para explicar o mundo e a vida. Seu intuito era

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pensar a essência ou o que há por trás da aparência. A racionalidade é sua principal exigência, porém essa racionalidade é do tipo reflexiva ou contemplativa o que quer dizer que o(a) filósofo(a) não tem interesse em intervir no mundo, sua principal intenção é compreender o mundo e a vida humana. Mas, como nos ensina Deleuze, filósofo francês que no séc. XX procura explicar o que é filosofia em tempos de tecnologia e conhecimento científico, qualquer tentativa de compreensão já é intervenção que pode levar a transformação. Segundo esse autor o que caracteriza a filosofia é a criação de conceitos. Diz ele: “O conceito filosófico não se refere ao vivido, por compensação, mas consiste por sua própria criação, em erigir um acontecimento que sobrevoe todo o vivido, bem como qualquer estado de coisas. Cada conceito corta o acontecimento, o recorta a sua maneira. A grandeza de uma filosofia avalia-se pela natureza dos acontecimentos aos quais seus conceitos

nos convocam, ou que ela nos torna capazes de depurar em conceitos. Portanto, é necessário experimentar em seus mínimos detalhes ow vínculo único, exclusivo, dos conceitos com a filosofia como disciplina criadora. O conceito pertence à filosofia e só a ela pertence” (DELEUZE, 1992, p 47) O conceito não é algo que paira no ar, como num mundo de ideias – até mesmo Platão, para criar o conceito “mundo das ideias” partiu da imanência do mundo sensível – o conceito é complexo porque envolve outros conceitos e tem sua origem (arché) num plano de imanência ou realidade. Por isso podemos dizer que a filosofia é imanência. O que suscita o pensamento no(a) filósofo(a) é a realidade em que vive. Abstrair é tirar do concreto, do plano material, da imanência e levar ao pensamento que ordena, une ou reúne as impressões causadas pela realidade e cria assim o conceito que é a solução de um problema que a realidade apresentou. O(a)s estudantes de ensino


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médio não são filósofo(a)s e não outras palavras: a realidade con- pensar ou realizar o entendimenpodemos esperar dele(a)s criação fusa, caótica do nosso cotidiano to conectando com outras ideias de conceitos, mas a apropriação que Deleuze chama de plano de conceitos que já estão lá ou aprode conceitos é possível. Diz Favaimanência. A sala de aula é par- ximando de outros eventos que tiretto que “um trabalho específico te dessa cultura, está nela, é ela ramos da imanência e só se comde filosofia no ensino médio resulprópria também.w Esperaww-se pleta o processo se retornamos ao ta da conjunção de um repertório do(a) professor(a) de filosofia que plano de imanência, só que agora de conhecimento (...) e de proceseja autônomo(a), isso significa tudo se modifica, o que vemos ou dimentos básicos de análise, leisaber orientar-se pelo pensamen- sentimos não é mais o que tínhatura e produção de textos.” (FAVAto, elaborar conceitos, argumentar mos antes, não porque o tempo RETTO, 2014) O repewrtório pode e problematizar para que possa passou e a realidade se transforser a história da filosofia, temas ensinar o(a)s estudantes a fazer mou por si, mas a transformação ou textos filosóficos e o procedio mesmo: “orientar-se pelo pen- ocorreu no pensamento que nos mento não é exatamente técnicas samento e não orientar o p ensa- fez ver e sentir de outra forma. O fato de ensinar o(a) de leitura, entendo o que Favaretmento.” (FAVARETTO, 2014 gripo s estudantes a comto diz como “chaves preender a realidade leitura” que são “procedimentos refle- “O conceito filosófico não se refere ao vivido, por com- de pode despertar xivos” que procuram pensação, mas consiste por sua própria criação, em eri- nele(a)s a possibilidaelucidar “significação gir um acontecimento que sobrevoe todo o vivido, bem de da mudança, porém não há como dos processos culcomo qualquer estado de coisas. Cada conceito corta o saber o que ele(a)s turais ou históricos” subentendidos nos acontecimento, o recorta a sua maneira. A grandeza de irão mudar, muito metextos. Nisso não há uma filosofia avalia-se pela natureza dos acontecimen- nos se pode dizer a como desvincular au- tos aos quais seus conceitos nos convocam, ou que ele(a)s o que pensar e o que mudar porque las de filosofia com ela nos torna capazes de depurar em conceitos. Porisso não seria filosoo que tem sentido na realidade do(a) estu- tanto, é necessário experimentar em seus mínimos de- fia. As aulas de filodante que vai se inte- talhes ow vínculo único, exclusivo, dos conceitos com sofia devem entregar ressar em decifrar um a filosofia como disciplina criadora. O conceito pertence aos educando(a)s as ferramentas – que são código, um signo que o toque de alguma à filosofia e só a ela pertence” (DELEUZE, 1992, p 47) a reflexão, argumentação e conceitos – para forma, daí a necessipensar a realidade em dade de usar exemplos constantemente nas aulas do meu) Orientar-se pelo pensamen- que vivem. O resto é com eles. Agora que já sabemos o que é a ensino médio o que a torna difeto é sair do tumulto, do caos, d o rente de um discurso acadêmico. falatório da realidade para refletir disciplina de filosofia e do que ela Deleuze nos ensina que co– parar, silenciar, pensar – proble- trata vamos agora compreender a nhecer é interpretar ou decifrar matizar, questionar e argumentar sociologia. Conforme estudamos signos. (DELEUZE, 1987, p.2) a fim de decifrar um signo. Esse no livro didático de filosofia adotaQuando um signo nos chama a signo deve surgir de um problema do em nosso colégio Filosofando: atenção somos impelidos a decique seja significativo cotidiana- Introdução à filosofia, o surgimenfrá-lo. Desperta em nós a vontade mente e tenha referência a uma to da sociologia se deu no séc. de saber. Somos tocado(a)s por produção conceitual, um texto filo- XIX quando o filósofo Augusto ele porque somos seres afetivos e sófico, no caso, que nos apresen- Conte, muito entusiasmado com agimos a partir de afetos. “A ideta a solução de como intervir na os resultados do conhecimento ologia sequestra o uso do signo realidade, para ser mais exata, a científico, resolveu aplica-lo ao espela imaginação e expectativa de intervenção não seria na realida- tudo da sociedade. Ele tinha como comunicação”diria mais: pela nede, mas no modo de vida de um meta elaborar uma física social. O cessidade de segurança em meio indivíduo que nesse caso é o(a) conhecimento científico surgiu no ao caos da realidade, “tornando estudante. É preciso ressaltar que século XVII por ocasião da revolegítimo usos indevidos”.(FAVAa crítica dos imaginários da cultu- lução científica impulsionada pela RETTO, 2014) Signo é tudo o que ra, ou seja, ideologias, já é a in- revolução industrial. É um conheo ser humano constrói, ou seja, tervenção na realidade porque há cimento produzido com o auxilio cultura, nisso está incluso diverum movimento no pensar filosófico de máquinas e instrumentos, por sos discursos ou ideologias, em que é tirar do plano de imanência, exemplo o telescópio de Galileu

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usado para comprovar a teoria de que o universo é infinito, daí o chamarmos de conhecimento instrumental porque seu resultado é obtido por instrumentos. Tem por objetivo o domínio e controle da natureza, uma vez que a burguesia, que estava construindo uma nova ordem econômica – a indústria – precisava de matéria prima para a elaboração de seus produtos e por isso tinha necessidade de conhecer a natureza de onde tirava a matéria prima. Para isso era imprescindível a matemática enquanto cálculo para obter respostas exatas e seguras sobre os possíveis usos da natureza. Hoje esse conhecimento predomina em nossa sociedade utilitarista e a matemática é muito valorizada e importante. A principal característica do modo de pensar científico é a causalidade: busca-se conhecer as causas para intervir nos efeitos e vice-versa. Aqui estão expostas as principais características do conhecimento científico: Por meio de instrumentos e com o uso do raciocínio calculador da matemática procura intervir na natureza para, dominando e controlando-a, usá-la em benefício de uma melhor qualidade de vida humana. Essas são, em linhas gerais, as ideias de Descartes e F. Bacon, filósofos que iniciam o modo de pensar moderno e contribuíram para a elaboração de um método, hoje conhecido como método experimental. Esse método é o que Conte se propôs usar para elaborar sua física social. Essas ideias e atitudes de Conte recebem o nome de positivismo porque visa obter respostas matemáticas, exatas, positivas para os problemas sociais que são bem diferen-

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tes daqueles da natureza, porque sociedade é cultura e cultura é ser humano que faz. Ciência humana, rigorosamente falando, é aplicação do método científico, que é experimental e matemático, para o estudo do ser humano. Isso se torna problemático uma vez que o ser humano, ao contrário dos animais, não é programado geneticamente. É livre para controlar seus instintos e desejos, é racional e pode projetar sua vida de acordo com sua vontade, é um ser autô-

nomo que dispensa controle externo em sua vida adulta. Porém o fascínio pela exatidão matemática faz com que ainda hoje muito(a)s estudioso(a)s insistam em aplicar o modo de pensar científico para o entendimento do ser humano. Muito(a)s sociólogo(a)s fazem uso do método científico para encontrar causas, por exemplo, da violência social, da miséria e formas de controle dos mais variados tipos. Podemos dizer que Durkheim seria um exemplo de sociólogo autenticamente científico. No entanto há muito(a)s outro(a) s estudioso(a)s da sociedade que utilizam outros métodos para compreender os problemas sociais, como por exemplo, Karl Marx que se utiliza da dialética materialista que visa o entendimento a partir

das contradições sociais. Marx é muito estudado em sociologia como sendo um grande sociólogo curiosamente é também tido como um dos maiores filósofos de todos os tempos porque elaborou conceitos, como a “mais valia”. Marx viveu no século XIX e criticou a filosofia por ser apenas abstrata, chamou a atenção para a realidade material. Podemos aproximar a ideia de materialismo com o plano de imanência que Deleuze nos fala no século XX. Marx enfatiza a importância da tomada de consciência da situação material em que nos encontramos e que a partir dessa atitude crítica podemos elaborar nossas ideias. Diz ele que essa atitude transforma a situação material. Seu modo de pensar autenticamente filosófico o twornou um grande filósofo. Outro estudioso digno de ser mencionado por pensar o método de compreensão do ser humano é Norbert Elias que em seu texto Envolvimento e Alienação propõe uma sociologia desvinculada do método científico ao dizer da necessidade das ciências humanas se emanciparem das ciências da natureza e criarem seu próprio método. Para melhor elucidarmos as especificidades da filosofia e da sociologia voltemos a Deleuze e sua compreensão do modo de pensar filosófico comparado como modo de pensar das ciências. Segundo ele a ciência não cria conceitos, é determinada por “funções ou proposições”(DELEUZE, 1992, p 153). “A filosofiaprocede por um plano de imanência ou de consistência; a ciência por um plano de referência. No caso da ciência, é como uma parada na imagem.” (DELEUZE, 1992, p 154).Ou seja, a ciência tem objeto, algo que


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para diante do(a) cientista que examina. Como o “fato social” em Durkheim. A filosofia não tem um objeto de estudo. O(a) filósofo(a) estuda o ser sendo, fluindo, existindo. Não tem necessidade de congelar numa imagem, já o(a) cientista, precisa disso como referência. A diferença está, portanto, no modo de abordar a realidade. “A primeira diferença entre a filosofia e a ciência reside no pressuposto respectivo do conceito e da função: aqui um plano de imanência ou de consistência, lá um plano de referência. O plano de referência é ao mesmo tempo, uno e múltiplo, mas de maneira diferente da do plano de imanência.”(DELEUZE, 1992, p 163). O(a) filósofo(a) não separa uma variável de outra, são interligadas, uma leva a outra e há unidade para formar um conceito, já o(a) cientista separa as variáveis. O(a) filósofo(a) apreende a totalidade, o(a) cientista analisa – divide em parte – para depois sintetizar. Por fim, Deleuze nos aponta três diferenças básicas entre ciência e filosofia. Diz ele: “Quanto a confrontação direta da ciência e da filosofia, ela se faz sob três instâncias de oposição principais, que agrupam as séries de functivos de um lado, e as pertenças de conceitos de outro, É, primeiro, o sistema de referência e o plano de imanência; em seguida, as variáveis independentes e as variáveis inseparáveis; enfim, os observadores parciais e os personagens conceituais. São dois tipos de multiplicidades. Uma função pode ser dada sem que o conceito seja mesmo dado, embora possa e deva sê-lo; uma função do espaço pode ser dada sem que seja ainda dado o conceito de espaço. A função, na ciência, determina um estado de coisas, uma coisa ou um corpo que atualizam o virtual sobre um plano de referência e num sistema de coordenadas; o conceito, na filosofia, exprime um acontecimento que dá ao virtual uma consistência sobre um plano

de imanência e numa forma ordenada.” (DELEUZE, 1992, p 172) Temos assim que filosofia e sociologia são dois modos de conhecer distintos. A realidade é a mesma, porém a forma de compreender ou de ordenar a realidade caótica difere nas duas disciplinas, mas somente na medida em que professore(a)s de sociologia priorizarem este(a) ou aquele(a) sociólogo(a): há aquele(a)s que pensam cientificamente e há sociólogo(a)s filósofo(a)s, ou o contrário. As aulas de sociologia, assim como as de qualquer disciplina tem sempre o mesmo objetivo que o da filosofia: entregar a(o)s estudantes as ferramentas do pensar para que possam atuar na realidade. Por exemplo, a matemática ensina a pensar matematicamente para que possamos calcular, medir, pesar e outras atitudes matemáticas que somos obrigado(a)s a assumir em nosso cotidiano, não apenas como cidadã(o)s, mas sobretudo como seres humanos. O mesmo se dá com a geografia que nos auxilia a

pensar os espaços e assim com todas as disciplinas. A sociologia deve entregar as ferramentas do pensar científico, possíveis de se aplicar ao entendimento da sociedade em que vivemos. Finalizando: as especificidades da filosofia são a reflexão lógica de problemas que a realidade como um todo possa suscitar. Não há um rigor metodológico no sentido de seguir apenas um único método, mas é preciso elaborar um método rigoroso que nos leve à criação de conceitos que solucionem os problemas. As especificidades da sociologia passam pela necessidade de adaptação ao método científico para procurar causas, conhecer efeitos, fazer diagnósticos e apontar possíveis soluções. Curiosamente o que aproxima a filosofia da sociologia é o mesmo que as afasta: a questão do método.

REFERÊNCIAS: ARANHA, M.L. e MARTINS, M.H.P. Filosofando: Introdução à filosofia. Ed. Moderna, 2009. Deleuze, G. Proust e os signos. Trad. bras. Rio de Janeiro: Forense -Universitária,1987. _________. O que é filosofia? Rio de Janeiro: ed. 34, 1992. ELIAS,N. Envolvimento e Alienação. Rio de Janeiro, Bertrand Brasil,1998. FAVARETTO, C. Notas sobre o ensino de filosofia. in: ARANTES, Paulo Eduardo. A filosofia e o seu ensino. São Paulo: EDUC; Petrópolis: Vozes, 1995. P.77 a 85. ______________. Filosofia e Ensino. Disponível em: filosofiapibidufabc.files.wordpress.com/.../favaretto-filosofia-e-ensino-2... ______________. Filosofia do ensino de filosofia. Texto didático para o curso de especialização em ensino de filosofia, UFSCAR, 2014.

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s o n a 50 da Mafalda Aniversário

Os quadrinhos da Mafalda,

dade e paz mundial., com a

a menina de cabelos negros

passagem do jornal El tiras

que odeia sopa e é contrária

em quadrinhos Mundo (onde

aos adultos, foi publicado pela

Quino publicou seis tiras por

primeira vez em 29 de setem-

semana), começa o grande

bro de 1964, no semanário

sucesso do personagem, que

Primera Plana de Buenos

atravessa fronteiras nacionais

Aires. Ela não difere em nada

para conquistar a América do

de uma menina típica de sua

Sul e, em seguida, estende-

idade. Mas Mafalda possui

se para a Europa, ganhando

uma visão aguçada do mundo,

uma posição de destaque no

e vive fazendo perguntas

imaginário coletivo.

sobre assuntos como humani-

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Para onde vocês acham que a humanidade está indo?

Leonardo Camargo, professor de filosofia do CEP

Esta pergunta, que esperaríamos sair da boca de um acadêmico, é feita por uma garotinha com uma grande cabeça e cabelo preto. Há 50 anos o argentino Joaquín Salvador Lavado Tejón, conhecido como Quino, criou Mafalda, a menina que comenta com um olhar crítico desde o machismo existente em sua casa até a desigualdade social em todo o mundo. Ao mesmo tempo, as tirinhas retratam as preocupações comuns às crianças, sobre como chamar a atenção dos pais depois que nasce o irmãozinho e também a preocupação de tirar notas boas na escola. Publicadas em vários países, as tirinhas aliam um humor rápido com temas sempre atuais. Quino mostra, junto com suas outras

criações, que as histórias em quadrinhos não são uma forma de arte que serve apenas para entreter o público, e podem também fazer uma análise crítica da realidade. O pensamento crítico - caraterizado pela capacidade do indivíduo em discernir, separar e julgar a realidade – é, desde a Grécia Antiga, o atributo do filósofo ao procurar compreender o mundo em que vive. Este tipo de pensamento busca ultrapassar o senso comum, que, ao contrário, apenas aceita o que é lhe falado sem a devida reflexão. O pensamento crítico não é exclusividade da Filosofia, pois qualquer indivíduo, ao se deparar com verdade estabelecidas deve parar questionar se esta verdade é válida ou não

e procurar escutar sempre outros pontos de vista – desde uma nova descoberta científica à uma notícia veiculada pela Internet. Quino criou a Mafalda como uma personagem para uma peça publicitária e que foi recusada pelo anunciante. Depois aproveitou a mesma personagem para fazer tiras autorais, que ironicamente criticam o próprio consumismo, incentivado pela publicidade. Mafalda nos mostra que, independente da idade, formação acadêmica ou condição social é imperativo que todos procurem compreender e criticar a realidade com seus próprios olhos. REFERÊNCIAS

http://www.quino.com.ar/

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Inclusão da

Filosofia e sociologia

Por quê?

Estudar sociologia e filosofia na escola?

no currículo do ensino médio

Eli Abreu, professor de filosofia do CEP Depois de intensa discussão e, porque não dizer expectativas a Câmara de Ensino Básico do Conselho Nacional de Educação – CNE, por meio do Parecer CNE/CEB n. º 38 de 07 de julho, de 2006 e pela Resolução CNE/ CEB n.º 04 de 16 de agosto de 2006, determina a inclusão obrigatória da disciplina de Filosofia e Sociologia no currículo do Ensino Médio em todo o Brasil. Na análise do Mérito a Câmara de Ensino Básico do Conselho Nacional de Educação (CNE/ CEB), reitera “a importância e o valor da Filosofia e da Sociologia para um processo educacional consistente e de qualidade na formação humanística de jovens que deseja sejam cidadãos éticos, críticos, sujeitos e protagonistas”. O documento ressalta que esta importância de certa forma está implícita na legislação maior da educação LDB 9394/96, entre os pesquisadores e educadores em geral. Ainda na análise do mérito o documento do CNE/CEB levanta a questão: “como garantir a eficácia dessa diretriz, se não forem efetivados processos pertinentes de ensino e aprendizagem que propiciem esses conhecimentos?” Talvez esta seja a maior dificuldade que as escolas irão enfrentar, ou seja, a organização pedagógica e funcional e a questão docente. O

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documento procura dar resposta apontando diretrizes para as escolas, dizendo que: Pode-se, nessa oportunidade, avançar mais, indicando-se como diretriz , a obrigação das escolas em garantir a completude e a coerência de seus projetos pedagógicos, dando o mesmo valor e tratamento aos componentes do currículo que são obrigatórios, seja esse tratamento por disciplinas, seja por formas flexíveis”, (...) É cabível e oportuno, ainda, reforçar, como diretriz, que a proposta de toda e qualquer escola do país deve assegurar, efetivamente, que, ao final do Ensino Médio o educando demonstre, entre outros, o domínio dos conhecimentos de Filosofia e Sociologia ne cessários ao exercício da cidadania”. (...) Para a garantia do cumprimento da diretriz da LDB, referente a Filosofia e à Sociologia, não há dúvida de que, qualquer que seja o tratamento dado a esses componentes, as escolas devem oferecer condições reais para a sua efetivação, com professores habilitados em licenciaturas que concedam direito de docência, além de outras condições, como, notadamente, acervo pertinente nas suas bibliotecas.(PARECER CNE/CEB n.º 38/2006)”

Aulas Magnas de Filosofia e Sociologia realizadas no dia 13/03/2014 envolvendo alunos dos primeiros anos dos turnos da tarde e da noite do Ensino Médio, essas palestras possibilitam aos alunos perceberem a importância do ensino de Filosofia e Sociologia na sua formação intelectual. Elas foram apresentadas pela Coordenadora de Sociologia Professora Eliana Maria dos Santos, sendo a abertura feita pela professora Malu ( assessora da Direção Geral ). As palestras foram proferidas pelas Professoras Drª Simone Meucci e Drª Karen


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Parecer CNE/CEB n.º 38/2006 Conclui em seu voto alterando a redação do artigo 10 da Resolução CNE/CEB n.º 3/98 que institui as Diretrizes Curriculares Nacionais do Ensino Médio, propondo especificamente: a) que seja alterado o §2.º do artigo 10 da Resolução CNE/CEB n.º 3/98 que deverá ter a seguinte redação: § 2.º As propostas pedagógicas de escola que adotarem organização curricular flexível, não estruturado por disciplinas, deverão assegurar tratamento interdisciplinar e contex tualizado, visando ao domínio de conhecimento de

Filosofia e Sociologia necessários ao exercício da cidadania. b) que sejam incluídos os § 3.º e 4.º no artigo 10 da Resolução CNE/CEB N.º, com a seguinte redação: § 3.º no caso de escolas que adotarem organização curricular estruturada por disciplinas, deverão ser incluídas a de filosofia e sociologia. § 4.º Os componentes História e Cultura Afro-Brasileira e Educação Ambiental serão, em todos os casos, tratados de forma transversal, permeando, pertinentemente, os demais componentes do currículo.

Este ato importante para o ensino da Filosofia e também da Sociologia ainda não se encerra a questão, visto que esta inclusão não significou alteração na LDB 9394/96 considerada a Lei maior, portanto está em aberto a questão, como serão elaborados os currículos das escolas levando-se em conta sua autonomia e complexidade na distribuição das disciplinas em que a Filosofia e Sociologia deverão estar incluídas? Certamente há um caminho muito longo e difícil para superar determinadas dificuldades como a decisão sobre as horas aula semanais, a infraestrutrura necessária, principalmente a questão do livro didático. Deve-se acreditar numa educação com possibilidade de construção do cidadão mais crítico, humano, solidário com condições de analisar os acontecimentos nas suas origens e tomar decisões maduras, com posturas emancipatórias e autônomas. No CEP, a Filosofia e a Sociologia além de cumprir os conteúdos propostos, têm desempenhado papel importante na promoção de debates sobre temas atuais, dentro e fora da sala de aula. Uma outra iniciativa que está em andamento é esta do Projeto Aletheia, que certamente será um instrumento a mais no fortalecimento destas duas disciplinas no contexto geral da educação

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Para nunca mais esquecer, para nunca mais acontecer! Ney Jansen, professor de sociologia do CEP No período que precede o golpe de 1964 o país passava por um intenso processo de industrialização e urbanização. Antes de falar do golpe, um rápido histórico. Até 1930 o país era governado por uma oligarquia agrocomercial, liderada por São Paulo, ligada à economia de exportação. A partir de 1930 a burguesia industrial passava a assumir o comando político do país. A demanda por produtos industriais levava a uma crescente industrialização, e ao reforço dos laços entre o capital industrial, bancário e agroindustrial. A nossa urbanização e industrialização ocorria sem redistribuição da riqueza social: a propriedade da terra continuava concentrada nas mãos dos latifundiários, a migração para o centro-sul intensificava-se, o acesso à

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educação universal era precário, a favelização aumentava. No período 1930-64 o Brasil havia sido governado por Getúlio Vargas (1930-45 e 1951-54), Eurico Dutra

(1946-50), Café Filho, Carlos Luz e Nereu Ramos (1954-56), Juscelino Kubitschek (1956-1961) e Jânio Quadros (1961). Nesse período diversos setores da sociedade brasileira (partidos, intelectuais, movimentos sociais no campo e na cidade) passavam a defender

a redistribuição da riqueza social (de renda, da terra, a a criação de empregos, direitos sociais e trabalhistas, ampliação da educação pública). A mobilização das classes trabalhadoras dos anos 1930 a 1960, crescia em número, consciência e organização, sendo temida pelas classes dominantes. Quando Jânio Quadros renunciou ao governo em 1961 o país passou por um intenso aumento na temperatura política. O vice de Jânio, João Goulart, conhecido por Jango (na época o vice era eleito em separado do presidente) flertava com algumas ideias de seu padrinho politico, Getúlio Vargas. Jango acenava com a necessidade de se fazer no país as chamadas “reformas de base” como a reforma agrária, mas enrolava e postergava suas ações. Temendo que Jango cedesse às pressões dos movimentos operários, camponeses e estudantis, a


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Golpe Militar Sob orientação direta (material, financeira, organizacional) dos Estados Unidos, setores das forças armadas desfecham um golpe de Estado instaurando uma ditadura militar/civil de 21 anos (1964 a 1985).

burguesia que controlava o Congresso, aprova em 1961 o parlamentarismo, retirando poderes da presidência da República. Um plebiscito em 1963 devolvia os poderes a Jango. Em 1961, os camponeses organizavam-se em sindicatos rurais e nas Ligas Camponesas. No movimento estudantil a UNE tomava a frente na luta por ampliação das vagas nas universidades públicas. Em 1962, formou-se o CGT (Comando Geral dos Trabalhadores), uma central sindical que unificava a luta dos diferentes sindicatos de trabalhadores. Uma greve geral é chamada e o governo Jango é obrigado a reconhecer os sindicatos rurais como representantes dos trabalhadores. O presidente Jango manobrava, de um lado cedia às pressões do capital: seu

“plano trienal” levou ao aumento das tarifas dos serviços públicos (aumento da água e da luz), cortava subsídios do trigo (aumentando preço de produtos básicos como o pão), fazia “controle” de salários

proibindo aumentos aos trabalhadores. De outro, acenava com a necessidade de se fazer reforma agrária (limitada aos trechos das rodovias federais), defendia o controle da remessa de lucros das multinacionais para suas matrizes, uma reforma universitária,

etc. Na prática, nenhuma medida concreta em benefício do povo era tomada pelo governo Jango. A burguesia nacional e associada com a estrangeira, através de um bloco financeiro-industrial-agrário articulava-se com seus partidos, imprensa (jornais, rádios, TV, agências de publicidade) associações empresariais e setores das forças armadas para desestabilizar o governo João Goulart acusando-o falsamente de “comunista”. No famoso comício de 13 de março de 1964 na estação ferroviária da Central do Brasil no Rio de Janeiro, diante de uma multidão Jango compromete-se com as chamadas “reformas de base”. Em oposição às reformas de base, a grande mídia, organizações de direita, empresários, Igrejas e Forças Armadas, organizavam dezenas de marchas reacionárias “contra o governo comunista de João Goulart”.

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Sob orientação direta (material, financeira, organizacional) dos Estados Unidos, setores das forças armadas desfecham um golpe de Estado instaurando uma ditadura militar/civil de 21 anos (de 1964 a 1985). Hoje, farta documentação comprova o passo a

passo da articulação golpista envolvendo governo dos EUA, governadores, imprensa, forças armadas, Igrejas, empresários. O presidente João Goulart fugiu para sua fazenda no Rio Grande do Sul negando-se a fazer uma resistência armada aos golpistas, abandonando o movimento de massas dos trabalhadores e estudantes que se dispunham a defender seu mandato presidencial. A ilusão dos que votavam em Jango e a inexistência de uma direção combativa no movimento operário, camponês e estudantil não teve tempo de articular-se na resistência ao golpe. Com o início da ditadura, centenas de líderes de movimentos sociais nos sindicatos, partidos

políticos, no parlamento, no movimento estudantil, no movimento camponês, intelectuais, escritores, artistas, são presos, torturados, outros exilados e muitos assassinados pela máquina de repressão fortalecida pela ditadura. No terreno econômico a ditadura representava os interesses dos lucros e os interesses geopolíticos do imperialismo norte-americano e da burguesia nacional subordinada. Centenas de sindicatos e associações eram fechadas e greves reprimidas. Tentativas de resistência ao golpe foram isoladas. O PCB, maior partido da esquerda na época do golpe, capitulava ao governo Jango, recusando-se a fazer a resistência operária armada. Outros militantes do movimento social (principalmente estudantes universitários) adotaram a estratégia das guerrilhas urbanas e rurais isolando-se do movimento de massas. Foi necessário a retomada aos movimentos de massa como as greves gerais operárias a partir de 1978 para o edifício da ditadura começar a ruir.

Direito à memória, verdade e justiça

Em 2012 foi instituído pelo Congresso e sancionado pela presidente da república Dilma Rousseff, a Lei 12.528/11 que criou a “Comissão Nacional da Verdade”. A Comissão da Verdade tem a incumbência de investigar os milhares de casos de violações dos direitos humanos ocorridas em nosso país, no período de 1946 a 1988, em especial entre 1964 e 1985 e nomear as vítimas, esclarecer seus destinos e identificar os responsáveis, sejam eles pessoas ou instituições. No Paraná foi criado o Fórum Paranaense de Resgate da Verdade,

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Memória e Justiça que busca realizar em nível regional, investigações sobre os agentes e instituições (públicas e privadas) responsáveis pela repressão à ditadura e que estão até hoje livre, leves e sem punições por terem coordenado, mandado, executado ou assassinado aqueles e aquelas que resistiam ao golpe e a ditadura. Está mais do que na hora de se passar o país a limpo e se questionar e remover algumas artimanhas da ditadura que sobrevivem como a “lei da anistia” de 1979, promulgada em plena ditadura e que anistia torturadores e assassinos, ocultando os nomes

dos responsáveis pela repressão. Em depoimento em março desse ano à comissão da verdade em Brasília, um coronel chamado Paulo Malhães admitiu ter participado de diversas torturas e ações para desaparecimento de presos políticos durante a ditadura militar -entre eles, o ex-deputado Rubens Paiva-. O coronel Malhães, de 77 anos, morreu em 24 de abril durante um misterioso assalto no sítio onde morava, em Nova Iguaçu, Rio de Janeiro. Um mês depois de fazer um depoimento revelando nomes de agentes da repressão.


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A COPA do mundo FIFA:

o d a it d r e t in e t a b e d um

Ney Jansen, professor de sociologia do CEP

A copa do mundo encerrou-se em julho. Tivemos grandes jogos,

grandes seleções e muitas emoções. A derrota de forma impactante (7X1 para a Alemanha) da seleção brasileira de futebol masculino ilustra nosso atual atraso tático e técnico, espelho da falta de investimento sério no esporte na base, na ausência de espaços públicos para práticas de esporte para a juventude, na desorganização e corrupção do futebol brasileiro, mesmo no país em que a modalidade futebol masculino concentra os maiores investimentos se comparado com demais modalidades esportivas. A copa é um evento mundial e está ligada a uma paixão nacional e mundial, o futebol. Porém nem tudo que reluz é ouro. A despeito da festa dentro de campo, dos grandes jogos, da recepção aos turistas, do incentivo ao turismo, alguns temas foram interditados do debate público pela maioria da mídia antes e durante a copa. O discurso dos legados ao país serviam de justificativa para se trazer a Copa ao Brasil como as promessas de obras de mobilidade urbana que ficaram aquém do esperado, não realizados ou incompletos. Algumas condições perversas foram impostas pela FIFA ao Brasil, entidade privada e conhecida por sua corrupção (o mais recente foi o escândalo

Fonte: http://comitepopularcopapoa2014.blogspot.com.br/2012/03/reuniao-do-comite -popular-da-copa-de.html

da máfia dos ingressos envolvendo integrantes do alto escalão da entidade) e que busca privatizar seus lucros e socializar prejuízos. Segundo levantamento da Articulação Nacional dos Comitês Populares da Copa (ANCOP) em todo o Brasil, cerca de 200 mil pessoas estavam ameaçadas de remoção forçada por causa das obras ligadas à Copa de 2014 e às Olimpíadas de 2016, numa megaviolação de direitos. O poder público garantia que os reassentamentos das famílias estavam sendo feitos dentro dos limites da lei. Mas, segundo a ANCOP, os governos federal e estaduais não

divulgaram a relação completa de todas as comunidades ameaçadas de remoção. Por conta das obras da Copa movimentos populares denunciaram que o padrão era “derrubar primeiro, definir o reassentamento depois”. Famílias receberam ordens de despejo com poucos dias ou até horas para abandonar residências. As remoções também causam problemas indiretos uma vez que muitos estavam sendo reassentados em regiões distantes dos bairros centrais e limitações ao acesso precário a serviços, como hospitais e escolas.

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Havia ainda a famigerada “Lei Geral da Copa” que sobrepunha às legislações de nosso país. Tal lei assegurava megaprivilégios à FIFA, entidade privada, como exclusividade para esta divulgar suas marcas, distribuir, vender, dar publicidade ou realizar propaganda de produtos e serviços. Estava previsto inclusive prisão, a quem ofertar comida ou bebida, distribuição de panfletos ou outros materiais promocionais que não estejam vinculados à FIFA. Em Salvador, por exemplo, a FIFA havia proibido a comercialização de acarajés no entorno do estádio pois o famoso bolinho não poderia ser concorrente dos hambúrgueres produzidos pela rede Mcdonald’s uma das patrocinadoras oficiais da FIFA, num atentado a cultura nacional. Dizia o site do Comitê Popular da Copa de Curitiba: Essa postura levanta a questão: a quem servem toda a estrutura administrativa e os recursos disponibilizados nos diversos níveis federativos para a viabilização de um mega-evento como este? Até que ponto realmente todo o esforço institucional despendido pelo Estado brasileiro tem em vista a satisfação de interesses públicos? Não se trata de questionar a legitimidade da Copa, nem mesmo a vontade geral em recepcioná-la. Mas é preciso que o façamos de maneira lúcida, democrática e com repartição social dos benefícios e não apenas dos ônus, como vem sendo o padrão. (http:// copa2014curitiba.wordpress.com/ editorial/) Segundo denúncias do “Comitê Popular da Copa de Curitiba” remoções foram feitas em volta do estádio Joaquim Américo (Arena da Baixada), ao longo do corredor Aeroporto-Rodoferroviária para a realização das obras de infraes-

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trutura e para empreendimentos de turismo, e no entorno do Aeroporto Afonso Pena em São José dos Pinhais. Segundo documento do Comitê Popular da Copa “Não há qualquer informação por parte do Governo Federal ou da INFRAERO sobre quais famílias serão removidas, e qual as medidas serão tomadas. Tampouco, houve a elaboração de um Estudo de Alternativas para a obra, ou de um Plano de Reassentamento e Medidas Compensatórias para as famílias”. Outra denúncia do Comitê Popular da Copa dizia respeito a “violação manifesta à moradia se dá com o uso da receita da venda do potencial construtivo para financiar a construção de uma obra privada, quando legalmente esta receita deve se destinar, entre outras hipóteses, para programas de habitação social”. A criminalização de manifestação durante jogos expressa nas recentes prisões antes da final da Copa foram verdadeiras prisões arbitrárias, de caráter fascista, ferindo o direito constitucional à livre manifestação e que coloca em risco toda e qualquer manifestação popular. Estas prisões foram enquadradas pelo juiz do Rio de Janeiro que expediu a prisão de 26 manifestantes com base em “formação de quadrilha” (!), colocando um alerta a todos os movimentos sociais organizados. Demais questões levantadas pelos comitês da copa como a proibição de comércio ambulante no entorno da Arena da Baixada durante os jogos privando os ganhos de muitas famílias que vivem dessa renda, o incentivo ao trabalho voluntário e desregulamentado, a elitização dos estádios com a elevação

do preço dos ingressos, as tentativas de privatização de estádios construídos e financiados com dinheiro público (como o Maracanã) também fizeram parte dos debates ocultados e interditados pela grande mídia. Portanto, a despeito da paixão nacional que desperta o futebol, dos grandes jogos e seleções aqui presentes, é necessária uma séria reflexão sobre os verdadeiros legados de tais megaeventos do ponto de vista do interesse público, principalmente da população trabalhadora.

Acesse Blog do CEP

http://infocep.com.br/blog/


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Democratização dos meios de Comunicação

Outro desafio para o processo de democratização e humanização do país é a comunicação.

Eliana Maria dos Santos, professora de sociologia do CEP

Em junho de 2013 a ofensiva da direita na tentativa de derrubar o governo Dilma fez uso das mídias incitando a população às ruas, numa conjuntura em que se veiculavam pesquisas de aprovação do governo Dilma em percentuais acima dos apontados no primeiro ano de governo Lula. O debate sobre o transporte coletivo e mobilidade urbana é um tema preocupante e muito justo, mas, o que se viu foi uma massa manipulada manifestando ódio a qualquer tipo de organização social e partidária, movimento dos sem bandeiras, “anonymos”. Quando os movimentos começaram a questionar os meios de comunicação passaram a ser criminalizados pela mídia. Atualmente a mídia televisiva e escrita vem novamente inflamando as massas para o movimento “Não vai ter Copa”, passam uma imagem negativa do país, basta ver a capa dos jornais e revistas da imprensa marrom. Segundo Galeano (1991) : “até que os leões tenham seus próprios historiadores, as histórias de caçadas continuarão glorificando o caçador”. A democratização dos meios de comunicação é urgente e necessária para uma verdadeira prática democrática. Todo o ser humano tem necessidade e direito ao esclarecimento. O resgate do saber, da razão é condicionante para o processo de esclarecimento e libertação. Como dizia Kant: “Es-

clarecimento é a saída do homem de sua menoridade, da qual ele próprio é culpado. A menoridade é incapacidade de fazer uso de seu entendimento sem a direção de outro indivíduo” . A classe dominante mantém seu poder e hegemonia através da ideologia dominante que é veiculada principalmente através da mídia. Quem não se lembra da invenção Collor, “o caçador de marajás”, candidato salvador da pátria formado através da mídia. É notório a manipulação das mídias em relação as candidatura de Lula e Dilma, há mensagens diretas e subliminares em todos os espaços midiáticos, desde os noticiários, novelas, pro-

gramas temáticos e propagandas. É preciso ter claro que os canais de televisão são concessões publicas e precisam veicular uma programação de qualidade, que tenha cunho informativo, com informações condizentes com a realidade dos fatos; além de programas educativos, que possam enriquecer culturalmente os telespectadores, entretenimentos livres de qualquer conteúdo discriminatório e preconceituoso. Infelizmente não é isso que vivenciamos nos canais abertos. É fundamental quebrar a oligarquia que coloca toda a mídia (Canais de Televisão, Rádios, Jornais e outros instrumentos de comunica-

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ção) nas mãos de poucas famílias no Brasil. Embora a Constituição Federal proíba os oligopólios e os monopólios dos meios de comunicação, menos de dez famílias concentram empresas de jornais, revistas, rádios, TVs e sites de comunicação no país. A concentração impede a circulação de idéias e pontos de vista diferentes, nega a pluralidade, impõem comportamentos. A luta pela democratização da comunicação é recente para os movimentos sociais e sindicais. Ficou mais forte com a realização do Fórum Social Mundial com a troca de experiência dos movimentos de esquerda e democráticos de várias partes do mundo, resultando nas propostas e lançamentos de mídias alternativas como Brasil de Fato e Revista Brasil, entre outros. E também com o surgimento de várias organizações não governamentais

- ONGs de defesa da democracia na comunicação, os diversos movimentos tiveram uma participação articulada e propositiva na I Conferência Nacional de Comunicação – Confecom (2009), evento que estimulou o debate das mudanças na regulamentação das

concessões em todo o país. Mais de 600 proposições foram aprovadas no encontro, a sistematização das propostas dos movimentos sociais está publicada na Plataforma para o Marco Regulatório

das Comunicações, publicada pelo Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação – FNDC. Através desta articulação os movimentos reacenderam a importância do FNDC movimento criado em 1991 como movimento social e transformado em entidade em 1995. Através desta articulação, entidades da sociedade civil e dos movimentos sociais se organizaram para encaminhar um Projeto de Lei de Iniciativa Popular - PLIP das Comunicações para regulamentar como prevê a Constituição às rádios e televisões brasileiras. Para aprovação do projeto é preciso 1 milhão e trezentas mil assinaturas. É preciso quebrar esse oligopólio da comunicação para que possamos colocar a informação a serviço do desenvolvimento social de todos e todas brasileiras. Participe também desta campanha mais informações http://www. paraexpressaraliberdade.org.br.

“Sedução Poética” As coordenações de Arte e de Língua Portuguesa estão promovendo um concurso entre os estudantes do CEP para a escolha das ilustrações de capa e de conteúdo do livro do projeto Sedução Poética. Os alunos interessados em participar com seus trabalhos devem procurar a Escolinha de Arte até o dia 8 de agosto (das 8h30 às 17h30 e das 19h às 22h)

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A análise dos trabalhos, para seleção, será feita no dia 11 do mesmo mês. Serão escolhidas dez ilustrações: uma para a capa e outras nove para o interior do livro. A publicação reúne as poesias contempladas pelo Sedução Poética, projeto da área de Língua Portuguesa voltado à comunidade escolar do CEP.

O regulamento do concurso de ilustração pode ser conferido neste link: http://www.cep.pr.gov.br/modules/noticias/article. Fonte: Blog do CEP


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Plebiscito popular Por uma Constituinte Exclusiva Soberana do sistema político Eliana Maria dos Santos - Profa. Sociologia CEP

O Plebiscito Popular Por Uma Constituinte Exclusiva Soberana do Sistema Político coloca em xeque o poder político vigente, marcado pela delegação representativa baseada no poder econômico. O sistema eleitoral vigente privilegia a classe dominante, os esquemas eleitorais e as campanhas milionárias. O atual modelo de democracia representativa está falido. Os casos envolvendo a política paranaense comprovam a necessidade de uma profunda reforma no sistema. O debate sobre a reforma política deve ser uma prioridade do próximo período. A proposta dos movimentos sociais é realizar uma Constituinte Exclusiva e Soberana do Sistema Político. A constituinte deve ser unicameral, ou seja, sem o Senado, um parlamentar um voto. Nestas condições teremos capacidade de mudar o sistema político brasileiro, livrando a política brasileira do poder econômico, abrindo canais de participação direta permitindo expressão institucional da correlação de forças na sociedade.Segundo levantamento do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar - DIAP dos 594 parlamentares (513 deputados e 81 senadores) eleitos em 2010, 273 são empresários, 160 compõem a bancada ruralista, 66 são da bancada evangélica e apenas 91

parlamentares são considerados representantes dos e das trabalhadoras.Para mudar este quadro é preciso combater três elementos centrais: o poder econômico; o oportunismo e a sub-representação. As mulheres,por exemplo, só tiveram o direito ao voto em 1932 e com restrições, sem restrições somente em 1946, com pouca participação nos cargos eletivos, as mulheres enfrentam

muitas barreiras na ocupação dos espaços de decisão e poder. Para Câmara dos Deputados em 2010 foram eleitas apenas 45 mulheres para as 513 cadeiras disputadas - ou seja, 8,7% do total. Apenas 8,9% das vagas da Câmara e 13% das cadeiras do Senado são preenchidas por mulheres. Abaixo da média internacional levantada pela ONU Mulheres em parceria com a União Interparlamentar, de

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23% de participação feminina nos Legislativos. Só a reforma política seria capaz de resolver o problema. Entre outros desafios é preciso trabalhar eleição de candidatas que tenham conhecimento político e comprometimento com as questões de gênero. Precisamos da participação intensa das mulheres junto aos partidos. É preciso investir em formação e capacitação de mulheres, além de investimento de estrutura financeira e humana para candidaturas femininas. A população negra também está sub-representada no Congresso. Segundo o Censo de 2010 do IBGE, no Brasil 51% se autodeclaram negros/as. E no Congresso Nacional apenas 8,5% (43) do total de parlamentares se autodeclaram negros/as. É preciso reconhecer a desigualdades de oportunidades e propor na reforma política mecanismos de equidade de gênero e raça/cor, criando condições para alcançarmos paridade entre negros e brancos e entre mulheres e homens. A sub-representação indígena também é uma realidade no Congresso, segundo o Censo de 2010 do IBGE, 817,9 mil pessoas se auto-declaram indígenas, o que inclui os residentes em terras indígenas e os indígenas declarados fora delas. Há ainda 78,9 mil pessoas que se consideram indígenas por questões de tradições, costumes, cultura, entre outros. Podemos considerar que a população indígena brasileira é de 896,9 mil pessoas, com 305 diferentes etnias. Sendo que, 63,8% desse total esta em áreas rurais e 32,3%, em áreas urbanas. No entanto, os povos indígenas, despossuídos de suas terras, e dispersos pelo território nacional, não possuem nenhuma representação no Congresso Nacional. A reforma política precisa incluir a representação das

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populações indígenas no sistema político, para que eles possam ter voz em suas reivindicações. A Reforma Política não pode ficar nas mãos do atual Congresso de maioria reacionária. A comunidade escolar precisa participar deste processo, promovendo debates com alunos, professores, funcionários e pais, criando comitês do plebiscito onde for possível. É preciso avançar na luta por uma reforma política que amplie a democracia direta e que fortaleça a democracia representativa. O Plebiscito Popular vai ocorrer de 01 a 07 de setembro e tem uma única pergunta: “Você é a favor de uma constituinte exclusiva e soberana sobre o sistema político?”

Eleições Gerais Projetos em disputa

As eleições presidenciais deste ano evidenciam dois projetos em disputa um ligado ao modelo de desenvolvimento econômico e de inclusão social e outroneoliberal, de estado mínimo e privatista. As candidaturas à presidência têm dado indicativos de seus planos de governo, demonstrando a diferença de concepções ideológicas. De um lado o atual governo, anunciou no 1º de maio deste ano o aumento de 10% no valor do Programa Bolsa Família, a correção das alíquotas do Imposto de Renda e a manutenção da política de valorização do Salário Mínimo. Do outro à oposição tem lançado notas sobre “medidas impopulares” na economia, como nível da taxa de juros, nível do superávit primário, da política Leia a íntegra em:

cambial e do salário mínimo, etc. Além do debate de caráter recessivo no país, um retorno ao neoliberalismo, com o controle rigoroso do gasto público, através de lei, para combater à inflação e recuperar a confiança dos investidores na economia do país. Outro ponto é a defesa da autonomia do Banco Central, na prática é a decisão do BC em decidir sobre as taxas de juros, o que já vem ocorrendo em benefícios dos Bancos, trata-se da regulamentação do artigo 192 da Constituição Federal que até hoje não foi regulado. Além desta posição outra questão defendida é o corte na política de ganhos reais do salário mínimo, que segundo a oposição está “alto demais”. http://projetoaletheia.files.wordpress. com/2014/08/eleic3a7c3b5es-gerais1.pdf


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