Educação e vida urbana: 20 anos de Cidades Educadoras

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Cidades Educadoras Congressos Internacionais

A cidade educa-se educando. Grande parte da sua tarefa como educadora depende da nossa posição política e, como é óbvio, de como exercemos o poder sobre ela e do sonho e da utopia que a impregnam, a que é que servimos e a quem servimos: as despesas públicas, a educação e a cultura, a saúde, o transporte e o ócio. Depende, inclusivamente, das medidas políticas relacionadas com a parte da memória da cidade que decidimos valorizar, pois é através dessa memória que a cidade desempenha o papel de educadora. Aqui também podem interferir as nossas decisões políticas. […] Já que não há uma educação possível se não existir uma política educativa que estabeleça as prioridades, os objectivos, os conteúdos e os meios, uma política imbuída dos nossos sonhos e utopias, não creio que faça mal a ninguém sonhar um pouco. Sejamos um pouco atrevidos e arrisquemo-nos a pensar nos valores concretos que poderíamos acrescentar aos nossos desejos, os desejos das cidades educadoras, neste fim de século em que estamos viver, que é também o fim do milénio. Um dos sonhos pelo qual vale a pena lutar - e para torná-lo realidade, neste caso, é preciso coerência, valor, tenacidade, sentido de justiça e força por parte de quem se entregar a ele - é o sonho de um mundo melhor, onde haja menos desigualdades e onde a discriminação devido à raça, ao sexo e às classes sociais deixe de ser um motivo de orgulho e ou de constantes e vazias lamentações, para não ser senão motivo de vergonha. Este é um sonho essencial. Se não conseguirmos realizá-lo, essa democracia de que tanto falamos, especialmente no tempo em que vivemos, não será mais do que uma farsa. Que tipo de democracia é essa que atribui o

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sofrimento de milhões de pessoas que morrem à fome, que são rejeitadas, a quem se impede que aprendam e saibam ler as palavras e que apenas sabem ler o seu mundo, a razões de ordem climática ou de incompetência genética? Outro sonho fundamental que devemos acrescentar ao ensino da cidade educadora é o direito de ser diferente - um direito que deve existir em qualquer verdadeira democracia - e a sua extensão: que essa diferença seja respeitada». (Farrington, Freire, Revans, Sapp, Four of the main speakers at the 2nd International Congress of Educating Cities, Gotemburgo, Suécia, Novembro de 1992, págs. 18-19). Para muitos dos participantes ficava claro que o conceito de «cidade educadora» se transformava num instrumento ao serviço de uma melhor compreensão do fenómeno urbano, sem qualquer exclusão, e dos seus mecanismos de gestão e reprodução. Neste sentido, foi fundamental a intervenção da Vereadora da Educação da Câmara Municipal de Barcelona, Marta Mata (1987-1995), que descreveremos de seguida. «Os amigos organizadores do II Congresso das Cidades Educadoras em Gotemburgo, solicitaram à delegação de Barcelona uma contribuição relativa aos objectivos comuns a todas elas, talvez para ajudar a esclarecer o carácter desta criatura que nasceu, que fizemos nascer entre todos, há apenas dois anos no I Congresso de Barcelona: «Cidade Educadora», concepção esta que começa a dar os primeiros passos com firmeza e rapidez. Para onde vai? O que pretende? Qual o seu objectivo? Os amigos de Gotemburgo fizeram a pergunta no plural: quais são os objectivos comuns e não o «objectivo», bem como as «Cidades Educadoras» concretas e


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