Conexão 2.0 - A HORA DO VOLUNTARIADO

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EDUCAÇÃO: aulas de música podem melhorar sua sociabilidade e disciplina

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Jul-Set 2017 – Ano 10 no 43

Exemplar:8,75 – Assinatura: 27,80

ENTENDA. EXPERIMENTE. MUDE

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Cada vez mais jovens descobrem o prazer de servir e as recompensas de trabalhar por uma causa que vale a pena ENTENDA NO QUE A BÍBLIA SE ANTECIPOU À CIÊNCIA

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LIÇÃO DE VIDA: O MISSIONÁRIO QUE SOBREVIVEU A UM GENOCÍDIO

________ Editor ________ Ger. Didáticos

IMAGINE SE O BRASIL TIVESSE SIDO DIVIDIDO

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Da redação

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Editor Wendel Lima

O QUE TEMOS EM COMUM

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William de Moraes

A FOTO DE Aylan Kurdi, menino sírio-curdo de três anos que foi encontrado morto e de bruços numa praia turca, comoveu o mundo e se tornou ícone da crise migratória que atinge a África e o Oriente Médio. Outra foto emblemática foi a do pai Abdel Hammed Alyousef segurando os dois filhos gêmeos de nove meses, mortos por um ataque com armas químicas na Síria. O mesmo impacto tiveram as imagens, sons e discursos emocionados transmitidos a partir de um estádio na Colômbia com 52 mil torcedores que prestaram homenagem às vítimas do voo da Chapecoense. Mais recentemente, poucos dias antes de escrever este texto, outra cidade europeia entrava em choque por causa de um atentado terrorista. As famílias de Manchester choraram a morte de 22 pessoas, a maioria adolescentes, que estavam num show de música pop. No fim de semana seguinte à tragédia, os ingleses se uniram nas ruas e praças da cidade, em silêncio, num clamor por paz. O que há de comum nesses incidentes, todos com ampla cobertura da mídia? Eles inspiraram gestos e ondas de solidariedade. Sendo uma característica tipicamente humana, fruto da ação divina em nós, a solidariedade é o valor que une pessoas, muitas vezes desconhecidas, em torno de um sentimento, ideia ou expectativa comum. A solidariedade é a condição que nos lembra de que somos iguais, temos o mesmo valor e que, em grande medida, compartilhamos as mesmas necessidades. Ela nos faz sentir que todos somos irmãos, ainda que não existam laços de sangue, afetivos ou de nacionalidade. O solidário se interessa pelo outro, coloca-se no lugar do outro e enxerga-se responsável pelo outro. Surpreendentemente, o maior exemplo de solidariedade foi dado por Aquele que era diametralmente diferente de nós, mas que Se fez humano para nos mostrar nossa verdadeira identidade. Em Cristo, o rei que Se tornou servo (Is 53; Fp 2:5-8), Deus calçou nossas sandálias (Jo 1:14) e sentiu nossas dores (Mt 20:34, Lc 7:13; 15:20). O exemplo Dele sendo reproduzido em nós é a maior motivação para uma vida solidária (Gl 2:20). É sobre isso que tratam as principais matérias desta edição e a campanha promovida pela rede educacional adventista neste bimestre. Tema para ler, refletir e sobre o qual agir.

5 CONECTADO

A OPINIÃO DE QUEM SEGUE E CURTE A REVISTA

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GLOBOSFERA

REVISTA, DOCUMENTÁRIO, ESCOLA DE MISSÕES E TROTE DO BEM

10 ENTENDA

NO QUE A BÍBLIA SE ANTECIPOU À CIÊNCIA

22 PERGUNTAS

SOLTEIRISMO, JUSTIFICAÇÃO PELA FÉ E PALAVRAS ESTRANHAS DA BÍBLIA

30 APRENDA

COMO SE PREPARAR PARA O NOVO ENEM

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O M F

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O BENEFÍCIO DAS AULAS DE MÚSICA PARA TODAS AS IDADES

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TIAG TEO SUA

18 REPORTAGEM

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RIO,

CAÇÃO

...SE O BRASIL TIVESSE SIDO DIVIDIDO

8 AO PONTO

TIAGO ARRAIS EXPLICA COMO TEOLOGIA E POESIA RETRATAM SUA CAMINHADA

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CAPA

POR QUE A GERAÇÃO ATUAL TEM SIDO CONTAGIADA PELO VOLUNTARIADO

Revista trimestral – ISSN 2238-7900 Jul-Set 2017 Ano 10, no 43 Ilustração da capa: Thiago Lobo

CASA PUBLICADORA BRASILEIRA

Editora da Igreja Adventista do Sétimo Dia Rodovia Estadual SP 127 – km 106 Caixa Postal 34 – 18270-970 – Tatuí, SP Fone (15) 3205-8800 – Fax (15) 3205-8900 Site: www.cpb.com.br / E-mail: sac@cpb.com.br Serviço de Atendimento ao Cliente Ligue grátis: 0800 9790606 Segunda a quinta, das 8h às 20h30 Sexta, das 8h às 15h45 Domingo,das 8h30 às 14h

AS S

Editor: Wendel Lima Editor Associado: Fernando Dias Projeto Gráfico: Marcos Santos e Éfeso Granieri Designer Gráfico: Renan Martin Diretor-Geral: José Carlos de Lima Diretor Financeiro: Uilson Leandro Garcia Redator-Chefe: Marcos De Benedicto

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GUE

24 IMAGINE

Gerente de Produção: Reisner Martins Gerente de Vendas: João Vicente Pereyra Chefe de Arte: Marcelo de Souza Colaboradores: Edgard Leonel Luz, Almir Afonso Pires, Almir Augusto de Oliveira, Antônio Marcos Alves, Douglas Jeferson Menslin, Eder Leal, Marco Antonio Leal Góes, Orlando Mário Ritter, Pedro Renato Frozza, Raquel Xavier Ricarte, Alexander dos Santos Dutra e Rérison Alfer Vasques.

26 MUDE SEU MUNDO

O PROGRAMA DE RÁDIO QUE MOBILIZA OS OUVINTES PARA FAZER BOAS AÇÕES

Assinatura: R$ 27,80 Avulso: R$ 8,75 www.conexao20.com.br

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Tiragem: 30.000

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LIÇÃO DE VIDA

O AMERICANO QUE SALVOU VIDAS E FOI SALVO DURANTE O GENOCÍDIO DE RUANDA

Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio, sem prévia autorização escrita do autor e da editora.

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MKT CPB | Foto: William de Moraes

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Informação Conectado & Opinião Globosfera Ao ponto Entenda

Desabafos, sugestões, interação e dúvidas para a seção Perguntas? É aqui mesmo!

Laura Bandeira de Souza Gama (DF)

conexao20.com.br

Perdeu alguma edição ou deseja reler uma matéria de que gostou muito? Acesse nosso arquivo e folheie todas as edições da Conexão 2.0

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COMPORTAMENTO: os riscos e as frustrações de uma sexualidade sem limites

O PARAÍSO DAS ESPÉCIES Nas ilhas exóticas que inspiraram Darwin, pesquisadores enxergam evidências de que tudo foi criado

MUDE SEU MUNDO: NOVA VIDA PARA QUEM VENDE O CORPO

LIÇÃO DE VIDA: DESMOND DOSS, O SOLDADO DESARMADO

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35256 – Conexão 01/2017

Jan-Mar 2017 – Ano 10 no 41

Exemplar:8,05 – Assinatura: 25,60

ENTENDA. EXPERIMENTE. MUDE

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AO PONTO: O PASTOR QUE PERDEU E JAN-MAR A 2017 REDESCOBRIU FÉ| 1

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facebook.com/conexao20 Redação

Saiba o que vai ser publicado, opine sobre os conteúdos que já saíram e compartilhe com os amigos que não têm a revista.

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Marketing

Curti muito o artigo sobre o perigo da exposição nas redes sociais e como proteger a intimidade nesse ambiente (jan-mar). Gosto muito da maneira como a revista apresenta os artigos e fico ansiosa para receber cada edição.

Adorei a matéria “A esperança chega às esquinas” (jan-mar) porque apresenta uma forma completamente diferente de levar o amor de Cristo às pessoas marginalizadas. O exemplo das duas voluntárias que se deixaram ser usadas por Deus para dialogar com as garotas de programa mostra que é possível ser missionário em outros países, mas que também podemos transformar pessoas que estão logo ali na esquina. Maria Eduarda Indalêncio Araquari (SC) © Michael Brown | Fotolia

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Achei interessante o artigo “Proteja sua intimidade” (jan-mar), que abordou a questão do compartilhamento de fotos e conteúdos que prejudicam a integridade de outras pessoas. Esse comportamento pode causar depressão e até levar ao suicídio. O artigo serve de prevenção para os alunos e de alerta aos pais. Victória Lima Marabá (PA)

Li a Conexão pela primeira vez e fui surpreendida. A escolha dos temas e da abordagem torna o conteúdo convidativo e de fácil compreensão. O texto de Fernando Dias sobre por que Deus não atende algumas orações (jan-mar) me ajudou muito. Percebi que não estava orando da maneira correta, segundo a vontade de Deus. Entendi que, se Ele está em silêncio, pode ser um sinal de Seu amor por mim. Soraya Botelho Araquari (SC)

Destaco a reportagem “O elo das origens” (jan-mar). O nome do artigo é bem sugestivo, tendo em vista que trata de uma viagem à Galápagos. O material levantou pontos importantes a respeito das lacunas da teoria evolucionista, o que ajudou a reafirmar minha cosmovisão criacionista. Maria Caroline da Silva Delmiro Marabá (PA)

Parabéns à Conexão por ter tratado de um tema que ainda é tabu: suicídio (jan-mar). Muitos adolescentes enfrentam o dilema de

pensamentos suicidas e estão pedindo socorro. Como podemos ajudá-los? O que mais valorizei nesse texto foi a abordagem bíblica que ofereceu a respeito de um assunto tão difícil. Adelcio Oliveira Gama (DF)

O texto sobre o suicídio (jan-mar) me fez pensar sobre o que pode levar uma pessoa a cometer tal ato. É assustador saber que o número de pessoas que tiram a própria vida é maior do que o de vítimas da Aids. Por outro lado, não chamou muito minha atenção a reportagem de capa sobre Galápagos, porque não levantou questões relevantes do dia a dia. Breno Oliveira Mourão Marabá (PA)

Sempre leio a revista Conexão de capa a capa. Ela é uma revista atualizada e conectada com as demandas dos jovens. Isabella Mendes Belo Horizonte (MG) Falar sobre a Conexão já é rotina para mim. É uma revista descontraída, muito bem planejada e profissional. Gosto quando a revista discute política a partir do ponto de vista cristão. E curtia o estilo do Eduardo Rueda no espaço "Tudo ligado", minha seção favorita. Camilla Lopes Lavras (MG)

Não sou uma leitora assídua da revista, mas recentemente estudei um número dela para fazer uma redação e me surpreendi com a qualidade da Conexão. Gostei principalmente do editorial, que tratou da relação entre liberdade e autocontrole. Isabella Cristiny Unaí (MG)

Como capelão escolar, sou fã da Conexão. E há muitos alunos que gostam dela também. Mas acho que podemos aproveitar melhor essa ferramenta. O ideal seria que ela chegasse para nós antes de terminar o bimestre. Miquéias Carvalho Ferreira Curitiba (PR)

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MKT CPB | Foto: William de Moraes

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Colaboradores: Alexandre Reis, ASN, Becky St. Clair, Carolina Perez, Wendel Lima e Wiliane Passos

© radeboj11 | Fotolia

A v d n d n C d O a c m c C

Para proteger melhor os satélites em órbita em torno da Terra e identificar com mais antecedência qualquer objeto que se aproximar do planeta, a agência especial norte­ americana (NASA) está investindo 1,5 milhão de dólares em duas pesquisas lideradas por Jay Johnson, professor de Engenharia da Universidade Andrews, uma instituição adventista do Michigan (EUA). O professor e seus alunos estão estudando a interação entre o vento solar e o perímetro da magnetosfera da Terra. Em 2012, um grande evento no Sol afetou o funcionamento de satélites.

Adventistas.org

PARCERIA COM A NASA

DA MÃO

A revista Diálogo Universitário, publicação internacional da Igreja Adventista voltada para jovens, ganhou um aplicativo para Android e iOS. O app vai disponibilizar três números por ano. Por meio dele, os usuários podem acessar as revistas das últimas duas décadas.

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Na ciência, o importante não é descobrir, mas mudar a vida das pessoas.”

© Wellcome

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Cesar Victora, epidemiologista brasileiro e professor da Universidade Federal de Pelotas (RS), em entrevista ao site da revista Galileu. No fim de março, ele ganhou o prêmio Gairdner, um dos mais importantes da Medicina, por seus estudos sobre os benefícios da amamentação.

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Lucas Rodrigues

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TROTE DO BEM

Passar numa universidade pública não é fácil. Tão difícil quanto é se adaptar à vida acadêmica longe de casa e dos amigos. Foi pensando em ajudar parte dos 3,5 mil calouros que chegaram à Unicamp neste ano, que um grupo de estudantes adventistas fez uma recepção no capricho para os alunos. Mas não parou nisso. Eles organizaram turmas de cursos gratuitos de idiomas e um grupo de exercício funcional. Já rolou também um pocket show com o cantor Tiago Arrais (veja a entrevista na página 8). Para saber mais, acesse fb.com/projetotodosum.

VIDA NO INTERNATO

Imersão total nos estudos, contato mais próximo com os professores, oportunidade de desenvolver habilidades extracurriculares e fazer amizades que podem durar o resto da vida. Foram essas as vantagens apresentadas por uma reportagem do programa Aprovado, da TV Globo da Bahia, veiculada em abril. Se quiser saber como é o dia a dia na Faculdade Adventista da Bahia ou num típico internato adventista, acesse https:// glo.bo/2oRlJPN.

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Kaleu Dias

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NA PALMA

V R lh t C a m N e r


NA TELA

Malala Yousafzai, paquistanesa de 19 anos, em cerimônia na sede da ONU em Nova York (EUA), ao ser nomeada mensageira da paz por sua luta em favor do acesso de mulheres muçulmanas à educação. Em 2012, ela sobreviveu ao atentado de um membro do Talibã.

© Wikipedia

Adventistas.org

© radeboj11 | Fotolia

Adventistas.org

Distribuída em DVD para os 300 mil alunos da rede educacional adventista na América do Sul, a história de superação do professor universitário Cietto tem inspirado muitas pessoas. Partindo de uma conversa num restaurante, o documentário Opostos se desenrola mostrando como a vida dele tem ligação com a de Luiz, um exgaroto de rua. Disponível em http://bit.ly/2p8yOkm.

ESCOLA DE MISSIONÁRIOS

NÚMEROS

73% é quanto deve crescer o número de muçulmanos até 2050

enquanto a população mundial crescerá

35%

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Lucas Rodrigues

praticamente igualando o número de islâmicos ao de cristãos. Porém, segundo o Pew Research Center

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A aposta da Igreja Adventista para a Páscoa deste ano foi investir num filme que servisse de parábola moderna para o sacrifício de Cristo pela humanidade. O resultado foi O Resgate: Salvação ao Extremo, filme que conta a história de um montanhista que arrisca a vida para salvar seu irmão nas cordilheiras dos Andes, no Chile. Disponível em http://bit.ly/2nxbMBz.

Se você quer ter um futuro brilhante, precisa começar a trabalhar agora [e] não esperar por mais ninguém.”

Kaleu Dias

a América Latina é a única região em que o crescimento dos muçulmanos não será significativo: 13% contra 27% da população em geral. Vitória Lopes Leme foi voluntária por um ano em Itambé (PR) e Rodrigo Rocha passou o mesmo tempo no Paraguai. Ela escolheu Pedagogia e ele Enfermagem. Ambos são alunos do Instituto Adventista Paranaense (IAP) e desejam ser missionários. Com a inauguração do Instituto de Missões do campus, em abril, outros alunos vão ter oportunidades semelhantes. Os primeiros voluntários viajam em julho para o Uruguai e Paraguai. No próximo ano haverá um congresso missionário na instituição e a expectativa é enviar 50 estudantes para projetos transculturais até 2019.

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atentados terroristas foram registrados de 1970 a 2015, segundo uma base global de dados sediada (start.umd.edu/gtd) na Universidade de Maryland (EUA). 7 |

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Ao ponto

Texto Joêzer Mendonça Ilustração Thiago Lobo

ARTE E VERDADE

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CLASSIFICADO PELA REVISTA Veja como uma das novas caras do gospel brasileiro (http://abr.ai/2prHVjb), Tiago Arrais foge do estereótipo dos artistas desse segmento. Filho de uma família tradicional adventista, PhD em Teologia pela Universidade Andrews (EUA) e professor universitário, com o irmão André, que é pastor nos Estados Unidos, ele faz uma dupla que valoriza letras e metáforas profundas. A Sony Music enxergou o potencial mercadológico da dupla, o que colaborou também para que os Arrais alcançassem um público além dos muros da igreja e que desconfia de respostas prontas para a complexidade da vida.

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Antes, as letras das músicas de vocês tinham uma mensagem religiosa bem explícita, mas agora vocês têm explorado as metáforas. Por quê? Acho que é a soma de intencionalidade evangelística e maturidade. Escrevi as músicas do álbum Introdução entre os 18 e 20 anos. Tinha muitas certezas e poucas dúvidas naquele tempo. O processo de amadurecimento na fé muda um pouco isso. O Mais tratou da questão da identidade em Cristo, Bíblia e sofrimento, enquanto As Paisagens Conhecidas fala de um conceito bíblico esquecido hoje em dia: como viver com a ausência de Deus, somente pela fé. O novo EP Rastros e Trilhas (miniálbum) vai tratar de solidão e da necessidade que temos de Deus e uns dos outros. Assim, não é 8 |

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a arte em si que determina o conteúdo, mas a vida. Nas apresentações em teatros e auditórios, vocês parecem encarar a plateia como congregação. O músico cristão deve fazer do palco seu púlpito? Cada um tem um propósito, mas em geral precisamos comunicar algo legítimo. Converso com muitas pessoas que aparecem nas nossas apresentações, e que não frequentam igrejas. A grande ironia é que elas enxergam na igreja um teatro (pessoas fingindo ser quem não são) e em nossos concertos (no teatro), muitas vezes encontram uma janela para a realidade. Nesse contexto, aproveitamos a janela para falar da realidade pintada pela Bíblia e de como ela difere do que a cultura, a mídia, a banca-

da evangélica e até mesmo muitas igrejas apresentam. Não sei se isso configura em púlpito, mas como eles, nós também estamos em busca de realidade. Seu último EP explora um minimalismo nos arranjos musicais ao mesmo tempo que exige dos cantores mais força vocal. Essa é a tendência para Rastros e Trilhas? Sim. Em geral o som que buscamos para essa sequência de quatro álbuns é similar. O desafio para nós não é inovar musicalmente, mas harmonizar o conteúdo (o que queremos dizer) com o arranjo (o som que queremos criar). A música dos Arrais costuma ser classificada como folk. Esse estilo tem sido deliberadamente buscado por vocês

nas últimas produções em Nashville (EUA)? Sim. Desde que pegamos o violão pela primeira vez, os ouvidos e o coração foram para essa direção. A influência de Nashville nos arranjos foi posterior. Procuramos unir simplicidade na construção musical e complexidade nas letras e poesias. Separar sacro e secular é uma falsa dicotomia? A questão do sacro e do secular é algo que a própria Bíblia constrói e desfaz. A adoração a Deus após a vinda de Jesus não mais é geográfica (Jo 4). No fim do dia, nós todos somos sacros e profanos, pó e fôlego, santos e pecadores. A busca pelo divino, pela religião e fé bíblicas nesse contexto é o que nos conduz à verdade e à arte. E se nossa busca ajudar alguém, melhor ainda.

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Redação

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“Se nos voltarmos para Deus tal como somos, convencidos do nosso desamparo e dependência; se, com humildade e confiante fé, levarmos nossas necessidades Àquele cujo conhecimento é infinito, [...] Ele atenderá nosso clamor e fará com que Sua luz brilhe em nosso coração” (p. 96)

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Entenda

Texto Everton Fernando Alves Infográfico Flávio Oak Ilustração Rogério Chimello

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No que a Bíblia se antecipou à ciência A BÍBLIA É um livro milenar, que reúne 66 livros com inúmeros autores e gêneros literários, cujo propósito principal é revelar quem Deus é, o que Ele está fazendo pela humanidade e o que espera de nós. Porém, as Escrituras não têm apenas valor espiritual. Por causa de sua confiabilidade histórica e mensagem sobrenatural, ela serve de base para interpretar a realidade que nos cerca. E é nesse ponto que ela se cruza com a ciência. A Bíblia tem inúmeras declarações sobre fenômenos da natureza que só seriam descobertos séculos depois. Tudo isso nos faz pensar que o cientista Galileu Galilei e a escritora cristã Ellen White estavam certos ao dizer que a Bíblia e a natureza são “livros escritos pelo mesmo Autor”; por isso, não se contradizem, mas se complementam. Abaixo, dez informações que apontam para essa direção.

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Fontes: “Lettera a Benedetto Castelli”, em Edizione nazionale delle opere di Galileo Galilei, por Antonio Favaro (Barbèra, 1932), v. 5, p. 281-288; The Ministry of Healing, de Ellen White (Review and Herald, 1905), p. 541; Men of Science, Men of God, de Henry M. Morris (Master Books, 1982), p. 42; e “Experimental Models of Primitive Cellular Compartments: Encapsulation, Growth, and Division”, de Martin M. Hanczyc, Shelly M. Fujikawa e Jack W. Szostak, em revista Science, v. 302, p. 618-622 (http://bit.ly/2pcl1c9).

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Somos de barro De longa data a Bíblia afirma que o homem foi formado do barro e que volta a ser pó depois que morre (Gn 2:7, Jó 33:6 e Gn 3:19). Recentemente, descobriu-se que os ingredientes necessários para “fazer” um ser humano podem ser encontrados no solo e uma pesquisa publicada na revista Science em 2003 sugeriu que a vida na Terra pode ter surgido do barro.

T Is n fa n o v

Correntes marítimas Salmo 8:8 (1000 a.C.) já falava de “caminhos nos mares”. Isso estimulou Matthew Maury, o “pai da oceanografia”, a descobrir as correntes marítimas em 1847.

Ciclo da água Segundo as Escrituras, a água evapora de oceanos ou de outras fontes e cai no solo em forma de chuva, neve ou granizo, alimentando os rios e nascentes (Jó 36:27, 28; Ec 1:7 e 11:3; Is 55:10 e Am 9:6). Isso não é novidade para quem lê os livros didáticos do Ensino Fundamental, mas nem sempre foi assim. Até o século 18 permaneceu a crença dos gregos de que era a água de oceanos subterrâneos que alimentava os rios.

Fogo no interior da Terra O desenho dos livros didáticos que apresenta o núcleo incandescente da Terra formado por magma é bem conhecido. O que surpreende é o texto de Jó 28:5 fazer referência ao interior do nosso planeta.

Sus Jó 2 susp mui nos anim

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Terra esférica Isaías 40:22 (700 a.C.) já se referia ao nosso planeta como sendo um globo, fato comprovado só em 1522, quando o navegador Fernão de Magalhães foi o primeiro a completar de barco uma volta ao redor da Terra.

Começo do Universo Durante muito tempo, imaginou-se que o Universo era infinito, eterno e imutável. Mas Hebreus 11:3 (62 d.C.) já indicava que o Universo teve um início e que foi criado do nada (ex-nihilo) por meio da palavra de Deus. Estudos recentes indicam que o Universo (espaço-tempo) teve origem e se expande. As primeiras evidências disso foram registradas por Georges Lamaitre (1927) e Edwin Hubble (1929).

O ar tem peso Jó 28:25 (1450 a.C.) já afirmava isso. Embora a atmosfera seja invisível, ela tem peso e massa. O barômetro, instrumento usado para medir o “peso do ar” (pressão atmosférica), só foi inventado por Evangelista Torricelli em 1643.

Suspenso sobre o nada Jó 26:7 já informava que Deus mantém a Terra suspensa sobre o nada, contrariando o pensamento de muitos povos que imaginavam nosso planeta apoiado nos ombros de um gigante ou sobre um grande animal. Essa crença só foi contestada em 1650.

Pontos cardeais Em várias passagens, a Bíblia menciona os quatro ventos (1Cr 9:24; Jr 49:36; Zc 6:5 e Ap 7:1), expressão que parece indicar uma compreensão sobre os pontos cardeais. Foi somente no século 14 que os mapas de navegação começaram a usar essas direções de forma mais sistemática. 11 |

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Leis meteorológicas A Bíblia fez menção ao “ciclo” de correntes de ar por volta de 930 a.C. (Ec1:6). Atualmente, sabe-se que o ar gira ao redor da Terra em gigantescos circuitos, no sentido horário em um hemisfério e no anti-horário no outro hemisfério.

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Interpretação Capa & Reflexão Reportagem

Texto Lisandro Staut Ilustração Thiago Lobo Designer Flávio Oak

Perguntas Imagine

FAZER

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Saiba o que os jovens têm experimentado no voluntariado e como essa atitude tem mudado a vida deles

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O BEM CONTAGIA estão se tornando seres humanos melhores e mais sensíveis às necessidades do mundo. “Todo mundo pode ser um voluntário. Não é algo que tenha que ver com sua renda. Você simplesmente precisa dedicar algum tempo e trabalhar para resolver um problema específico”, incentiva Piera Zuccherin, uma italiana que lidera o programa de voluntários da ONU para o Equador. Na juventude, há 20 anos, ela serviu como voluntária da Anistia Internacional. Segundo a organização Volunteer World, que conecta interessados em voluntariado com projetos sociais realizados em mais de 70 países, as atividades podem envolver desde o cuidado de animais e crianças, passando pelo desenvolvimento comunitário, construção, agricultura, esportes e defesa dos direitos humanos. A lista é longa, mas o caminho para o serviço, não. As oportunidades podem estar bem perto de casa, e é isso que os brasileiros têm aprendido. Uma pesquisa divulgada em 2015 pela Fundação Itaú Social aponta que 16,4 milhões de brasileiros realizam algum tipo de atividade de ajuda ao próximo sem receber nada em troca, a não ser a sensação de bem-estar. De acordo com a pesquisa, 58% das pessoas entraram no voluntariado para ser solidárias, enquanto 18% disseram que iniciaram a prática por influência de conhecidos ou instituições. Outros 17% dizem que fizeram isso por satisfação pessoal.

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ELA ESTAVA TERMINANDO o Ensino Médio e queria ter a certeza de que a medicina era realmente o caminho certo. Ele já era um profissional realizado na área da educação mas queria viver as emoções de ajudar num dos maiores eventos esportivos do planeta. Ela só tinha 18 anos e foi para a República Dominicana pensando em praticar um segundo idioma. Ele já se aproximava dos 30 e a fluência em alemão era seu cartão de visitas para receber os turistas da Copa do Mundo. Em comum entre os dois havia não apenas o fato de que ambos voaram para outros países e mergulharam nos encantos de outras culturas, mas o desejo de fugir dos caminhos óbvios, ampliar a visão sobre a vida, contribuir para algo significativo e construir memórias duradouras. Jailinne Keller e Márcio Gonçalves são bons exemplos de como milhões de brasileiros, especialmente os jovens, têm encontrado no serviço voluntário uma oportunidade de crescimento e realização pessoal. Esses dois personagens reais fazem parte de um exército estimado pela ONU em 1 bilhão de pessoas, 13,3% da população mundial. Esse é o número de indivíduos que contribuem de alguma forma com o bem-estar de alguém ou de uma comunidade enquanto, com essa atitude,

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1 bilhão de pessoas são voluntárias ao redor do planeta

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13,3% da população mundial

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Voluntariado no Brasil

UM POUCO DE HISTÓRIA Alguns entendem que a história do voluntariado no Brasil remeta aos tempos da colonização portuguesa, quando organizações religiosas introduziram esse tipo de trabalho em apoio às Santas Casas. Mas um panorama mais claro dessa evolução é descrito no site do Instituto Brasil Voluntário, entidade que se dedica à promoção do voluntariado educativo em parceria com o Ministério da Educação e instituições como Unesco e Unicef, além de conceder o selo de Escola Solidária. Segundo o instituto, que também é conhecido pela marca “Faça Parte”, a história do voluntariado no Brasil pode ser dividida em quatro fases: benemerência, Estado do Bem-Estar, voluntariado combativo e integração do Estado com a sociedade civil. Na primeira fase, o nascimento formal do voluntariado estaria associado à caridade. No século 19, os menos favorecidos eram vistos como pessoas que estavam “em desgraça” e que representavam um “desvio” da ordem dominante. Assim, famílias mais abastadas distribuíam seus excedentes entre os necessitados. Motivado por uma visão paternalista, excludente e moralizadora, esse “voluntariado de benemerência” era realizado principalmente pelas mulheres. A partir do século 20, porém, as instituições filantrópicas assistenciais passaram a ter a intervenção do poder público. E após a Primeira Guerra Mundial, já na década de 1930, ganhou força o conceito de Estado de Bem-Estar Social, em que o governo é visto como responsável por ações que irão corrigir as mazelas sociais por meio de políticas públicas. Embora tenha havido um progresso nessa época, a ênfase estava no individualismo em vez de nas iniciativas voluntárias ou associativas. Na década de 1960, por sua vez, em tempos de contracultura e ditadura militar no Brasil, o movimento de voluntariado foi politizado e influenciado por uma corrente contestatória e libertária. Surgiu um “voluntariado combativo”, muitas vezes distante

de seus ideais básicos. Essas iniciativas foram espontâneas, atraentes para os jovens, mas desorientadas e sem perspectivas de consolidação institucional e desenvolvimento de uma identidade. Buscava-se a mudança da ordem social por meio do protesto. Vinte e cinco anos depois, já em meados da década de 1980, a redemocratização da América Latina abriu espaço para o neoliberalismo, visão políticoeconômica que defende um Estado mais “enxuto” e a confiança no papel regulador do mercado. Com isso, muitos governos ajustaram seus orçamentos e diminuíram lentamente os financiamentos para a assistência social. Esse ambiente favoreceu a maior participação individual nos problemas da sociedade e o investimento da iniciativa privada em causas sociais. O trabalho voluntário passou a ser visto como peçachave para ocupar os espaços deixados pelo Estado, alcançando os que ficaram à margem da sociedade. Assim, a década de 1990 abriu as portas para um voluntariado que não dependia da ação governamental nem de mudanças em nível macro para agir. Motivados por valores como a participação solidária, muitos cidadãos entenderam que era preciso doar tempo, trabalho e talento, de maneira espontânea e não remunerada, em favor de causas sociais e comunitárias. O movimento Ação da Cidadania Contra a Fome, a Miséria e pela Vida nasce nessa época. Criado em 1993 pelo sociólogo Herbert José de Sousa, o Betinho, a mobilização teve amplo apoio da classe artística e marcou essa nova fase do voluntariado. Outro fato marcante na história do voluntariado no Brasil foi a criação do Programa Voluntários, do Conselho da Comunidade Solidária, em dezembro de 1996. O programa incentivou a formação de uma rede nacional de centros de voluntariado, que hoje conta com cerca de 60 unidades, localizadas nas principais cidades do país. São organizações autônomas e independentes financeira e administrativamente, que buscam atender às necessidades da região em que estão inseridas.

Séculos 16 - 18

Século 19

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1960

1980

1990

Nos tempos de colonização portuguesa, organizações religiosas apoiavam as Santas Casas.

A caridade é praticada por mulheres ricas. Predomina uma visão paternalista e moralizadora.

Ganha força o conceito de Estado de Bem-Estar Social. Esperavase que o governo corrigisse as injustiças sociais.

Politização dos movimentos voluntários durante a ditadura militar. Ênfase contestatória e libertária.

A visão neoliberal de Estado incentiva a participação individual e o investimento privado em causas sociais.

Surgem mobilizações com base na participação solidária e numa rede nacional de centros de voluntariado.

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Voluntá centena na perif Doming Repúbli

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Números do bem

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Foto: Lisandro Staut

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Voluntários atenderam centenas de pessoas na periferia de Santo Domingo, capital da República Dominicana

Porém, discordam desse argumento aqueles que acreditam que a iniciativa privada e o trabalho voluntário possam fazer a diferença onde o Estado é ineficiente ou não consegue atuar. Alguns enxergam num Estado mais enxuto, a possibilidade de se desenvolver a responsabilidade individual dos cidadãos e uma consciência mais voltada para a solidariedade e a coletividade. E se isso for motivado por uma fé saudável e bíblica, os resultados podem ser melhores ainda. É o que pensa Bill Hybels, pastor e palestrante norteamericano, conhecido por fundar e liderar uma megaigreja na região de Chicago (EUA). Frequentada semanalmente por 25 mil pessoas, essa congregação funciona essencialmente apoiada no trabalho de centenas de voluntários. “Imagine o que aconteceria em nosso mundo se centenas de milhares de pessoas – e, por fim, milhões – decidissem dedicar apenas algumas horas por semana para criar uma onda de boas obras que colocassem a fé em ação, espalhassem boa vontade e aliviassem o sofrimento”, desafia ele na página 136 do livro A Revolução do Voluntariado (Vida, 2013). E a resposta para esse exercício já pode ser vista em muitos lugares por onde voluntários estiveram. ANTECIPANDO O FUTURO PROFISSIONAL Para quem depende da ajuda de um voluntário, os benefícios podem estar, sim, no futuro, mas tanto para Jailinne como para Márcio, a experiência do voluntariado também traz resultados imediatos. É o que também confirma a pesquisa conduzida pelo Instituto Datafolha e divulgada pela Fundação Itaú Social. Segundo o estudo realizado no Brasil, voluntários tendem a ser mais positivos, tendo em vista que a solidariedade os faz enxergar um mundo melhor à frente. A recompensa para eles não é financeira, mas a sensação de bem-estar (51%), o senso de utilidade (40%) e a satisfação pessoal (37%). Foi o que aconteceu com a Jailinne, que esteve por quase duas semanas em uma das mais belas ilhas do Caribe. E o que a levou para lá era tão nobre que ela até abriu mão de curtir as paisagens paradisíacas do local. Gaúcha, Jailinne foi a única brasileira de um grupo formado apenas por adolescentes e jovens, a maioria deles de origem norte-americana. O projeto era mais uma ação organizada pela Maranatha Voluntários Internacional, uma agência missionária que opera em 12 países, incluindo o Brasil. A Maranatha mobiliza anualmente mais de 2 mil pessoas dos Estados Unidos, país que concentra a maior legião de voluntários do planeta: 62 milhões de pessoas em 2015, segundo o Bureau of Labor Statistics, órgão federal americano responsável por esses dados. Devido ao interesse por uma profissão na área de saúde, Jailinne foi designada para atuar junto à equipe médico-dentária, que atendeu centenas de pessoas

Brasil

16,4 milhões de pessoas são voluntárias

58% fazem isso por solidariedade

18% são influenciadas por pessoas ou instituições

17% servem por satisfação pessoal

Razões para não ser voluntário 40% falta de tempo 29% não foram convidados 18% nunca pensaram no assunto 12% não sabem onde obter informações

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FAZENDO O PAPEL DO ESTADO Também existe quem veja com reservas esse otimismo todo em torno do voluntariado. Em um artigo intitulado, “Entre o público e o privado: as estratégias atuais no enfrentamento à questão social, “a professora Paula Bomfim, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), que é autora do livro A Cultura do Voluntariado no Brasil (Cortez, 2010), vê uma relação direta da promoção desse modelo de assistência social com a lógica neoliberal. Ela explica seu ponto de vista, na página 272, afirmando que “a lógica neoliberal ao mesmo tempo em que identifica os problemas sociais como responsabilidade dos indivíduos também sugere que sejam resolvidos no âmbito privado”. Para a professora, isso significa tentar preencher com doações da iniciativa privada e o trabalho voluntário, espaços que deveriam ser ocupados pelo Estado com políticas públicas. Esse ponto de vista tem sentido para aqueles que defendem uma visão mais socialista de governo, o qual seria responsável por suprir todas as necessidades básicas do cidadão.

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Fotos: Lisandro Staut

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Jailinne Keller, voluntária brasileira que estuda Medicina na Argentina

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ONG Maranatha Voluntários Internacional atua em 12 países. Somente nos Estados Unidos, esse ministério mobiliza mais de 2 mil pessoas por ano

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VOLUNTARIADO EM GRANDES EVENTOS Segundo uma pesquisa do governo do Reino Unido sobre a participação da população em ações comunitárias, 23% dos jovens de 16 a 24 anos de idade disseram que haviam atuado como voluntários pelo menos uma vez por mês nos anos de 2010 e 2011. No biênio 2014-2015, esse número saltou para 35% dos entrevistados, o que em números absolutos significa um milhão a mais de voluntários em ação. Uma das explicações para esse crescimento foi a realização dos Jogos Olímpicos de Londres em 2012. Eventos esportivos desse porte não apenas promovem um espírito de solidariedade entre as nações, mas também mobilizam muitas pessoas do país-sede, o que torna mais barato o custo da competição. Nos Estados Unidos, calcula-se que o trabalho voluntário representa a economia de 24 dólares por hora, cerca de 80 reais. Foi numa oportunidade como essa, que Márcio Gonçalves se tornou voluntário. Em 2006, aos 29 anos, ele ainda era orientador educacional de uma grande escola na Zona Sul de São Paulo, quando o comitê organizador da Copa do Mundo da Alemanha abriu vagas para que voluntários se inscrevessem pela internet. Márcio se inscreveu rapidamente. Selecionado, ele passou três semanas conduzindo personalidades VIP pelos atalhos dos estádios em dias de jogos. Na opinião dele, existem muitas oportunidades de voluntariado interessantes para jovens, principalmente para aqueles que têm iniciativa, falam outros idiomas, seguem instruções e são responsáveis. Assim como a maioria dos voluntários, ele ressalta que o senso de utilidade é a melhor recompensa pelo trabalho. Justamente por aproveitar essa e outras oportunidades, Márcio vive hoje em Weilmünster, na Alemanha, onde trabalha como professor e coordenador no Schulzentrum Marienhöhe, uma escola adventista. EFEITO BOLA DE NEVE Compartilhar histórias como essa pode ajudar a mudar o quadro que a pesquisa do Datafolha, mencionada anteriormente, também revela: falta tempo para o voluntariado. Essa foi a justificativa dada por 40% daqueles que nunca serviram nessa modalidade e por 42% das pessoas que deixaram de atuar voluntariamente. O estudo ainda mostrou que 29% dos que nunca foram voluntários disseram não terem sido convidados para servir em alguma frente de ação e 18% não haviam pensado sobre o assunto. A lógica parece ser simples: quanto mais pessoas conhecem sobre voluntariado e se engajam nele, maior é a chance de se formar uma corrente do bem. Como afirma Piera Zuccherin, diretora do programa

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Foto: Fernando Borges / ADRA Brasil Regional Amazonas

na periferia de Santo Domingo, capital da República Dominicana. Enquanto auxiliava na farmácia improvisada, na organização das filas de atendimento, bem como na verificação dos sinais vitais dos pacientes, Jailinne aprendia antecipadamente com experiências que também iria vivenciar meses depois na faculdade de Medicina. Hoje, estudando na Universidad Adventista del Plata, na Argentina, a voluntária tem uma ideia mais clara do que vai encontrar quando estiver trabalhando na área de saúde pública. Porém, Jailinne sabe que sua experiência como voluntária foi além da formação profissional. “Realmente, conheci um mundo que estava fora da minha zona de conforto. Longe da cultura com a qual estava acostumada, comprovei o que tinha ouvido das velhas histórias sobre missão: o maior beneficiado é o voluntário”, reconhece. Para essa gaúcha que ainda tem vários anos de faculdade pela frente, foi transformador sentir-se útil num lugar desconhecido. Jailinne disse ter aprendido no Caribe que pode aliviar a dor física ou espiritual de alguém, mesmo sendo apenas mais uma pessoa a servir o próximo ao redor do planeta. “O serviço voluntário ajudou a decidir meu futuro. Quero ser médica, não para trabalhar em grandes hospitais, mas para atender povoados que não têm fácil acesso a um profissional de saúde”, planeja a universitária.

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de voluntariado da ONU para o Equador, “muitas vezes, o simples fato de convencer algumas pessoas cria um efeito ‘bola de neve'". É o que reforça uma pesquisa publicada em 30 de julho de 2010 no jornal The New York Times, coordenada pelo Mills College e que envolveu 500 estudantes de Ensino Médio da Califórnia (EUA). Segundo os dados, os alunos que haviam se envolvido em algum tipo de serviço comunitário na escola secundária, seja de forma obrigatória ou voluntária, eram mais propensos a participar de atividades comunitárias. Portanto, o segredo para aumentar o exército de voluntários é envolver cada vez mais pessoas no serviço. PORTAS ABERTAS Entre tantas organizações, grupos e entidades que oferecem boas oportunidades de voluntariado, está a ADRA Brasil, agência humanitária adventista que se destaca principalmente pelos projetos realizados na região Amazônica. Segundo Brad Mills, diretor regional da entidade, somente em 2016, 350 pessoas se envolveram em projetos de um dia, 455 em programas de dez dias e 18 dedicaram o ano todo em favor das comunidades ribeirinhas. As atividades realizadas vão desde a avaliação e intervenção sanitária nas comunidades até assistência agrícola, feiras de saúde, atendimento médico e odontológico, construção e ministração de palestras educativas. Mesmo quem não pode estar na Amazônia, tem ajudado financeiramente os projetos. O fato é que, independentemente da região, do tipo de projeto, do preparo para ele ou do tempo a ser disponibilizado para uma missão, o que organizações como a ADRA, Maranatha, ONU ou mesmo as associações comunitárias locais esperam de um voluntário é definido por Brad Mills como um requisito básico. “O prioritário é a disposição de servir, dedicar parte do seu tempo para ajudar pessoas necessitadas. Não falo só de recursos financeiros, mas de atenção ao semelhante e vontade de melhorar a vida de outros”, resume o missionário norte-americano, que há alguns anos atua no Norte do Brasil.

A FONTE E O EXEMPLO Todo ser humano busca propósito para sua existência. E quando se passa pela adolescência e juventude, o idealismo próprio dessa idade torna essa procura ainda mais intensa. O ponto é que a ênfase da cultura atual no egoísmo e consumo deixa muita gente confusa. Parece ser uma questão de sobrevivência ter o foco da existência em nós mesmos. Talvez seja por isso que muitos temam dedicar energia e tempo para servir os outros. No entanto, Steve Sjogren, pastor e conferencista na área de liderança de voluntários, defende o contrário no livro Olhando Além das Paredes da Igreja. Ele argumenta que “quando servimos, estamos apenas sendo quem nós somos naturalmente” (p. 39). Ou seja, na visão dele, a vocação ou o desejo de servir aos outros foi implantado em nós pelo próprio Criador. É verdade que a inclinação para o egoísmo, que herdamos de Adão e Eva por causa da queda moral deles no Éden, pode fazer a opinião de Sjogren parecer utopia. Porém, a Bíblia também afirma que é possível nascer de novo a partir do segundo Adão (Rm 5), Jesus Cristo, Aquele que levou ao extremo o ideal de servir, fazendo que por meio de sua morte e ressurreição tivéssemos a motivação e o exemplo para seguir os passos Dele. “Nós amamos, servimos e cuidamos dos outros porque esse é o comportamento normal para as pessoas que estão cheias do Espírito de Deus”, completa Sjogren, falando do novo impulso daqueles que estão sendo espiritualmente transformados. Para quem entende isso, a vida ganha novo significado. E cuidar do próximo se torna a maneira mais sublime de obedecer, servir e glorificar a Deus (Mt 5:16). Como escreveu Bill Hybels no livro A Revolução do Voluntariado, página 45, “mais cedo ou mais tarde, todo mundo tem que decidir onde pôr suas apostas no grande jogo da vida”. Segundo ele, existem apenas duas opções: um estilo de vida centrado em si mesmo ou o modelo de serviço apresentado por Jesus. Qual é sua escolha?

Há vagas Para participar de projetos de voluntariado no Brasil e ao redor do mundo, basta acompanhar as oportunidades oferecidas pelas seguintes organizações:

salvavidasamazonia.org

maranathabrasil.com.br

Serviço Voluntário Adventista adventistas.org/pt/ voluntarios

unasp-ec.com/ nucleodemissao

Adventist Frontier Mission afmbrasil.org

Voluntários ONU unv.org Fontes: ONU (http://bit. ly/2rohpbS), Instituto Gallup (http://bit.ly/2qj1r2C) e Itaú Cultural (http://bit.ly/2r4izbC)

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ADRA Brasil oferece na Amazônia projetos de um dia, dez dias ou de um ano de duração

Foto: Fernando Borges / ADRA Brasil Regional Amazonas

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Reportagem

Texto Rebbeca Ricarte

EDUCAÇÃO AL Entenda como as aulas de música e a participação em grupos vocais e instrumentais podem ajudar você a fazer amigos, ser mais disciplinado e abençoar pessoas

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QUANDO IVAN CHEGOU para ser entrevistado para esta reportagem, parecia nervoso. O adolescente de 15 anos apertava os dedos contra a palma da mão com força enquanto me pedia calma para responder cada pergunta. Ele queria pensar bem no que ia dizer, pois estava levando a sério a responsabilidade de falar em nome de sua escola. Aos poucos, começou a falar de seus compositores favoritos e do sonho de ser como um deles. “Para isso, é preciso muito esforço! Por isso, toco desde os seis anos e treino pelo menos três horas por dia. Mas um pianista profissional treina de seis a oito horas diárias”, justifica. Essas palavras saíram com a naturalidade de quem sonha em ser grande. E foi aí que entendi. No instrumento, ele se sentiria mais confortável. Bem atrás de nós havia um lindo piano de cauda. Pedi que se sentasse e tocasse. Foi então que a música dele nos tocou. 2017

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Por que a música tem o poder de nos fazer refletir e marejar os olhos? “Não há poder próprio na música, mas ela mexe conosco porque somos seres musicais, assim como nosso Criador”, explica o músico e pastor Társis Iraídes, membro do quarteto Arautos do Rei, um dos grupos evangélicos mais tradicionais do Brasil. Társis completa dizendo que a música é uma linguagem que gera impacto de diferentes formas em cada ser humano e que, por seu caráter universal, se manifesta de maneira peculiar em cada cultura. DESDE O VENTRE A música tem grande influência sobre os seres humanos, mesmo antes do nascimento. No útero materno, o bebê já consegue ouvir sons. “Lógico que os sons são um pouco distorcidos, por causa do líquido que envolve o feto, mas quando nasce, a criança já consegue reconhecer a voz do pai, da mãe e de pessoas próximas”, confirma Dione Lanza, professora e mestre em Música. Para tirar a prova dos nove, Marla Lüdtke procurou aplicar com o filho Bernardo o que aprendeu no mestrado em musicalização infantil. “Comecei a cantar para o Bernardo quando ele ainda estava na minha barriga. Depois que nasceu, passei a incluir música na rotina, e costumo cantar movimentando as perninhas e bracinhos dele no ritmo da canção. Isso ajuda na percepção musical”, descreve a cantora que, com o esposo e pastor Daniel Lüdtke, tem se dedicado à produção de DVDs musicais infantis como Minha Vida É Uma Viagem, da gravadora Novo Tempo. Esse estímulo precoce que Marla oferece ao filho é recomendado pelos educadores. No Brasil, aulas de

musicalização infantil podem ser iniciadas já aos seis meses de vida. É um momento lúdico, que envolve instrumentos de percussão, movimentos corporais e a interação entre os pais e o bebê. “Acreditamos que quanto mais cedo a criança começa, mais ela pode se desenvolver. Com os pequenos é usado o instrumento xilofone, em que cada nota é representada por uma barrinha colorida. Assim, cantamos os ritmos ditando as notas, até que eles relacionem cada nota com a cor equivalente e a barrinha se torne dispensável”, detalha Érick Gimenez, doutor em Música e diretor do conservatório da Universidade Peruana Unión (UPeU), instituição adventista referência em musicalização infantil. DISCIPLINA E OPORTUNIDADES Ivan Pereira, o personagem do começo desta reportagem, é um desses que começou a treinar bem cedo e que assumiu o desafio de tocar outros instrumentos. “Além do piano, toco violino na orquestra do colégio”, relata. O adolescente cursa o Ensino Médio no Instituto Adventista Paranaense, internato próximo a Maringá (PR). Foi lá que ele fez boas amizades com adolescentes que também gostam de música e onde encontrou oportunidades de exercitar sua habilidade no conservatório, orquestra, banda e coral de sinos. Kaleo Milanelli é um dos amigos de Ivan que está no coral de sinos. O garoto de 16 anos aproveita ao máximo o conservatório da

RIMAS E NÚMEROS Música e matemática, dois campos do conhecimento que, no gosto dos alunos, costumam ser polos opostos, na verdade, em termos de estímulo cerebral são muito próximos. A complexidade da harmonia, por exemplo, tem que ver com o cálculo, segundo Felipe Vidal, doutorando em Música e maestro da orquestra da Universidade Adventista do Chile. Ele tem liderado no campus pesquisas que procuram avaliar a relação entre música e aprendizagem. Os resultados apontam para um rendimento acadêmico superior dos alunos que participam da musicalização em contraste com os demais. Outro benefício é o desenvolvimento da disciplina: “Para tocar saxofone, trombone e trompete não dá para ensaiar apenas uma vez por semana”, explica o professor.

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instituição. Ele toca piano, violão, trombone, violoncelo e os sinos. Para o professor Delmar Freire, mestre em Música e maestro da orquestra da UPeU, a super-habilidade artística de Kaleo e de outros é fácil de ser identificada, mas difícil de ser definida. Ele exemplifica dizendo que algumas crianças de cinco anos se desenvolvem tão rapidamente que até mesmo superam seus professores. E acrescenta: quem é bom num instrumento consegue aprender com mais facilidade outro. “Um dos casos mais conhecidos da história é Mozart. Ele era um exímio pianista, mas também tocava violino divinamente”, destaca. Delmar relata que a dinâmica do conservatório é diferente da orquestra. “Na orquestra é preciso ser mais profissional. O aluno vem para o conservatório a fim de aprender. Na orquestra, ele já precisa saber. Ele passa por uma seleção que exige conhecimento de partitura e disciplina para cumprir com a rotina de estudos. Só temos um ensaio geral por semana aqui na universidade, os demais são por grupos de instrumentos, como os de sopro e de cordas”, enfatiza o músico a importância da responsabilidade individual para que o resultado coletivo seja satisfatório. No Peru existe uma boa tradição musical. Prova disso é que o ensino da música não se restringe às universidades. No Colégio Adventista de Puno, no extremo sul do país, os alunos do Ensino Fundamental levam muito a sério o aprendizado de música. David Apaza, regente da orquestra de câmara da escola, conta que o grupo de cordas que ele dirige, ensaia todas as sextas-feiras, e os instrumentistas precisam dedicar duas horas diárias de treino. “Começamos com esse projeto há dois anos e, hoje, somos convidados para os eventos da região,

pois as pessoas se impressionam que alunos de 7 a 15 anos toquem tão bem”, ressalta Apaza. Nessa modalidade de orquestra estão presentes os 1o e 2o violinos, violas, violoncelos e contrabaixos. Abel Jilaja, de apenas 11 anos, é o primeiro concertino da orquestra, e explica sua função: “Sou aquele que guia a orquestra na ausência do maestro. É uma grande responsabilidade”. BANDAS E CORAIS Participar de um coral ou banda na escola representa mais do que uma experiência artística, é sobretudo fazer amigos e desenvolver trabalho em equipe. E o mais interessante dessa união de vozes ou sons é que, necessariamente, não é preciso ter experiência prévia. No Instituto Adventista de Santa Catarina (Iaesc), internato na região de Joinville (SC), a banda é recente, e boa parte dos alunos não tinha experiência anterior. “Estar na banda é uma oportunidade de adquirir responsabilidade e disciplina. E os alunos gostam de representar o colégio nas atividades cívicas”, pontua Ricardo Nascimento, maestro da banda. A tradição das bandas escolares também está presente nos países vizinhos sul-americanos. O Peru se destaca nessa modalidade. O Colégio Adventista de Cusco, na região de Machu Picchu, por exemplo, é destaque nacional no concurso anual de bandas e fanfarras. “Nós participamos todos os anos e, em 2016, chegamos às finais nacionais. Fomos até Lima, capital, e conquistamos a medalha de bronze”, conta Daniana Cabrera, aluna que aprendeu a tocar flautim na própria escola. Outro tipo de grupo musical que costuma chamar a atenção, especialmente nos internatos, é o coral.

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Celeiro de talentos

Por causa de sua forte tradição musical, os internatos adventistas se tornaram celeiros de talentos musicais. É lá que nasceram grupos como Tom de Vida, Novo Tom, Vocal Livre, 7Mus, Contrastes e Prisma Brasil. Mesmo passando por várias formações, por causa da rotatividade de alunos e professores, grupos como o Prisma Brasil permanecem desde 1980. Esses grupos projetaram solistas como Rafaela Pinho, Joyce Zanardi, Joyce Carnassale, Riane Junqueira, Pedro Valença e Leonardo Gonçalves.

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Coral de sinos do IAP Foto: Samuel Pereira

Foto: Junia Lane

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No Instituto Adventista Cruzeiro do Sul (Iacs), localizado na serra gaúcha, os alunos são literalmente “fãs” do grupo vocal que existe desde 1995. Ana Maria Macêdo, regente do coral do Iacs, relata que a proposta é ter um figurino mais leve e um repertório que seja ao mesmo tempo alegre e que considere as características vocais de uma faixa etária que ainda está passando por transformações. “Tudo isso faz com que eles encarem o coral como uma atividade divertida e prazerosa”, analisa Ana, revelando o segredo do sucesso do grupo. O coral, que já gravou CDs e DVDs, realiza turnês anuais pelo Brasil, prática comum entre os grupos musicais dos internatos adventistas, e uma das experiências mais aguardadas pelos coristas. Juliana Catafesta, aluna do 3o ano do Ensino Médio, define o coral como sua atividade preferida no internato. “Sou de Guaíba (RS) e nunca pensei em estudar aqui em Taquara, até o dia em que vi o coral cantar na igreja do Iacs. Fiquei apaixonada! Foi isso que me motivou a vir para cá e sou muito feliz por poder cantar com meus amigos. Adoro as viagens do coral e, se hoje consigo me expressar melhor e vencer minha timidez, devo muito ao grupo”, reconhece a estudante. MÚSICA COMO PROFISSÃO E, para os que se identificam tanto com a música a ponto de fazerem da carreira uma canção, a rede educacional adventista também oferece formação profissional nessa área. Quem escolhe esse caminho, porém, precisa saber que música não é só festa. Um bom profissional é fruto de muita dedicação às aulas práticas e teóricas. O que não foi um empecilho para Flávia Maximiliano. Um sonho de infância levou Flávia a se matricular no Unasp, campus Engenheiro Coelho. “Desde criança,

sempre gostei de cantar. Vim para o Unasp movida por esse sonho e aqui acabei me apaixonando ainda mais pela carreira. Hoje, além de cantar profissionalmente, digo que me encontrei na musicalização infantil, e quero trabalhar nesse segmento”, conta a universitária, que está no último ano de sua formação. O curso de licenciatura em Música do Unasp, inclusive, lidera o ranking do Ministério da Educação nessa área. “Isso nos dá um ânimo ainda maior para trabalhar. Nosso curso tem quatro anos de duração, cujo objetivo é formar músicos diferenciados que, além de excelência técnica, apresentem compromisso com valores cristãos”, enfatiza a professora Ellen Stencel, coordenadora do curso. DEDICAÇÃO A DEUS Por fim, existem aqueles que encontram na música uma linguagem para expressar sua gratidão ao Criador e ligar corações que precisam ser reconciliados com Deus. É isso que o aluno Lucas Meireles, do Colégio Adventista de Porto Velho (RO), tem feito. O adolescente de 17 anos já compôs mais de 50 músicas nos últimos dois anos, repertório que é interpretado pelo coral da escola dele. “Fico muito feliz em saber que essa mensagem pode alcançar não apenas os alunos que estão cantando essas letras, mas as pessoas que assistem às apresentações”, compartilha. Consciente da responsabilidade que tem, Lucas explica de onde vem sua inspiração. “Antes de tudo, é preciso estar em conexão com o sagrado, porque a música é um canal de influência muito forte. Por isso, ao compor, preciso estar em oração e conhecer bem a Bíblia, para poder transmitir por meio da música uma mensagem que transforma.”

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Joyce Carnassale

Joyce Zanardi Foto: Junia Lane

Foto: Bernardo Coelho

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Pedro Valença Foto: Bernardo Coelho

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Textos Fernando Dias

Básica

Imagem © Choat | Fotolia

Termo jurídico usado para explicar o que Deus fez por nós

O QUE É JUSTIFICAÇÃO PELA FÉ? Certa vez uma menina pediu à escritora cristã Ellen G. White (1827-1915) para solicitar ao pastor que ele não usasse no sermão palavras que ela não entendia, como “justificação” e “santificação”. Assim como essa menina, muita gente também desconhece o que é justificação pela fé. No entanto, essa doutrina já transformou a vida de muita gente e incentivou Martinho Lutero e outros reformadores a mudar o mundo. Justificação é uma expressão jurídica que aparece nos escritos de Paulo (Rm 3:28; Gl 2:16). É o mesmo que “novo nascimento”, “perdão dos pecados”, “salvação pela graça”, “redenção”, “regeneração” e “ter Jesus no coração”. Essas metáforas explicam o que Deus faz para resolver o maior problema humano (o pecado) e sua consequência (a morte). Para explicá-la, Jesus contou uma história que esclarece o que Deus faz para “limpar a nossa barra” (Mt 18:21-35). Após uma auditoria, um servidor da corte real foi descoberto devendo para Sua Majestade nada menos que 2,4 bilhões de reais, em valores atualizados, e, portanto, devia ser preso por corrupção. Mas o funcionário insistia em quitar a dívida, mesmo que essa representasse “apenas” 200 mil anos de seu salário! Surpreendentemente, o rei perdoou a dívida e inocentou o acusado. A única expectativa do monarca era que o servidor também perdoasse um colega de trabalho que lhe devia 4 mil reais. Essa é nossa história! Todos pecamos (Rm 3:23) e não conseguimos sozinhos nos livrar do pecado (Rm 7:14-20). Estávamos condenados à morte (Rm 6:23), mas Cristo morreu em nosso lugar (1Pe 1:18, 19), cancelando a dívida contra nós (Cl 2:14). Ele justifica aqueles que aceitam isso pela fé, apagando o registro de seus pecados e colocando na conta deles o crédito de sua própria vida perfeita (Rm 3:23-28). Se você aceita pela fé o que Deus faz por você, só resta viver em gratidão, obediência e amor a quem lhe deu tudo, sem que você nada merecesse! Para saber +: 95 Teses Sobre Justificação pela Fé, de Morris L. Venden, e Conhecer Jesus É Tudo, de Alejandro Bullón.

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Curiosa

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PALAVRAS ESTRANHAS DA BÍBLIA Mesmo com mais de 30 versões diferentes da Bíblia em circulação no Brasil, as mais populares continuam sendo aquelas que se baseiam na tradução feita pelo português João Ferreira de Almeida no século 18. Apesar da linguagem tradicional, a Bíblia Almeida é a mais utilizada nas igrejas e na devoção pessoal, inclusive pelos jovens. Assim, é provável que ao ter contato com essa versão você se depare com palavras pouco usuais que podem fazer o texto sagrado parecer um código secreto. Calma! A Conexão está aqui para decifrar algumas palavras e ajudar você a entender o que Deus quer lhe dizer. Vamos lá?

Anátema: maldição, no sentido de rejeitar algo ou alguém, por ser prejudicial à espiritualidade (1Co 16:22). Áspide: cobra venenosa (Sl 91:13). Baalim: ídolos ou estatuetas usadas em casa, na adoração pagã (Os 11:2). Besta: não é um xingamento, mas qualquer animal terrestre; em profecia, é símbolo de poder ou reino (Ap 13:2). Cingir: usar algo ao redor do corpo, como um cinto (Ef 6:14). Jugo: peça de madeira que transformava bois e jumentos nos “tratores” de antigamente, permitindo que eles puxassem carros e arados (Mt 11:30). Libação: ato de derramar um líquido no solo ou altar, como ato de homenagem a Deus (2Sm 23:16; 2Tm 4:6). Longânimo: qualidade de quem tem

um “ânimo longo”, ou seja, paciência (Pv 16:32). Néscio: pessoa que não faz boas escolhas, desajuizado (Mt 25:2). Odre: versão antiga das garrafas térmicas, é uma bolsa de couro impermeável e portátil que mantém a água ou o suco sempre fresquinho (Gn 21:15). Opróbrio: humilhação extrema, grande vergonha (Sl 119:39). Marrada: cabeçada que um animal dá (Dn 8:4). Refugo: aquilo que se rejeita (Fp 3:8). Vitupério: desonra (Hb 13:13).

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Para saber +: 1.000 Palavras que Podem Ajudar na Leitura da Bíblia, de José Carlos M. Romero (100% Cristão, 2013).

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Ponto de vista Imagem © F8studio | Fotolia

DO PROPRIETÁRIO AO VOLUNTÁRIO Proprietário

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SOLTEIRISMO Talvez você não esteja planejando comemorar, mas 15 de agosto é o Dia dos Solteiros. Se você está desacompanhado, poderá celebrar a data, de preferência bem acompanhado (especialmente se não teve por que comemorar o 12 de junho). Ao pé da letra, solteiro é a condição de quem nunca foi casado ou teve o casamento anulado, mas em geral basta estar paquerando para não querer mais se admitir como solteiro. Para alguns, ser solteiro é sinônimo de liberdade e ­descompromisso; para outros, representa solidão. Do mesmo modo, grupos diferentes consideram o solteirismo uma condição superior ou inferior à de casado. Vamos conferir?

Sim

Ser solteiro é um estado civil espiritualmente melhor do que ser casado, pelo menos é o que algumas crenças pregam. Para católicos, a decisão de permanecer solteiro, abstendo-se de relações sexuais, recebe muito prestígio e é compulsório para sacerdotes, monges e freiras. Diz o parágrafo 915 do Catecismo da Igreja ­Católica: “Comporta para os que assumem livremente o chamado à vida consagrada a obrigação de praticar a castidade no celibato.” Além dos católicos, os budistas e hindus também entendem que ser solteiro melhora espiritualmente uma pessoa, e, em geral, monges budistas e sadus hinduístas são solteiros.

Não

Para os judeus religiosos, permanecer solteiro é visto como antinatural, e os jovens são incentivados a casar por volta dos 20 anos. Os islâmicos valorizam bastante o casamento, tanto é que, em alguns países onde essa religião predomina, é lícito manter até quatro esposas simultaneamente (mas nada de vários maridos!). Os mórmons consideram o casamento uma cerimônia mística e, segundo acreditam, devem ter muitos filhos para dar a oportunidade a almas pré-existentes de encarnar e serem batizadas na igreja mórmon.

Depende

Para os cristãos evangélicos, tanto o casamento como a solteirice podem ser ­muito bons, se devidamente aproveitados. O apóstolo Paulo, ele mesmo um ­solteiro convicto na ocasião, escreveu em 1 Coríntios 7 exaltando seu próprio estado civil e chegou a recomendar que permanecer solteiro seria mais vantajoso que se casar na situação difícil pela qual o mundo passava na época (1Co 7:26); porém jamais deu a entender que o casamento não era tão bom para a espiritualidade (v. 28). Assim, quer você fique solteiro ou venha a se casar, você terá tentações, mas sua vida com Deus poderá crescer independentemente de seu estado civil.

Substantivo que designa aquele que possui alguma coisa, desde um alfinete a uma empresa multinacional. A propriedade privada é a base da economia capitalista, na qual praticamente tudo é de alguém, quase nada é de ninguém, e poucas coisas são compartilhadas por alguns. Na linguagem coloquial, o proprietário é chamado de dono, palavra de origem…

Latina Nome da vela triangular de antigas embarcações. O velame latino foi muito empregado nas primeiras caravelas, navios desenvolvidos pelos povos do Mediterâneo Ocidental entre os séculos 13 e 16. Foram em caravelas que Cristóvão Colombo e seus marinheiros cruzaram o Atlântico rumo à América, Vasco da Gama chegou à Índia e Pedro Álvares Cabral veio ao Brasil. Em 1488, o português Bartolomeu Dias chegou com duas caravelas ao ponto sul do continente africano, que foi nomeado Cabo da Boa…

Esperança Que alguns dizem ser a última a morrer, um ditado um tanto apropriado, já que a Bíblia afirma que, juntamente com o amor e a fé, a esperança sempre existirá (1Co 13:13). Derivada do verbo “esperar”, essa palavra enriqueceu seu significado e é muito empregada quando o assunto é redenção, principalmente a redenção social, um ideal que, para realizar-se, depende de serviço…

Voluntário Aquele que se dispõe a trabalhar sem receber outro salário além da satisfação com o dever cumprido e a motivação de ajudar alguém que não tem como retribuir. Num contexto global em que tanta gente, seja de origem latina ou de outra cultura, está procurando ser proprietário do último lançamento tecnológico, faz bem abrir mão do interesse em si mesmo e se tornar um voluntário, levando esperança a quem precisa dela.

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Para saber +: A Bênção de Ser Solteiro, de Gary Haynes (Atos, 2010). 23 |

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Tudo ligado

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Imagine

Texto Jessica Manfrim Imagem © Andrey Kuzmin | Fotolia Designer Milena Ribeiro

... se o Brasil ti

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EM TEMPOS DE polarização política no Brasil, ondas nacionalistas nos Estados Unidos e Europa e crise imigratória no Oriente Médio, o discurso de autoproteção e separatismo ganha força. Com a aprovação do Brexit, por exemplo, Irlanda e Escócia ameaçam se desvincular de um reino que anda bem desunido. Ao que parece, no século 21, as fronteiras são movediças. Outras regiões famosas por levantar o fantasma do separatismo são Catalunha e País Basco, na Espanha, Quebec, no Canadá, Flandres, na Bélgica, e Vêneto, na Itália. No Brasil, o efeito Brexit animou movimentos que pregam há alguns anos a separação de Estados como Pernambuco, São Paulo e a região Sul a fazer consultas públicas não oficiais sobre uma possível independência. Apesar de ter proporções continentais e estar unido pelo mesmo idioma, em vários momentos da história, nosso país poderia ter sido dividido geograficamente. Imagine como seria.

MACAU SUL-AMERICANA

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Quando a independência do Brasil foi proclamada em 7 de setembro de 1822, nem todas as províncias da América Portuguesa concordaram imediatamente em se juntar num império com sede no Rio de Janeiro. Regiões como Grão-Pará (Norte do Brasil), Maranhão e Bahia estavam longe do Rio, tinham forte presença portuguesa e sua economia dependia das exportações para o mercado lusitano. Para colocar fim a esse impasse, Dom Pedro I enviou o almirante Thomas Cochrane, famoso marinheiro e mercenário escocês, para expulsar daquelas regiões os portugueses contrários à independência do Brasil e firmar acordos de adesão com o restante do país. Isso ocorreu em julho e agosto de 1823. Se lorde Cochrane tivesse fracassado, talvez hoje a Amazônia pertencesse a Portugal, assim como Macau, na China, pertenceu aos portugueses até 1999. É o que

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ocorre com a Guiana Francesa, território ultramarino da França, que fala francês, utiliza o euro e faz parte da União Europeia.

REPÚBLICA DO RIO GRANDE DO SUL

Quando as guerras de independência do Brasil terminaram na maior parte do novo país, por volta de 1825, a situação no extremo sul ainda era instável. O Uruguai foi palco de disputa entre espanhóis e portugueses durante o período colonial. Em 1680, os portugueses estabeleceram a Colônia do Sacramento em território uruguaio e os jesuítas espanhóis fundaram sete aldeamentos indígenas (Sete Povos das Missões) no Rio Grande do Sul. O Tratado de Madri, assinado em 1750, deu a posse da Colônia do Sacramento para a Espanha, e Portugal recebeu Sete Povos das Missões em troca. Em 1821, Dom João VI foi além, anexando o Uruguai ao império brasileiro, com o

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nome de Cisplatina. Porém, no ano seguinte, com a independência brasileira, a Cisplatina declarou guerra porque se uniria à República das Províncias Unidas do Rio da Prata, atual Argentina. O conflito só terminou com a mediação da Inglaterra, que, em 1828, transformou a Cisplatina num país independente chamado Uruguai. Por causa desse histórico, mesmo separados, gaúchos e uruguaios continuaram a compartilhar costumes culturais e interesses econômicos e políticos. Descontentes com a política tributária adotada pelo governo brasileiro, a relação entre Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro se desgastou. Foi por isso que, em 20 de setembro de 1835, data ainda celebrada pelos gaúchos, estourou a Revolução Farroupilha. Se Bento Gonçalves tivesse vencido a guerra contra o governo imperial, que durou dez anos, o extremo sul do país poderia ter se unido ao Uruguai e/ou à Argentina.

LOCOMOTIVA SEM VAGÕES

Desde os tempos da colônia, a província de São Paulo mantinha a fama de ter espírito separatista. Alguns acontecimentos, e sua interpretação posterior, contribuíram para a formação dessa imagem. Em 1641, apesar de os paulistas aclamarem Amador Bueno como rei da província, ele não aceitou, e a região continuou sob domínio português. Por sua vez, na década de 1880, o Partido Republicano Paulista contava com muitos adeptos entre a elite cafeeira, grupo que achava que São Paulo precisava ter uma representatividade política na Câmara dos Deputados e no Senado à

altura do crescimento econômico da província. Diante dessa pressão republicana e de uma monarquia desgastada, em 1887 o movimento Separatismo Paulista propôs a independência da província, ideia que perdeu força com a proclamação da república dois anos mais tarde. Já no século 20, em 9 de julho de 1932, estourou a Revolução Constitucionalista, que teve adeptos da elite e de boa parte dos paulistas. Esse conflito foi um desdobramento da Revolução de 1930, que pôs Getúlio Vargas na presidência do Brasil, terminando assim com a “política do café com leite”, que beneficiava mineiros e paulistas. Para tentar recuperar a influência de São Paulo, os paulistas pediam uma nova constituição, a fim de impedir Getúlio de governar por meio de decretos. Gente famosa, como o escritor Monteiro Lobato, queria a independência de São Paulo, pois acreditava que o Estado era a “locomotiva da nação”. Getúlio Vargas acusou os paulistas de promover separatismo, a fim de impedir que outras regiões do país apoiassem a revolta com armas e combatentes. O conflito armado durou três meses e terminou com a vitória de Getúlio. Alguns enxergam uma vitória moral dos paulistas porque o movimento influenciou a promulgação da constituição de 1934. O fato é que, se São Paulo fosse um país, teríamos uma “locomotiva” sem “vagões”.

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Fontes: Verbetes “Farroupilha” e “Guerras da Cisplatina” em Dicionário do Brasil Imperial, de Ronaldo Vainfas (Objetiva, 2002); História do Brasil, de Boris Fausto (Edusp, 2008); “A ‘Nação paulista’: uma opção diante da crise final do imperialismo brasileiro”, artigo acadêmico de Cássia Chrispiniano Adduci (http://bit.ly/2q3D3RO); “Independência e Morte: Política e Guerra na Emancipação do Brasil (1821-1823)”, tese de doutorado de Helio Franchini Neto no programa de História da UnB (http://bit.ly/2qbHExx).

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Ação Mude seu mundo

Texto e fotos Carla Ferraz

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Lição de vida Aprenda

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A solidariedade está no ar

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Conheça o programa de rádio que mobiliza os ouvintes a fazer boas ações 36240 – Conexão 03/2017

A CASA EM que Elaine Lima da Silva, 25 anos, morava no bairro na zona rural de Viana (ES) foi incendiada acidentalmente por um dos seus filhos. Elaine tinha ido à residência da cunhada, que mora próximo, e levado o bebê recém-nascido. Nesse incidente, a família perdeu quase todos os móveis e mais da metade da casa foi destruída pelas chamas. O estudante Bruno Francisco nasceu com uma doença chamada distrofia muscular de Duchenne. Aos 13 anos, ele não tem mais domínio do próprio corpo. Bruno precisa da ajuda da mãe e dos familiares para realizar atividades cotidianas como se locomover, tomar banho e comer. Ele e sua família moram no bairro Vale dos Reis, em Cariacica. Aos 32 anos, a catadora de mariscos Josiane dos Santos viu desmoronar a casa em que morava com os cinco filhos no bairro Porto de Santana, também em Cariacica. “Graças a Deus, não tinha ninguém

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em casa”, desabafa Josiane. A casa ruiu em novembro do ano passado, devido a problemas estruturais. Era uma construção simples, feita sem a supervisão de um profissional. “Ela começou apresentando rachaduras meses antes e, por fim, caiu de vez.” O que essas histórias, que pediam uma resposta emergencial, têm em comum? Além de terem acontecido na região metropolitana de Vitória, são casos que chegaram à regional capixaba da ADRA Brasil, ONG que atua como o braço humanitário da Igreja Adventista. Os casos chegam até a ADRA (Agência Adventista de Desenvolvimento e Recursos Assistenciais) por meio de correio eletrônico ou são encaminhados pelos profissionais dos equipamentos públicos de assistência social. “Nós realizamos uma visita à casa da família para fazer uma análise da situação, e ver se é um caso que pode ser encaminhado para algum órgão da rede sócio-assistencial da cidade.

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RETOMADA DO PROJETO Ela se refere ao programa “Alguém Ajudando Alguém”, veiculado pela rádio Novo Tempo de Vitória (95,9 FM). O programa foi sucesso na emissora capixaba na década de 1990, até sair do ar em 1997, devido a alterações na grade da rádio. No entanto, em maio de 2016, a iniciativa foi retomada, então, com o apoio técnico da agência humanitária. Um dos beneficiários dessa nova fase do programa foi o sapateiro Gecy dos Santos. Ouvinte assíduo da rádio adventista, no passado, ele havia recorrido à emissora em busca de orientação para uma questão familiar. “Naquela vez, a equipe da rádio foi muito atenciosa comigo e com minha família. Hoje, sou um voluntário e doador do projeto, porque conheço a seriedade com que o programa cuida daqueles que estão precisando”, admite Santos. Desde que o programa “Alguém Ajudando Alguém” voltou ao ar, dezenas de famílias foram beneficiadas graças à solidariedade dos ouvintes. A história de Elaine foi a primeira a ser contada nessa retomada do projeto. Os ouvintes doaram móveis e materiais de construção e a ADRA acionou sua rede de voluntários para construir a casa da Elaine em regime de mutirão. “Foi um domingo de muito trabalho, mas muita animação. No fim, saímos de lá cansados, porém muitos felizes por ter contribuído para devolver um lar àquela família”, afirma Rodrigo Lourenço, voluntário da agência. Por outro lado, arrecadar recursos para comprar a cadeira de rodas do adolescente Bruno Francisco foi um pouco mais complicado. Por se tratar de uma cadeira especificamente desenhada para atender as limitações do jovem, o equipamento era caro e demoraria algum tempo para ser fabricado. “Ficamos temerosos e sem saber se conseguiríamos levantar esses recursos em meio à crise econômica que o país enfrenta”, admite Agno Barbosa, coordenador local de convênios da ADRA Brasil. As doações não chegaram ao valor necessário. Mesmo assim, Agno foi à loja encomendar a cadeira. “Lá descobrimos que o dono da loja conhecia o projeto da rádio e ficou feliz em saber que estávamos retomando o programa. O proprietário então nos deu um bom desconto, fazendo com que o valor da cadeira chegasse à quantia arrecadada. Essa foi uma prova de que Deus estava comandando tudo”, relembra emocionado Barbosa.

Voluntários ajudaram na construção de uma nova casa para a catadora de mariscos Josiane dos Santos

MUTIRÃO DA CONSTRUÇÃO A vida já sofrida da catadora de mariscos Josiane ficou ainda mais difícil depois que sua casa desabou. Contando com o apoio de sua comunidade religiosa, a Assembleia de Deus, ela conseguiu um cômodo de madeira para morar temporariamente. O problema é que o local era pequeno e não acomodava todos os filhos. Devido à falta de espaço, seu primogênito, Jhony Wesley dos Santos, de 15 anos, teve que ir morar com a avó. O caso de Josiane foi apresentado no programa “Alguém Ajudando Alguém” em 14 de março e diversos ouvintes se voluntariaram para ajudar a reconstruir a casa dela. Houve gente como o padeiro Emanuel dos Santos, que doou seu único dia de descanso na semana para trabalhar em benefício da família de Josiane. “Ouvi a história dela na rádio e isso me tocou. Lembrei-me das lutas que minha mãe teve para nos criar e das pessoas que nos estenderam a mão. Senti que precisava fazer alguma coisa”, conta Emanuel. “Foi emocionante ver os voluntários da ADRA chegando para construir nossa casa. Eles trouxeram esperança e alegria para a vida da gente. A partir de hoje, também vou ser um voluntário da ADRA e ajudar quem precisa”, comprometeu-se Jhony, após o primeiro mutirão de construção da sua casa, no início de abril. Embora a principal proposta do programa seja auxiliar os necessitados, muitos dos voluntários e doadores garantem que os maiores beneficiados são eles. É a velha máxima de que fazer o bem faz bem. “Seja doando algum item ou recurso, seja envolvendo-se diretamente na ação e ofertando seu trabalho ou conhecimento em favor de outra pessoa, uma coisa é certa: engajar-se em causas sociais nos torna pessoas melhores”, afirma o diretor regional da ADRA Brasil, pastor Fábio Salles.

Números do bem

A ADRA Brasil tem 17 parcerias com o poder público capixaba.

Os 658 funcionários da agência no Estado realizam 732 mil atendimentos por ano.

A maioria dos voluntários da ONG é composta de desbravadores e jovens adventistas.

O programa “Alguém Ajudando Alguém” vai ao ar na rádio Novo Tempo de Vitória (95,9 FM), às segundasfeiras, às 9h.

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Saiba +

adra.org.br ajude.alguem@adra.org.br (27) 3246-9100

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Somente os casos de intervenção emergencial é que são direcionados para nosso programa em parceria com a rádio Novo Tempo”, explica Ketheli Monick Kuhl, assistente social da regional da ADRA Brasil.

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Lição de vida

Texto Márcio Gomes Basso Fotos Carl Wilkens

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Carl Wilkens foi o único americano que permaneceu em Ruanda durante o genocídio que matou 800 mil pessoas. Nesse período ele salvou vidas e foi salvo pelos nativos

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UM DOS EPISÓDIOS mais cruéis do século 20, entre tantos, foi o genocídio ocorrido em Ruanda em 1994. Localizado na região dos grandes lagos do centro-leste da África e sem saída para o mar, o país é formado basicamente por duas etnias: hutus e tutsis. O ponto é que a história de desarmonia entre elas vem desde o século 15. E os conflitos étnicos não terminaram nem com a independência do país da dominação, primeiramente alemã, e finalmente belga, em 1962. Em outubro de 1990, quando a nação era governada por hutus, a Frente Patriótica Ruandense (FPR), liderada por exilados tutsis, invadiu a nação pela fronteira com Uganda. Após anos de conflito, um frágil acordo de paz foi firmado em 1993 com a ajuda da ONU. Mas a paz não foi duradoura e, no dia 6 de abril de 1994, aconteceu o pior. O avião em que estavam os presidentes de Ruanda, Juvenal Habyarimana, e do Burundi, Cyprien Ntaryamira, foi derrubado. Extremistas hutus culparam a FPR e os demais tutsis pelo atentado e por outras desgraças do país, e lideraram uma campanha mortal contra todos os tutsis e hutus moderados. 28 |

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De 7 de abril a 4 de julho daquele ano foram mortos 800 mil ruandeses. CARL PERMANECEU Quando começou o massacre, a maioria dos estrangeiros deixou o país. E, de todos os norte-americanos que estavam oficialmente em Ruanda, apenas Carl Wilkens permaneceu. Então diretor da Agência Adventista de Desenvolvimento e Recursos Assistenciais de Ruanda (ADRA), Carl viu sua esposa e três filhos partirem de carro para o Burundi, mas decidiu ficar para salvar a quem pudesse. Conversei por Skype com Carl, que desde 2008 se dedica exclusivamente à ONG que fundou e dirige: World Outside My Shoes (O Mundo Fora dos Meus Sapatos). Mesmo morando em Spokane (Washington), no extremo noroeste dos Estado Unidos, ele viaja o país e o mundo no ideal de inspirar pessoas e treiná-las para combater o genocídio, racismo e a intolerância. Os pilares da ONG são empatia, respeito e inclusão.

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VIDA NA ÁFRICA A relação de Carl com a África começou em 1978, quando foi para Transkei, África do Sul, como parte de um programa de voluntariado da Universidade Adventista de Walla Walla. Em 1981, uma semana após se casar com Teresa e graduar-se em educação industrial, regressou para o continente africano a fim de ser missionário no Zimbábue. Mindy e Lisa, suas primeiras filhas, nascem em Harare, capital do país. Foram quatro anos no Zimbábue e dois na Zâmbia. Carl e a família voltaram para os Estados Unidos, onde o missionário completou um MBA em administração de negócios pela Universidade de Baltimore. Durante os estudos, nasceu o terceiro e último filho do casal: Shaun. Em 1990, os Wilkens retornam para a África, desta vez para Ruanda, onde Carl assumiu o posto de diretor da ADRA no país. A família americana gostou muito de Ruanda e criou relacionamentos sólidos com seus habitantes. Foi isso que salvou Carl da morte quando um bando de hutus tentou tirar-lhe a vida em 1994. “Relacionamento com o Criador e com o próximo salva”, garante Carl, que atribui seu livramento a Deus e a um grupo de mulheres que se interpôs entre ele e os assassinos. Foi o fato de seus filhos terem brincado com as crianças nativas por quatro anos que despertou no povo local simpatia e respeito pela família Wilkens. GENOCÍDIO E INTERVENÇÃO 7 de abril de 1994. Diante da fragilidade da situação política, após a morte do presidente do país, e do ódio latente dos hutus (85% da população) contra os tutsis, o governo norte-americano pede a saída imediata de todos seus cidadãos do país. Isso incluía Carl, então com 36 anos, e sua família. A Igreja Adventista, mantenedora da ADRA, também orientou Carl a deixar o país. Porém, ele ficou. Atitude que inspirou o título de sua autobiografia I’m not leaving (2011). Carl acredita ter salvado cerca de 400 pessoas, especialmente as crianças de um orfanato, por quem intercedeu pessoalmente junto ao então primeiro-ministro Jean Kambanda. Era quase impossível alguém encontrar o favor do líder naquele momento turbulento. Mas, milagrosamente, Carl foi ouvido. Em meio a morteiros e tiros, bloqueio de estradas, soldados furiosos manchados de sangue e civis empunhando facões e armas de fogo, Carl abria caminho e buscava água, comida e remédios para os órfãos aprisionados. Em uma entrevista ao jornal The New York Times, no artigo “Saying No To Killers” (Dizendo não para os Assassinos), Carl afirmou: “Poderia pegar meu passaporte azul e ir embora e,

momentos depois, a babá de meus filhos e meu vigia noturno, ambos identificados como tutsis, seriam massacrados.” Carl estava disposto a morrer com eles e outros de sua etnia. A decisão surpreendeu amigos e familiares, mas principalmente os ruandeses. “Carl não tinha nada a ganhar pelo que fez. Ainda assim nos ofereceu sua vida. Ele é um herói, um verdadeiro herói. Eu não saberia dizer o que ele merece como recompensa”, reconheceu Thomas Kayumba, um colega de trabalho de Carl. É lógico que Carl temeu por sua vida, assim como o profeta bíblico Daniel deve ter temido pela dele ao ser jogado numa cova de leões (Dn 6). Só que na história de Carl tinha mais “leões”, armados e furiosos. Mas ele decidiu ficar. O fato é que sua coragem e solidariedade não foram construídas da noite para o dia. Os valores cristãos que recebeu de pais amorosos, que sempre estiveram prontos a receber amigos, o fortaleceram na hora mais difícil de sua vida. FANTASMAS DE RUANDA Após os cem dias de terror, Carl voltou para os Estados Unidos e ficou de licença por seis meses. Em seguida regressou com a família para Ruanda e por 18 meses ainda ajudou na reconstrução do país. Até que, em 1996, mudouse de vez para os Estados Unidos, onde serviu por 11 anos como pastor, em Oregon. Só que em 2004, o lançamento de Ghosts of Rwanda (Fantasmas de Ruanda), um documentário de quase duas horas produzido pela PBS (TV estatal norte-americana), mudaria para sempre o rumo de sua vida. A visibilidade de sua história fez com que recebesse inúmeros convites para palestras e entrevistas. Foi por isso que em 2008 ele decidiu deixar o ministério para dedicar-se à sua ONG de combate à intolerância. Sorridente, sereno e vibrante, Carl demonstrou inconformismo e pesar em apenas um momento da entrevista. Foi quando mencionou que a maior parte dos cristãos não fez sua parte para conter o massacre. Há relatos inclusive de que muitos colaboraram com o genocídio, seja ativamente ou por omissão. Tristeza e ressentimento semelhantes Carl sentiu pela ONU. Por anos, Wilkens considerou que a Organização das Nações Unidas foi omissa no caso de 1994. Todavia, no último dia 7 de abril, quando discursou por seis minutos na cerimônia de homenagem às vítimas do massacre, na sede da entidade, em Nova York (EUA), Wilkens disse ter perdoado a organização. O homem que teve a coragem de ficar, também conseguiu perdoar. Essa é a mesma atitude que tem ajudado Ruanda a superar rivalidades étnicas que já duram séculos.

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Para saber +

Documentários Memórias Feridas (2007) e Ghosts of Rwanda (2004) Filme Hotel Ruanda (2004) Livro I’m not leaving (2011) 29 |

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Carl fala bastante, é alegre e tem senso de humor. Natural de Takoma Park, Maryland, foi um aluno inquieto e bagunceiro. Contudo, sua coragem não surpreendeu uma professora que, depois de muitos anos, disse-lhe que sempre esperou coisas muito boas dele, porque foi um estudante que “não suportava injustiças”.

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Aprenda

Texto Mayra Marques Foto © wayne_0216 | Fotolia Designer Milena Ribeiro

Como se preparar para o novo Enem NESTE ANO, O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) será aplicado em dois domingos seguidos, 5 e 12 de novembro, mudança importante para os sabatistas, que não mais enfrentarão o desgaste do confinamento. Outra alteração é a inversão na aplicação das provas. No primeiro dia, os candidatos farão a prova de Ciências Humanas e Linguagens, além da Redação. No segundo dia, será a vez da prova de Ciências da Natureza e Matemática. A nova distribuição de conteúdos tende a facilitar a organização do tempo de prova, mas ninguém deve vacilar na preparação para o exame.

CONTROLE AS EMOÇÕES

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Lidar com a ansiedade é um dos pontos mais importantes do preparo. Para tanto, mantenha um ritmo de descanso, com pelo menos oito horas diárias de sono. Dedique também tempo para atividades relaxantes em cada turno de estudo, como ir à academia, fazer caminhada ou ouvir música por uma hora.

MANTENHA O FOCO

Na semana de intervalo entre uma prova e outra, não perca o foco. Se você não se preparou ao longo do ano, não vai conseguir recuperar o tempo perdido em sete dias. Porém, o caminho é investir esse período na resolução de exercícios relacionados aos conteúdos em que tem mais dificuldade, esclarecer dúvidas pontuais e rever questões que são recorrentes no Enem.

ORGANIZE-SE

Acima de tudo, planeje-se para o exame. Isso significa muito mais do que fazer a inscrição e aguardar os dias de provas. Não deixe de estudar, pois não existem fórmulas milagrosas. Organize seu tempo para obter resultados mais significativos nos estudos. E reserve dinheiro, caso precise viajar para outra cidade a fim de realizar a prova.

CUIDE COM A REDAÇÃO

Para treinar, faça redações cronometrando o tempo. A redação exige um tempo maior de preparação, pois na prova você precisará ler atentamente a coletânea de textos, elaborar sua tese, organizar suas ideias, rascunhar e, por fim, redigir o texto. O ideal é gastar no máximo uma hora e meia em todo esse processo. Também leia muitas revistas e jornais, assista alguns documentários sobre tendências e temas polêmicos, mantendo-se inteirado em diversos assuntos.

TREINE SUA CONCENTRAÇÃO

Fazer simulados é indispensável para aprimorar sua concentração na resposta aos exercícios. Durante a preparação para o exame, alterne exercícios, leitura e escrita, valorizando os conteúdos que serão exigidos em cada dia do exame. E, na semana entre as provas, não exagere em nada, seja nos estudos, nas atividades físicas ou na alimentação.

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Fontes: Kátia Nones Herédia, coordenadora pedagógica de uma franquia educacional no Estado de São Paulo; Jean Wiesel, professor em cursos pré-vestibulares da região de Campinas (SP); “Entenda todas as mudanças do Enem 2017”, no site Guia do Estudante (http://abr.ai/2p9Eo9j).

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Como ler, compreender e produzir sentidos Fascículos anuais preparatórios para as redações dos principais programas de ingresso às universidades

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