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Frigoríficos e abatedouros

Abate técnico prova

potencial do gado Nelore selecionado a pasto Fonte: Pec Press® - Comunicação Estratégica

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Com o passar dos anos, a seleção genética da raça responsável por tornar o Brasil líder mundial na exportação de carne bovina passou por várias nuances, muitas delas causadas por viés mercadológico

C o m o p a s s a r d o s a n o s , a s e l e ç ã o g e n é t i c a d a r a ç a r e s p o n s á v e l p o r t o r n a r o Brasil líder mundial na ex- p o r t a ç ã o d e c a r n e b o v i n a p a s s o u p o r v á r i a s n u a n c e s , m u i t a s d e l a s c a u s a d a s p o r viés mercadológico.

Ta l r u m o c u l m i n o u h o j e e m a n i m a i s v o l t a d o s p a r a d i f e r e n t e s p r o p ó s i t o s , o q u e , n a v i s ã o d e L e o n e l , v a i c o n t r a a n a t u r e z a d a r a ç a . N e s s e c o n t e x t o , u m a b a t e técnico realizado em Aná- polis, no interior de Goi- á s , r e a f i r m o u a p r e m i s s a d o c r i a d o r q u e é d i r e t o r d o Grupo Adir.

Exatos 16 bezerros Ne- l o r e p u r o s , c o m a p e n a s 1 5 m e s e s d e i d a d e , f i l h o s d e t o u r o s c o m g e n é t i c a A d i r p e r t e c e n t e s a c l i e n t e s d o t r a d i c i o n a l c r i a t ó r i o , f o r a m a d q u i r i d o s a l e a t o r i a m e n t e p a r a p a r t i c i p a r d e m a i s u m a e t a p a d o p r o j e t o d e a b a t e técnico por touro, uma ini- c i a t i v a l a n ç a d a p e l o G r u p o em meados de 2014.

Os animais superpreco- c e s s ã o f i l h o s d e t o u r o s s e l e c i o n a d o s n a F a z e n d a B a r r e i r o G r a n d e , e m N o v a C r i x á s , t a m b é m e m G o i á s , onde são alimentados ape- nas com pastagem e sal mi- neral. Na região, a tempera- t u r a f a c i l m e n t e a t i n g e 4 0 º à sombra.

Após a desmama, os be- zerros seguiram diretamen- te para o cocho, onde rece- b e r a m u m a d i e t a i n t e n s i v a c o m s i l a g e m d e c a p i m p o r 6 0 d i a s , m a i s 6 0 d i a s c o m s i l a g e m d e s o r g o e 9 0 d i a s c o m s i l a g e m d e m i l h o , a l é m de ração.

“ Q u i s e m o s m e d i r t o d o o p o t e n c i a l d a G e n é t i c a A d i r , que vem se provando efi- c a z e m q u a l q u e r s i t u a ç ã o . O abate desses bezerros Ne- l o r e s p u r o s é a l g o ú n i c o n o P a í s ”, a p o n t a L e o n e l .

Segundo o criador, a ge- n é t i c a q u e p r o d u z i u e s t e s b e z e r r o s a t e n d e a p r o d u ç ã o d e c a r n e e m q u a l q u e r l u g a r . “Esse é um trabalho que co- l o c a o B r a s i l n o c e n t r o d o m u n d o”, a v a l i a .

Coordenou o abate, surp r e s o c o m o s r e s u l t a d o s , o p r o f e s s o r S é r g i o P f l a n z e r , c a t e d r á t i c o d a F a c u l d a d e d e E n g e n h a r i a d e A l i m e n t o s d a U n i c a m p ( C a m p i n a s / S P ) , r e s p o n s á v e l p e l o p r o j e t o d e abate técnico por touro.

“Uma coisa bem interes- s a n t e q u e a g e n t e o b s e r v o u foi o desenvolvimento mus- cular dos animais, uma ca- r a c t e r í s t i c a a s s o c i a d a a o r e n d i m e n t o d e d e s o s s a . E l e e s t a v a m a i s d e s e n v o l v i d o d o q u e o n o r m a l p a r a e s t a i d a d e”, a v a l i a .

Os jovens animais apre- s e n t a r a m Á r e a d e O l h o d e L o m b o ( A O L ) d e 7 4 c m ² , o que, segundo Pflanzer, le- v o u a u m a p r o v e i t a m e n t o d e 8 0 % d a p o r ç ã o c o m e s t í v e l , a l é m d e p r o p o r c i o n a r u m r e n d i m e n t o d e c a r c a ç a d e 57,6%, “acima da média na- c i o n a l ”, i n f o r m a .

E m r e l a ç ã o à e s p e s s u r a d e g o r d u r a s u b c u t â n e a ( E G S ) , o u t r o i n d i c a d o r i m p o r t a n t e n a p e c u á r i a d e c o r t e , 5 0 % do lote oscilou entre os ní- v e i s e s c a s s o e m e d i a n o ( 1 a 3 m m ) e 5 0 % e n t r e m e d i a n o a uniforme (4 a 6mm).

“O acabamento de gord u r a a c r e d i t o q u e f i c o u u m p o u c o d e f i c i t á r i o , m a s , p o r se tratar de animais zebuí- nos muito jovens e não cas- t r a d o s , p o d e m o s d i z e r q u e f o i u m n í v e l b o m”, e s c l a r e c e o professor.

C o m u m t e m p o m a i o r d e a l i m e n t a ç ã o i n t e n s i v a n o confinamento ou se tives- s e m p a s s a d o p e l o p e r í o d o de recria a pasto seria pos- s í v e l a b a t ê - l o s m a i s p e s a d o s e c o m m a i o r d e p o s i ç ã o d e gordura subcutânea, con- forme explica o professor.

Grupo Adir fecha parce- ria com Frigoiás

R o d r i g o E l i a s d a S i l v a , dono do frigorífico Frigoi- á s , t a m b é m a c o m p a n h o u o abate técnico e ficou vis- l u m b r a d o c o m o d e s f e c h o a t a l p o n t o q u e e s t á f i r m a n d o parceria com o Grupo Adir. O acordo prevê o paga- m e n t o d e u m a p r e m i a ç ã o p a r a m a c h o s e f ê m e a s q u e tiverem Genética Adir. Cha- mou a atenção do empresá- r i o a p r e c o c i d a d e d e a b a t e e o peso de carcaça apresen- tados.

“ E m n o s s o p r o g r a m a d e qualidade de carne, o Pre- dillecta, bonificamos os pe- c u a r i s t a s q u e f o r n e c e r e m a n i m a i s d e a t é 3 0 m e s e s c o m p e s o d e c a r c a ç a d e 2 0 0 k g ( 1 3 , 3 3 @ ) e o s b e z e r r o s c o m G e n é t i c a A d i r p e s a r a m 2 8 0 k g ( 1 8 , 6 6 @ ) ”, c o n s t a t a R o- d r i g o E l i a s . P o r e n q u a n t o , a m a r c a P r e d i l l e c t a b o n i f i c a apenas fêmeas Nelore.

O trabalho de abate téc- n i c o p o r t o u r o , ú n i c o n o País, já provou os reprodu- t o r e s J i a n d u t F I V ( l i n h a g e m Golias), OPUS FIV do Bru- mado (linhagem Jeru), Na- m a n F I V d a 2 L ( l i n h a g e m V i s u a l ) , J a l l a d F I V d a 2 L ( G o l i a s ) e P a l l u k P O I F I V d a 2 L , t a m b é m d e l i n h a g e m Golias.

A t é o m o m e n t o , a l é m d o s bezerros, abateram-se novi- l h o s N e l o r e c o m p e s o m é d i o de 20@, rendimento de carcaça entre 57 e 59% e espes- s u r a d e g o r d u r a s u b c u t â n e a d e 4 a 6 m m , s u f i c i e n t e s para os credenciar a qual- q u e r p r o g r a m a d e q u a l i d a d e de carne bovina.

BOVINOS DE LEITE Quando se fale em qualidade de

produção leiteira, elas precisam ser mais ouvidas

Nesta última década, a internet mudou a vida e a gestão

dos negócios, transformou as relações econômicas e

Nesta última década, a internet mudou a vida e a gestão dos negócios, transformou as relações econômicas e sociais e diminui as distâncias entre as pessoas. De fato, tornou-se a mídia de comunicação mais popular. Estar fora da rede é quase não estar no Planeta Terra.

Pode-se afirmar que, após a era da imprensa, a rádio e a televisão revolucionaram o compartilhamento de informações, mas, de modo geral, eram um caminho de mão única, apenas se transmitiam. Já a rede mundial permite receber e transmitir. Isto criou um ambiente que alterou profundamente a comunicação entre os indivíduos, tornando possível consolidar novos laços sociais, incentivar novos comportamentos e estabelecer comunidades específicas.

O acesso à internet também tem crescido, muitos que achavam que nunca entrariam numa rede social, por exemplo, sentiam-se excluídos e até pessoas com pouquíssima afinidade com informática encararam os smartphones, afinal precisam estar no planeta.

Este cenário também se consolidou no meio rural. Há grupos de trocas de mensagens que são o maior meio de comunicação entre muitos moradores do campo. É um olho na lida e outro no celular. Pode ser tratando os suínos ou selecionando as variedades para serem plantadas. Uma dúvida em uma dosagem vira uma mensagem no grupo, ou uma linda bezerra, que nasceu com uma estrela no chanfro, vira uma postagem super comentada e elogiada.

E elas também resolveram se unir. Pode se afirmar que há um movimento, ainda não tão ruidoso, de diversas mulheres que atuam no agronegócio interagindo fortemente. Como também sou uma pessoa muito “plugada”, faço parte de alguns grupos e participo nas redes sociais, queria saber mais sobre este fenômeno. Algo que havia percebido: elas estão cada vez mais conscientes de seus papéis e querem ser representadas e ouvidas.

Para que eu pudesse colher alguns destes depoimentos que leio, criei um formulário e solicitei que preenchessem. Foquei nas mulheres que atuam na pecuária leiteira, área a qual estou muito próxima. Para minha surpresa, mais de uma centena destas mulheres respondeu. Tive respostas de meninas de 15 a senhoras de 54 anos. Todas bem informadas e buscando o melhor da vida no campo.

Os depoimentos são intensos e demonstram que elas gostam do trabalho na pecuária, por permitir uma vida mais saudável e um maior contato com os filhos. Muitas afirmaram que a rentabilidade no campo é maior do que se estivessem numa atividade na cidade. Sentem-se felizes por trabalhar no campo e o amor aos animais também é muisociais e diminui as distâncias entre as pessoas Fonte: CCAS

to citado.

Estas mulheres estão conectadas, preocupadas com o valor do seu produto e exibem orgulhosas os resultados laboratoriais do leite. Elas citam o leite 4.0, querem inovações e buscam conhecimento e aprimoramento de técnicas para melhorar o bem-estar animal e a produtividade. Entre as respondentes, Maiara Lohmann Neuberger, produtora do Rio Grande do Sul, que está numa propriedade com 100% mão de obra familiar, buscou ficar no campo para trabalhar e conseguir conciliar os cuidados da filha. Mas, não deixou de investir em conhecimento, está fazendo uma pós- -graduação e quer mais tecnologia no campo.

Nascida em Ijuí, Jaqueline Paim Ceretta, filha única, teve oportunidade e se formou em Química. Estava trabalhando em indústria Láctea no setor de Qualidade. Mas, apesar da experiência não estava satisfeita. Assim, resolveu voltar para a propriedade para trabalhar com os pais. Ela desafiou a tradição da região, onde o sucessor é sempre um filho homem. Além disto, a propriedade tinha pouco mais de 15 animais, uma conta bancária no vermelho e a produção próxima a 180 litros dia. Superando os preconceitos e até o descrédito dos pais, Jaqueline arregaçou as mangas e viu que estava no caminho certo quando seu pai a questionou se havia se esquecido de pagar boletos, pois, estava sobrando dinheiro na conta corrente. Neste momento, sentiu a consolidação de uma equipe muito especial: pai, mãe e filha. Passados menos que cinco anos, a Agropecuária Ceretta tem 43 animais no total, produz quase 800 litros de leite por dia, e pode exibir resultados de CPP e CCS baixos, com sólidos altos e excelente média de produção. Jaqu

eline se encontrou na profissão, hoje é um modelo na região.

Rosemary de Best Aplewicz tinha formação em psicologia, mas não estava atuando na área quando seu pai anunciou que iria parar de produzir leite. Ela repensou e resolveu assumir a propriedade. “Sempre digo que foi como uma luz que veio à minha mente, quando eu estava indo me deitar, logo após colocar minha filha no berço, pensei: por que não eu?”, cita Rosemary. Muitas mulheres já assumiram este protagonismo e sim, por que não elas? Para esta produtora, a atividade não é uma simples “leiteria”, mas sim, uma pequena empresa na qual pode ter qualidade de vida, proporcionar isto aos filhos e pode ajudar outras famílias, oferecendo trabalho e a vivência do dia a dia. Elas pensam muito além da receita do cheque do leite. Após finalizar a faculdade de educação física, Karen Viana, filha de produtores de leite e que cresceu ajudando a ordenhar e a tratar os animais, viu-se desafiada quando se deparou com uma vaca com problema de casco, que tinha sido descartada. Após conseguir cuidar do animal, sob promessa que se conseguisse iria prosseguir na atividade, ela e o namorado iniciaram a produção. Dos dez litros diários do início, hoje produzem 600. Mas o plano, para o curto prazo, é dobrar este volume. Para Karen, a produção de alimentos é uma das mais lindas profissões, ela sente orgulho e motivação em fazer parte da população que sustenta e alimenta uma nação.

Lariane Bombo, nascida em São Paulo com formação técnica em metalurgia, após o casamento e mudança para o Paraná, encarou o desafio de trabalhar com leite. Sem afinidade com o tema, fez cursos e se aprimorou. Hoje se diz realizada, é seu próprio chefe, mas reforça que as vacas são as patroas. E elas retribuem a dedicação com uma produção boa. Caso os resultados não sejam os esperados, ela procura relatórios para entender o que aconteceu. Comemora cada bezerra nascida. Para Lariane, a vida no campo proporciona muita tranquilidade. Mas, gostaria de mais facilidade para investimentos em tecnologias e reconhece que a internet ajuda a encontrar novas alternativas para a pecuária leiteira.

Muitas citaram o casamento como o momento que encararam a produção de leite. Este é o caso de Eliziane Basi, que após o matrimônio saiu da cidade e foi para o campo. Hoje se sente muito feliz em acompanhar o nascimento de uma bezerra saudável no seu plantel, fruto de todo um trabalho. Mas ainda cita muito preconceito por ser mulher, pois, para ela ainda há um estigma de que as mulheres não possuem capacidade para a atividade. Algo que todas demonstraram é a utilização de redes sociais; o Facebook é a preferida. Isto é fácil de verificar pelos grupos e páginas de Mulheres do Agro que contam com milhares de curtidas e membros. A página “Agro Mulher Brasil” coleciona mais de 70 mil seguidoras e o grupo “Mulheres do Agro” outros milhares de membros. Elas interagem e sentem prazer em postar fotos das atividades de trabalho. O WhatsApp também é utilizado e o Instagram tem crescido, especialmente entre as mais jovens.

Resposta referente ao questionamento do uso de redes sociais.

Como elas são plugadas, a grande maioria acredita que aplicativos e plataformas digitais são importantes na pecuária.

Respostas sobre vantagens de utilizar plataformas digitais na pecuária de leite.

A forma de se comunicar com estas mulheres foi pela internet, assim, era esperado que elas respondessem mais facilidade em acessar a rede. Quando questionado se há acesso fácil da propriedade, menos de 5% responderam que não.

Segundo pesquisa do IBGE, dados de 2016 e 2017, os últimos que estão disponíveis, o acesso no campo ainda é menor. Em média, só 39%. No entanto, as mulheres são as que mais utilizam, quase 42% delas acessam a rede. E estes dados já devem ter aumentando.

Porcentagem de acesso à internet pela população.

Os dados do IBGE, da pesquisa de 2016 a 2017, demonstram que há uma diferença de acesso conforme a região do Brasil, assim como, ainda há menos acesso no campo que na cidade.

Por Roberta Züge; Diretora Administrativa do Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS); Diretora de Inteligência Científica Milk.Wiki; Médica Veterinária Doutora pela Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (FMVZ/USP); Sócia da Ceres Qualidade

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