Para onde ela foi gayle forman (2)

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Um olhar de confusão passa pelo rosto dela, seguido por espanto. — Ele é o meu mentor, Adam. Meu amigo. Ele é casado. — Ela olha para baixo por um momento. Quando seu olhar volta, seu espanto endureceu em defensiva. — Além do mais, por que se importa? Volte para seu fantasma, escuto Bryn me dizer. Mas ela estava errada. É Bryn quem vivia com um fantasma — o espectro de um homem que nunca parou de amar outra. — Nunca haveria uma Bryn se você não tivesse decidido que precisava me odiar. Mia leva essa direto no queixo. — Eu não te odeio. Acho que nunca odiei. Só havia essa raiva. E, quando eu a encarei, entendi, ela se dissipou. — Ela olha para baixo, respira fundo e solta um tornado. — Sei que devo algum tipo de desculpa a você; tentei colocar para fora a noite toda, mas é que palavras, desculpa, sinto muito, são mesquinhas para o que você merece. — Ela balança a cabeça. — Sei que o que eu fiz foi errado, mas naquela época também pareceu necessário para a minha sobrevivência. Não sei se essas coisas podem ser verdade, mas foi assim que aconteceu. Se há algum conforto, depois de um tempo, quando não pareceu mais necessário, pareceu enormemente errado, só me sobrou o peso do meu erro, da saudade de você. E eu tive de observá-lo de longe, vê-lo atingir seus sonhos, com o que parecia ser a vida perfeita. — Não é perfeita. — Entendo isso agora, mas como eu poderia saber? Você estava tão, tão distante de mim. E eu aceitei isso. Aceitei meu castigo pelo que fiz. Então... — ela se interrompe. — O quê? Ela inspira o ar e faz uma careta. — Então, Adam Wilde aparece no Carnegie Hall na maior noite da minha carreira, e parece mais do que uma coincidência. Parece um presente. Deles. Para meu primeiro recital na vida, eles me deram um violoncelo. E, para este, me deram você. Todo o meu corpo se arrepia. Ela rapidamente limpa as lágrimas com as costas da mão e respira fundo. — Aqui, vai pegar essa coisa ou o quê? Eu não a afino há um tempo. Eu costumava ter sonhos como esse. Mia de volta dos não mortos, na minha frente, viva para mim. Mas ficou tão normal nos sonhos que eu sabia que era irreal e até podia antecipar o toque do meu alarme, então estou ouvindo agora, esperando o alarme desligar. Mas não desliga. E, quando fecho os dedos na guitarra, a madeira e as cordas são sólidas e me puxam para a terra. Elas me acordam. E ela ainda está lá. E está olhando para mim, minha guitarra, e o seu violoncelo e o relógio no peitoril da janela. E vejo o que ela quer, e é a mesma coisa que quero há anos agora, mas não consigo acreditar que, depois de todo esse tempo, e agora que estamos sem tempo, ela está pedindo. Ainda assim, dou um pequeno aceno. Ela liga a guitarra, me joga a corda e liga o amplificador. — Pode me dar um lá? — eu pergunto. Mia toca o lá em seu violoncelo. O acorde ecoa nas paredes, sinto uma descarga de eletricidade subindo pela minha espinha de uma forma que não


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