O Elogio da Política: práxis e autonomia no pensamento de Cornelius Castoriadis - Tatiana Rotolo

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Isso é capital para compreender a estruturação psíquica, senão percebe-se apenas o aspecto “negativo” desta, isto é, o recalque, o que é recusado ou retirado do sujeito, quando é preciso ver também o aspecto “positivo”: a sociedade lhe “dá” sentido, traz com suas significações a construção do sentido que satisfaz a necessidade imperiosa da psique. Sem isso não funcionaria18.

Em outras palavras, o ser humano, para nosso autor, é ao mesmo tempo criador e criatura. Ele concebe um mundo e também é coformado por ele. Ora, esse mundo coletivo, advindo do diversos processos de coletivização da psique, é o mundo instituído. Ele não é apenas obra do inconsciente, que abandonado por si só, não é capaz de conceber nada. Ou seja, o mundo instituído, do qual pertencem todas as significações (linguagem, normas, significações, costumes, valores, etc.) possui uma dupla acepção: é produto da nossa imaginação e é ao mesmo tempo responsável por nos impor os limites necessários à nossa socialização. Com isso, Castoriadis quer dizer que: nem o mundo e nem o indivíduo sozinho são responsáveis pela instituição do sujeito. É um misto amalgamado entre os dois. Desta forma, podemos perceber que para nosso autor, o sujeito não é nem independente das inteirações sociais, muito menos, completamente dissolvido por elas. O que faz a sociedade é fornecer um sentido à psique. Este sentido não possui uma acepção negativa, ao contrário, sem as inteirações sociais a mônada-psíquica permaneceria no eterno auto-gozo, processo que incorre, no fim das contas, à destruição de si mesma. Além disso, este sentido não deve ser compreendido como um sentido determinado. Há o elemento imaginário que atua na psique, como seu principal motor. Este elemento dá ao sujeito, assim como à história da humanidade, uma criatividade intrínseca. Esta capacidade criativa, que subjaz a psique, fornece também aos sujeitos o que nosso autor denomina de “subjetividade reflexiva deliberante”, ou seja, uma capacidade que é reflexiva, democrática e caminha na direção 18

Idem, p. 345.


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