Trabalho e gênese do ser social na "Ontologia" de György Lukács

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Trabalho e Gênese do Ser Social na “Ontologia” de György Lukács ︱Ronaldo Vielmi Fortes

em que o espelhamento enquanto “premissa decisiva para o pôr de séries causais” apresenta-se como princípio e fundamento preponderante da possibilidade efetiva de transformar a natureza. Nesse contexto, a última frase que compõe esta passagem acima citada é decisiva para a compreensão do entendimento lukacsiano desse problema: “a consciência que espelha a realidade adquire certo caráter de possibilidade”. A autonomização da imagem é um pressuposto necessário para que a consciência possa apoderar-se do objeto, dos atributos e potencialidades latentes, existentes-em-si, e desse modo transformar os elementos naturais em conformidade com suas necessidades. É precisamente essa forma peculiar de representação dos atributos dos objetos na consciência que é determinada como o componente primordial para a produção das formas de objetividade sociais, é através dela que a possibilidade latente existente no elemento natural é conduzida, mediante o trabalho, para a esfera da realidade. Aos argumentos sobre dinâmica das transformações da natureza que surgem com o advento do ser social pode ser acrescentada uma longa referência presente no texto de Lukács à Metafísica de Aristóteles, onde nosso autor enfatiza o conceito de dynamis estabelecido pelo filósofo grego. Segundo Lukács, Aristóteles enfrenta esta questão com precisão ao tratar da categoria da dynamis como o princípio efetivador, mediador necessário da passagem da potência ao ato. Para o pensador grego, a dynamis é o “princípio, em geral, do movimento ou da mudança que pode residir tanto em outro ser quanto no próprio ser enquanto tal. É também a faculdade de ser transformado ou movido por outro ser, ou por si mesmo” (Aristóteles, 1991, p. 191). Em outras palavras a potência é, ao mesmo tempo, o princípio do movimento que pode ser tanto uma condição extrínseca ou intrínseca de transformação de um dado ente. Nesse primeiro sentido a dynamis é definida como “a faculdade de conduzir a um bom fim uma dada coisa e de realizá-la segundo a própria intenção” (apud Lukács, 2013, p. 41). O segundo sentido corresponde à capacidade de um dado ser sofrer determinadas transformações em conformidade com a sua estrutura interna. Desse 95


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