Projeto e revolução: Do fetichismo à gestão, uma crítica à teoria do design

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carnava o “sofrimento universal”. Até aquele momento o autor ainda não havia desenvolvido plenamente a Teoria do Valor, ao não ter alcançado o conceito de mais-valia, que demarca a problemática da exploração em suas obras de maturidade. A obra de referência acerca da teoria das carências, em Marx (2004), são os Manuscritos Econômico-Filosóficos, onde o tema foi desenvolvido em maior profundidade, tendo influenciado várias gerações de teóricos do século XX18. Como afirma Ranieri (2004, p. 17), naquele momento Marx insiste em estabelecer, “[...] a partir de uma exposição das carências humanas, a insuficiência da reflexão teórica da economia política sobre o trabalho humano, elemento este que, para ela, não passa de mais um componente da produção”. Um ponto de partida para esta discussão é a própria distinção semântica entre os termos Bedürfnis e Notwendigkeit utilizados por Marx, que tem levado diferentes caminhos para sua tradução. Existe um amplo debate no interior do marxismo sobre qual o termo mais adequado para designar esse processo descrito por Marx (2004): alie­nação (Entäusserung), ou estranhamento (Entfremdung), ambos utilizados pelo autor alemão. Ranieri (2004) defende a necessidade de demarcar, com maior precisão, as divergências e complementaridades destes termos. Para os objetivos desta tese, não cabendo aqui um aprofundamento sobre esta questão, utilizaremos a categoria estranhamento tal como interpretada por este último, que afirma que “[...] se estruturam em Marx, graças à descoberta da contradição interna da propriedade privada, todos os desdobramentos do estranhamento do trabalho [...] sob o pressuposto do trabalho subordinado ao capi  Fraga (2006) afirma que as necessidades constituíram os “móbeis críticos” para a crítica dos dois polos em que se dividiu o Mundo no pós-II Guerra, durante a Guerra Fria, o bloco capitalista, e o chamado “socialismo real”. No primeiro caso, o autor aponta as relações entre marxismo e psicanálise realizadas por autores como Marcuse, Reich, Fromm, entre outros ligados à Escola de Frankfurt, os quais, “mergulhando as necessidades na análise da cultura, realizaram a crítica da longevidade da dominação capitalista pela denúncia da introjeção repressiva de ‘falsas necessidades’ nos indivíduos” (2006, p. 18). A crítica ao “bloco soviético” pela perspectiva da “ditadura sobre as necessidades” foi elaborada pela Escola de Budapeste (Heller, Fehér, entre outros). No entanto, estas provavelmente são as análises mais frágeis sobre a natureza social da URSS, justamente por não abordarem o problema do capitalismo de Estado. 18


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