Projeto e revolução: Do fetichismo à gestão, uma crítica à teoria do design

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iraldo matias

classe capitalista” (itálico no original). Com isso, o filósofo húngaro utiliza um critério jurídico para definir o modo de produção capitalis­ ta, a forma de propriedade. Neste raciocínio, a estatização dos meios de produção descaracteriza o capitalismo enquanto tal. Não surpreen­ de que o autor não enxergue na sociedade “pós-revolucionária” sovi­ ética, nem capitalismo de Estado, tampouco uma nova classe social exploradora (por mecanismos econômicos), mesmo reconhecendo a exploração como um fato. Por outro lado, como afirma Bernardo (1975, p. 158), para que haja capitalismo, não basta que não se constitua o comunismo e que os gestores da produção sejam autóno­ mos; é necessário que desenvolvam a sua autonomia trans­ formando-se em gestores do próprio processo social e – nes­ te caso através desse mesmo controle do aparelho político – em proprietários dos meios de produção e exploradores do trabalho assalariado.

A tese do capitalismo de Estado soviético apresenta diversas li­ nhas de análise internas, como a dos “comunistas de conselhos”, tais como Pannekoek (2004), Korsch, Gorter, Mattick (2010), entre ou­ tros; a dos maoístas franceses, que tem a obra de Bettelheim (1976, 1983) como marco; e anarquistas como Rocker (2007) que, em 1921 numa obra pioneira, já denunciava a degeneração capitalista-estatal da Revolução Russa. Muitos outros autores compartilham essa caracteri­ zação da URSS, nos mais variados matizes teóricos dentro do campo comunista, como Cornelius Castoriadis, Raya Dunayevskaya, Mau­ rice Brinton (1975) e João Bernardo (1975, 2009), apenas para citar alguns.26 Metodologicamente, Bernardo (1975, p. 141) afirma a importân­ cia de se “estudar o processo inaugurador da revolução para só depois, em função dele, estudar o processo da própria revolução”. Esta in­ vestigação deve ocorrer não no nível de desenvolvimento das forças produtivas, mas sobre a   Para uma abrangente revisão das diferentes abordagens, no interior do marxismo, sobre a natureza das relações sociais na URSS, ver Linden (2007). 26


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