Karl Korsch: crítico marxista do marxismo

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Karl Korsch: Crítico Marxista do Marxismo︱José Carlos Mendonça

Por apresentar um delineamento mais preciso da dimensão política dos conselhos, o texto Grundsätzliches über Sozialisierung (Aspectos fundamentais sobre a socialização) pode ser considerado o mais importante desse período 1919-1920. Demarcando-se do socialismo acadêmico ao estilo de Wilbrandt e Heimann 12, que concebiam a socialização co e esclarecedor – pela perspectiva das lutas sociais e de classe adotada neste trabalho – pode ser descrito como se segue. As formas anteriores de gestão taylorista promoviam concentrações físicas de proletários em imensas unidades fabris e buscavam explorar unicamente a sua força muscular. Foi a resposta encontrada pelos capitalistas no início do séc. XX para submeter a milhões de camponeses em todo o mundo às formas de assalariamento, objetivando: A) possibilitar extração de mais-valia; B) destruir o saber operário e C) liquidar as formas econômicas pré-capitalistas. Com o tempo, o proletariado percebeu que o taylorismo propiciava: A) facilidade de mobilização política dos trabalhadores; B) o conhecimento das formas de controle dos seus movimentos e consequentemente da capacidade de controlar os ritmos que lhes eram impostos. Com isso passaram a se utilizar destas armas contra o próprio sistema taylorista/fordista. Em função desta tomada de consciência, o mundo irá conhecer durante as décadas de 1960/70 lutas de grande envergadura contra a disciplina reinante nas empresas em vários pontos do planeta: EUA (luta dos negros e trabalhadores); Leste da Europa (Hungria, Tchecoslováquia e Polônia); França (maio de 1968, que revelou a transformação da universidade de elite para universidade de massas) e China (Revolução Cultural). Estas lutas serão as principais responsáveis pela grande crise econômica de 1974 (tratada superficialmente por muitos como sendo uma “crise do petróleo”). Na verdade, o aparecimento do sistema toyotista de gestão da produção foi o resultado de uma dupla tomada de consciência por parte dos capitalistas: por um lado era preciso explorar a componente intelectual do trabalho e, por outro, era necessário fragmentar ou até mesmo dispersar os trabalhadores. As atuais formas de gestão são caracterizadas por conseguirem: A) articular meios de trabalho com meios de fiscalização, via microeletrônica, e B) expandirem-se para fora das unidades de produção atingindo a sociedade em geral por meio da conjugação entre meios de fiscalização com meios de lazer, o que resulta na intensificação do controle e da exploração sobre o proletariado mundial. Entende-se assim porque a opressão política é agravada pelo desenvolvimento da exploração econômica. E também porque não se pode neutralizar a tecnologia, a gestão e a organização do trabalho, a maquinaria com o argumento pretensamente “crítico” de que o problema destas reside no uso que os capitalistas lhes dão, fazendo supor que a tecnologia em si poderia ser usada para outros fins. As forças produtivas (FP) não são neutras. E as FP capitalistas não constituem um amontoado de técnicas fragmentárias e reciprocamente isoladas, mas uma estrutura coerente que reproduz e realiza a estrutura do Modo de Produção. Para maiores aprofundamentos consultar Bernardo (2004). Eduard Magnus Mortier Heimann (1889-1967) economista e cientista social alemão. Secretário da Comissão para a Socialização em 1919. Em abril deste ano escreveu Die Sozialisierung (A Socialização) para o Archiv für Sozialwissenchaft Sozialpolitik (Arquivo para as Ciências Sociais e Política Social) como contribuição aos problemas econômicos do socialismo no contexto da Revolução de novembro de 1918. Neste trabalho polemiza com Korsch em vários aspectos, dentre eles o de que os conselhos seriam in12

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