Sobre alguns temas em Walter Benjamin

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Alexandre Kuciak

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Essa “dinâmica” benjaminiana se exemplificará no decorrer deste capítulo. Ao verificarmos as menções do romance policial em suas obras, excetuando um artigo de 1930 intitulado “Kriminalromane, auf Reisen”, nenhum texto seu foi dedicado exclusivamente ao tema. Benjamin utilizava o gênero, e suas categorias, para pensar Edgar Allan Poe, Charles Baudelaire, o flâneur, os interiores burgueses, a fotografia. E nesses textos, a categoria de Spur estava sempre presente. Buscamos, assim, neste trabalho, investigar a relação do conceito Spur com o romance policial em Walter Benjamin, a fim de esclarecer melhor como o autor apreendeu e utilizou o conceito. Como Benjamin especifica a relação de Spur com o conceito de aura, nossas investigações também se darão sobre esse ponto. “O detetive pode ser analisado como uma figura coerente e consistente no trabalho de Benjamin, mesmo que esta unidade seja resultado de uma interpretação a posteriori de um comentador6” (SALZANI, 2007, p. 168). Apresentaremos esses momentos em que Benjamin analisa a figura do detetive em sua obra tentando dar ao romance policial um significado dentro do projeto teórico do autor.

O LEITOR DE ROMANCES POLICIAIS Em 1930, Benjamin publicou na revista literária Literaturblatt der Frankfurter Zeitung, um pequeno texto intitulado Kriminalromane, auf Reisen (em tradução livre, “Romance policial, em viagem” ou “Romances policiais, na viagem”, na tradução da editora Brasiliense). Nesse texto, Benjamin parte da observação de que as pessoas preferem comprar livros novos antes de viajar de trem. Há uma desconfiança em relação às obras já conhecidas. Segundo Benjamin, comprar um livro novo é uma espécie de “culto”7 conhecido por todos, que “agrada ao deus das estradas de ferro” (BENJAMIN, 2011, p. 34). Benjamin se refere a esse culto como um “sentimento obscuro”, cuja origem estaria no imaginário das pessoas. A suntuosidade das estações de trem provocaria o aparecimento de figuras grandiosas em sonhos: o “deus das caldeiras”, as “ninfas do vapor” e do “demônio que é o senhor de todas as canções de ninar” (BENJAMIN, 2011, p. 34). Nesses mesmos sonhos estão os perigos que as viagens de trem oferecem, durante o tempo em que o indivíduo está na cabine, durante a espera no saguão: “a solidão “Nevertheless, the detective can be analyzed as a coherent and consistent figure in Benjamin’s work, even though its fictitious cohesiveness and unity result from the work a posteriori of the commentator.” 7 No ensaio O Capitalismo como Religião, Benjamin diz: “(...) o capitalismo serve essencialmente à satisfação das mesmas preocupações, tormentos e inquietudes aos quais outrora davam resposta as chamadas religiões (BENJAMIN, 2011b, p. 1).” 6


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