Ensino e profissão docente - Edição Comemorativa aos 25 anos da Jornada Nacional de Educação

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da Igreja Cristã, inspirada no paradigma aristotélico-tomista. Francisco, entretanto, empreendeu uma consciência de natureza que decorreu da observação, da contemplação e da intuição e, durante sua vida, desenvolveu aproximações entre a razão e a intuição, sem, no entanto, sobrepor uma à outra, como aconteceria na modernidade a partir da consolidação do projeto de Bacon e Descartes que concebia a racionalidade como a essência da verdade e rejeitava qualquer intuição. É importante ressaltar que Francisco não se posicionou contra a Igreja como pensamento, nem mesmo se declarou contrário à sua forma de instituição poderosa e concentradora. Portanto, sua forma de pensar e de agir não provocou rupturas, mas uma nova visão de mundo e de consciência que repôs a esperança e a valorização da vida em todas as suas formas e nos distintos reinos da natureza. E a razão, não mais submetida à fé, permitiu, na livre indagação e na intuição, o encontro da essência humana e do sentido da existência. Assim, os poderosos e, também, a Igreja passaram por uma revisão de atitudes diante dos grupos menos favorecidos à violência e à avidez de lucro. Essa nova consciência não resolveu as questões de abuso de poder e de violência, mas atuou como freio e, nas categorias menos favorecidas, significou esperança. Dessa forma, Francisco e a trajetória do franciscanismo aparecem inseridos no contexto de renovação que se estabeleceu no período da Baixa Idade Média. O século XIII caracterizou-se por conturbações, mas também trouxe aberturas com o surgimento de muitos movimentos de contestação à ordem vigente. E, nesse contexto, são justamente os empobrecidos, dependentes dos grandes proprietários da riqueza maior da época, a terra, em função de seu descontentamento com a exploração desmedida, que irão vagar pelo mundo e, lançando-se nas atividades bélicas e no comércio, constituirão as bases para o Renascimento. Essas, por sua vez, serão as sementes de uma nova sociedade que florescerá e alcançará, em sua fase mais avançada, o Planeta inteiro para, enfim, formar a sociedade global. No entanto, a sociedade, na era da globalização, permaneceu profundamente dividida entre ricos e pobres, sequestrada da democracia, ausente de consciência planetária e, por isso, perversa. A perversidade do mundo, segundo Santos (2001), é sistêmica. A raiz dessa evolução negativa da humanidade tem relação com todos os períodos históricos e seus ciclos de modismos, de comportamentos opressores e de pensamentos alienados pela ausência da livre indagação. De forma recorrente, no mundo contemporâneo, para a maior parte da humanidade, a globalização está se impondo como uma fábrica de

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