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INTRODUÇÃO AOS DIREITOS ANIMAIS
Liberation), articula uma teoria derivada diretamente de Bentham. Fran cione demonstra que o princípio da igual consideração, que de ve ser parte de qualquer teoria moral, seja ela baseada nos direitos ou na consequência ou na “ética do cuidado” ecofeminista, requer que rejeitemos o uso e o tratamento dos animais como recursos. Tal re quisito teria profundas implicações para a nossa teoria a respeito da nossa obrigação moral para com os animais, porque qualquer teo ria que rejeite a condição dos animais como coisas deve estar com prometida com a abolição da exploração animal, e não com a me ra regulação do uso de animais para assegurar que ele seja mais “hu manitário”. Francione corretamente observa, baseado na história da proprieda de e no status econômico dos animais como tendo apenas o valor que lhes é atribuído pelos humanos, que, se os animais forem vistos so mente como mercadorias, provavelmente não haverá mudanças signi ficativas no tratamento que lhes damos. Mas ele faz a observação mais profunda de que, enquanto os animais forem tratados exclusivamente como meios para os fins dos humanos, seus interesses deverão sem pre ser dessemelhantes aos interesses humanos. Assim como no caso da escravidão humana, o princípio da igual consideração nunca pode ser aplicado aos animais, porque seus interesses serão sempre e sis tematicamente considerados sem valor. Como resultado, os animais irão, nas palavras de Bentham, “ficar degradados na classe das coisas”. Segundo Francione, o princípio de que devemos tratar casos se melhantes semelhantemente proíbe que tratemos qualquer ser sencien te, seja ele humano ou animal, exclusivamente como um re curso. Fracione argumenta que, se for para os interesses dos animais terem alguma importância moral, devemos lhes estender um direito básico — o direito de não serem tratados como uma coisa. Devemos abolir, e não meramente regular, a exploração dos animais. Ele afir ma que nossa completa rejeição ao nosso tratamento dos animais como coisas não é tão radical quanto parece, quando consideramos que já condenamos a imposição de sofrimento “desnecessário” aos animais e que a maioria dos usos que fazemos deles não pode ser descrita como necessária em qualquer sentido que seja. Podemos preferir os interesses dos humanos aos interesses dos animais em situações de genuíno conflito ou emergência, como quando passamos por uma casa em chamas ocupada por um homem e um animal e só temos tempo de salvar um deles, mas devemos parar de gerar esses conflitos ao tratar os animais como coisas, em primeiro lugar.
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30/10/2012 10:13:49