A revolução tecnológica da gramatização

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aspecto das ciências da linguagem, não deve surpreender. Todo conhecimento é uma realidade histórica, sendo que seu modo de existência real não é a atemporalidade ideal da ordem lógica do desfraldamento do verdadeiro, mas a temporalidade ramificada da constituição cotidiana do saber. Porque é limitado, o ato de saber possui, por definição, uma espessura temporal, um horizonte de retrospecção (Auroux, 1987b), assim como um horizonte de projeção. O saber (as instâncias que o fazem trabalhar) não destrói seu passado como se crê erroneamente com freqüência; ele o organiza, o escolhe, o esquece, o imagina ou o idealiza, do mesmo modo que antecipa seu futuro sonhando-o enquanto o constrói. Sem memória e sem projeto, simplesmente não há saber. As obras da primeira e da segunda categoria são de grande interesse pela sua riqueza factual. As da terceira têm um valor epistemológico evidente. A primeira no gênero é sem dúvida Geschichte der Sprachwissenschaft und Orientalischen Philologie in Deutschland, Seit dem Anfange des 19. Jarhunderts mit einem Rückblick auf frühere Zeiten (1869) de Theodor Benfey. A Lingüística cartesiana (1966) de Noam Chomsky é um outro exemplo disso. Mas existe uma grande distância entre o halo de historicidade que engendra a retrospecção e a historicidade que constitui o ponto de vista do historiador. Ser historiador é se colocar a questão global da mudança (por que, como, quando) e da essência dos objetos submetidos à mobilidade em si e para si. Vimos aparecer, há alguns anos, obras sólidas e de orientação globalizante (Arens, 1955; Mounin, 1967; Robins, 1967; Coseriu, 1969-1972; Amirova et al., 1980). Todas elas partilham o mesmo preconceito de querer fazer a história da lingüística concebida como uma ciência, isto é, como uma forma de saber cuja organização e cujas propriedades formais seriam estáveis, chegando Mounin a distribuir informações segundo as etiquetas tomadas à teoria em voga quando escrevia. Durante estes últimos 20 anos, não apenas nossa informação histórica aumentou consideravelmente, como nosso ponto de vista sobre o que seja ou não uma ciência da linguagem evoluiu. É preciso, em particular, se render à evidência: a lingüística, que 

A REVOLUCAO TECNOLOGICA DA GRAMA12 12

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