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Salvador nasceu no Pelourinho

Logo que chegou aqui, Tomé de Souza tratou de cumprir as ordens do rei, fundando a cidade cujo nome homenageia Jesus Cristo, o Salvador, no melhor ponto para a construção da “cidade fortaleza”. As razões que levaram a escolha do Pelourinho são bastante claras. É a parte mais alta da cidade, em frente ao porto, naturalmente fortificada pela grande depressão existente que forma uma muralha, de quase noventa metros de altura, por quinze quilômetros de extensão, o que facilitaria a defesa de qualquer ameaça vinda do mar.

Em poucos anos, Tomé de Souza construiu uma série de casarões e sobrados, na parte superior dessa muralha, todas inspiradas, evidentemente, na arquitetura barroca portuguesa e erguidos com mão de obra escrava negra e indígena.

É no Pelourinho que Salvador reúne sua maior riqueza, revelada nos detalhes arquitetônicos, nas igrejas e nas casinhas coloridas, que se dedicam e vivem de turismo. Localizado no Centro histórico de Salvador e tombado pelo patrimônio da humanidade da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura), o Pelourinho é considerado um grande shopping a céu aberto por oferecer atrações artísticas, musicais e opções de bares, restaurantes, lojas de roupas, artesanatos e joias, museus, teatros e igrejas, entre outros. Mas é bom ficar atento, pois existem dezenas de edificações históricas que necessitam urgente de obras de restauro. Nessa minha última passagem por Salvador, contei mais de 100 prédios históricos com tapumes a espera da tão esperada obra de restauração.

A praça XV de Novembro, mais conhecida como Terreiro de Jesus por causa da Igreja dos Jesuítas, mantém características urbanas dos séculos passados. Sobrados ricamente adornados e três igrejas testemunham a época áurea em que Salvador foi capital da colônia. No centro da praça, um chafariz de origem francesa (1855), todo em ferro fundido, representa a deusa Ceres, da agricultura.

Depois de anos de abandono e deterioração, o Centro Histórico de Salvador teve cerca 700 casarões coloniais recuperados, servindo como ponto de partida para a revitalização econômica, social e cultural da área. Sua recuperação ainda não foi concluída. No dia seguinte, o turista pode mergulhar de vez nas raízes africanas da cidade, com uma visita à Igreja de São Lázaro, no bairro da Federação, onde também estão diversos terreiros, como o do gantois e o da Casa Branca (vasco da gama). Para conhecê-los, é recomendável entrar em contato previamente. Na sequência, parada no Dique do Tororó com suas grandes esculturas dos orixás.

Há ainda o Museu Afro-brasileiro, no Terreiro de Jesus, passando pelas sedes de diversos blocos afros, como Filhos de Gandhi e Olodum, no Centro Histórico, e o Ilê Ayê, no Curuzu.

Tendo tempo, vale conhecer o remodelado e imponente estádio da Fonte Nova, totalmente reformado para a Copa do mundo de 2014. vale a pena fazer o tour para conhecer o palco do futebol baiano.

Cidade Baixa e Cidade a lta tem muito o que mostrar

Salvador é dividida em Cidade alta e Cidade Baixa – apenas na costa voltada para a Baía de To- dos-os-Santos. a Cidade Baixa é mais conhecida por ter um forte comércio. Nesse local, chegavam os navios da Europa, e ficava a Alfândega; por consequência, foram surgindo na área empresas ligadas ao comércio de importação e exportação, e bancos. uma curiosidade é que boa parte dele é resultado de aterros, pois o mar chegava bem perto da encosta.

No bairro do Comércio, a visita pode ser a pé e bem panorâmica, pois, assim como no Centro antigo, poucos lugares são abertos à visitação.

Mercado Modelo é reduto cultural

O Mercado Modelo é um espaço de animação artística e cultural por que tem tudo o que a Bahia tem! O turista desce a ladeira do Contorno, apreciando o Solar do unhão, joia rara do colonial baiano do século XVII. De um lado está a Baía de Todos os Santos, com o Centro Náutico, a Bahia marina e o antigo Forte de São Marcelo; do outro lado, o vai-e-vem frenético do trânsito a subir e descer a ladeira, na qual se debruçam pedaços do que se chama Cidade alta. mais abaixo, está a igreja de Nossa Senhora da Conceição da Praia – padroeira da Bahia -, o centenário elevador lacerda e a fonte de Mário Cravo, na praça do Visconde de Cairu. No coração disso tudo, ergue-se, monumental, o Mercado modelo da Bahia, tombado pelo instituto do Patrimônio Histórico e artístico Nacional em 1966.

Tradicional centro de comercialização de produtos artesanais e um dos principais pontos turísticos de Salvador. Não deixe de visitar o Museu da Música e o Museu do Carnaval, espaços inteligentes que retratam uma parte importante da rotina soteropolitana. O viver descontraído e movimentado dos boêmios e poetas, dos cantadores e barraqueiros, encontra, no mercado, o lugar ideal.

Desde que foi fundado como centro de abastecimento de gêneros alimentícios de Salvador, reuniu comerciantes e pescadores, marinheiros e saveiristas e a gente simples da cidade. esses encontros, no início, se davam entre sacas de camarões salgados e balaios de pimentas recém-colhidas nas pequenas roças ao redor da cidade; entre o cheiro de charutos produzidos no Recôncavo e o da ca-

O forte, ao lado, foi erguido sobre um pequeno banco de arrecifes a cerca de 300 metros da costa. Já o Mercado Modelo, abaixo, é reduto cultural e de compras de Salvador

Muita cultura ao redor do Mercado Modelo

chaça destilada em alambiques de várias partes do estado. Símbolo tradicional da história e da cultura da Bahia, o mercado atrai visitantes de todo o mundo.

No mercado de hoje, é possível comprar uma extensa variedade de artigos artesanais: confecções, redes, instrumentos musicais típicos, entalhes em madeira (na sua maioria de inspiração africana), rendas e cestarias da ilha de maré, bordados e trançados, bijuterias e adereços, objetos de decoração e utilitários, peças de couro, ferro e cerâmica, as conhecidas bonecas de pano, vestidas de “baianas’’- pencas de balangandãs e objetos religiosos, tanto católicos, quanto do candomblé. encontram-se também pedras semipreciosas, xilogravuras e pinturas primitivistas e bebidas típicas.

ao redor do mercado, os tabuleiros das baianas oferecem os abarás e os acarajés, que servem de tira-gosto para as cervejas, servidas geladinhas, nas mesas que se espalham pela parte externa e térrea do mercado. Pequenos restaurantes populares se encarregam de preparar os pratos da culinária local, que atraem os próprios baianos e os turistas de paladar mais exótico. Rodas de capoeira confirmam, ao som dos berimbaus, o espírito cultural do mercado modelo da Bahia.

O outro espaço externo que o mercado ostenta fica no segundo pavimento; uma varanda semicircular, ao redor dos dois restaurantes citados. Do alto, tem-se uma grandiosa visão marítima. Por ali passam os barcos, as canoas e outras pequenas embarcações, que deslizam entre potentes escunas e saveiros ancorados no Centro Náutico da Bahia, vizinho aos primeiros armazéns do Porto de Salvador. Do outro lado, a bonita área aterrada da Capitania dos Portos, vigiada pelo Forte de São Marcelo, e, mais ao fundo, disputando espaço com o horizonte, a Ilha de Itaparica. É para lá que o barquinho vai, quando a tardinha cai, neste espaço luminoso, tão cheio de Bahia, chamado de mercado modelo.

Forte de São Marcelo

Localizado no meio da Baía de Todos os Santos, e conhecido como Forte do Mar, o Forte de São marcelo foi construído em madeira, no início do século Xvii, sobre um arrecife, na entrada do porto de Salvador. Depois da invasão holandesa de 1624, foi reconstruído em alvenaria de pedra e ganhou sua forma circular, assim como a missão de proteger o centro da cidade colonial dos ataques marítimos estrangeiros. O Forte tornou-se uma imponente construção militar. No final do século Xviii, serviu para prisão de estudantes relapsos e indisciplinados e importantes personagens históricos, como o líder da Revolta dos Alfaiates, Cipriano

Barata, e o general farroupilha Bento Gonçalves. Temporariamente o Forte de São Marcelo não está aberto, mesmo assim vale uma foto.

Atrações em Itapagipe

em itapagipe será preciso usar carro, pois os atrativos ficam muito distantes entre si. Quando aqui chegou em 1549, o primeiro governador-geral do Brasil, Tomé de Sousa, pensou em construir a cidade na península de itapagipe, pela visão panorâmica que teria da Baía de Todos os Santos, porém desistiu e optou pela área atualmente conhecida como Praça Municipal, no Centro Histórico. Salvador foi a primeira cidade planejada do Brasil. Até mesmo as pedras para construção dos edifícios foram trazidas de Portugal. Salvador foi construída à semelhança da Lisboa medieval, com suas ruas estreitas e curvas.

Somente no século Xviii, itapagipe foi ocupada, quando um arcebispo resolveu mandar construir uma igreja e um palácio de verão; é que muitas famílias começavam a construir casas de veraneio.

Aqui ficam dois grandes ícones religiosos do catolicismo: a Igreja do Bonfim e o Memorial Irmã Dulce. E é imprescindível visitar a Igreja dos Mares, igreja da Penha, Solar amado Bahia, igreja e Mosteiro de Monte Serrat, Forte de Monte Serrat e igreja da Boa viagem.

antes de retornar para a região central, visite a famosa Feira de São Joaquim. Complete seu passeio apreciando o pôr-do-sol no Solar do unhão, onde fica o Museu de Arte Moderna (MAM).

Praias, rios, lagoas e ilhas para conhecer perto da capital

Salvador oferece uma vasta opção de locais em seu entorno, que podem ser visitados em um dia. Uma das cidades é Cachoeira (120 km), localizada no Recôncavo e considerada um importante patrimônio histórico e arquitetônico do estado. viveu seu apogeu entre os séculos Xviii e XiX, quando seu porto era o responsável pelo escoamento dos diversos produtos agrícolas da região, em especial, fumo e açúcar, e entreposto comercial de escravos, produção e venda de gêneros alimentícios, diamantes e gado. Sua localização é estratégica, próxima ao sertão e às margens do Rio Paraguaçu.

A riqueza de Cachoeira hoje está nas manifestações culturais que refletem a resistência de suas origens africanas, e o sincretismo religioso. está na preservação do seu casario barroco, igrejas e museus, com cerca de 670 construções tombadas. a cidade também participou dos primeiros movimentos emancipatórios no início do século XiX, e presenciou movimentos de repressão da elite local contra o candomblé e as formas populares de divertimento ligados aos negros recém-libertos.

Itaparica (13 km, via ferry-boat) tem um interessante patrimônio arquitetônico, e muitas praias tranquilas, sem esquecer que a água da Fonte da Bica “faz véia virar menina”, como está escrito em seu painel de azulejos. A tranquilidade e as ruas arborizadas dão o tom da singela paisagem local. a ilha remete o visitante a uma época saudosa, onde as pessoas, sentadas à porta de suas casas, passavam noites inteiras conversando. as ruas arborizadas e calçadas em pedras (paralelepípedos) dão o tom da singela paisagem local. Na Ponta de areia, distrito próximo, pescadores calmamente tecem suas redes, confortados pela sombra de suas casas e pela beleza de um mar calmo e morno. antigos saveiros e pequenos barcos em ruínas formam um cenário bem pitoresco, dando o testemunho necessário às famosas histórias de pescador. grandes amendoeiras fornecem sombra, que, aliadas a uma constante e deliciosa brisa, completam a bela paisagem.

Ao longo da orla, inúmeros bares e restaurantes, com mesinhas colocadas nas calçadas, servem pratos e petiscos frescos, à base de frutos do mar. Peixes e caranguejos são os mais requisitados. as barracas oferecem batidas de frutas tropicais, e a tradicional cerveja está sempre gelada.

Reduto também da religiosidade, Itaparica concentra, no Porto do Santo, um verdadeiro santuário de oferendas, orações e demonstrações de fé.

No local – Rua Verão, próximo ao Terminal de Bom Despacho – romeiros pagam suas promessas e pedem por novas graças. O acesso é através de uma trilha em meio à Mata Atlântica. A energia mística e a natureza exuberante valem o passeio.

Outra possibilidade para quem está em Salvador é visitar a linda e bem conservada Camaçari; as praias são muito tranquilas, a vila é muito charmosa, com locais tranquilos de rara e excelentes restaurantes.

Mergulho na Baía de Todos os Santos

Considerada a maior baía do país – possui uma área de 900 km² e um perímetro de 200 km de extensão -, a Baía de Todos os Santos bordeja todo o litoral de Salvador.

Rica em vida marinha, sua fauna abriga animais como tartarugas-marinhas e botos-cinza, enquanto sua flora integra recifes de corais e grande diversidade de manguezais. Dentre as principais atrações do local, estão:

Corais de Fora

Situados entre a ilha de itaparica e Salvador, bem no meio da Baía de Todos os Santos, os corais, também conhecidos como Parede, são ideais para mergulhadores experientes, em estágio avançado. a uma milha da capital, estão entre 25 e 45 metros de profundidade e sua visibilidade varia entre 15 e 20 metros, durante a maré de enchente.

Ilha dos Frades e de Maré

Com apenas 8 km de extensão, a Ilha dos Frades tem a forma de uma estrela de 15 pontas, onde em cada uma delas há uma praia propícia ao mergulho. Com uma profundidade máxima de 11 metros e visibilidade de até 15 metros na horizontal, a Ilha possui formações de corais e recifes, tal qual a vizinha, Ilha de Maré. No quebra-mar norte, bem em frente ao cais do porto desta última, há um ponto com grande quantidade de vida marinha, especialmente à noite. Para saber mais sobre mergulho na Baía de Todos os Santos, confira as opções de mergulho em Salvador.

p raias ur B anas C om muito sol e agito

Com tantos museus, igrejas, monumentos e construções históricas, as praias não são as melhores opções de Salvador. Mas se mesmo assim a ideia é a aproveitar um ou dois dias de sol na beira do mar, a orla pode até render um bom programa. quem prefere um lugar mais tranquilo pode optar por passar um dia na praia do Buracão, mas consulte sempre sobre ideais condições de balneabilidade. as praias mais distantes do centro são a do Flamengo, Itapuã e Stella Maris. Durante os dias de semana e fora da temporada tem pouco movimento, mas ficam superlotadas nas férias, feriados e finais de semana.

embora a gastronomia baiana seja o carro chefe de 70% dos restaurantes, há vários bons endere- ços de cozinhas internacionais, como japonesas, portugueses, francesas, italianas e até alemãs.

Os pratos a base de pescado são os mais pedidos. a moqueca, o peixe ensopado e o bobó são os mais pedidos. Salvador também serve os pratos de influência do sertão baiano, como a carne de sol e o feijão verde que convivem com iguarias da cozinha de influência africana como o acarajé.

Dois endereços imperdíveis para os turistas: O Restaurante Senac no Pelourinho – Buffet com o melhor da comida baiana e as barracas de Dinha e Regina que servem os mais deliciosos acarajés e abarás.

Cuidado ao pedir a pimenta que é muito forte e pode estragar o sabor para quem não está acostumado. Como sobremesa não deixe de experimentar as saborosas cocadas ou os suculentos quindins, tradição que vieram com os cocos de Cabo verde e tornaram-se as vedetes da culinária doce baiana.

A cidade ganhou nos últimos anos muitos novos endereços para hospedagem bem na área central. Recomendamos o fantástico Hotel Fasano e renomado Fera Palace Hotel, que concentra os melhores restaurantes e bares da cidade.

A Ilha dos Frades é reduto de isolamento e beleza tropical