Todos #28

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Prestação de contas na pág. 7

DOADOS!

YVONNE DECIDIU NÃO SE

CALAR DIANTE

DA INJUSTIÇA pág. 24

FERNANDO TRANSFORMA LARES NA PERIFERIA pág. 28

FÁTIMA RELEMBRA AS

HISTÓRICAS ELEIÇÕES

DE 1989

pág. 32

RECEITAS FEITAS NA PANELA

DE PRESSÃO pág. 42

Sonia Maria de Freitas Altomar, 73 anos pág. 10

#28

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SONIA MARIA DE FREITAS ALTOMAR,

73 anos, professora aposentada, de São Paulo, dá aulas gratuitas de português para imigrantes. ABDOULAYE GUIBILA (à esq.), 30, de Burkina Fasso, e ALPHA DIABOULA, 37, do Senegal, são ex-alunos dela

© Foto: Marcus Steinmeyer. Maquiagem: Amanda Pris

ENSINAR IMIGRANTES É TRANSFORMADOR Sou formada em letras e, durante 36 anos, trabalhei como professora de português. No ano 2000, quando me aposentei, um amigo me apresentou o Arsenal da Esperança, instituição filantrópica em São Paulo. Fiquei fascinada, e vi ali uma oportunidade de continuar atuando como educadora, que é o que mais gosto de fazer. No início, trabalhei com população de rua. Eram analfabetos vindos de outras regiões do país que queriam se comunicar com familiares – eu escrevia as cartas para eles. Havia entre os alunos homens marcados pelo sofrimento, que se sentiam acolhidos e confiavam a mim seus tropeços na vida. As

histórias me comoviam. Chorava bastante, mas aprendi a ser forte desenvolvendo a empatia e a tolerância. Hoje, ensino português para imigrantes vindos da África e do Haiti; pessoas que fugiram de guerras, terremoto, fome. Já pude lecionar para mais de 800 estrangeiros. Muitos são médicos e engenheiros, mas aqui o diploma deles não vale. Eu me realizo dando aulas sobre nossa língua e cultura e conhecendo um pouco de cada um. Ganhei um certificado de agradecimento do governo do Mali, mas o que mais conta para mim são a amizade, o carinho e a gratidão deles. Acabamos nos tornando uma só família.”

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N

NO MEU TEMPO

VELHA INFÂNCIA

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Quem é adulto carrega na memória um jeito de brincar que passava longe das tecnologias. As experiências, de curtir a natureza a construir os próprios brinquedos, são cheias de afeto REPORTAGEM ROMY AIKAWA ILUSTRAÇÃO BERNARDO FRANÇA FOTOS ILANA BAR


NA CORDA BAMBA

Eu morava em uma rua pequena, tranquila e sem saída. Então, vivia por ali com a criançada da vizinhança. Uma das nossas brincadeiras favoritas era amarelinha. Fazíamos os quadrados e os números no chão usando giz, desenhávamos o céu e o inferno. Pular corda era outra diversão que juntava bastante gente. Havia vários desafios: pular com uma perna só, em dupla, entrar ou sair com a corda batendo, e assim por diante. Nós gastávamos muita energia!”

ANA MARIA SOBRINHO, 47 anos, São Paulo

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M

MEU DICIONÁRIO

BÊ-Á-BÁ POTIGUAR

Com influências do tupi antigo, do português e do inglês, o vocabulário do Rio Grande do Norte tornou-se muito colorido. Confira algumas expressões típicas REPORTAGEM A M A N D A P É C H Y ILUSTRAÇÃO L E O N A R D O Y O R K A

Chega de bagana! É um termo para guloseima, doce: “Bagana, só depois do jantar!”.

Ele é marmota. A palavra é usada para designar pessoas desajeitadas ou objetos desengonçados, feios, bagunçados.

Nasceram três bacorinhos.

Deixe de moído!

É como os potiguares chamam os filhotes de porco, ou leitões novos.

Fazer moído é criar caso, brigar por nada, pôr todo mundo numa situação embaraçosa.

Ele torou o móvel.

Vamos dar o pira!

“Torar” tem a ver com tora, e quer dizer cortar madeira ou quebrar algo bruscamente.

Quem dá o pira quer sair de alguma situação incômoda: é fugir, escapar, sair sem ser percebido.

Fui chegando e saí pela porta. Parece contraditório, mas, no jeito de falar da região, quem “vai chegando” está indo embora.

Você é tampa!

Que coisa caningada!

Esse menino bebeu água de chocalho.

No Rio Grande do Norte, tampa é o mesmo que “inteligente”.

Situações e pessoas podem ser caningadas. É o mesmo que inoportuno, inconveniente, indiscreto.

Quem bebe água de chocalho fala demais, sem dar espaço para os outros, emendando as frases.

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NEOLOGISMO É COMIGO!

Ficamos conversando miolo de quartinha. Conversar miolo de quartinha é falar amenidades, bobagens, nada muito relevante.

Os norte-rio-grandenses criam expressões influenciadas até por línguas estrangeiras. Pia! 1

SAPULHA CAMPOS,

Saltou dos pés, tinha sumido.

34 ANOS, GUITARRISTA DA BANDA PLUTÃO JÁ FOI PLANETA

É o mesmo que “subitamente”, “de repente”, geralmente relacionado a um sobressalto.

“Em Natal, se usa muito a gíria ‘boy’ ou ‘boyzinha’ para se referir a alguém – o diminutivo é mais carinhoso. O mais curioso é que ‘boy’ pode ser usado tanto pra homem, quanto pra mulher: ‘Aquele boy da fila é meu amigo’, ou ‘Aquela boy mora em Lagoa Nova’.”

Estou me greando. “Gréa” é sinônimo de “divertido”. E pode ser usado como verbo: “ele está se greando com aquela piada!”

Reiôsse! Pode expressar espanto – “Reiôsse, você fez isso?” – ou dizer que algo vai dar errado: “Se ele não for, reiôsse”.

2

Ela é malhada.

AURELIANO MEDEIROS, 29 ANOS, ARTISTA PLÁSTICO

O termo é usado para pôr alguém em evidência, seja para zombar, seja para elogiar.

“O verbo ‘malhar’ não é usado só para a atividade física na academia. Quem malha, no Rio Grande do Norte, está debochando. Talvez venha dos costumes do interior, em que se malha um boneco com a figura de Judas. Quem malha de você faz chacota, mas de um jeito bem-humorado.”

Minha casa é na baixa da égua. A expressão é usada para se referir a um lugar distante, de difícil acesso.

3

WESLI DANTAS,

Espera um pedaço! No vocabulário potiguar, equivale a dizer: “espere um minuto”.

Esse gato ficou sambudo!

Ei, pia!

Se o bichano está sambudo, é porque é comilão: ficou barrigudo, cheinho.

Pia vem de “espia”, “olha”: “pia ali o que está acontecendo!”.

© Fotos: 1) Coagula / Tinho Sousa, 2) Caroline Macedo, 3) arquivo pessoal, 4) Studio 8

30 ANOS, ATOR E YOUTUBER

“A gíria ‘galado’ se originou na Segunda Guerra Mundial, com americanos que vieram para Natal. Quando faziam festas, vestiam roupas de gala, ficavam ‘galados’. Hoje, essa palavra pode ser saudação (‘E aí, galado!’), elogio (‘Esse galado fez três gols!’), crítica (‘Que galado, nem veio!’).” 4

TITINA MEDEIROS, 42 ANOS, ATRIZ

“Utilizo muito ‘godelar’, que quer dizer pegar de graça, se beneficiar de uma situação sem precisar pagar: ‘Fulana entrou na festa na godela.’ Também gosto muito da expressão ‘roçoio’, que pode significar briga e confusão, ou se referir a algo legal: ‘Pense numa boyzinha roçoio!’.”

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R

RECEITAS DE FAMÍLIA

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Sob

PRESSÃO

ALÉM DE PRÁTICAS, AS RECEITAS FEITAS NA PANELA DE PRESSÃO FICAM PRONTAS RAPIDINHO E CHEGAM FÁCIL AO PONTO CERTO: CREMOSO, MACIO, DELICIOSO! REPORTAGEM ROMY AIKAWA FOTOS SHEILA OLIVEIRA / EMPÓRIO FOTOGRÁFICO PRODUÇÃO CULINÁRIA PAULA BELLEZA PRODUÇÃO DE OBJETOS MÁRCIA ASNIS

POLVO À lagareiro JÁ QUE A RECEITA É DE PORTUGAL, SIRVA DO JEITO QUE SE FAZ LÁ: COM BATATAS AO MURRO E MUITO AZEITE! para 4 pessoas

PARA ACERTAR No cozimento, não é necessário colocar água, já que o polvo solta bastante líquido, e nem esperar a válvula da pressão girar. Deu 5 minutos, pode desligar!

Ingredientes » 1,5 kg de polvo fresco e limpo » 8 batatas-inglesas pequenas com casca » 4 folhas de louro » 1 cabeça de alho » 2 cebolas cortadas em tiras » Sal a gosto » Pimenta-do-reino a gosto » ½ xícara de azeite de oliva extravirgem » Salsinha fresca picada

Modo de preparo 1 Preaqueça o forno a 180 ˚C.

2 Lave bem o polvo e coloque na panela de pressão. Tampe e leve ao fogo alto. Assim que ligar o fogo, conte 5 minutos e desligue. Espere a pressão sair. Abra a panela e reserve o polvo numa assadeira. 3 Em outra panela, cozinhe as batatas inteiras em água fervente e abundante, com uma pitada de sal. Assim que estiverem cozidas, retire da água e ponha na assadeira junto com o polvo. Com uma colher de pau, pressione levemente cada uma delas, como se fosse dar um murro. 4 Coloque na assadeira as folhas de louro, os dentes de alho com casca e as tiras de cebola. Tempere com sal e pimenta-do-reino a gosto. Regue com o azeite e leve para assar por aproximadamente 30 minutos, ou até dourar. Finalize com a salsinha picada e sirva.

A família da minha esposa é originária da província portuguesa de Beira Alta e, em um dia em que estávamos conversando, sua irmã comentou que, quando esteve por lá, comeu um polvo à lagareiro divino. Ela disse que ainda não havia experimentado nada igual aqui no Brasil em questão de paladar, então eu, que adoro cozinhar e gosto de desafios culinários, disse que faria o prato e iria surpreender as duas. Fui atrás de uma receita, comprei todos os ingredientes bem fresquinhos em uma feira aqui de Brasília e deu mais do que certo. Elas adoraram! Tive até que fazer o prato para amigos que souberam da história. A minha dica é salgar o polvo só depois do tempo de cozimento na panela de pressão, para que não endureça. Aí, é só servir com arroz e salada de folhas.”

GUILHERME ROCHA DA COSTA, 54 anos, Brasília

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