Sorria #67

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#67

mai/jun

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DESCOBRIR SEU MUNDO INTERNO, ACOLHER A SI MESMO, FAZER ESCOLHAS MAIS CONSCIENTES: ISSO É O AUTOCONHECIMENTO, PROCESSO FUNDAMENTAL PARA UMA VIDA MAIS LIVRE E FELIZ


© Foto: Aleksandar Nakic/iStock

© Foto: Eclipse_Images/iStock

PRAZERES SIMPLES

14 REVISTA SORRIA


Um estado interessante texto ROBERTA FARIA

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ão quatro e meia da manhã e eu me levanto pela quinta vez nesta noite para fazer xixi e tomar água, na esperança de aplacar o ácido que corrói minha garganta. Minhas costas doem. Na verdade, ultimamente, músculos e ossos dos quais nem sei o nome doem. Eu me sinto ansiosa com o tempo passando rápido e a lista de tudo que ainda não resolvi. Só queria dormir uma noite inteira bem, e nenhuma perspectiva de que isso aconteça me faz querer chorar de exaustão igual criança pequena. Mas daí, quando me recosto na cama, na enorme pilha de travesseiros para ajudar com a falta de ar e de jeito para dormir, eles acordam também. Os dois meninos que crescem hoje na minha barriga chutam e se espreguiçam como se dissessem: ei, mãe, aqui dentro não está fácil também. Nunca nos vimos, mas já somos companheiros da maior aventura que existe, que é nascer e encarar este mundão. Os incômodos ficam pequenos perto do amor que já sinto por eles, maior do que a minha própria vida. Esta não é a minha primeira vez – de fato, é a terceira –, mas estar grávida é sempre uma experiência transformadora, em todos os sentidos. O corpo, a cabeça, as emoções, a perspectiva da vida: tudo muda radicalmente nesses nove meses intensos. Às vezes é fabuloso; às vezes é dureza. Sobretudo, é assombroso: por mais que a gente conheça a biologia, veja os ultrassons, leia os livros e escute infinitos conselhos de médicos, parentes, amigas e estranhos na fila do pão para saber o que esperar dessa fase, ainda assim, nada prepara para a sensação de estar criando outra vida – no meu caso, desta vez, duas. É tremendamente poderoso e é terrivelmente assustador, é incrivelmente delicioso e é altamente desconfortável, é enormemente distante e é absurdamente real. Minha parte preferida é o barrigão. Ando parecendo carregar uma bola de pilates debaixo do vestido, agora já na fase em que, do lado de fora, se vê a movimentação lá dentro – bem como naquele filme, Alien. Como alguém que passou boa parte da vida lutando contra a balança e a autoimagem, acho fascinante ter de repente uma “barriga socialmente aceita”, que as pessoas admiram com curiosidade, reverência ou ternura (e, não raro, também querem passar a mão). Sentir os bebês ali dentro, mexendo dia e noite, reagindo a vozes, comidas e horários, é divertido de uma maneira peculiar, quase secreta: só nós três sabemos o que está rolando. Às vezes, como nesta madrugada, pode ser solitário não poder compartilhar sensações e sentimentos tão complexos. Ao mesmo tempo, na gravidez a gente entende que nunca mais estará sozinha: mesmo quando nascerem e nos separarmos, as marcas e lembranças desses nove meses estarão gravados para sempre em mim. MAI/JUN 2019 15


PRAZERES SIMPLES

TÁ NA MESA

Almoço em família

IGUAL, MAS DIFERENTE Quer quebrar a tradição e acrescentar cor e sabor? Siga a mesma receita, substituindo a porção de batata por batata-doce ou mandioquinha.

Comemore o Dia das Mães com esta receita de nhoque e garanta pratos cheios, risada alta e alma preenchida texto MARINA BESSA

© Foto: Sheila Oliveira / Empório Fotográfico. Produção culinária: Paula Belleza. Produção de objetos: Marcia Asnis

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que você faria se na sua despensa houvesse nada mais que pão amanhecido e, à mesa, meia dúzia de bocas para ser alimentadas? Se você fosse uma mamma italiana, ralaria o pão, misturaria as migalhas com um tantinho de farinha e água quente e obteria uma massa para ser cozida em água ou em caldo de vegetais ou de ossos de galinha. Assim surgiu o nhoque primitivo, que, lá no século 17, ajudou as famílias italianas a enfrentar a penúria dos tempos de guerras. E, como já vimos em tantas outras histórias, a comida simples, mas criativa e saborosa, conquistou até os ricos, que passaram a comê-la – e a lamber os beiços. A batata entra na história mais tarde, no século 18, quando se estabeleceu na Europa. A essa altura, cada região da Itália já tinha desenvolvido sua receita especial: com ovos, em forma de conchinhas, com molho ao sugo, branco, bolonhesa. Falar em nhoque é falar de família. Que se reúne em torno da bancada enfarinhada, para preparar a massa, fazer os rolinhos, cortá-los em pequenos cubos milimetricamente calculados. Se houver tempo e capricho, a massa pode ser passada em uma esteira para ganhar ranhuras que ajudam a segurar o molho e o sabor. Na panela com água fervente, a mágica: bolinha que sobe é nhoque pronto, e, de um em um, a travessa vai enchendo. Tenha um pouco de paciência – nhoque é para ser feito aos montes. E, na hora de servir, seja generoso: separe aquela baixela grande, monte pratos fartos, capriche também no molho, no parmesão ralado, que vai engrossar o caldo e completar o sabor. Prepare-se para ver a toalha respingada de tomate, presenciar conversas altas, mãos falantes se trombando no ar. Afinal, nhoque traz a alma italiana – da comida boa, que conforta, abraça e aconchega. Alma das mammas, acolhedoras e severas, que não deixam ninguém comer pouco ou sobrar no prato. Va bene, mamma! Não precisa pedir duas vezes. 24 REVISTA SORRIA

NHOQUE COM TOMATINHOS rende 4 porções

INGREDIENTES: • 1 kg de batatas médias • 2 gemas • 3 xícaras de farinha de trigo (e mais para cobrir a bancada) • Noz-moscada ralada • Sal a gosto • Pimenta-do-reino a gosto • 2 dentes de alho picados

• 2 colheres (de sopa) de azeite extravirgem (e mais para untar) • 4 xícaras de tomate-cereja cortado ao meio • ½ xícara de folhas de manjericão • 1 xícara de parmesão ralado


DIRETO DO FORNO O nhoque fica mais leve quando a batata é assada. Cozinhá-la em água também dá certo, mas será preciso acrescentar mais farinha à receita.

MODO DE PREPARO: Preaqueça o forno a 180 oC. Lave as batatas e enrole cada uma delas em papelalumínio. Leve para assar por 30 minutos, ou até estarem bem macias.

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Retire-as do forno e espere amornar. Descasque as batatas e passe-as no espremedor (é mais fácil fazer isso quando elas ainda estão mornas!).

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Junte as gemas, a farinha, a nozmoscada e acerte o sal e a pimenta. Misture a massa, até que ela se desgrude das mãos. Em uma bancada enfarinhada, faça alguns rolinhos com a massa e, depois, corte esses rolinhos em cubos.

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Leve uma panela com água e sal ao fogo. Quando começar a ferver, jogue os

nhoques e deixe-os cozinhar até que subam na superfície (cerca de 1 minuto). Então, retire a massa com uma escumadeira e ponha-a em uma tigela com gelo e água gelada para interromper o cozimento. Repita o processo com todos os nhoques. Então, escorra a água e reserve os cubinhos em uma travessa untada com azeite.

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Aqueça uma frigideira em fogo alto. Adicione o azeite e o alho. Deixe o alho refogar um pouco e, então, junte os tomatinhos-cereja. Cozinhe no fogo baixo, mexendo de vez em quando, até os tomates murcharem. Tempere com sal e a pimenta a gosto. Junte os nhoques e as folhas de manjericão. Sirva com o parmesão ralado por cima. MAI/JUN 2019 25


VALORES ESSENCIAIS

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Quero me encontrar

O AUTOCONHECIMENTO É UMA DESCOBERTA LENTA, QUE PODE SER DOLOROSA E EXIGIR AJUDA. MAS TRILHAR ESSE CAMINHO NOS ENSINA A LIDAR DE FORMA MAIS MADURA COM NOSSO ÍNTIMO E COM O MUNDO reportagem HELAINE MARTINS ilustração FIDO NESTI

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esponda rápido: quais são suas qualidades e seus defeitos? De que você gosta? Quais são seus maiores desejos? Muitas pessoas, ao longo da vida, acumulam um monte de informações, viajam por vários países, aprendem línguas, mas poucas dedicam parte de seu tempo a ampliar o conhecimento que têm sobre si mesmas, desperdiçando um dos aspectos mais ricos da condição de ser humano: a nossa capacidade de nos conhecermos profundamente. Nenhum outro animal é capaz de refletir sobre a sua existência, de acessar seu mundo interno. O resultado desse processo reflexivo é o que chamamos de autoconhecimento. Não por acaso, na Grécia antiga, quando pediram ao filósofo Sócrates que resumisse todos os conceitos filosóficos, ele respondeu: “Conhece a ti mesmo”. É no processo de autoconhecimento que nos tornamos mais conscientes de nossos medos, crenças, emoções, impulsos e potencialidades, mais íntimos da nossa história e propósito. “Trilhar esse caminho é importante porque só podemos tomar decisões confiáveis quando temos uma ideia mais precisa de quem somos”, explica o psiquiatra Guilherme Spadini, do Grupo de Assistência Psicológica ao Aluno da Faculdade de Medicina da USP. “Familiarizados com todas as partes que nos formam, podemos repensar aspectos da nossa personalidade, quebrar tabus e padrões

de comportamentos destrutivos. Ninguém precisa ser pra sempre a pessoa que está acostumada a ser”, completa. O exercício de auto-observação pode até parecer fácil. Talvez você respondesse às questões do começo do texto com frases como “eu sou uma pessoa ativa e alegre” ou “eu gosto mais do inverno que do verão”. Mas a verdade é que passamos pela vida sem conseguir entender mais do que uma fração de quem somos. “Somos mestres do autoengano”, diz Guilherme. Segundo ele, desde a infância, construimos barreiras que atrapalham o caminho do autoconhecimento. São mecanismos de defesa, como se convencer de que odeia uma coisa pela qual tem forte desejo; negar as próprias falhas atribuindo a culpa a terceiros; ou reprimir sentimentos que julga feios. “Nossa mente é extremamente habilidosa em esconder a verdade sobre nós mesmos porque ela pode ser incômoda e dolorosa. Por isso precisamos estar engajados em um processo deliberado de desenvolver o autoconhecimento.” Não há fórmula mágica, mas, felizmente, existe uma série de ferramentas que podem nos ajudar a alcançar essa bússola interna. As pessoas que você vai conhecer nesta reportagem se lançaram, por meio de diferentes práticas, em uma corajosa jornada do autoconhecimento – e descobriram que se conectar consigo mesmas é parte indispensável de uma vida mais leve, livre e feliz. MAI/JUN 2019 29


DÁ PRA MUDAR?

MISSÃO

ORGANIZAÇÃO

NOSSA REPÓRTER ACHAVA QUE NÃO TINHA MUITO O QUE ARRUMAR EM SUA CASA. ATÉ QUE, INSPIRADA POR MARIE KONDO, A GURU JAPONESA DA ARRUMAÇÃO, COMEÇOU UMA FAXINA GERAL EM SUAS ROUPAS, LIVROS, PAPÉIS. O RESULTADO FOI SURPREENDENTE reportagem ROMY AIKAWA ilustração MARCELLA TAMAYO

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á faz dez anos que moro no apartamento atual, em São Paulo, com meu marido e nossas duas filhas. Ele é maior que o anterior, em que vivemos também por uma década. Trouxemos tudo o que tínhamos, até porque na casa nova havia armário suficiente para acomodar nossas coisas sem grandes esforços. Sempre tivemos o hábito de manter uma certa ordem e, ao menos uma vez por ano, dar uma boa limpada nos armários, tirando o que já não tem utilidade. Mas as prioridades foram mudando, e esse costume se tornou menos frequente – e também deixou de resultar apenas em descarte. Eu, por exemplo, passei a manter o que ainda estava bom, apesar de não usar, com a intenção de vender pela internet. E, ainda, a pensar duas vezes antes de dispensar coisas que mais para a frente poderia precisar e não poder comprar. O problema é que o volume de “itens de futura necessidade” e coisas em desuso foi crescendo. Para piorar, a pressa ou o fato de estar ocupada muitas vezes me levaram a guardar as coisas sem muito cuidado. Resultado: virou corriqueiro eu ter dificuldade para encontrar o que procurava. Foi por causa dessa sensação de descontrole que topei o desafio da Sorria de fazer uma organização geral em casa. Confesso que fiquei preocupada porque a ideia era me inspirar no método da japonesa Marie Kondo. Ela se tornou fenômeno mundial depois de lançar o livro A Mágica da Arrumação, que propõe guardar apenas o que traz alegria e realmente importa, e organizar tudo de uma só vez e por categoria, não por cômodo. Segundo Marie, isso evita que a bagunça volte a se instalar porque mexe com as emoções e o estilo de vida, e modifica a maneira de pensar. A questão é que eu precisaria dispor de um tempo que tem sido escasso. Além do mais, não sou a única que lida com o que está nos armários de casa. Mas imaginei que valeria tentar, e comecei pela ordem proposta no método: minhas roupas e sapatos.

UMA CASA EM ORDEM: > AUMENTA A PRODUTIVIDADE E A SATISFAÇÃO COM A VIDA.1 > AFASTA A ANSIEDADE CAUSADA PELO DESCONFORTO DE UM ESPAÇO IMPREVISÍVEL.2 > EVITA A DEPRESSÃO, POIS DIMINUI O RISCO DE VIVER EPISÓDIOS DESSE TRANSTORNO.3 > FACILITA O DESAPEGO FUTURO – O CÉREBRO FICA MENOS SUJEITO À ANSIEDADE INICIAL QUE ESSA AÇÃO CAUSA.4 > CONTRIBUI PARA UMA ALIMENTAÇÃO MELHOR, JÁ QUE UMA COZINHA ORGANIZADA REDUZ O ESTRESSE E FACILITA O AUTOCONTROLE.5 Fontes: 1) DePaul University (EUA), 2) Current Biology (EUA), 3) University of Southern California (EUA), 4) Archives of General Psychiatry (EUA), 5) Environment and Behavior (EUA)

Em um sábado de manhã, fiz uma varredura nos itens que pudessem estar fora do meu quarto, tirei todas as roupas e sapatos que eu tinha no armário e coloquei tudo sobre a cama para, então, avaliar o que iria manter e o que descartaria. Eu procurei seguir a orientação de Marie de segurar peça por peça e prestar atenção no sentimento que cada uma despertava, para ficar apenas com as que me deixassem feliz. Foi uma experiência reveladora: eliminei quase metade das peças que tinha, e acabei decidindo doar as que havia separado anteriormente para vender. Depois, parti para a etapa de dobrar tudo em retângulos, que podem ser enfileirados de pé, e arrumar nas gavetas e prateleiras. Aqui, considerei algumas dicas da profissional de organização Ana Ziccardi: “Reúna cabides iguais para pendurar coisas iguais: o padrão diminui a confusão visual. Aproveite caixas e potes plásticos para guardar acessórios e meias, por exemplo: eles delimitam espaços, o que facilita a devolução das peças para o mesmo lugar”. Quando terminei, senti um misto de felicidade e alívio. Vai demorar para que eu precise fazer outra arrumação como essa, porque agora consigo ver tudo o que tenho e pegar o que preciso sem desarrumar nada. A satisfação só não foi maior porque aquele era apenas o primeiro armário, e eu levei um fim de semana inteiro para organizar tudo. No começo, até achei que era por causa das inúmeras interferências cotidianas, mas percebi que o problema era mesmo o excesso de coisas. Eu não achava que tinha tanto. E me dei conta de que minhas filhas também estavam guardando itens demais. É que as duas ficaram inspiradas pelo meu “novo” guarda-roupa e tiraram o fim de semana seguinte para fazer uma faxina geral no delas. A mais velha foi até o fim, e ficou toda orgulhosa do resultado. A caçula conseguiu separar o que é importante para ela, mas faltou organizar no armário. De qualquer maneira, MAI/JUN 2019 37


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