Revista Fé para Hoje Número 31, Ano 2007

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MARTINHO LUTERO: A TEOLOGIA DA CRUZ EM CONTRASTE...

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Por isso, a busca monástica por idéia de uma forma sofredora da igreja humildade não faz nenhum sentido. criticamente contra o papado e para O caminho da humildade não vai de julgamento da história da igreja. O fora para dentro, mas de dentro para Cristo morto e ressurreto está trabafora. Não podemos apresentar nos- lhando em meio à fraqueza da Igreja, sa humildade (“nulidade”) como mé- preparando-a para mostrar a sua forrito diante de Deus. Humildade é a ça. De modo similar, o Cristo morto renúncia consciente a todas as quali- e ressurreto “julga a Igreja onde ela dades humanas com as quais pode- se tornou orgulhosa e triunfante, ou ríamos argumentar. Neste sentido, a segura e presunçosa, e a chama para humildade tem que preceder à fé, voltar ao pé da cruz, onde lembra da pertence ao alimaneira mistecerce crítico riosa e secreta da fé. Justifique Deus traSer crucificado com Cristo cação pela fé balha no munsó poderá aconrevela-se ainda no fato de um do”.10 A teologia tecer onde houverdadeiro cristão ter de atrair da cruz conhever sido posto necessariamente sobre si a ce a Deus no este alicerce. inimizade do mundo. próprio lugar Neste sentido, onde Ele se humildade, tal ocultou – na como a fé, não cruz, com os é uma virtude. É a renúncia de toda virtude; é saber seus sofrimentos, todos eles consique não podemos subsistir perante derados fraqueza e loucura pela teoDeus com nossa virtude. “Humilda- logia da glória. Deus é conhecido e de nada mais é do que o auto-reco- compreendido não na força, mas na nhecimento perfeito, que encerra a fraqueza, não numa demonstração fé justificante.”9 Este conceito lute- impressionante de majestade e poder, rano de humildade não se compara mas na exibição de um amor que se em nada ao sentido católico-sinergis- dispõe a sofrer a fim de converter o ta. Todo sinergismo está excluído. homem para si: “Sendo justificados Por conseguinte, Lutero conta gratuitamente, por sua graça, media cruz e o sofrimento entre os sinais ante a redenção que há em Cristo particulares da igreja (nota ecclesi- Jesus, a quem Deus propôs, no seu ae). Faz parte da natureza da igreja sangue, como propiciação, mediante encontrar-se ela no sofrimento; uma a fé, para manifestar a sua justiça” igreja da qual não se pode afirmar isso (Rm 3.24-25). No momento em que é uma igreja que se tornou infiel à a proclamação eclesial deixa de ser sua destinação. A Igreja pode ser se- uma pedra de tropeço para o povo, duzida pela teologia da glória e se isto é sinal de que ela traiu o evangetransformar em uma religião de boas lho. No escândalo, porém, é que está obras e análises dos desempenhos o “poder do evangelho”. A adoração dos fiéis. Lutero usou, portanto, a ou pregação que faz as pessoas sen-


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