O legado de Lutero - R. C. Sproul e Stephen J. Nichols

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Um Deus Gracioso e um Monge Neurótico Eu não amava; eu odiava o Deus justo que castiga os pecadores e, secretamente, senão de modo blasfemo, com certeza murmurava muito, pois eu estava zangado com Deus e dizia: “Não basta que os miseráveis pecadores, eternamente perdidos pelo pecado original, sejam esmagados por toda a espécie de calamidade pela lei do Decálogo, sem que Deus acrescentasse dor à dor pelo evangelho e também pelo evangelho nos ameaçasse com sua justiça e ira!”. Assim, eu me enfurecia com uma consciência feroz e perturbada.11

Os anos entre 1511 e 1517 provavelmente foram os mais árduos de uma vida que já era difícil. Lutero tinha sua rotina. Dava aulas na universidade. Frederico, o Sábio, Eleitor da Saxônia, não somente havia construído a cidade e a igreja do Castelo, como também usara sua riqueza considerável para colocar Wittenberg na constelação das universidades europeias. Não poupava gastos, reconhecia os acadêmicos e a universidade cresceu em estatura. Frederico se maravilhava com seu professor de teologia. Lutero era um professor brilhante, capaz de um pensamento incisivo e de muito bom humor. Se você tiver lido a sátira de Erasmo sobre a igreja desse tempo, Elogio à loucura, saberá que havia muito combustível para a comédia. A sagacidade de Lutero, junto com esse momento oportuno, significava que seus alunos se divertiriam muito. O humor, especialmente quando se mostra sarcástico, tende a revelar uma realidade mais trágica 11  Martin Luther, “Preface to the Complete Edition of Luther’s Latin Writings”, LW, vol. 34: Career of the Reformer IV (St. Louis: Concordia, 1960), 336-37. Esse texto foi escrito em 1545, por Lutero, lembrando sua conversão.

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