Arco43 em Revista - 2ª edição

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Outubro de 2019 | nº 2

Paz na escola: uma construção de todos O que é possível fazer para reduzir a violência nas escolas? Conheça algumas dicas e iniciativas que podem apoiar sua instituição.

Como desenvolver as competências socioemocionais?

pág. 22

Dante lança materiais de apoio de Matemática para o Ensino Fundamental. pág. 18

Lei Geral de Proteção de Dados: O que muda para pág. 30 as escolas?


ENSINO FUNDAMENTAL I

A coleção Akpalô foi reformulada com o objetivo de contribuir ainda mais para a qualidade da Educação, atendendo as principais necessidades dos professores. Assim, foi fundamentada na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), contemplando um processo de aprendizagem que busca construir o conhecimento do aluno e a ampliação desse estudo por meio de novas experiências e descobertas. Organizada em cinco volumes, que abrange do 1º ao 5º ano, a coleção Akpalô trabalha de modo lúdico os assuntos abordados. Dividido em unidades, o Livro do Aluno de cada disciplina é composto de textos teóricos, rica e vasta iconografia, e atividades de aprofundamento complementares, que buscam levar os estudantes ao mundo do conhecimento, seja em sala de aula, seja em casa. Os conteúdos seguem a progressão da aquisição do conhecimento e são apresentados em linguagem adequada a cada faixa etária.

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DEZ ANOS CONTRIBUINDO PARA A QUALIDADE DA EDUCAÇÃO!

Novidade! Cada livro vem acompanhado de capa plástica. Livro do Aluno protegido o ano inteiro!


Presidente: Aurea Regina Costa Diretor Geral: Vicente Tortamano Avanso Diretor Comercial: Bernardo Musumeci Diretor Editorial: Felipe Ramos Poletti Gerente de Marketing e Inteligência de Mercado: Helena Poças Leitão Gerente de PCP e Logística: Nemezio Genova Filho Supervisor de CPE: Roseli Said Coordenador de Marketing: Léo Harrison Analistas de Marketing: Lívia Garcia, Miki Tanaka e Rodrigo A. Grola

Realização Coordenação: Helena Poças Leitão Colunistas: Francisca Paris, Maria José Vasconcellos, Maria Cecília Condeixa Conteúdo: Agência Bowie Colaboradoras: Lívia Garcia e Miki Tanaka Revisão: Balão Editorial Direção de Arte: Rodrigo A. Grola Projeto Gráfico e Diagramação: Rodrigo A. Grola Produção Editorial: Léo Harrison Jornalista Responsável: Helena Poças Leitão - MTB 44375/SP

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SUMÁRIO

Edição nº 2 | 2019

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Paz nas escolas: uma construção de todos Protagonismo como ferramenta da educação Na Vibe da Paz — movimento pela cultura de paz nas escolas Dante lança materiais de apoio de Matemática para o Ensino Fundamental A educação digital como ferramenta de inclusão: práticas educativas para todos com as novas tecnologias

22 Como desenvolver as competências socioemocionais nos alunos?

28 Quais as principais preocupações dos pais na hora de escolher a escola para seus filhos?

30 Lei Geral de Proteção de Dados: o que muda para as escolas?

34 A importância do plano estratégico de

marketing para o sucesso de sua escola

38 Tendências tecnológicas na educação 40 Métricas para gestão escolar: desafios e avanços

42 Como avançar na aprendizagem com equidade?

46 Espaço e tempo na Educação Infantil


[ CARTA DE APRESENTAÇÃO ]

Caros educadores, Nesta edição, estamos abordando diversos temas atuais e polêmicos com o objetivo de incentivar a reflexão sobre os novos rumos da educação e os caminhos que precisaremos traçar para acompanhar essas mudanças. A paz nas escolas é um dos temas abordados na revista e um dos mais relevantes da atualidade. A nova geração de alunos não está conseguindo viver harmoniosamente em um mundo repleto de cobranças, mágoas e julgamentos. Um mundo em que trabalhar as competências socioemocionais dos alunos está sendo mais relevante e importante do que o conhecimento dos conteúdos disciplinares em sala de aula. Confira nesta edição pesquisas e casos de violência dentro das escolas e algumas sugestões de como as instituições podem combatê-la, envolvendo toda a comunidade escolar. Outro assunto que está deixando os gestores das escolas “de cabelo em pé” é a Lei Geral de Proteção de Dados, que entrará em vigor em agosto de 2020. A questão é séria e a escola precisa se preparar desde já, atualizando os contratos na campanha de matrícula para evitar multas bem “salgadas” no futuro. Portanto, planejar é fundamental. Por falar em planejamento, você encontra ainda um texto de minha autoria sobre a importância do plano estratégico de marketing para o sucesso da escola, inspirado em meu livro Marketing escolar de bolso. No texto, eu comento, de forma prática e resumida, os caminhos para se montar um plano de marketing eficiente e que esteja alinhado com o momento atual de sua escola. Abordamos também as principais preocupações dos pais ao escolher a escola para seus filhos, contamos como foram os lançamentos de Matemática do renomado autor Luiz Roberto Dante, falamos sobre a necessidade do protagonismo do aluno em sala de aula, entre outros assuntos. Desejamos que esta revista seja uma ferramenta importante para atualizá-lo a respeito das informações educacionais relevantes e apoiá-lo em seu dia a dia na escola. Boa leitura! Helena Poças Leitão Gerente de Marketing e Inteligência de Mercado da Editora do Brasil

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[ EM ALTA ]

Paz nas escolas: uma construção de todos Armas de fogo, bullying e discussões entre alunos: há diversos tipos de violência e todos precisam ser combatidos.

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Imagem: Shutterstock

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m 2011, a chacina na Escola Tasso da Silveira em Realengo, no Rio de Janeiro, executada por um ex-aluno, vitimou doze estudantes. Em março de 2019, na cidade de Suzano na Grande São Paulo, também ex-alunos da Escola Estadual Professor Raul Brasil planejaram um ataque que matou cinco estudantes e duas funcionárias. De acordo com matéria publicada pelo jornal Folha de S.Paulo, em 19 de março de 2019, desde 2002 ao menos oito escolas brasileiras sofreram atentados em que alunos ou ex-alunos armados abriram fogo contra estudantes e funcionários. Segundo pesquisa do Instituto Sou da Paz, em metade desses casos os jovens atiradores utilizaram armas que estavam armazenadas em suas casas.

Episódios como esses nos trazem algumas reflexões: por que esses ataques acontecem dentro do ambiente escolar? De que forma podemos evitar que situações como essas se repitam? O tema é complexo e repleto de subjetividades. Ataques em massa como esses envolvem um conjunto de elementos e situações, como diferentes campos e aspectos socioemocionais e sociais. Um desses elementos é o próprio acesso às armas. O mesmo levantamento do Instituto apontou que entre as 14 mil armas apreendidas em São Paulo, entre 2011 e 2012, mais de 60% haviam sido produzidas antes de entrar em vigor o Estatuto do Desarmamento, em 2003. Diversas pesquisas apontam que a disponibilidade das armas está intrinsecamente relacionada aos

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[ EM ALTA ] ataques, o que explica por que nos Estados Unidos há mais episódios como esses. Ainda que os casos de violência nas escolas com arma de fogo sejam reduzidos no Brasil, a Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE), realizada em 2015 pelo IBGE, apontou que entre os alunos do nono ano, 5,7% já tinham se envolvido em uma briga na qual alguém usou uma arma de fogo nos últimos 30 dias.

Bullying como gatilho emocional “Se analisarmos os episódios de Suzano e Realengo veremos que os autores foram aos poucos limitando o contato social. É comum também o histórico de bullying, ocorrido não apenas na escola, mas também no meio em que viviam”, pontua Luiz Miguel, presidente da União dos Dirigentes Municipais do Estado de São Paulo (UNDIME-SP). O bullying foi destaque na pesquisa sobre violência escolar realizada pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), no final de 2018. Entre 13 e 15 anos, um em cada três alunos sofre este tipo de violência. “Em curto prazo, isso afeta seu aprendizado e, em longo prazo, pode levar à depressão, à ansiedade e até ao suicídio. A violência é uma lição inesquecível que nenhuma criança precisa aprender”, afirma a diretora-executiva do UNICEF, Henrietta Fore.

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De acordo com o estudo do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) 2015, que entrevistou adolescentes de 15 anos, 17,5% disseram sofrer alguma das formas de bullying mais de uma vez por mês, enquanto 7,8% disseram ser e­ xcluídos pelos colegas; 9,3%, são alvo de piadas e 4,1% sofrem algum tipo de ameaça. Outros 5,3% dos alunos disseram que os colegas frequentemente pegam e destroem as coisas deles e 7,9% são alvo de rumores maldosos. A situação é alarmante quando perguntados se nos últimos 30 dias praticaram bullying: de acordo com o levantamento do IBGE, 19,8% responderam que sim. O desdobramento das consequências do bullying, além do impacto na saúde de quem é vítima desse tipo de violência, pode culminar em agressões físicas, que também são bastante frequentes nas escolas: 23,4% dos estudantes entrevistados responderam ter se envolvido em alguma briga ou luta física pelo menos uma vez nos 12 meses anteriores à pesquisa; 12,3% dos estudantes entrevistados foram seriamente feridos pelos menos uma vez nos 12 meses que antecederam à pesquisa; e 7,9% declararam ter se envolvido em alguma briga com arma branca. O percentual é maior entre meninos (10,6%) do que entre meninas (5,4%). E é maior entre estudantes da rede pública (8,4%), do que entre aqueles da


rede privada (5,3%). Com isso, 14,8% dos estudantes do nono ano afirmam ter deixado de ir à escola, pelo menos um dia, nos 30 dias anteriores à pesquisa, por não se sentirem seguros no caminho de casa para a escola ou da escola para casa.

Na rede pública, a violência verbal ou física atingiu 42% dos alunos nos últimos 12 meses, de acordo com a pesquisa realizada pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso).

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Violência é maior na rede pública Na rede pública, a violência verbal ou física atingiu 42% dos alunos nos últimos 12 meses, de acordo com a pesquisa realizada pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso), em parceria com o Ministério da Educação e a Organização dos Estados Interamericanos (OEI). O levantamento, que aconteceu em 2015, entrevistou mais de seis mil alunos, de 12 a 29 anos, em sete capitais brasileiras: Maceió, Fortaleza, Vitória, Salvador, São Luís, Belém e Belo Horizonte. O número aumenta quando os alunos são perguntados se houve qualquer tipo de violência na escola: 70% disseram que sim e destacaram que em 65% dos casos o agressor era um colega. Em relação ao local onde aconteciam as agressões, ao contrário do que se pode pensar à primeira vista, a sala de aula não é o lugar mais protegido: 25% dos casos aconteceram lá, o mesmo percentual dos pátios. Já os corredores, em segundo lugar, com 22% dos episódios. Além das agressões físicas, o cyberbullying, que envolve ataques verbais por meio da internet, foi relatado por 28% dos casos, seguido de roubo e furto em 25% e ameaças em 21%. Quando perguntados sobre as possíveis causas e gatilhos para a violência, os alunos destacaram que salas de aulas quentes, sem iluminação e superlotadas tornam o ambiente propício para conflitos.

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[ EM ALTA ] É possível superar a violência na escola? Outro ponto que chama atenção quando o assunto é violência na escola é a tendência à naturalização. Muitas vezes discriminações, agressões verbais, furtos e outros conflitos no ambiente escolar são considerados brincadeiras, corriqueiros e banalizados. Com isso, há espaço para legitimação desse tipo de desrespeito como uma forma de justificar e lidar com os conflitos. Por conseguinte, há a contribuição para a construção de um ambiente hostil. De olho nisso, as educadoras Luciene Regina Paulino Tognetta e Telma Pileggi Vinha se debruçaram sobre o tema, que deu origem ao livro É possível superar a violência na escola?, lançado pela Editora do Brasil. De acordo com as autoras, há diversas formas de se combater e de se lidar com as múltiplas formas de violência escolar. Rodas de conversa ou assembleias constituem uma dessas formas de lidar com a violência. Com a presença de professores-mediadores, é possível dialogar sobre a convivência e contribuir para a solução de conflitos entre alunos e professores. Outra proposta é a formação de equipes de ajuda, que são alunos eleitos pelos pares e que recebem formação para auxiliar os colegas da escola como aqueles que estão sendo excluídos ou que estão passando por algum problema. É válido também formar uma equipe de mediadores de conflitos para as desavenças mais particulares. Para que o clima da escola melhore e se vislumbre resultados, é de suma importância que os gestores atuem também de forma preventiva e fomentem os valores que a escola pretende desenvolver. Telma destaca que esse trabalho é mais eficaz quando contempla três vias: 1. A via pessoal e relacional, quando os professores

estudam desenvolvendo habilidades que contribuem para a melhoria das relações como o uso de uma linguagem assertiva e empática, como lidar com os problemas de convivência ou como construir as regras. 2. A via curricular ocorre quando temáticas relacionadas aos valores, convivência e habilidades socioemocionais são trabalhadas tanto nas disciplinas quanto por meio de uma matéria inserida na grade horária dos alunos. Nesse espaço, usando métodos ativos, é que são construídos projetos

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antibullying ou se trabalha a expressão de sentimentos, por exemplo. 3. A via institucional é quando a escola organiza e implanta ações coordenadas em todos os níveis de forma a construir uma cultura de avanço contínuo na área da convivência democrática, como a implantação de assembleias e de equipes de ajuda, procedimentos participativos na elaboração das normas, entre outros. Esses procedimentos podem ser organizados num plano de convivência da escola.

Movimento Na Vibe da Paz “Definitivamente o que garante a paz não são câmeras de vigilância, os seguranças na porta ou mesmo muros altos e o isolamento. A paz deve ser uma construção de todos, mas a grande pergunta a ser respondida é: o que e como fazer para que isso seja possível?”, conta Luiz Miguel Martins, presidente da UNDIME-Nacional. A questão não é simples de se resolver e envolve não só a sociedade como um todo, mas em especial as esferas públicas do poder. Por outro lado, medidas de sensibilização e intervenção podem ser feitas desde já para contribuir com uma cultura de paz. Pensando nisso, a UNDIME-SP debateu a questão com os representantes regionais e, com apoio técnico especializado, construiu uma proposta de ação: o movimento Na Vibe da Paz, lançado em abril de 2019. Com o objetivo de sensibilizar profissionais da educação e estudantes sobre a importância da cultura da paz nas escolas, as ações focam no desenvolvimento socioemocional da comunidade escolar, com a promoção da saúde e do bem-estar. “A mobilização busca trazer para o debate toda a comunidade escolar, incluindo o entorno. Pretendemos compartilhar recursos para que os professores, funcionários, gestores, famílias e vizinhos das escolas identifiquem sinais de situações complicadas e deem o encaminhamento necessário”, destaca Luiz Miguel. Na Vibe da Paz contará com reuniões e palestras psicoeducacionais, além de material que subsidiará os trabalhos, por meio da ação de tutores escolhidos pela comunidade escolar. No site www.navibedapaz.com.br há conteúdos que podem inspirar e dar suporte a movimentos e campanhas similares em outras regiões.


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A coleção Tempo foi elaborada de acordo com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Seus principais objetivos são desenvolver as competências e habilidades do aluno e valorizar o trabalho docente. Ao trabalhar situações cotidianas de aprendizagem, a coleção Tempo possibilita a aquisição gradual do conhecimento e oferece uma variedade de recursos pedagógicos combinando metodologias consagradas com práticas inovadoras.

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[ METODOLOGIAS ATIVAS ]

Protagonismo como ferramenta da educação A Escola Projeto Vida, em São Paulo, estimula competências socioemocionais desde a Educação Infantil, focando em situações que o aluno seja desafiado e se torne um participante ativo da construção do conhecimento.

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uando o assunto é inovação, diversas dúvidas passam pela cabeça de educadores e gestores escolares: como deve ser a educação do futuro? De que forma as escolas podem inovar em projetos educacionais? Afinal de contas, nunca se falou tanto em inovação como na sociedade pós-moderna em que vivemos, naturalmente marcada pela globalização, pelo imediatismo e pelo digital. No meio disso tudo está a educação, cheia de desafios e inquietações. Como garantir o aprendizado, sem ir na contramão

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do que vivemos e sem deixar que isso prejudique o conhecimento? Diante de questões como essas, basicamente ­pode-se delimitar dois grupos: aqueles que são entusiastas das mudanças e os que rejeitam o novo, numa forma de proteção aos valores e práticas que sempre deram certo. No entanto, é importante lembrar que a escola, por essência, sempre será um lugar que circula conhecimento; já a forma como isso é conduzido pode ser modificada.


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De olho nisso, Mônica Padroni fundou, ao lado de duas sócias, a Escola Projeto Vida, há 28 anos em São Paulo, com foco na educação do Ensino Infantil, Fundamental e Médio. A pedagoga identificou, de forma precoce, as mudanças que chegavam ao mundo e percebeu que um novo modelo de educação era necessário. “As gerações atuais são mais ativas e protagonistas, com acessos facilitados a diversos recursos. Com isso, temos de ter crianças com novas habilidades para encarar o mundo atual e futuro”, conta. E assim foi criado o projeto pedagógico da instituição, que como o nome diz, foca no desenvolvimento integral do aluno, com um destaque especial para as competências socioemocionais. Localizada no bairro da Casa Verde, zona norte de São Paulo, a Escola Projeto Vida está instalada no Sítio Santa Luzia, patrimônio histórico da cidade. Para a Educação Infantil, são mais de 2.000 m2 de área verde com árvores centenárias. Já o Ensino Fundamental desfruta de uma segunda unidade e o Ensino Médio, criado há dois anos, é oferecido em parceria com o Colégio Novo Pátio. Com foco na inovação, encarada não como um fetichismo tecnológico, mas como uma forma criativa de se pensar soluções para os problemas que enfrentamos no dia a dia, a escola tem avançado em projetos e processos educacionais. O protagonismo do aluno é utilizado como aprendizagem criativa, assim como a diversidade. “Desde o início, acreditamos na formação integral, com alunos com voz e participação e também na construção da educação com diversidade e inclusão, com a presença de alunos com autismo, Síndrome de Down, paralisia cerebral, entre outros”, destaca a pedagoga. A escola, que oferece ensino bilíngue, também inclui atividades artísticas como aulas de música e dança, além de esportes. Como suporte para as aulas e aprendizagem, todos os alunos possuem um chromebook para acesso a uma plataforma digital que oferece revisão e conteúdos extras. No entanto, isso é apenas para o Ensino Fundamental. “A Educação Infantil é a fase da experimentação, da brincadeira, de descoberta e, por isso, evitamos o contato com o digital”, conta. O estímulo à cultura maker também faz parte

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[ METODOLOGIAS ATIVAS ] do projeto pedagógico, por meio de uma parceria com a Nave à Vela, que promove atividades no estilo faça-você-mesmo.

Mindfulness para professores e alunos Um dos projetos de destaque, iniciado este ano, é o mindfulness, que, com técnicas de meditação, visa estimular a qualidade da atenção no momento presente, trazendo maior clareza e concentração tanto para professores quanto para alunos. Por meio de uma empresa parceira, a primeira etapa consistiu no treinamento e capacitação de todos os educadores da escola e, depois, na aplicação em sala de aula. “Nas reuniões pedagógicas discutimos de que forma eles poderiam ser replicadores de mindfulness para os alunos. E, assim, iniciamos o projeto com todos os alunos do Ensino Básico ao Ensino Médio”, conta Mônica. Círculos restaurativos É na escola que a criança se depara com pessoas, opiniões e modos de viver diferentes. Esse choque de realidades com a efervescência das descobertas pode levar a conflitos diversos, como brigas e discussões. O aluno ainda está no processo de construção do eu e do seu eu no mundo. Para ajudar nessa questão, a Escola Projeto Vida criou os círculos restaurativos, uma estratégia de intervenção para mediar conflitos entre os alunos. “É comum vermos os professores, diante de uma discussão entre alunos, orientando que tal aluno peça desculpas ou faça uma reparação. Nos círculos restaurativos, o professor assume outra posição: ele é o mediador, ou seja, conduz a conversa e estimula que os alunos envolvidos no conflito busquem as próprias soluções, com responsabilidade e humanização”, explica a pedagoga. A ideia é provocar, desde que os alunos são pequenos, a capacidade de lidar melhor com as frustrações e problemas, diminuindo a dependência de apoio e de direcionamento do educador ou dos pais. Assembleias estudantis Também com a mediação dos educadores, são realizadas periodicamente assembleias de turma,

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para discussões de temas importantes para os alunos, como propostas de melhorias, elogios e percepções do ensino. A proposta pedagógica das assembleias é estimular o diálogo e, por meio da cooperação, pensar em soluções cidadãs. “A partir da escuta, são discutidas diversas questões da realidade da turma. Nessa atividade é reforçado que não se deve criticar as pessoas e, sim, as ações negativas, sempre olhando e buscando soluções que possam resolver aquele problema”, endossa Mônica.

Arte e comunicação na prática Para os formandos do nono ano do Ensino Fundamental há a possibilidade de participar do teatro pedagógico. Nele, os adolescentes têm a oportunidade de escrever, produzir e atuar numa peça teatral. As aulas contam com o direcionamento de um dramaturgo que junto com os alunos escrevem o roteiro do espetáculo, feito a partir das visões e aspectos que são levantados pelos próprios alunos. Também no Ensino Fundamental II, há a opção de participar do Comunica TV, um projeto de rádio e televisão, que visa despertar talentos para produção de documentários, fotografias e outros conteúdos audiovisuais. Este ano, os alunos estão produzindo um making off da peça de teatro, produzida pelo nono ano. Já para aqueles que têm interesse ou aptidão para as ciências exatas, há o Gurus da Tecnologia, um projeto de robótica e programação, com foco no desenvolvimento de soluções inovadoras para a sociedade. No Ensino Médio, um colégio conveniado ao Projeto Vida chamado Novo Pátio, oferece diversas atividades de voluntariado com ações em asilos, orfanatos e demais instituições não governamentais. Iniciativas como a Projeto Vida mostram que crianças e adolescentes podem adquirir competências que os tornem capazes de lidar com diferentes tecnologias e linguagens, por meio do protagonismo e da inovação. “A escola é um espaço de encontro com outro, de conhecimento, de desenvolvimento. Acreditamos que a escola tem de abrir canais de escuta e de entendimento do novo. Assim, podemos evoluir e construir uma geração mais preparada para lidar com tantas mudanças”, completa Mônica.


[ ARTIGO ]

Na Vibe da Paz — movimento pela cultura de paz nas escolas

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romover a cultura de paz sempre foi um dos objetivos da União dos Dirigentes Municipais de Educação do Estado de São Paulo (UNDIME-SP), associação criada há 32 anos para defender os interesses educacionais dos municípios paulistas, bem como a promoção da ética, dos direitos humanos, da democracia e de outros valores universais. No dia 13 março de 2019, quando a UNDIME-SP finalizava seu maior evento educacional, o Fórum Estadual “Sonhar, Planejar e Deixar um Legado”, em Atibaia-SP, reunindo gestores públicos municipais de todos os cantos do estado, as manchetes de jornais e noticiários de TV anunciavam um atentado a tiros na E.E. Raul Brasil, em Suzano, região metropolitana de São Paulo, deixando mortos e inúmeros feridos no chão da escola, vitimando todas as famílias e a comunidade escolar. Refletindo sobre o ocorrido em Suzano, e como forma de demonstração da solidariedade dos dirigentes municipais de educação, manifestando profunda tristeza diante da tragédia, a UNDIME-SP idealiza um movimento pela cultura de paz nas escolas, o projeto “A Escola na Vibe da Paz”. #NaVibeDaPaz, hashtag usada na campanha, surge com a finalidade de sensibilizar toda a comunidade escolar sobre a relevância de projetos voltados à cultura de paz nas escolas, prevenção e enfrentamento do bullying e o bem-estar emocional

da comunidade escolar, ou seja, a promoção da saúde emocional. Com isso, #NaVibeDaPaz busca engajar gestores, professores, famílias, alunos, funcionários, comunidades do entorno das escolas, e trazê-los para o centro das discussões. “A UNDIME-SP quer construir políticas públicas e elaborar ações para que todos tenham ambiente escolar em harmonia, na paz”, destaca Luiz Miguel Garcia, recém-eleito presidente da UNDIME-Nacional. A etapa seguinte do projeto, após seu lançamento em abril, é promover encontros e palestras psicoeducacionais nas 13 macrorregiões da seccional paulista da UNDIME, além de subsidiar e oferecer apoio técnico para a implementação de medidas práticas, com o apoio de tutores escolhidos pela própria comunidade escolar. Uma outra etapa visa, também, sensibilizar a sociedade civil para discutir políticas públicas. “Onde há felicidade e bem-estar,

não há violência”, diz Cristiana Berthoud, Secretária de Articulação da UNDIME-SP, Dirigente Municipal de Educação de Tremembé e coordenadora da campanha. Na E. M. Maria Antônia Benelli, do município de Tarumã, por exemplo, inúmeras ações foram realizadas para sensibilizar alunos e comunidade escolar sobre a importância da cultura da paz em todo o ambiente escolar. Além disso, diversas atividades também aconteceram em outras unidades escolares para promover o desenvolvimento socioemocional. “Sabemos que o mundo clama por paz. E começar pelos pequenos gestos é o melhor caminho”, destaca Sandra Moura, Dirigente Municipal de Educação do município. Hoje o projeto conta com um site (https://www.navibedapaz.com. br) em que é possível compartilhar práticas exitosas desenvolvidas nas escolas com o objetivo de servir de espelho para outras unidades.

Secretários de Educação do Estado de São Paulo no encontro da UNDIME-Nacional.

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Imagem: Acervo Pessoal

Marcos Vinícius de Souza Martins – Assessor de Comunicação e Imprensa da Undime São Paulo


[ ENTREVISTA ]

Dante lança materiais de apoio de Matemática para o Ensino Fundamental Um dos maiores autores de Matemática da atualidade fala sobre suas novas coleções: uma focada para raciocínio e cálculo mental e outra direcionada para o Enem.

L

uiz Roberto Dante é autor renomado de diversos livros didáticos de Matemática e há muito tempo estava querendo desenvolver um material paradidático para apoiar os professores em sala de aula. Confira uma entrevista do autor sobre seus dois grandes lançamentos.

De que maneira os professores podem trabalhar um material de apoio em sintonia com outra(s) obra(s) didática(s) já utilizada(s) em sala de aula?

Qual a função do material ­paradidático no ensino atual de Matemática?

uso livre: o aluno pode ler ou estudar sozinho com um livro paradidático, sem cobrança;

Em geral, os livros paradidáticos não se restringem ao conteúdo matemático de determinado tema. Eles são utilizados para proporcionar alternativas de aprofundar e esclarecer detalhes de assuntos importantes abordados em um programa do curso. Qual a origem da demanda que o levou a produzir estas obras de apoio?

Com base na minha experiência de educador matemático e de autor de livros didáticos, percebi que havia uma demanda muito grande para elaboração de livros paradidáticos nestes dois assuntos: raciocínio lógico e cálculo mental para o Ensino Fundamental 1 e teoria resumida e problemas para auxiliar os alunos do Fundamental 2 e do Ensino Médio, que vão prestar o Enem.

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Há várias possibilidades de uso dos livros paradidáticos. Por exemplo:

tarefa de casa: o aluno lê em casa e o professor promove na aula uma discussão sobre o livro; desencadeando um conteúdo: antes de iniciar um conteúdo, o professor solicita que os alunos estudem partes de um livro paradidático; em seguida, coordena a discussão sobre o que foi estudado. Algo como a metodologia “sala de aula invertida”; aprofundando um conteúdo: após trabalhar com um conteúdo, os alunos, individualmente ou em grupos, estudam partes de um livro paradidático na sala de aula. No final, o professor coordena uma discussão e esclarece dúvidas; servindo de fonte de consulta: um livro paradidático é uma fonte de consulta para o entendimento ou

aprofundamento melhor de um determinado assunto. Como o raciocínio lógico e o cálculo mental auxiliam os alunos em sua compreensão e interpretação do mundo?

Raciocínio lógico é o alicerce de toda aprendizagem matemática. Estimular a criança a pensar, a criar e a relacionar ideias, com vistas à resolução de problemas, é uma meta essencial do ensino da Matemática nos anos iniciais. O cálculo mental, quando trabalhado desde os anos iniciais, se transforma numa grande ferramenta para desenvolver habilidades de cálculos mais complexos. Ambos colaboram sobremaneira para a resolução de problemas do mundo atual. O aluno passa a compreender melhor o mundo à sua volta e, assim, tem mais condições de transformá-lo para melhor. Por que é importante que os estudantes compreendam a existência de mais de uma resposta/ estratégia para o mesmo problema?

Uma situação-problema é algo para que o aluno, com suas próprias estratégias, procura uma solução. Em Matemática, há problemas com uma única solução, problemas que não têm solução e


problemas que têm mais de uma solução. Permitir e estimular que o aluno use várias estratégias para resolver uma mesma situação auxilia no desenvolvimento de uma flexibilização do seu pensamento. Quanto mais flexível e aberto o pensamento, melhores e mais criativas serão as soluções apresentadas. Em sua opinião, como tem sido abordada a Matemática nas últimas edições do Enem?

O Enem revolucionou a maneira de exigir conceitos e habilidades matemáticas dos estudantes. Sua essência interdisciplinar vê a aprendizagem da Matemática mais globalmente. Agora o aluno precisa ler, compreender e interpretar o texto do problema para, em seguida, buscar a ferramenta matemática necessária para resolvê-lo. Isso obriga ao estudante ter uma aprendizagem mais significativa da Matemática e não que saiba apenas uma porção de fórmulas memorizadas. Como é escrever para diferentes faixas etárias, no sentido de adaptação da linguagem?

Fui aprendendo à medida que ia escrevendo e reescrevendo os textos dos meus livros; sempre ouvindo os professores que usavam meus materiais. Escrever para crianças e jovens é uma aprendizagem contínua, pois o mundo muda muito rapidamente hoje e novas tecnologias avançam de maneira vertiginosa. As crianças e os jovens de cinco anos atrás eram

bem diferentes dos de hoje, procuro levar isso em conta ao escrever meus materiais didáticos. O que esperar de um aluno que trabalha com seus lançamentos paradidáticos publicados pela Editora do Brasil?

Com Raciocínio lógico e cálculo mental: Atividades de Matemática, espero abrir e flexibilizar o pensamento dos alunos e estimular a criatividade deles, algo fundamental nos dias atuais em que temos de resolver, todos os dias, os mais diversos problemas e com complexidade de todos os níveis. Com Passaporte Enem – Matemática, espero apontar, de maneira significativa, caminhos que deem maior segurança para os estudantes enfrentarem os vestibulares e o Enem. Acredito que, ao estudar esse livro paradidático, os alunos serão capazes de resolver grande porcentagem das questões do Enem. Luiz Roberto Dante Livre-docente em Educação Matemática pela Unesp – Rio Claro – SP; doutor em Psicologia da Educação: Ensino da Matemática pela PUC – SP; mestre em Matemática pela USP; licenciado em Matemática pela Unesp de Rio Claro – SP; pesquisador em Ensino e Aprendizagem da Matemática pela Unesp – Rio Claro; ex-secretário executivo do Comitê Interamericano de Educação Matemática; ex-presidente da Sociedade Brasileira de Educação Matemática; autor de várias coleções de livros didáticos e paradidáticos.

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LANÇAMENTOS DO RENOMADO AUTOR LUIZ ROBERTO DANTE QUE FARÃO A DIFERENÇA EM SUA ESCOLA! Raciocínio lógico e cálculo mental: Atividades de Matemática é uma coleção inovadora em todos os sentidos! Muito mais do que exercícios de Matemática, a coleção apresenta atividades desafiadoras e motivadoras que desenvolvem, na estruturação do pensamento da criança, ferramentas essenciais para resolver problemas de forma criativa – tudo isso trabalhado sob a perspectiva do letramento matemático.

Passaporte Enem – Matemática preenche a lacuna de temas de Matemática nos anos finais do Ensino Fundamental que não são contemplados em edições didáticas do Ensino Médio mas que são recorrentes no Enem. Por isso, é indicado como material de apoio para uso em conjunto com livros didáticos, sistemas de ensino ou materiais próprios – e também para estudos em casa!

l II Fundamenta io d é e Ensino M

Fundamenta

lI

Conteúdos digitais exclusivos da coleção via plataforma LEB.


[ INCLUSÃO ] A educação digital como ferramenta de inclusão: práticas educativas para todos com as novas tecnologias Daniel de Raeffray Blanco Nascimento e Seizo Vinicius Soares

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educação, por vezes, é vista como uma tecnologia. Bem antes do advento dos recursos digitais, a educação vem adotando termos que remetem a isto: a educação como ferramenta para a formação de sujeitos; os métodos a serem aplicados para a consecução de objetivos educacionais; as avaliações para a verificação destes resultados pré-determinados: esta é a linguagem da aprendizagem. Quem é este que aprende? Como ele aprende? Quando ele aprende? O que deve aprender? Sugerimos que a educação não deva ser vista como uma ferramenta para forjar determinadas pessoas, mas que seja a prática em que cada pessoa, em sua singularidade, com o que ela dispõe no momento, possa vir ao mundo. Possa vir a ser uma presença percebendo por si o que é possível (e o que é impossível) fazer e ser. Ser presença no mundo tem muito a ver com criar. Quando criamos algo e outro também cria algo a partir daquilo, emerge uma relação de responsabilidade (entendida aqui como a capacidade de responder sem evasivas e com confiança). A ação livre com o outro revela nossa própria singularidade e podemos aprender sobre nós mesmos, sobre o mundo, e para-com-além do outro. É por isso que identificamos nas práticas – mais do que nos recursos digitais – a potência da inclusão. Softwares, ambientes virtuais, ou quaisquer recursos de educação digital, quando usados de forma fechada, prescritiva e inegociada, ainda que tenham sido concebidos com as melhores das boas intenções, não poderão fomentar a inclusão. A acessibilidade

dos recursos importa, é claro, mas incluir é dar condições para que o outro se apresente com suas ideias, sua própria voz e suas próprias intensidades. É, justamente, tornar possível que o outro seja presença singular entre presenças singulares. Por isso, os recursos não podem ser inclusivos se utilizados de formas excludentes, que impossibilitem os inícios dos outros. Assim, quando pensamos em recursos digitais para uma educação inclusiva, devemos pensar nas práticas. Todo recurso educativo precisa tornar possível escolhas, experimentos imprevistos, combinações e relações abertas entre os recursos e as pessoas que os estejam utilizando. Deve favorecer o encontro – com o outro, com um objeto de atenção, com um cenário, com um autor… sempre construindo e desconstruindo espaços que favoreçam a ação livre e responsável, a aceitação dos riscos e do imprevisível trabalho de educar. Enquanto professores, precisamos planejar nossas aulas considerando que cada aluno é singular, e fará explorações, experimentações e relações igualmente singulares. Apresentar uma proposta fechada, com uma única possibilidade de fruição e acerto, certamente, promoverá a exclusão de todos. Temos de lembrar, ao conceber o uso das tecnologias digitais em nossas salas de aula, que não existe O aluno abstrato, mas OS nossos alunos reais. Assim, deve haver espaço para que surjam os seus resultados, as suas criações. E é assim, com práticas inclusivas, que os recursos digitais podem, efetivamente, promover a inclusão.

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[ DE OLHO NA BNCC ]

Como desenvolver as competências socioemocionais nos alunos?

Priscila Boy, pedagoga e mestra em Educação, conta sobre a importância de a educação ir além dos conteúdos programáticos.

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A BNCC inclui as competências socioemocionais. O que isso significa na prática? A nova base é um documento normativo, então ele faz com que a escola reveja seu posicionamento. O ser humano é um ser integral, não é só um ser de cognição, é também comunicação, é relacionamento e afeto. Quando são colocadas competências socioemocionais num documento que vai regular a elaboração dos currículos, isso quer dizer para a escola

que ela tem de sinalizar no currículo as ações que vai fazer para trabalhar o ser humano integralmente. Quais são as principais competências socioemocionais que a nova base propõe? As principais competências são mandatórias para todas as etapas. As socioemocionais são quatro, num corpo de dez competências gerais: autonomia e autogestão, autoconhecimento e autocuidado, empatia e cooperação e responsabilidade e cidadania. Na Educação Infantil, é fundamental trabalhar o autoconhecimento, a autonomia, a responsabilidade e a cidadania porque é nessa fase que está sendo formado o cidadão. Então, nós, educadores, devemos trabalhar desde a infância os relacionamentos saudáveis, as interações, a autoaceitação e o autocuidado, que são muito importantes para estruturar o indivíduo. E no Ensino Fundamental? No Ensino Fundamental, as competências socioemocionais ajudam em muitos aspectos: nos relacionamentos, na aceitação da diversidade, no reconhecimento da necessidade de respeito ao planeta e nas ações de cidadania para si e para o outro. As competências socioemocionais no Ensino Fundamental trazem ganhos, à medida que a escola vai direcionar o olhar também para essa esfera da dimensão humana. A educação não é só resultado, conteúdo e atender um currículo vigente voltado para a ciência, conhecimento e cultura, mas também é humanização. Quais são os desafios para desenvolver essas competências? Em primeiro lugar, porque muitos não passaram por esse processo de autoconhecimento, o grande desafio

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té 2020, escolas e educadores terão de se adequar à nova Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que estabelece conhecimentos, competências e habilidades essenciais para a Educação Infantil e Ensino Fundamental. De acordo com o Ministério da Educação, a ideia é que a BNCC seja uma balizadora da qualidade da educação brasileira, superando a fragmentação das políticas educacionais e construindo uma sociedade justa, democrática e inclusiva. A nova base foca no desenvolvimento integral do ser humano, ou seja, envolvendo as competências cognitivas e as socioemocionais. A partir de agora, não basta apenas estimular nas crianças e nos jovens os resultados acadêmicos, temos de ir além: trabalhar o indivíduo como um todo, o que inclui desenvolver valores como empatia, autoestima, responsabilidade social, entre outros. A tarefa não é tão simples. Além do desafio que é trazer isso para a realidade da educação brasileira, há a questão da mensuração. Como podemos mensurar o grau de empatia, de autoconhecimento, de solidariedade? É sobre esses desafios e oportunidades que conversamos com a Priscila Boy, pedagoga, mestra em Educação e consultora educacional. Confira!


[ DE OLHO NA BNCC ]

para os educadores é que precisarão parar e trabalhar essa dimensão nas próprias vidas. Em segundo lugar, na sua formação inicial, também não foram educados para olhar para essa questão. Muitos professores acreditam ainda que ser bom é produzir resultados quantitativos: notas, números, índices e qualificações. Então, precisamos redirecionar esse olhar e trabalhar outras possibilidades como as inteligências emocionais e as múltiplas. Isso significa que o aluno será avaliado como um todo? O aluno não ficar em primeiro lugar no Enem não significa que seja um fracasso, que não é um bom aluno. Ele pode ter uma inteligência relacional enorme e isso pode ser explorado por ele na hora de escolher uma profissão. Por isso, precisamos redirecionar o nosso olhar para uma mudança de paradigma e de mapa mental em relação ao que é uma educação de qualidade. Uma educação de qualidade é olhar o ser humano de forma integral, é trabalhar essas dimensões, mas o maior desafio é como mensurar isso. As competências socioemocionais não são mensuráveis quantitativamente como os conhecimentos cognitivos. E como avaliar essas competências? A avaliação ainda é uma interrogação, porque você não mensura solidariedade e autoestima, por exemplo. O que temos feito é construir instrumentos de análise de perfis comportamentais, inclusive na minha consultoria temos estudado muito isso. No meu livro, falo sobre um programa que faz mapeamento de perfil e a partir das competências que identificamos como as forças e aquilo que precisa ser desenvolvido, traçamos um plano de ação com o aluno. Por exemplo, se percebemos que ele tem mais dificuldade em resiliência e em organização, fazemos um plano de estudo para desenvolver essas áreas. A mensuração ainda é um desafio, mas podemos fazê-la com instrumentos que já existem no mercado.

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Como você tem percebido a movimentação das escolas para se adequarem à base? O prazo legal de implementação da nova base é até 2020. Hoje, como consultora educacional para as escolas, atuando na elaboração das matrizes para que eles possam fazer a transposição didática, tenho percebido que muitas estão se movimentando em torno disso. Infelizmente, nem todas possuem condições para contar com a ajuda de consultorias, então, muitas escolas estão fazendo movimentos internos, de olhar, de estudar, de adequar e de refazer o projeto político pedagógico. Porém, percebo que algumas instituições estão muito perdidas e não estão fazendo essas movimentações ainda. No segundo semestre, as escolas vão ter de registrar as matrizes na secretaria de educação, por volta de setembro e outubro, e aí vão se dar conta da grandeza da base. A BNCC é um documento bem novo, que traz competências e habilidades, não é conteúdo programático como as escolas vêm trabalhando. Pensando em um exemplo prático, como o professor poderá estimular essas competências socioemocionais em sala de aula? Quais exercícios ele poderá utilizar? Vamos pegar o exemplo da empatia, que diferentemente do que as pessoas pensam, que seria se colocar no lugar do outro, é na verdade olhar a situação com a perspectiva do outro. O meu livro infantil O dia que Marília me ensinou a ver conta a história de uma menina cega que chega à escola e começa a ser questionada sobre a capacidade dela de aprender. Inclusive, uma das amigas pergunta: “Como você vai escolher as cores e desenhar se você não enxerga?”. Marília responde que as pessoas pensam que ela não enxerga, mas ela vê por meio das sensações, das formas e dos sentimentos. No final do livro, tem uma página do alfabeto em braile e há uma mensagem da Marília assim: “Eu escrevi meu nome, agora escreva o seu”. É neste momento que a criança vai pegar


aquela folha e se colocar no lugar da Marília para ver como é difícil fazer a transposição para o braille. Esse é um exemplo de atividade que estimula vivenciar situações em que a criança possa ver o mundo pela perspectiva do outro. Qual o passo a passo para as escolas começarem a implementar a BNCC nos seus currículos? O caminho começa conhecendo a base, lendo-a e fazendo grupos de estudo. É importante fazer o cruzamento das informações: o que a escola tem e a BNCC propõe? O que ela não tem e a BNCC propõe? A partir disso, eleger o que fica e o que sai de acordo com a carga horária que a escola tenha e fazer a transposição para o currículo. E para os professores? Os professores têm de entender que o mundo mudou e que, apesar de eles terem saberes mais consolidados que o aluno, isso não significa que só o saber cognitivo seja relevante nas relações que estabelecemos na vida e no mundo do trabalho. Eles precisam entender que vão mudar de papel e não irão só ensinar o conteúdo, a isso o aluno já tem acesso, mas ensinar a curadoria das informações. Então, a figura de autoridade e de alguém que possibilita que o aluno conheça outro mundo e estabeleça outras relações se mantém, mas com uma postura mais aberta e partilhada. Podemos afirmar que as próximas gerações estarão mais bem preparadas, por conta da base? Se a gente trabalhar dentro da perspectiva que a base nos traz, o aluno vai estar mais bem preparado sim, porque o documento traz coisas que vão instrumentalizar o indivíduo no mercado de trabalho. Principalmente essa dimensão socioemocional que prepara o indivíduo para se relacionar com o diferente,

para construir argumentos, cooperar, cuidar do planeta é muito importante para o futuro. Se a gente não cuida, não estabelece os direitos, não garante a cidadania, a gente vai ter um mundo pior com mais intolerâncias e isso não é civilizatório. Ele vai estar preparado cognitivamente, com ferramentas de trabalho, mas também do ponto de vista relacional. Como a tecnologia dialoga com as competências socioemocionais? Em relação à tecnologia, a base traz isso com toda força. O mundo hoje precisa dessa dimensão digital, não há como fugir disso. A BNCC traz a tecnologia como objeto de conhecimento não só como ferramenta, como a gente tinha no passado. Por exemplo, se tínhamos que escrever um texto, íamos assistir a um vídeo, buscar um blog para consultar algum conteúdo, ou seja, fazíamos interação com a tecnologia. Hoje, isso muda. Já que tenho de produzir um vídeo, vou ler um texto, etc. O aluno não é mais um mero usuário da tecnologia, ele também é produtor. Por isso, o assunto é muito importante e precisa ser discutido. Como você mesma destacou, a base traz consigo uma mudança de paradigma bem importante. Como será essa dinâmica com o mercado de trabalho? Hoje os jovens não estão preparados para o que as empresas esperam. Em geral, as empresas já estão com novas propostas, demandas e posturas. A escola está fazendo esse movimento de mudança justamente para atender aquilo que já está acontecendo no mercado de trabalho. Então, no futuro, esses jovens irão ocupar os espaços de forma mais tranquila. O mundo e as evoluções estão muito acelerados e a gente precisa ensinar o aluno a lidar com as mudanças, para que ele possa chegar lá e dar conta desses processos.

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Fu L n d an am çam en en ta to lI e II Ed La uc nç aç am ão e In nto fa nt il

Conteúdos digitais exclusivos da coleção via plataforma LEB.

COLEÇÃO


A Coleção Conhecer e Transformar para os anos iniciais e finais do Ensino Fundamental trabalha os componentes curriculares Arte, Ciências, Geografia, História, Língua Portuguesa e Matemática por meio da linha metodológica da Pedagogia de Projetos, em que o aprendizado é resultado de conhecimentos adquiridos e organizados para solucionar um problema real. Nessa proposta, os alunos devem cumprir metas definidas coletivamente, elaborar um produto que contribua para a solução do problema apresentado e compartilhá-lo com a comunidade. Tal processo desenvolve a capacidade crítica, investigativa, criativa e reflexiva dos estudantes, reconhecendo a sala de aula como um efetivo espaço de construção de conhecimento, com foco em metodologias ativas.

A Coleção Tangará apresenta recursos e instrumentos para orientar o professor a desenvolver uma prática pedagógica participativa e investigativa! Mais do que determinar propostas, a coleção sugere possibilidades de ações pedagógicas, caminhos de pesquisa e aprendizagem que necessitam de contextualização, abrindo-se para a autoria do professor. Dessa forma, Tangará oferece um repertório de percursos investigativos para que o docente, a partir da leitura dos interesses e necessidades das crianças, bem como da cultura escolar, componha territórios significativos de aprendizagem e construção de competências. Esses processos estão apoiados sobre uma concepção de que a criança aprende e se desenvolve de forma holística, por meio de experiências que integram múltiplas linguagens. Desse modo, Tangará oferece atividades que dialogam com diferentes campos de experiências que, ao longo do percurso investigativo, vão se aprofundando e diversificando, a partir da escuta e da intenção pedagógica do docente. A participação da família nas propostas do material é contemplada pela Coleção Tangará, que compreende que as aprendizagens só acontecem de forma significativa quando se inserem na rede de relações família-escola-comunidade.


[ ESCOLA E FAMÍLIA ]

Quais as principais preocupações dos pais na hora de escolher a escola para seus filhos? “Relacionamento mais próximo” foi eleito o principal motivador para manter os filhos matriculados numa instituição.

O

que os pais pensam na hora de escolher a escola para os filhos? O valor da mensalidade? O conteúdo? O que faz com que mantenham os filhos matriculados? É sobre essas questões que a pesquisa Tendências para o mercado educacional 2020, realizada pela ClassApp e divulgada pelo portal Escolas Exponenciais, buscou entender. Para isso, foram entrevistados mais de 150 mil pais de estudantes, que avaliaram 300 escolas privadas. A pesquisa, realizada durante o segundo semestre de 2018, contou com a participação de pais de alunos das escolas de Ensino Infantil, Fundamental e Médio de todo o país. Por meio de 18 questões múltipla-escolha, a pesquisa focou em avaliar a participação dos pais na educação e os motivos que eles consideram manter ou não os filhos na mesma escola.

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Os pais valorizam o relacionamento mais próximo com a escola Os principais resultados mostram a importância da fidelização e da comunicação mais próxima. Ao contrário do que se pode pensar à primeira vista, não é só conteúdo que os pais esperam de uma escola. Na hora de decidir a vida escolar do filho, outros fatores ganham destaque. A participação dos pais por meio de um relacionamento mais próximo com a instituição de ensino foi eleita por 41% dos entrevistados como o principal motivo que eles consideram para manter o filho matriculado. De acordo com a pesquisa, a participação dos pais na escola é quatro vezes mais eficaz para fidelização do que a qualidade do material. No geral, já existe uma boa comunicação entre os entrevistados e as escolas: 86% dos pais se sentem suficientemente informados das atividades cotidianas do filho. Mais de 30% dos pais destacaram a excelente educação de valores morais e éticos, além do cuidado e a atenção pessoal com o aluno como fatores importantes que eles valorizam. Motivos também como localização próxima de casa ou do trabalho (27%) e informações sobre as atividades pedagógicas (21%) foram pontuadas por eles

como fatores decisivos na hora de manter ou não o filho na instituição de ensino.

Escola comprometida, humanizada e confiável é a escolha dos pais Em geral, os pais destacaram que estão satisfeitos com a rede privada, com 96% de avaliação positiva da qualidade de ensino oferecida. Destes, 34% dos entrevistados destacaram como “excelente” e 44% como “muito bom”. Quando perguntados sobre as características que melhor representam a escola, os pais definiram, em primeiro lugar, com 47% dos votos, o comprometimento com o ensino, seguido pela humanização (31%) e pela confiabilidade (28%). A partir disso, podemos inferir que os pais desejam mais do que conteúdos de qualidade: esperam que a escola forneça uma formação integral, com engajamento, parceria e comunicação entre ambas as partes. Por outro lado, as características menos votadas sobre as escolas foram “moderna”, “religiosa”, “sustentável”, “visionária” e “internacional”. Qual o motivo que leva à mudança de escola? Na média geral, 78% dos pais não consideram trocar de escola no próximo ano. No entanto, entre os que não possuem uma boa fidelização com a escola, 33% consideram trocar de instituição de ensino e 36% disseram “talvez”. Para 45% dos entrevistados o fator econômico é o principal motivo que leva a troca da escola. Quase 50% dos pais estão procurando uma instituição de ensino

com a mensalidade mais barata, mais de 30% vão tentar uma negociação comercial com a mesma escola e 15% irão transferir para o ensino público. Além do fator econômico, entre os principais motivos pelos quais eles consideram cancelar a matrícula com a escola atual estão: distância da casa ou do trabalho (20%), falta de investimentos em melhorias e inovações (18%) e pouca abertura para relacionamento com aqueles que atuam diretamente com seu filho (17%). Outros motivos apontados pelos pais como insatisfação em relação à escola foram atividades pedagógicas pouco divulgadas ou com informações incompletas (15%) e motivos relacionados à busca por performance nos vestibulares (15%).

Alta performance nos vestibulares foi a menos votada Mais de 90% dos pais entrevistados são os tomadores de decisão sobre as questões educacionais e escolares dos alunos. O mesmo se confirma em relação ao Ensino Médio: 80% dos pais afirmaram que são eles que definem a escola do filho. Entre as opções pelas quais os pais consideram continuar com a escola, as menos votadas foram em relação ao desempenho esperado pelos alunos na vida adulta. Opções como “ensino bilíngue”, “infraestrutura que propicia contato com a natureza”, “alta performance nos vestibulares”, “formação de alunos empreendedores” e “alto investimento em segurança” são menos consideradas pelos responsáveis na hora de avaliar uma instituição de ensino.

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Em relação ao tamanho das escolas, 49% eram médias, 31% pequenas e 20% eram escolas grandes. Além disso, 34% dos alunos estavam matriculados no Ensino Fundamental I, 32% na Educação Infantil, 23% no Ensino Fundamental II, 9% no Ensino Médio e apenas 2% em cursos livres.


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[ EM ALTA ]

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Lei Geral de Proteção de Dados: o que muda para as escolas? Cristina Sleiman, especialista em Direito Digital, esclarece o que as instituições de ensino precisam saber para se adequarem à nova lei.

A

té agosto de 2020, as empresas deverão se adequar à Lei Geral de Proteção de Dados (Lei 13.709), que aborda regras sobre coleta, armazenamento e compartilhamento de informações pessoais. Com o objetivo de trazer mais proteção aos dados dos cidadãos, a LGPD também inclui penalidades para diversas situações, como vazamento de dados, e para o não cumprimento da lei. Para as escolas, o maior impacto será na gestão e segurança dos dados, já que possuem informações tanto dos alunos quanto dos pais, responsáveis e até visitantes. “A LGPD traz algumas regras, principalmente sobre os direitos dos titulares das informações, como quais são os requisitos de quando uma empresa poderá ou não utilizar esses dados”, explica Cristina Sleiman advogada especialista em Direito Digital. A questão é complexa e merece atenção urgente das escolas, já que as renovações

de matrícula acontecem no final do ano. Com isso, é importante que as instituições busquem se adequar e renovar os contratos ainda em 2019, a fim de evitar possíveis multas e penalidades.

O que muda para as escolas? A principal regra da nova lei é a necessidade de consentimento explícito dos titulares sobre o uso dos dados. Na prática, as escolas deverão pedir essa autorização em contrato. “Além disso, existem situações específicas com base nas leis que exigem a utilização da informação sem a necessidade do consentimento (fins judiciais, por exemplo). Ainda que não haja essa autorização, a escola deverá atender ao princípio da transparência, comunicando a coleta dos dados e a sua finalidade aos titulares”, explica Cristina. Outro impacto da Lei Geral de Proteção de Dados se dará nos contratos tanto internos, como com os professores, quanto externos, como de prestação de serviços

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[ EM ALTA ] educacionais. Todos os documentos deverão ser revisados e atualizados de acordo com as regras da nova lei, entre eles a comunicação do tratamento dos dados. “As escolas que contratam armazenamento em nuvem das informações deverão incluir cláusulas específicas sobre essa transferência de dados que, às vezes, até é internacional, já que muitos servidores ficam fora do Brasil”, destaca a advogada.

Maior segurança para o cidadão Um dos destaques da LGPD é sobre os direitos dos titulares em relação às suas informações pessoais. A partir da vigência da lei, a qualquer momento os cidadãos poderão revogar o consentimento de uso dos dados, o que inclui pedir para que sejam apagadas as informações do banco de dados da instituição. A medida visa trazer maior segurança e transparência entre os cidadãos e as empresas. “A instituição terá a obrigação de responder quais dados possui sobre a pessoa e apagar aqueles que ela pedir. É claro que essas informações deverão ser certificadas se podem ou não ser apagadas de acordo com as leis. Os dados que não podem ser apagados são aqueles que a escola coleta por uma exigência da lei ou para execução do contrato, ou seja, sem os quais a instituição não consegue prestar o serviço”, conta Cristina. Tudo isso deverá ser comunicado ao indivíduo, incluindo resposta e confirmação de que as informações foram removidas do sistema de armazenamento da empresa. Penalizações para quem não se adequar A escola poderá ser penalizada a cada infração à lei, o que não precisa ser necessariamente um incidente. A não adequação à LGPD também pode causar uma multa para a instituição. “As sanções vão desde publicidade da infração à suspensão de tratamento dos dados após constatar a infração, além de multa de 2% do faturamento com o limite de R$ 50 milhões”, alerta a especialista. Para definição das sanções, serão levados em consideração fatores como a gravidade da infração, vantagem auferida, capacidade econômica da empresa, entre outros. A fiscalização será feita pela Autoridade Nacional de Proteção de Dados Pessoais, que ainda

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está em formação. “É provável que, no início, essa fiscalização seja feita por denúncias até que se tenha braço suficiente para uma fiscalização proativa”, conta. Diante disso, é importante que as escolas prestem atenção à coleta de dados. Um dos pontos de atenção deve ser a autorização do tratamento dos dados. Vale considerar também que podem acontecer vazamentos de informações, como por ataques de hackers, o que prejudica mais ainda a situação da escola. Nesse caso, a instituição poderá ser penalizada se ficar constatado que não foram tomados os devidos cuidados para que o incidente fosse evitado.

Como se adequar à LGPD? Com foco na segurança da informação, as instituições de ensino deverão rever a sua gestão de dados. Quais dados são coletados? O que são feitos com eles? Qual a finalidade? Este é o momento das escolas olharem para a totalidade dos dados que armazenam e estudarem a real necessidade de se ter todos ou não. “Primeiramente, as instituições deverão realizar uma análise da lei, e após entendê-la, partir para o levantamento de dados. Com isso, elaborar um planejamento. Todos os dados continuarão a ser coletados? Há uma exigência legal para isso ou não? São algumas das questões que devem fazer parte do projeto de readequação da escola à nova lei”, explica Cristina. Após essa primeira fase, vem a implementação. Para isso, será necessário desenvolver um plano de ação que deverá mapear desde questões técnicas de segurança e de impacto na infraestrutura até a documentação legal. “Deverá ser criada uma política de segurança da informação com todas as normas de proteção dos dados pessoais. A instituição de ensino terá de formular as suas regras de coleta e de qualquer tipo de tratamento de dados à luz da nova lei”, ressalta a advogada. Em todas as etapas da reestruturação da gestão dos dados, há a necessidade de implementação de recursos técnicos passando pela capacitação das equipes. É importante também que as escolas procurem empresas e parceiros que já estejam em conformidade com a LGPD, principalmente, os aplicativos e serviços de armazenamento em nuvem.


Mais do que nunca, o educador precisa estar atualizado e informado. Com esse pensamento, a Editora do Brasil lança o selo Arco43, uma linha editorial com conteúdos destinados aos educadores. As publicações do selo Arco43 têm foco na formação continuada de gestores e professores, deixando-os sempre bem informados e atualizados sobre as novas tendências educacionais.

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Marketing Escolar de Bolso, último lançamento do selo, traz técnicas e práticas de marketing com o objetivo de apoiar as escolas da Educação Básica no desenvolvimento de seu plano estratégico.

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[ GESTÃO ESCOLAR ]

A importância do plano estratégico de marketing para o sucesso de sua escola Como o plano estratégico de marketing pode ajudar a sua escola a entender melhor seu negócio, fortalecer sua marca e ainda reter e captar alunos. Helena Poças Leitão

O

plano estratégico de marketing é a ferramenta mais importante e eficiente para alcançar resultados referentes ao fortalecimento da marca e a retenção e a captação de alunos. O processo de desenvolvimento do plano faz com que a instituição analise as suas forças e fraquezas (ambiente interno), as oportunidades e ameaças do mercado (ambiente externo) e trace os objetivos e as metas do ano. Depois de todas as informações coletadas, fica muito mais fácil enxergar quais ações serão mais eficientes para que a escola alcance os resultados esperados. Apesar do plano estratégico de marketing ser uma ferramenta maravilhosa, pouquíssimas escolas o utilizam. O foco das instituições acaba sendo em ações de marketing tático como impressão de catálogos ou folhetos, organização da grade de eventos, criação de postagens nas redes sociais para datas comemorativas, entre outros. Mas nenhuma dessas ações está dentro de um plano macro da escola com objetivos, cronograma e valores do investimento.

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• defina um posicionamento de marca para sua escola; • identifique e analise os concorrentes;

• conheça seus clientes (pais/responsáveis) e consu-

midores (alunos);

• analise as forças e fraquezas da escola e as oportu-

nidades e ameaças de mercado (Análise SWOT);

• trace as metas para o período planejado; • desenhe as ações de marketing tático; • monte um orçamento com todas as ações de

marketing;

• desenvolva um cronograma do ano destacando

todas as ações de marketing.

Avalie, em seguida, se o orçamento do plano desenhado está de acordo com a realidade de sua escola e faça os ajustes necessários, selecionando as ações que trarão resultados mais importantes e excluindo as que você pode deixar para uma próxima oportunidade. E use sempre a criatividade. Muitas vezes, projetos mais simples são muito mais eficientes. Desenvolver um planejamento exige tempo e disposição da gestão, mas vale muito a pena para o sucesso do negócio. Afinal de contas, para saber onde se quer chegar, é preciso saber qual o melhor caminho percorrer. Helena Poças Leitão Atua na área de Marketing, no mercado editorial de Educação, há mais de dezoito anos; gerente de Marketing e Inteligência de Mercado da Editora do Brasil; graduada em Jornalismo pela Faculdade Anhembi Morumbi (SP); pós-graduada em Gestão de Negócios, com ênfase em Marketing, pela ESPM (SP); foi gestora de Marketing nas editoras Ática, Scipione, Saraiva, Leya e IBEP.

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Essa falta de planejamento faz com que as escolas percam oportunidades de crescimento em seu negócio, além de não conseguir enxergar se os investimentos em marketing estão, efetivamente, trazendo resultados. Outro ponto muito importante que precisa ser discutido é inovação. Não dá para a escola fazer sempre a mesma coisa, ano após ano, e esperar resultados diferentes. O que sua escola está fazendo de diferente? A escola está atenta às últimas inovações do mercado educacional? Sua instituição já implementou ações ou projetos inovadores? Se todas as respostas forem negativas, sugiro que o gestor tire um tempo para repensar o modo como a escola está lidando com a área de marketing. O planejamento estratégico de marketing de uma escola está diretamente ligado com o crescimento de seu negócio. Por exemplo, se uma escola está buscando aumentar seu alunado em 20%, fazer postagens na página do Facebook não será tão eficiente quanto organizar um evento especial para pais e alunos de escolas concorrentes na região. Sendo assim, só será possível avaliar se uma ação é ou não eficiente se definirmos as metas e os objetivos macro do negócio. Além disso, se alguma ação traçada não obtiver o resultado esperado, ela não aparecerá no planejamento do próximo ano. A seguir, alguns passos básicos para montar o plano estratégico de marketing para sua escola:


Vitrine

Literária Livros são excelentes fontes de informação e conhecimento. Nós, da Editora do Brasil, concordamos e acrescentamos: os livros são pontes, são o passaporte, as senhas de acesso, as estradas, os caminhos e as passagens para lugares novos, diferentes, mágicos e cheios de possibilidades. Um bom livro sempre será um excelente companheiro nessa maravilhosa viagem pelo mundo das descobertas, da ampliação de repertório e da reelaboração das diversas formas de pensar e agir. Conheça algumas obras de literatura da Editora do Brasil.

O Livro Maluco das Poções Mágicas Não seria maravilhoso ter uma poção para cada momento da vida? Com magia, imaginação e poesia, Leo Cunha nos traz um livro nada lógico e repleto de fantasia e poções mágicas para transformar qualquer tristeza em alegria. Com ilustrações divertidas e que convidam a uma leitura visual inusitada, Mariana Massarani nos faz mergulhar na imaginação para ver além do tradicional mundo do conto de fadas. Um livro único, para nos curar de dias tristes! Assuntos: Fantasia; Poesia Tema transversal: Pluralidade Cultural

Cascudinho - O peixe contador de histórias Coleção Mil e uma histórias

De acordo com as más línguas, o peixe Bodó é feio de dar dó. Mas não pense que o Cascudinho perde muito tempo com esse tipo de zombaria; ele está ocupado demais inventando e contando histórias! Tem gente que não acredita, mas não tem ninguém que finge não ouvir quando esse peixinho se joga na narrativa. Com um elenco aquático divertido, este livro criativo, original e colorido é uma homenagem à diversidade aquática do Brasil, especialmente da Amazônia, e à criatividade do povo brasileiro, um contador de histórias nato. Assuntos: Diversidade; Meio Ambiente Temas transversais: Meio Ambiente; Pluralidade Cultural

Três histórias de encanto Coleção Mil e uma histórias

O clima é de pura fantasia... Amizades com objetos inanimados, uma moça misteriosa que passeia à beira do rio, um pássaro mágico que aparece e desaparece de uma hora para outra. Nem todos os mistérios podem ser resolvidos definitivamente. Nem devem! Deixe a imaginação fluir e acompanhe os corajosos protagonistas desses três contos de Sonia Rosa em suas jornadas de descoberta e amadurecimento! Narrativas de puro encantamento aguardam os leitores deste livro. Assuntos: Inteligência Emocional; Mistério Tema transversal: Pluralidade Cultural


O homem sem alma Coleção Mil e uma histórias

A seca tomou conta da terra e já não há mais comida. Sem poder plantar, José sai em busca de caça para alimentar suas três filhas e sua cadela alegre. Eis que surge um vulto com uma proposta: excelente caça em troca da primeira criatura que cruzar o seu caminho de volta à casa. Com narrativa lúdica e simbólica, este livro traz a jornada de uma menina corajosa. Um conto de fadas ambientado no sertão brasileiro, uma história para lá de mágica e repleta de ensinamentos. Assuntos: Ética; Fantasia Temas transversais: Pluralidade Cultural

Azul, vermelho, transpareço…

Coleção Trupe-trinques Todos nós sonhamos, experimentamos paixões, alegrias e medos. Mas esses sentimentos afetam cada um nós de formas diferentes e até mesmo inusitadas. Com um texto lúdico e ilustrativo, a autora coreana SeongHye Hwang nos mostra como algo que nos torna iguais também nos faz diferentes. Um livro sobre identidade e diversidade e as muitas maneiras de lidar com cada emoção e experiência. Pequenos leitores irão reconhecer a si mesmos e aos outros nesse belo livro. Assuntos: Cores; Sentimentos Tema transversal: Pluralidade Cultural

Tapete vermelho

Coleção Mil e uma histórias De pinturas rupestres de cavernas antigas aos tecidos da atualidade, os autores Ana Paula Bernardes e Tino Freitas traçam a origem da cor vermelha e seu uso pelo ser humano ao longo de sua história, assim nos deliciando com as origens do tão conhecido tapete vermelho – que neste livro é protagonista e mote para uma história muito rica e interessante. Um belo livro com informação e ficção na medida certa. Venha caminhar sobre essa linha do tempo! Assuntos: Arte; Cultura Tema transversal: Pluralidade Cultural

Entre cães e gatos

Origens

Os pais de Vivi não podiam deixar de notar que a filha se comunicava com seus amigos de quatro patas, mas fingiam não saber de nada. Afinal, quem fala “cachorrês”? As pessoas têm dificuldade de entender aquilo que é diferente. Mas tudo bem. Junto com seu novo amigo Rique (que fala “gatês”, acreditam?), Vivi vai aprender que seu dom pode ajudar muita gente (e até a salvar o bosque do bairro) e ensinar aos leitores que não há nada de errado em ter habilidades especiais. Uma narrativa inusitada, divertida e cheia de aus e miaus.

Cinco escritores. Cinco histórias de família e de memórias. Cinco lugares de origem: Portugal, Japão, África, Líbano e Brasil. Ficção e realidade se cruzam para resgatar histórias seculares especialmente para o jovem leitor. Venha se deliciar com essas narrativas sobre as raízes de cada um, seus antepassados e as conexões familiares que nos unem. Afinal, todos nós temos uma história de origem, seja recente ou longínqua. Qual é a sua?

Coleção Mil e uma histórias

Assuntos: Animais; Empoderamento Temas transversais: Meio Ambiente; Pluralidade Cultural

Coleção Assunto de Família

Assuntos: Família; Memória Tema transversal: Pluralidade Cultural


[ TECNOLOGIA EDUCACIONAL ]

Tendências tecnológicas na educação Um olhar mais tranquilo sobre os objetivos e impactos no uso de tecnologia nas escolas. Michel Metzger

Q

uando falamos de tecnologia na educação, muitas vezes parece um trem que vem em alta velocidade na nossa direção e não sabemos muito bem para onde correr. Após muitas leituras sobre “tendências na educação” procurei desenvolver um olhar mais tranquilo e objetivo sobre as novas tecnologias na escola. É essa forma de olhar que quero compartilhar com você. Geralmente os artigos sobre tecnologia na educação têm títulos como “Vejam as x tecnologias que vão transformar a educação”, sendo x um número que varia de três a dez novos aparelhos ou aplicativos que certamente vão transformar a educação para sempre. Mas será que transformam mesmo? Será que não é otimismo demais? Ou, talvez, apenas marketing? Como diferenciar o joio do trigo, as coisas realmente significativas das modas que passam rapidamente? Nesse sentido, é importante buscarmos referências sólidas. Um exemplo é o Horizon Report, relatório anual sobre tendências tecnológicas na educação que há mais de uma década procura analisar as tecnologias que causarão impactos na educação de forma imediata, em médio e longo prazo. Uma das tendências apontadas nos últimos anos por esse relatório é a de games e gamificação – o uso de jogos ou mecânicas de jogos para aumentar o engajamento nos processos de aprendizagem. Ela esteve presente como algo que se tornaria comum nas salas de aula rapidamente, uma tendência “quente”.

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Por outro lado, em meados de junho de 2019, foi divulgado que o Institute of Play – uma das principais instituições que pesquisam e aplicam games e gamificação em escolas do Ensino Básico nos Estados Unidos – fechou suas portas. Será que essa notícia seria um indicador que a tendência fracassou? Por que isso aconteceu? O relatório de 2019 analisa vários motivos para essa tendência não ter expandido como esperado – desde a crise financeira até a dificuldade de criar games que sirvam para todos os contextos educacionais. O motivo que mais chama a atenção é bastante simples: a dificuldade dos educadores em deixar games e aulas compatíveis. Portanto, vemos uma regra básica: quando analisamos uma nova tecnologia precisamos nos certificar o quanto ela dialoga com o fazer escolar e o currículo. Então, não se deixe impressionar pelas aparências, por “fogos de artifício”, robôs que falam, plataformas inteligentes ou gráficos imersivos. Tudo isso é bonito, mas qual é a aderência à aprendizagem dos alunos? Não caia também no extremo oposto de achar que novas tecnologias têm pouco impacto prático na educação. Tudo é uma questão de tempo, experiência e aperfeiçoamento. Precisamos ultrapassar a visão ingênua e quase mágica de que tudo na educação pode mudar instantaneamente graças a uma nova tecnologia. A mudança vem, só que seu caminho é longo. No caso dos games e gamificação, as experiências continuam, a


realidade virtual e a realidade aumentada abrem possibilidades para novos contextos de aprendizagem.

Tendências 2019 e 2020 O relatório Driving K-12 Innovation (equivalente ao Horizon na Educação Básica) olha as tendências de forma mais sistêmica, fruto da interação entre obstáculos, aceleradores e tecnologias facilitadoras. Obstáculos são desafios práticos que a educação enfrenta e sua superação por meio de procedimentos e ferramentas adequadas pode levar a inovação no processo educacional. Aceleradores são grandes tendências que impactam a sociedade e, em particular, educadores e alunos. As tecnologias facilitadoras são ferramentas que dão suporte à superação dos obstáculos por meio dos aceleradores. Minha visão sobre o modelo apresentado neste relatório é que as tendências podem ser personalizadas pela conexão das tecnologias com os obstáculos e os aceleradores que estão presentes na nossa vida e no nosso lugar. Olhar para as tendências tecnológicas em conjunto com aceleradores e obstáculos é uma análise que pode ser pessoal: o que é um obstáculo ou acelerador para um pode não ser para outro. O que vale para a realidade de uma escola pode não valer em outra. Você pode verificar quais tendências tecnológicas são mais significativas em seus caminhos e também quais são os pontos de aderência ao projeto pedagógico de sua instituição. Assim quando aparecer aquele artigo que fala das “x, oito, nove ou dez tecnologias que vão transformar a educação” você poderá deixar a pressão de lado e transformar essa notícia em uma ferramenta que auxilie seu desenvolvimento pessoal e profissional. Saiba mais: • https://library.educause.edu/resources/

2019/4/2019-horizon-report

• https://cosn.org/k12innovation

Michel Metzger Imagem: Shutterstock

Foi coordenador de tecnologia educacional em escolas de Ensino Básico por mais de vinte anos. Desenvolve projetos e formação de professores envolvendo novas tecnologias e aprendizagem.

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[ GESTÃO ESCOLAR ]

Métricas para gestão escolar: desafios e avanços Brasil avança em indicadores pedagógicos, mas ainda há muito a ser feito.

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Imagem: Shutterstock

primeira vista, quando se pensa em mensuração de resultados, a ideia que vem à mente é de porcentagens, médias e tudo mais relacionado a números. No entanto, quando aplicamos a ideia de métricas para as ciências humanas, como a educação, tem-se um desafio: como medir a aprendizagem, a empatia e a colaboração? Como avaliar e estabelecer métricas para além dos conteúdos programáticos ainda é uma questão que merece estudo e atenção nacional.


A mensuração dos resultados possibilita mais do que avaliar a educação: é capaz de rever ações e permitir inovações. Dentro das métricas pedagógicas, basicamente, há aquelas de soft skills, as chamadas competências socioemocionais e outras de hard skills, que são os conteúdos e habilidades técnicas. Para acompanhar o conhecimento adquirido ao longo da vida escolar no Brasil, as métricas mais utilizadas são o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que também serve como vestibular para diversas universidades, e o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), que permite realizar o diagnóstico do desempenho e as médias que compõem o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). Inicialmente, o Saeb era composto por duas avaliações: a Avaliação Nacional da Educação Básica (Aneb) e a Avaliação Nacional do Rendimento Escolar (Anresc), conhecida como Prova Brasil, que foi criada com o objetivo de avaliar a qualidade do ensino ministrado nas escolas das redes públicas. Em 2017, as escolas privadas também passaram a ter resultados no Saeb, e, nesse ano, houve a incorporação das outras avaliações em um só processo que mede todos os segmentos da educação básica. Além disso, o Saeb possui um questionário socioeconômico e cultural em que os estudantes respondem a perguntas sobre fatores que podem influenciar seu desempenho nas provas, permitindo traçar um indicativo da qualidade do ensino. A avaliação externa é algo recente na educação brasileira. Como política pública de educação, as métricas começaram a partir da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB, lei n. 9.394) de 1996. No entanto, para mensuração e avaliação das soft skills, até a chegada da nova Base Nacional Comum Curricular (BNCC), em 2018, pouco se havia avançado em torno dessa questão. Há à disposição algumas ferramentas que podem ser utilizadas para medir a qualificação, a criatividade, a colaboração, bem como outras competências. No entanto, uma matriz segura como referência ainda não foi estabelecida. Por outro lado, o mercado de trabalho tem valorizado e procurado cada vez mais jovens que possam desenvolver com criatividade e inovação, sem deixar de lado as competências socioemocionais. De acordo com João Carlos Guedes, diretor da escola Alef

Peretz, em 2017, com a chegada de grandes escolas internacionais, cuja perspectiva de desenvolvimento se vincula aos modelos norte-americanos, houve um avanço nessa questão entre as escolas particulares. “Os modelos pedagógicos de escolas consagradas como Bandeirantes e Dante Alighieri são modificados para atender essas competências. A Faculdade Albert Einstein, por exemplo, passa a incluir no processo de seleção provas e entrevistas”, conta. Com isso, se faz urgente a adoção de fórmulas que estimulem e meçam essas competências nas escolas.

A inteligência artificial pode ajudar De olho nisso, um grupo de pais especialistas em tecnologia e em inteligência artificial, ao verem a dificuldade de comunicação entre a escola e a família, como também a falta de percepção das competências socioemocionais, lançou o aplicativo ABC Educação. Além de disponibilizar informações como notas, atividades e calendário do aluno, a plataforma também permite que os responsáveis acompanhem a alimentação e as necessidades fisiológicas dos filhos que estão no Ensino Infantil. Rodrigo Nascimento, um dos criadores do sistema, diz que o aplicativo vai além de estabelecer essa comunicação quase que em tempo real entre escola, alunos e pais. Ele é capaz de ajudar a mensurar e acompanhar o desenvolvimento das competências socioemocionais previstas na nova BNCC. “Por meio da leitura de textos e redações, o app consegue fazer a leitura de palavras-chave que mostram indicadores do comportamento do aluno, como introvertido, racional, emotivo, entre outros”, conta. Com isso, é possível oferecer atividades individualizadas de acordo com as características do estudante. Esse quadro de atributos atitudinais permite que o gestor escolar possa realizar o atendimento e sinalização para os pais, o encaminhamento para acompanhamento psicológico, se houver necessidade, e mudanças estruturais na instituição, caso seja necessário. “O aplicativo é customizável, ou seja, pode ser parametrizado de acordo com as necessidades da escola. O desenvolvimento cognitivo pode ser acompanhado por meio dos resultados em avaliações, médias, conteúdos ou em relação a um grupo, entre alunos, etc.”, explica a consultora educacional Cristian Campos.

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[ GESTÃO ESCOLAR ]

Como avançar na aprendizagem com equidade? Haroldo Rocha

Espírito Santo, Ceará, Goiás e Pernambuco: as experiências dos quatro estados líderes do Ideb.

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m 2019, teremos mais uma edição do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) que combina dois indicadores: a proficiência dos estudantes por meio das notas médias padronizadas de Língua Portuguesa e Matemática, obtida nas avaliações do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), e a taxa de aprovação obtida por meio do Censo Escolar. O Ideb avalia, sobretudo, a qualidade de redes de ensino – as redes de ensino com bons resultados adotam métodos e ações capazes de impactar todas as escolas. O Ideb permite monitorar a qualidade da educação básica no Brasil e comparar os resultados de aprendizagem entre as unidades da federação, o que facilita a identificação de avanços e de boas práticas que podem servir de inspiração. Certamente não há receita de bolo ou solução única sobre como redes de ensino podem melhorar os resultados de aprendizagem, mas podemos aprender com estados e municípios que avançaram no Ideb nos últimos 12 anos e com o uso de evidências sobre o que funciona em educação. O município de Sobral-CE e os estados de Goiás, Pernambuco, Espírito Santo e Ceará são exemplos, apontados em pesquisa realizada pelo Instituto Unibanco, de que é possível avançar na aprendizagem com equidade. A rede municipal de Sobral apresentou Ideb de 9,1 pontos nos anos iniciais do Ensino Fundamental, e 7,2 pontos para os anos finais, na avaliação de 2017. Resultados que chamam a atenção de qualquer educador e gestor educacional. Ceará é o estado com maior crescimento no Ideb da rede pública

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nos anos iniciais do Ensino Fundamental desde sua criação em 2005 (118%), crescendo de 2,8 em 2005 para 6,1 em 2017. Já os estados de Goiás, Espírito Santo e Pernambuco têm conquistado avanços significativos no Ensino Médio, etapa que apresenta maiores desafios e cujos resultados estão estagnados em quase todo o Brasil. A rede estadual de Goiás ocupa o primeiro lugar na posição dos estados no Ideb do Ensino Médio, na avaliação de 2017, com pontuação de 4,3. Já Espírito Santo é o estado que apresenta a melhor proficiência de Língua Portuguesa e Matemática do Brasil no Ensino Médio na rede estadual, apresentando a maior nota média padronizada nas disciplinas (4,77) e ganhos médios de aprendizagem acima da média do Brasil entre 2015 e 2017. A rede estadual de Pernambuco apresenta o terceiro melhor Ideb no Ensino Médio em 2017 (4,1) e a menor desigualdade de aprendizagem em Língua Portuguesa e Matemática entre alunos de nível socioeconômico alto e baixo. Ao analisar as cinco experiências de forma comparada, é possível identificar cinco elementos em comum que nos dão pistas importantes: i) planejamento e gestão para resultados de aprendizagem (foco e metas); ii) profissionalização e seleção de lideranças escolares por critérios meritocráticos; iii) suporte e acompanhamento às escolas; iv) currículo comum e avaliações; v) insumos e formação de professores. O primeiro elemento está presente em todas as experiências aqui mencionadas. Em 2001, Sobral estabeleceu duas metas muito claras face ao diagnóstico da época: a) alfabetizar todas as crianças até


os 7 anos de idade; e b) alfabetizar alunos do 3º ao 5º ano que ainda não estavam alfabetizados. A partir dessas metas, a Secretaria Municipal de Educação desenvolveu um plano de ação e uma política com três eixos: fortalecimento da gestão escolar, melhoria da ação pedagógica e valorização do magistério. Espírito Santo, Goiás, Pernambuco e Ceará adotaram uma gestão voltada para resultados de aprendizagem baseada no método PDCA (sigla em inglês cuja tradução para o português é Plan = Planejar, Do = Fazer, Check = Verificar e Act = Agir ) com foco e metas claras para a rede e para todas as escolas. O segundo elemento está presente sobretudo em Sobral e no Espírito Santo. Uma das primeiras ações implementadas por Sobral a partir de 2001 foi a seleção de diretores escolares por critérios meritocráticos, sendo demitidos todos os diretores antes indicados politicamente. O estado do Espírito Santo desde 2008 realiza seleção de diretores por meio de critérios meritocráticos com base em competências de liderança e gestão, adotando um modelo inovador ainda pouco utilizado no Brasil. De acordo com estudo realizado pela Fundação Victor Civita, a atuação de gestores escolares competentes e preparados impacta positivamente no desempenho dos estudantes. O terceiro elemento, suporte e acompanhamento às escolas, está presente em todas as cinco experiências. Aqui vale destacar o modelo de tutoria adotado em Goiás, no qual as escolas recebem visitas semanais ou quinzenais de tutores que ajudam as escolas a construir soluções para os problemas de aprendizagem identificados. Todos os estados desenvolveram um conjunto variado de ações de suporte e apoio às escolas sob uma ótica de corresponsabilização, visando dar as condições necessárias para o avanço na aprendizagem. O quarto elemento, currículo e avaliações, é central para as cinco experiências. Todos os quatro estados e Sobral já possuíam um currículo comum mesmo antes da homologação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). O uso de avaliações externas para facilitar o diagnóstico, a definição de metas e o desenho de intervenções pedagógicas para melhoria dos resultados de aprendizagem é elemento-chave de todas as experiências. Além das avaliações externas, Goiás e Espírito Santo, adotam avaliações diagnósticas e formativas com periodicidade bimestral e trimestral, respectivamente, que facilitam intervenções em

tempo hábil durante o processo de ensino-aprendizagem, uma vez que detalham por aluno as habilidades e descritores que não foram aprendidos. Por fim, o quinto elemento, insumos e formação de professores, também está presente em todas as experiências aqui analisadas. Sobral, a partir de 2001, criou uma proposta de alfabetização na idade certa abarcando um conjunto de ações, tais como formação em serviço de professores, criação de rotinas pedagógicas em sala de aula, material pedagógico estruturado, material didático específico por série para todos os estudantes e ação de formação de leitores e leitoras. Todos os estados adotaram um conjunto de insumos (manuais, planos de aulas, recursos didáticos, etc.) associados aos currículos, como Goiás que elaborou materiais didáticos estruturados, denominados Aprender Mais, que passaram a ser utilizados pelos professores de Matemática e Língua Portuguesa. O modelo do regime de colaboração do Ceará cujo componente central é o Programa de Alfabetização na Idade Certa (Paic) adota um conjunto de insumos como materiais estruturados, bolsas de apoio aos formadores e executores das ações nos municípios, premiações e mecanismos de incentivo, além da formação de professores. Todos os quatro estados e o município de Sobral desenvolveram ações de formação continuada dos professores, buscando superar lacunas da formação inicial e problemas de aprendizagem identificados nas escolas. Além desses cinco elementos, chama a atenção, especialmente nas experiências do Ensino Médio, o incentivo ao protagonismo juvenil e a maior participação dos estudantes na gestão das escolas. Vale destacar que nos quatro estados, e sobretudo em Pernambuco, houve ampliação da oferta de educação integral em tempo integral. O modelo do ginásio pernambucano tornou-se uma referência disseminada para vários estados da Federação. Ainda há muito que avançar para termos uma educação básica de excelência para todos no Brasil, mas as experiências aqui discutidas mostram que é possível construir políticas públicas que transformam a vida de milhares de crianças, adolescentes e jovens. Haroldo Rocha Secretário Executivo da Educação do Estado de São Paulo.

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MACMILLAN EDUCATION E EDITORA DO BRASIL: UMA PARCERIA DE QUALIDADE E TRADIÇÃO PARA OFERECER O MELHOR MATERIAL DE IDIOMAS PARA A SUA ESCOLA!


A coleção Best Way garante o envolvimento dos alunos por meio de tópicos motivacionais, proporcionando muita diversão e informação enquanto um novo idioma é ensinado. Os livros oferecem situações de uso real da Língua Inglesa e trabalham habilidades essenciais para o desenvolvimento das competências sociais e emocionais. Essas habilidades compõem as Life Skills, que percorrem os quatro volumes da coleção, ajudando o aluno a desenvolver habilidades sociais em sintonia com suas qualificações educacionais. Assim como vigente na Base Nacional Comum Curricular, a Best Way trabalha com os eixos organizadores de maneira equilibrada e de acordo com diversos temas interdisciplinares, que contribuem para uma aprendizagem significativa.

A coleção New Way propicia incríveis e divertidas vivências com conteúdos linguísticos, nas quais professores e alunos sentem um senso contínuo de realização e satisfação na aprendizagem de uma língua estrangeira. Adequada às atuais metodologias de ensino, a New Way faz uso integrado de mídias digitais e impressas, dialogando com a realidade do estudante e promovendo, de maneira autônoma e criativa, a construção de conhecimentos linguísticos e culturais.


[ ARTIGO ]

Espaço e tempo na Educação Infantil Vera Melis

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pequenas. Barulhento, exuberante, criativo, inesperado, acolhedor e rico em descobertas conceituais e relacionais, esse espaço não se restringe ao espaço interno. Os espaços externos, com sua beleza, luz natural e presença de recursos que tornam única a experiência de cada dia, são o prolongamento da sala de aula e, portanto, da relação pedagógica que se estabelece na escola. Todo espaço educa, assim como a linguagem ou as relações interpessoais, atuando como marco de condições, isto é, tem capacidade para facilitar, limitar e orientar tudo o que se faz na escola infantil. Nesse sentido, a organização dos espaços interfere diretamente na administração do tempo. Uma ação planejada de tempo para o uso dos espaços e materiais permite que as propostas planejadas sejam organizadas não em blocos únicos, pois se pensa mais em termos do tempo disponível e não numa organização de horários. Assim, é possível acompanhar o ritmo das crianças que, sendo curiosas, estão sempre em movimento, explorando e investigando. Para os educadores, o cotidiano deve ser fonte de oportunidades, tanto externas quanto internas, que favorecem ou dificultam o processo de crescimento pessoal, tanto nosso quanto das crianças, e condicionam o desenvolvimento das atividades educativas que desejamos realizar. Imagem: Shutterstock

A

Educação Infantil é a primeira etapa da Educação Básica, tendo como finalidade o desenvolvimento integral e o direito à aprendizagem da criança até 6 anos de idade. No âmbito legal, o Brasil vem garantindo os direitos da criança de 0 a 6 anos de idade a partir da Constituição Federal de 1988, quando a Educação Infantil em creches e ­pré-escolas passou a ser um dever do Estado e um direito da criança (artigo 208, inciso IV) culminado com a divulgação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) em 2018, que destaca os seis direitos de aprendizagem e desenvolvimento da criança e orienta a organização curricular por meio dos cinco campos de experiência. Dessa forma, vários documentos oficiais fortalecem a função pedagógica, fornecendo diretrizes curriculares para a construção de um tempo de infância nas instituições. Considerando as características afetivas, emocionais, sociais e cognitivas das crianças de 0 a 6 anos, divulgados de maneira ampla pelas evidências científicas, devemos oferecer experiências e oportunidades que contribuam para a construção e o exercício de suas competências, seu desenvolvimento e sua aprendizagem. Entretanto, é significante destacar a importância das brincadeiras e das interações como metodologia cotidiana nos centros de educação infantil. Por meio do brincar, interagir, repetir, imitar, explorar, experimentar as situações intencionalmente organizadas pelo professor, a criança constrói suas relações e seus conceitos e vive sua infância. Para tanto, vale uma atenção especial à organização dos espaços e seleção dos materiais, instrumento fundamental para a prática educativa com crianças

Profª. Drª. Vera Melis Doutora e mestre em Educação. Consultora educacional. Especialista em espaços de aprendizagem, práticas pedagógicas e formação docente. Representante do Brasil no World Forum Foundation. Coordenadora de intercâmbios internacionais.


O Arco43 Podcast é um programa de conteúdo educacional. Toda semana nossos convidados conversam com você sobre temas que provocam reflexão e esclarecem dúvidas e desafios do dia a dia de quem tem, por vocação, fazer do Brasil uma verdadeira pátria educadora.

Todas as quartas-feiras um novo episódio.


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