Por dentro do livro Seções especiais ao longo dos capítulos sugerem diferentes maneiras de o conteúdo ser apresentado, discutido e estudado. A metrópole acelerada
Um ótimo autor para nos acompanhar nesta
bre a vida nas metrópoles modernas, no qual analisa a
cena e ajudar a compreender o surto de Carlitos é
relação entre os diversos aspectos da vida social e da
Georg Simmel, sociólogo que estudou temas variados.
vida psíquica, ou seja, entre o ambiente urbano e a
Especialmente interessante para nós é seu ensaio so-
personalidade das pessoas.
Imagens de impacto ajudam a relacionar o conhecimento prévio do aluno com o tema abordado.
United Artist
7
Abertura de unidade Apresentando Georg Simmel
Sammlung Rauch
Georg Simmel (Berlim, Alemanha, 1 de março de 1858 – Estrasburgo, França, 28 de setembro de 1918)
Embora Georg Simmel nem sempre apareça entre os pais da Sociologia, sua obra foi muito importante para o desenvolvimento do conhecimento sociológico. Uma de suas preocupações foi, assim como para Durkheim, discorrer sobre os objetos e a metodologia próprios dos estudos da sociedade. Simmel teve sua obra marcada pelo intenso crescimento urbano por que passava Berlim, capital alemã, no final do século XIX e início do século XX. Atento a essas mudanças, desenvolveu um método de análise que ficou conhecido como microssociologia, propondo olhar para os fenômenos sociais em suas pequenas manifestações. Para ele, a sociedade estava em constante transformação, sendo feita e refeita com base nas relações do dia a dia. Formado em História e Filosofia, Georg Simmel foi muito influenciado pelo filósofo alemão Immanuel Kant, embora tenha sido na análise sociológica que empreendeu seu maior esforço. Os temas mais explorados em sua Georg Simmel, c. 1900. obra são a modernidade, o indivíduo moderno e a importância social do dinheiro. Sobre esse tripé, analisou as mais diversas formas de interação, tendo como pano de fundo a questão mais ampla da relação entre indivíduo e sociedade. Suas principais obras são coletâneas de ensaios e, dentre seus textos mais famosos, destaca-se “As grandes cidades e a vida do espírito” (1903).
Tempos Modernos
A modernidade, incon-
O tique nervoso de Carlitos em cena do filme Tempos modernos.
testavelmente, mudou o ritmo
Em cena: O surto e o manicômio
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da produção. Mas não só isso: mudou o ritmo das ruas, das cidades, da vida. Na verdade,
fábrica fugindo de um guarda que se aproxima. Daí em diante as coisas pioram: ele liga e desliga máquinas, explode fusíveis, borrifa óleo nos colegas, saltita loucamente pela linha de montagem, dependura-se em um enorme gancho e borrifa óleo no próprio dono da fábrica. Os operários e seguranças tentam contê-lo, mas Carlitos, incontrolável, corre para a rua. Nesse momento, depois de borrifar o enfermeiro, é metido numa ambulância que o conduzirá ao manicômio. Na cena seguinte, Carlitos, bem mais calmo – não mais usando o macacão de operário, e sim o famoso terno preto, chapéu coco e bengala –, deixa a clínica psiquiátrica. Antes de partir, escuta atentamente o conselho do médico: “Vá com calma e evite a excitação”. Será realmente possível viver sossegado nestes tempos modernos?
pelo divino e derivados dele.
Andrey Popov/Dreamstime.com
O dia de trabalho chega ao fim. Os operários estão exaustos, porém o dono da fábrica dá ordem para acelerar a produção. Carlitos tenta heroicamente acompanhar o ritmo, mas já não consegue: em uma das cenas mais famosas da história do cinema, atira-se sobre a esteira que passa à sua frente e é literalmente engolido pelas engrenagens circulares que compõem a máquina gigantesca. Sob o olhar incrédulo do “rebanho”, a “ovelha negra” enlouquece. Após ser cuspido de volta pela máquina, tomado por uma espécie de transe, Carlitos aperta o nariz dos colegas com suas chaves como se fossem roscas e persegue até a rua a secretária do dono da fábrica com o intuito de apertar-lhe os botões da saia. Em seguida, corre atrás de outra mulher, fixado agora nos botões da blusa dela, e entra novamente na
Marcio Silva/Dreamstime.com
Tempos nervosos
O filme clássico de Charlie Chaplin estrutura o percurso de ensino relacionando suas passagens a conceitos e teóricos importantes da história da Sociologia.
tudo foi se acelerando. As formas de entretenimento são bons exemplos: a quietude
Com a separação entre o profano e o religioso, essa correspondência deixou de fazer sentido. E, no mundo profano, a ciência
exigida pela leitura contrasta
foi ganhando cada vez mais o
radicalmente com a velocida-
poder de esclarecer questões e mistérios que sempre convive-
de da montanha-russa ou do
ram com os seres humanos.
cinema de ação. Nossa capa-
Mas Weber é o primeiro a nos advertir: a ciência nunca chega
cidade de percepção também se alterou: pense na quantidade de variáveis em que você precisa prestar atenção
a resolver todas as dúvidas e
Times Square, Manhattan, Nova York, 2015. Times Square é uma grande área comercial situada na região central da Ilha de Manhattan, Nova York (EUA). É um dos pontos turísticos mais visitados do mundo. Seus prédios ostentam gigantescos painéis publicitários de telas LED, intensamente iluminados.
jamais responderá a questões fundamentais, como “qual é o sentido da vida?” ou “por que devo fazer o bem?”. E mesmo
enquanto joga uma partida de video game. Não por acaso, as habilidades dos jovens do século XXI
aquelas questões que ela pretende investigar não têm res-
deixam os mais velhos perplexos: falam ao telefone, checam mensagens, escutam música e fazem o dever de casa ao mesmo tempo!
postas definitivas. Outras apa-
Aplicativo contábil utilizado em um tablet, 2015.
Parte II – A Sociologia vai ao cinema
Capítulo 7 – A metrópole acelerada
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recem desafiando a imaginação
Os tempos modernos, portanto, trouxeram mais
e inquietando os espíritos. A ciência vive de ultra-
esta novidade: separaram o mundo religioso do mun-
passar barreiras, mesmo sabendo que encontrará
do profano. Até o Renascimento, existia uma corres-
outras maiores e às vezes piores. A cada passo que
pondência entre o belo, o justo e o verdadeiro, porque
dá, depara-se com a certeza de que muitas dessas
esses três elementos eram vistos como inspirados
barreiras ainda nem sequer foram identificadas...
Sessão de cinema Walden Media
Tales Azzi/Pulsar Imagens
Augusto Dauster/Fotoarena
Recapitulando
JORNADA PELA LIBERDADE EUA/Reino Unido, 2006, 117 min. Direção de Michael Apted.
ESPN Brasil/Miração Filmes/TV Zero
Com base em uma história real, é narrada a luta política do líder de um dos movimentos abolicionistas britânicos. São mostradas as dificuldades de propagação dos ideais liberais que fundamentam a noção de “direitos humanos” em uma sociedade que acreditava que a estabilidade do Império Britânico estava ligada à escravidão.
Moradia à beira do Lago Paranoá, em Brasília (DF), 2016.
Ruby Films
Quando tomamos como referência uma questão importante, como educação, vemos com clareza as di-
O desenvolvimento educacional dos estados e
ferenças agudas entre as regiões mais favorecidas e as
municípios brasileiros também é revelador da situação
menos favorecidas do Brasil. Se a educação é um direi-
mais geral. Os indicadores de analfabetismo, por exem-
to de todos, estamos ainda muito longe de cumprir
plo, são mais altos nas regiões mais pobres e mais bai-
esse direito fundamental de maneira igualitária. As discrepâncias entre as regiões acentuam as desigualdades e as diferenças entre os cidadãos brasileiros, o
dagascar, na África, com posição bastante desfavorá-
que é demonstrado pelos dados da Pesquisa Nacional
vel entre os países considerados pelas agências que
por Amostra de Domicílios (PNAD).
tratam do desenvolvimento humano.
Alex Argozino
Taxas de analfabetismo no Brasil (por região) Pessoas com 15 anos ou mais de idade, em % Centro-Oeste
Nordeste
Sudeste
Sul
Brasil
Fabula/Participant Media
30
22,4 16,9
10
0
13,0 9,5
2004
2013
9,2
2004
2013
No ano de 1982, a Ditadura Militar completava 18 anos e a luta pela redemocratização do Brasil embalava o país. A música popular brasileira sofria com a censura, e o clube de futebol Corinthians passava por um período interno turbulento. No meio disso, o rock nacional começava a nascer. O filme mostra como a música, o esporte e a política se encontraram para mudar o rumo da história do país.
2004
11,5 6,5 2013
6,6 2004
4,8 2013
6,3 2004
8,5
4,6 2013
2004
98
AS SUFRAGISTAS
2013
CONDOR
219
Linguagens e esquemas
22
Os conteúdos são sempre apresentados por meio de imagens, gráficos, tabelas e mapas para exercício da síntese e da intertextualidade.
Recapitulando
Brasil, 2007, 103 min. Direção de Roberto Mader. O filme mostra diversos depoimentos e imagens de arquivo das crises políticas na América do Sul, nos anos de 1960 e 1970. O destaque principal são as ações da chamada Operação Condor, nascida de um acordo entre as polícias secretas dos países do Cone Sul com conhecimento da CIA. Essa operação gerou várias ações violentas dos governos militares contra militantes e representantes da esquerda comunista e socialista da região.
NO Chile, 2012, 112 min. Direção de Pablo Larraín. No momento em que o povo chileno é chamado para votar em um referendo pela permanência do General Augusto Pinochet no poder, e seu chefe está trabalhando na campanha do “Sim”, o publicitário René recebe o convite para integrar a equipe do “Não”. Sua missão: criar filmes e materiais promocionais que convençam a maioria do povo chileno a votar “Não”, interrompendo dessa forma a ditadura no país.
Fonte: IBGE. Séries estatísticas. Disponível em: <seriesestatisticas.ibge.gov.br>. Acesso em: maio 2016.
Capítulo 14 – Brasil, mostra a tua cara!
Parte II – A Sociologia vai ao cinema
Reino Unido, 2015, 107 min. Direção de Sarah Gavron. No início do século XX, após décadas de manifestações pacíficas, as mulheres ainda não tinham o direito de voto no Reino Unido, sendo ridicularizadas e ignoradas pelos políticos. Inspirado no movimento sufragista, o filme retrata o momento em que um grupo militante decide coordenar atos de insubordinação violenta a fim de chamar a atenção para sua causa.
Taba Filmes/Focus Filmes
xos nas mais favorecidas. Os estados mais pobres do Brasil se aproximam de países mais pobres, como Ma-
20
Brasil, 2014, 82 min. Direção de Pedro Asberg.
Moradia na margem da Lagoa Manguaba, em Marechal Deodoro (AL), 2015.
A mancha nacional
Norte
DEMOCRACIA EM PRETO E BRANCO
As inovações tecnológicas tomaram conta do mundo moderno. Se, por um lado, fascinavam, por outro, provocavam desconfianças. Suas promessas de tornar a vida mais prática e dar mais eficiência ao trabalho contribuíram para alterar a mentalidade dos indivíduos. O que chamou a atenção de Max Weber não foram as novas tecnologias em si, mas de que maneira elas ajudaram a criar novas atitudes e novas formas de pensar, que por sua vez foram essenciais para consolidar o sistema capitalista. Uma invenção simples como o relógio mecânico deslocou o referencial de contagem do tempo, baseado na natureza, nas horas litúrgicas e no trabalho doméstico, para o tempo produtivo regido pelo contrato de trabalho entre patrão e empregado. A partir daí foram desenvolvidas técnicas de controle e medição do tempo gasto na produção – o relógio de ponto é um exemplo. Outro aspecto que chamou a atenção de Weber na formação da mentalidade capitalista foi a Reforma Protestante. Com base nela surgiram diversas seitas cristãs dissidentes da Igreja Católica, que estimulavam os fiéis a ser diligentes no trabalho, evitar o ócio e usar o tempo em atividades para a glória de Deus. Entre os protestantes, a fé não ficava reservada às práticas dominicais ou aos que se internavam em mosteiros. Ela era confirmada no cotidiano pelo comportamento do fiel. Essa nova fé contribuiu para a difusão da disciplina do trabalho, tão valorizada pelo sistema capitalista. Essas mudanças – tempo controlado, novas máquinas e contrato de trabalho – não se concretizaram sem que houvesse resistência tanto dos trabalhadores quanto dos empregadores. Um elemento que contribuiu para sedimentá-las é o que Weber chamou de racionalidade. Para sobreviver ou prosperar, os indivíduos modernos tiveram de aprender a calcular ações e fazer as melhores escolhas. Isso significa que a racionalidade passou a estar presente na vida do indivíduo comum moderno. Mas ela também foi impulsionada pelo desenvolvimento do pensamento científico. A ciência foi a mola propulsora da racionalidade ao desencantar o mundo. Tudo o que a fé religiosa entendia como intocável e sagrado, a ciência “profanou” investigando, inquirindo e desvendando “mistérios”. Assim, a racionalidade científica funda os tempos modernos quando dissolve a noção de verdade absoluta e propõe um controle prático da natureza (por meio de técnicas) segundo os objetivos estipulados pelos próprios homens. Ela não se propõe a fornecer regras morais nem oferecer novas visões de mundo para orientar a vida em sociedade. Para Weber, a ciência é um campo autônomo, separado da religião e da política – terrenos dos profetas e dos demagogos.
Capítulo 9 – Liberdade ou segurança?
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Boxes resumem os temas do capítulo, retomando as principais questões abordadas para reforço e revisão dos conteúdos trabalhados.
Sessão de cinema Sugestões de filmes acompanhadas de orientações pedagógicas no Manual do Professor, com práticas de trabalho em sala de aula.
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