Material Digital do Professor | Três dias e mais alguns

Page 1

MATERIAL DIGITAL DO PROFESSOR

TRÊS DIAS E MAIS ALGUNS Caio Riter

FGV Editora

Ilustrações de Laerte Silvino

Elaborado por: Flávia Côrtes, roteirista e tradutora, doutoranda em Teoria da Literatura e Literatura Comparada pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e mestre em Estudos Literários pela UERJ. É formada em Letras pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e especialista em Literatura Infantil e Juvenil também pela UFRJ. Atualmente é vice-presidente da Associação de Escritores e Ilustradores de Literatura Infantil e Juvenil (AEILIJ). Tem 21 livros publicados para crianças e jovens, muitos deles premiados e selecionados para diversos projetos de leitura, entre eles o PNBE, e participa de eventos literários por todo o país.


Sumário Carta ao professor e à professora............................. 3 Propostas de atividades I.......................................... 5 Pré-leitura...............................................................................5 Leitura....................................................................................6 Pós-leitura..............................................................................6

Propostas de atividades II....................................... 15 História.................................................................................15 Arte......................................................................................17 Música..................................................................................18

Aprofundamento..................................................... 20 Gêneros literários................................................................20 Estrutura do romance.........................................................20 Diálogos intertextuais..........................................................23 A importância da leitura literária..........................................28 Registro pedagógico...........................................................30 Intertextualidade.................................................................30

Referências complementares................................... 31 Sugestão de filmes..............................................................31 Sugestão de séries...............................................................33

Bibliografia comentada............................................ 33


Carta ao professor e à professora Caro professor e cara professora, com a reestruturação do Ensino Médio, a nova Lei de Diretrizes e Bases conferiu ao estudante brasileiro a oportunidade de buscar aperfeiçoamento em disciplinas de seu maior interesse. O Novo Ensino Médio aproxima as escolas “à realidade dos estudantes de hoje, considerando as novas demandas e complexidades do mundo do trabalho e da vida em socie­ dade” (BRASIL, 2018). A fim de adequar as atividades relacionadas ao romance Três dias e mais alguns a essas expectativas do Novo Ensino Médio, este material foi elaborado com muito cuidado e pensado para que você aproveite ao máximo a experiência com os estudantes em sala de aula. O livro do premiado autor gaúcho Caio Riter é uma oportunidade de você e os estudantes conhecerem ou aprofundarem o conhecimento dessa obra de grande qualidade literária que aborda temas muito pertinentes ao adolescente de hoje, como relações familiares e de amizade, namoro, primeiro beijo, questões escolares, sonhos para o futuro, vida nas favelas, violência etc. Por meio das reflexões do narrador, o leitor se identifica com as situações vividas pelo personagem e passa a refletir sobre sua posição no mundo e o próprio futuro, como o protagonista da história. Os diversos temas que compõem a obra podem ser trabalhados em sala de aula usando uma série de referências do autor, que muitas vezes se entrelaçam com a narrativa, criando diálogo entre o romance e a obra ou cultura pop citada. Utilizando o fluxo de consciência e de digressões, com uma série de monólogos interiores do protagonista, Caio envolve o leitor em uma trama que chama atenção pela pertinência dos assuntos e da maneira com que são apresentados: em uma linguagem simples, acessível ao jovem leitor e muito envolvente. O crítico literário e pesquisador Antonio Candido defendia que a literatura deveria ser um direito de todos, pois o ser humano se utiliza dessa forma de expressão como representação de si mesmo. Prova disso é que desde a mais tenra infância sentimos necessidade de narrar e contar histórias. Tão logo começamos a nos comunicar, passamos a narrar nossas descobertas e vivências de maneira a envolver quem nos ouve. Esse interesse natural por histórias confere a você a oportunidade de trabalhar a obra literária em sala de aula e, assim, oferecer aos estudantes uma


Laerte Silvino

experiência de construção de elos afetivos e de reforço das estruturas do pensamento e da socialização. A leitura literária no ambiente escolar viabiliza um ambiente de descobertas, de expressões culturais, artísticas e pessoais, o que contribui para a formação de um leitor crítico e de cidadãos conscientes. Esperamos que você aproveite as propostas deste material em suas aulas, unindo-as a seu conhecimento e experiência, e que obtenha sucesso em sua jornada. É uma imensa alegria fazer parte de sua história. Flávia Côrtes


Propostas de atividades I A fim de contribuir com a prática da formação do leitor literário, foram desenvolvidas estratégias para antes, durante e depois da leitura do livro selecionado neste material. As propostas de atividades sugeridas têm o objetivo de auxiliá-lo a desenvolver um trabalho consistente em sala de aula. Na seção Aprofundamento, você encontrará mais informações para apoiá-lo nessas atividades.

Pré-leitura Crie um ambiente propício à leitura. Gere curiosidade na turma, antecipe a ideia principal do texto e chame a atenção dos estudantes para os elementos que se destacam no objeto livro, como capa, título e espessura. Ao prover os estudantes de ferramentas necessárias para o bom entendimento do texto, você estabelece uma base para o posterior debate sobre o livro trabalhado e para as atividades propostas. Veja as sugestões a seguir. 1. Incentive os estudantes a investigar o objeto livro. Peça que observem a capa, o título, quem são os autores (o escritor Caio Riter e o ilustrador Laerte Silvino) e leia com eles o texto da quarta capa para instigar a curiosidade a respeito da história. Estimule-os a falar sobre o que observaram, do que acham que a história trata e o gênero da narrativa. Este é um momento de especulação, não dê respostas agora, deixe que cheguem às próprias conclusões. As ideias podem ser anotadas para que sejam verificadas após a leitura. Seguem algumas perguntas que você pode fazer aos estudantes. yy O que o título Três dias e mais alguns sugere? E a ilustração de capa? Você pode optar por deixar livre a interpretação nesta etapa da pré-leitura ou fechar o assunto explicando que é a ilustração de naves espaciais sobrevoando uma comunidade. Pode ser mais instigante deixar que a narrativa revele aos poucos os detalhes da história. yy Na página 7, antes de começar a história, há uma frase, uma epígrafe: “Faça. Ou não faça. Não existe a tentativa. (Mestre Yoda).” Explique o que é epígrafe: uma frase ou pequeno trecho de outra obra no início de um livro, um capítulo ou poema. A epígrafe sempre está relacionada à história, pode expressar uma síntese do que está por vir ou algo que situe a narrativa no contexto. Pergunte o que acham que essa epígrafe em particular significa, mas não dê respostas no momento. Após a leitura, retome a epígrafe, que pode se referir às inúmeras dúvidas do protagonista e predizer o amadurecimento dele, que 5


teve de tomar importantes decisões na vida ainda muito jovem, como levar o irmão ao posto de saúde sozinho e decidir se aceitaria ou não a proposta do vizinho Miro. Outro aspecto é que o trecho se refere à fala de um importante personagem de Star Wars, o que antecipa para o leitor a importância dessa saga e seus personagens em Três dias e mais alguns. 2. Após essa exploração inicial do livro físico, informe aos estudantes que o livro é do gênero romance e aproveite para esclarecer uma dúvida comum entre leitores de qualquer faixa etária: Todo romance é uma história de amor? Explique rapidamente que o gênero romance pode abordar diferentes temas, como aventura, drama, comédia, terror, ficção científica e até uma história de amor, ou misturar muitos temas, como neste livro de Caio Riter. Deixe a explicação detalhada sobre os gêneros para outro momento. Agora não há necessidade de entrar em detalhes, pois haverá uma atividade de contextualização mais profunda na pós-leitura. Esse conteúdo contempla as habilidades descritas na BNCC para os com­ ponentes curriculares Língua Portuguesa e Linguagens e suas Tecnologias: EM13LGG101 e EM13LP03.

Leitura Proponha aos estudantes as atividades a seguir, elaboradas para reforçar a compreensão do romance e contribuir para melhor aproveitamento do conteúdo. A leitura da obra deve ser feita em casa, para que cada um mergulhe nela de modo pessoal, com mais concentração e no próprio tempo. Peça aos estudantes que, durante a leitura, anotem os termos, as palavras e referências que desconheçam e busquem meios de descobrir o significado, seja na internet ou em dicionários. As anotações e os eventuais significados devem ser trazidos à sala de aula para serem discutidos com a turma antes da análise do livro lido. Se algum termo ainda for desconhecido, ajude-os fornecendo o significado ou buscando com eles no dicionário ou na internet. Na seção Aprofundamento deste manual são encontrados muitos dos termos e das referências usados por Caio Riter em seu livro. Esse conteúdo contempla a habilidade descrita na BNCC para o componente curricular Linguagens e suas Tecnologias: EM13LP06.

Pós-leitura Este é o momento de atividades que estabelecem a síntese semântica do texto e constroem o sentido geral do que foi lido. Nesta etapa, incentive os estudantes a se expressar oralmente sobre a leitura, individualmente ou em grupo; a 6


1. Pergunte aos estudantes que referências a outros textos ou a outros campos do saber eles observaram na obra. Peça que façam uma lista com todas as referências encontradas e organize uma lista única na lousa, com as contribuições de cada um. Concluído o levantamento, explique aos estudantes que as referências são um recurso usado por escritores para dialogar com o leitor sobre algo que ele já conhece ou para tornar o texto mais rico e interessante. É importante destacar que nem sempre o autor faz essas remissões propositalmente, às vezes é intrínseco a seus conceitos e conhecimentos. Por exemplo, um autor pode falar sobre a infância de algum personagem Pôster do filme Star Wars: a ascensão e citar algo da própria infância, como uma Skywalker, de 2019. cantiga de roda. São essas referências que chamamos de intertextualidade. Caio Riter fez muitas referências. A que mais se destaca é à saga de filmes Star Wars. 2. Organize uma batalha de slam com a turma. Os temas devem estar relacionados ao romance de Caio Riter. Algumas sugestões: pobreza, vida nas favelas, violência, autismo, cultura pop (Star Wars, Jogos Vorazes, videogames, entre outros), adolescência, vida escolar etc. Com os estudantes, defina quem fará parte do júri e quem irá concorrer. Incentive a participação de todos que quiserem concorrer com seus poemas. Se possível, consiga livros para serem dados como prêmios ao primeiro, segundo e terceiro colocados. Esta atividade pode ser ampliada para outras turmas e até mesmo para toda a escola. Josi de Paula, slammaster do Slam Negritude, explica as características do slam no artigo “Slam: literatura e resistência” (2019): O slam é uma competição de poesia falada criada nos Estados Unidos por Marc Smith, mais especificamente em Chicago nos anos 1980 e trazido ao Brasil em 2008 por Roberta Estrela D’Alva. 7

Lucasfilm Ltd./ Bad Robot Productions

produzir outros textos inspirados no que trabalharam; a desenvolver outros projetos (como maquetes, quadrinhos, cartazes, encenações teatrais) sobre o livro lido. Esta é uma oportunidade para trocas de impressão a respeito da leitura a fim de chegar a conclusões particulares e coletivas. Veja a seguir algumas sugestões.


Originário do inglês, o termo slam quer dizer batida. Algo semelhante a uma pancada. No entanto, resumir essa palavra a apenas um significado é uma tarefa difícil porque qualquer descrição que se faça nunca dará conta da amplitude que essa vertente da cultura urbana alcançou nem do impacto que ela tem na vida de inúmeras pessoas. As batalhas de poesia falada seguem algumas regras: poesias autorais de até três minutos sem a utilização de objetos cênicos e sem acompanhamento musical. Corpo e voz são elementos fundamentais! As notas são dadas por um júri popular que é escolhido no momento da competição. Esta normalmente ocorre em três fases: geral, semifinal e a final, que revela o poeta vencedor daquela edição. Num slam são recitadas poesias de temas livres, mas verifica-se, ao longo do tempo, que grupos historicamente excluídos vêm se utilizando dessa expressão artística como forma de reivindicar seus lugares de direito, de dar visibilidade às suas lutas e se colocar como protagonistas de suas próprias histórias. Para mais informações, leia o artigo completo. Veja a indicação na seção Bibliografia comentada. 3. Organize uma atividade de troca de leitura. Estabeleça prazo para que os estudantes elaborem um texto de próprio punho, inspirado no romance de Caio Riter, mas que transforme a história do autor gaúcho em outro gênero narrativo. Deixe livre a escolha de cada um: pode ser conto, crônica e até mesmo poema. O texto deve ser curto, de uma a três páginas. Peça aos estudantes que tragam o texto impresso ou escrito à mão, em boa caligrafia, com capa na qual devem constar o título, o gênero narrativo e o nome do estudante. Os que quiserem podem acrescentar ilustrações. No dia combinado, organize os trabalhos sobre sua mesa e sorteie o nome dos estudantes para que, um a um e aleatoriamente, todos escolham um texto para ler. Como a leitura é curta, deve ser feita individualmente na sala de aula. Após todos lerem, incentive-os a falar suas impressões sobre os textos lidos. Depois, peça que troquem os textos para ler em casa. Na aula seguinte, escolha com eles ao menos um exemplar de cada gênero para que seja apresentado a todos, na frente da sala. Essa apresen8


tação pode ser feita pelo autor do texto ou por outro estudante que o tenha lido. Deixe que a turma sugira os textos e, se houver necessidade, sorteie. Mais uma vez, convide-os para fazer observações sobre os textos lidos. 4. O romance de Caio Riter dialoga com o romance O apanhador no campo de centeio por tratar de temas parecidos e utilizar o fluxo de consciência de um narrador adolescente. Caio deixa uma pista para os leitores ao citar o livro americano:

Editora Todavia

E hoje matei tempo na biblioteca pública. Comecei a ler um livro muito bom: O apanhador no campo de centeio. Conhece? A Jaque disse que não conhecia, mas que um primo dela já tinha indicado pra ela. – Não conheço. Mas meu primo disse pra eu ler. Falou que é bem bom. – Muito (p. 71). Publicado em 1951 pelo escritor americano J. D. Salinger, a narrativa de O apanhador no campo de centeio se passa em um curto espaço de tempo, um fim de semana. Holden, o personagem principal, tem 17 anos e foi expulso da escola por ter sido reprovado em quase todas as disciplinas. Como não é a primeira vez que isso acontece, o jovem evita confrontar os pais e primeiro busca ajuda com pessoas importantes em sua vida (a irmã caçula, um professor e a ex-namorada). O texto é narrado em primeira pessoa utilizando o fluxo de consciência do narrador/ personagem, que reflete sobre a vida, o futuro que o espera e as dificuldades que enfrenta, em Capa do livro O apanhador no campo uma época na qual o adolescente não tinha voz de centeio, de J. D. Salinger. e não era levado a sério pelos adultos. Aproveite a oportunidade para apresentar esse livro aos estudantes e propor sua leitura. O ideal é que leiam este segundo livro logo após a leitura e discussão de Três dias e mais alguns, para que tenham a história fresca na memória, façam comparações entre os dois livros e percebam as diferenças entre ser adolescente nos dias de hoje e nos anos 1950. Após a leitura, organize uma conversa 9


informal, em que cada um tenha a oportunidade de dar opinião sobre a leitura e destacar os pontos em comum ou divergentes que encontrou em relação a Três dias e mais alguns. Faça-os sentar em círculo para que o bate-papo fique mais descontraído. Se for possível no espaço escolar, sente-se com eles ao ar livre. A experiência será ainda mais intimista e certamente os comentários serão mais pessoais e interessantes. 5. O autismo é um dos temas abordados no romance de Caio Riter. Deco, o irmão caçula do personagem principal, tem transtorno do espectro autista (TEA). Peça aos estudantes que desenvolvam um infográfico sobre as principais características do espectro autista. Você pode fornecer os dados que julgar importantes para o infográfico, e todos os estudantes trabalharão no mesmo modelo, ou apenas dar sugestões e deixá-los livres para usar dados e o formato que preferirem, o que torna a atividade muito mais rica. Se cada estudante produzir o próprio infográfico, é interessante expor os trabalhos para o resto da escola, seja durante algum evento coletivo, como uma feira ou festividade, seja numa exposição única, em um dia importante relacionado ao autismo. O infográfico deve ser colorido e de fácil visualização, por isso o ideal é que seja feito em cartolina ou papel-cartão, mesmo que seja uma colagem com folhas de papel A4. Será preciso coletar dados e informações on-line. Veja a seguir alguns sites confiáveis sobre o tema: yy ENTENDA o que é o TEA: transtorno do espectro autista. Ineuro, Porto Alegre, 11 jan. 2017. Disponível em: http://www.ineuro.med.br/publicacao/entenda -o-que-e-o-tea-transtorno-do-espectro-autista. Acesso em: 13 ago. 2020. yy O QUE é autismo? Conheça o TEA. ABCTudo, São Paulo, 23 abr. 2019. Disponível em: https://www.abctudo.com.br/cliente/o-que-e-autismoconheca-o-tea/. Acesso em: 13 ago. 2020. A seguir estão algumas opções para a elaboração dos infográficos. yy As principais características do autismo. yy Diferenças entre os graus do espectro autista (síndrome de Asperger, autismo). yy Os números do autismo (quantas pessoas diagnosticadas no mundo, no país, no estado; incidência por sexo; incidência em crianças etc.). 6. O personagem principal de Três dias e mais alguns menciona que está lendo Jogos vorazes. A série de livros começou como uma trilogia, mas já teve um quarto livro lançado, e foi escrita pela escritora americana Suzanne Collins.

10


O primeiro livro foi publicado em 2008, e a tradução no Brasil foi lançada em 2010. A trilogia de Collins é uma distopia, que é antítese da utopia: enquanto na utopia se imagina um mundo perfeito, na distopia o mundo e a sociedade são marcados pelo sofrimento e pela opressão. Jogos vorazes aborda temas como pobreza e miséria, opressão, guerra, divisão de classes etc. Esses assuntos abrem portas para discussões muito pertinentes sobre poder, amizade, união, sociedade etc. Leia a seguir um trecho da orelha do livro I. Após o fim da América do Norte, uma nova nação chamada Panem surge. Formada por doze distritos, é comandada com mão de ferro pela Capital. Uma das formas com que demonstra seu poder sobre o resto do carente país é com Jogos Vorazes, uma competição anual transmitida ao vivo pela televisão, em que um garoto e uma garota de doze a dezoito anos de cada distrito são selecionados e obrigados a lutar até a morte! Para evitar que sua irmã seja a mais nova vítima do programa, Katniss se oferece para participar em seu lugar. Vinda do empobrecido Distrito 12, ela sabe como sobreviver em um ambiente hostil. Peeta, um garoto que ajudou sua família no passado, também foi selecionado. Caso vença, terá fama e fortuna. Se perder, morre. Mas para ganhar a competição, será preciso muito mais do que habilidade. Até onde Katniss estará disposta a ir para ser vitoriosa nos Jogos Vorazes? (COLLINS, 2010). Apresente a série aos estudantes, explique o que é uma distopia e pergunte se alguém já conhece os livros e, desses, veja quem só assistiu aos filmes, quem leu os livros e quem fez as duas coisas. Proponha que assistam aos filmes em casa e, se possível, que leiam também o primeiro livro da série. Estabeleça um prazo e combine com a turma um dia para debaterem suas impressões em aula. No dia agendado, incentive-os a falar sobre o que observaram nas duas expressões de arte, a literatura e o cinema, e o que acharam de diferente entre uma obra e outra. Aproveite a oportunidade para levantar debates sobre os temas relacionados à distopia nas duas obras. 7. O romance de Caio Riter faz referência aos ditados populares, ou à “filosofia do viver”, como diz a personagem Shaiane? Observe o trecho a seguir: 11


Cada qual com seus problemas, iria dizer a Shaiane, caso eu contasse pra ela o que vi. Cada um com seus problemas, cada um com os seus. Penso no Deco, penso no meu pai, penso nos meus três dias de suspensão, na mentira que disse pra minha mãe quando ela perguntou sobre os telefonemas da escola. Penso que são muitos os meus problemas. E que talvez eu nem queira ter tantos problemas assim. E adianta não querer?, ia perguntar a Shaiane em sua filosofia do viver, como diz o sor Túlio. A filosofia do viver são aquelas máximas que as pessoas pronunciam no dia a dia. Máximas nas quais elas acreditam piamente. E, cada vez que ele fala isso, eu penso na Shaiane. E que ela, muitas vezes, tem mesmo razão: de que adianta eu achar que tenho muitos problemas pra resolver? Isso não vai fazer com que eles sumam. Nem todos, nem alguns (p. 72). A filosofia do viver ou ditados populares, ou provérbios, são frases ou expressões criadas pelo povo e que resumem sabedorias populares que permanecem por muito tempo. Os ditados ajudam as pessoas a compreender algo sobre a vida em geral. Alguns são específicos de uma região ou país, outros se espalharam pelo mundo, como os que os portugueses trouxeram para o Brasil, por exemplo. Ainda que tenham sofrido modificações, guardam semelhanças e geralmente o sentido original permanece o mesmo. De forma geral, os ditados populares são universais porque se referem a questões humanas e independem de faixa etária ou classe social. Após explicar o que são ditados populares, mostre alguns (previamente selecionados) aos estudantes e deixe que tentem adivinhar o significado. Conclua a atividade com a explicação. Peça que complementem a atividade “recolhendo” outros ditados e seus significados com familiares e na internet. Veja a seguir alguns ditados e significados. yy Casa da Mãe Joana – Uma casa onde os visitantes podem tudo. yy Filho de peixe, peixinho é – Os descendentes herdam as qualidades dos pais e avós. yy De médico e louco, todo mundo tem um pouco – Todos temos um lado mais sensato e um lado mais louco, impulsivo. 12


yy Há males que vêm para o bem – Algumas coisas ruins acontecem para um bem maior. yy Cão que ladra, não morde – Nem sempre o que assusta é perigoso. yy Quem não tem cão, caça com gato – É preciso se ajustar às situações. yy De grão em grão, a galinha enche o papo – Os objetivos são alcançados com esforço e dedicação, aos poucos, em etapas. yy Diga com quem andas, que te direi quem és – Nos aproximamos de nossos semelhantes. Pessoas que andam em más companhias não devem ser boas companhias também e vice-versa. yy Esmola demais até santo desconfia – Ajuda demais pode ter segundas intenções. yy Nem tudo que reluz é ouro – Nem sempre o que parece bom realmente é. yy A pressa é inimiga da perfeição – Quando fazemos algo com pressa, frequentemente falhamos. yy Águas passadas não movem moinho – O tempo não volta atrás (explique o funcionamento de um moinho, movido pelo movimento da água de um curso de rio). 8. O romance aborda algumas realidades de vida muito difíceis, como a situação de mulheres que são mães solo, pais que abandonam filhos, violência e incerteza em relação ao futuro. Matias, o protagonista, passa por todas essas situações. Por ter sido abandonado pelo pai e viver com a mãe e dois irmãos, que, por sua vez, também foram abandonados pelos respectivos pais, e por ter uma mãe solteira que precisa trabalhar duro para sustentar a casa, ele tem de cuidar dos irmãos e dos afazeres domésticos. A violência também é comum na vida do adolescente, que mora em uma comunidade carente, e seu vizinho Miro parece estar envolvido com tráfico de drogas. Miro causa a prisão da própria mãe e tenta aliciar Matias para trabalhar para ele. Em meio a todas essas dificuldades, Matias sonha em terminar os estudos, prestar vestibular e ter uma profissão que lhe proporcione um futuro melhor. Levante esses assuntos com os estudantes e estimule-os a falar sobre as próprias experiências de vida ou do que viram ou ouviram dizer. Para estabelecer um laço de confiança com a turma, comece contando uma experiência sua. Após essa conversa, dê exemplos de pessoas que se destacaram na vida, embora tenham tido uma infância e adolescência difíceis. O objetivo é mostrar que as pessoas podem superar as dificuldades e encontrar um propósito na vida. Utilize exemplos de pessoas famosas para gerar maior interesse. Você encontra 13


facilmente esses exemplos na internet, mas já separamos aqui alguns para ajudá-lo nesta atividade: yy Charlize Theron – Atriz laureada com o Oscar, famosa pelo papel no filme Hancock, aos 15 anos presenciou a mãe matar o pai em legítima defesa. O pai era alcoólatra e violento. yy Keanu Reeves – O ator protagonista das séries de filmes Matrix e John Wick, teve uma infância bem difícil. Seu pai foi preso por tráfico de drogas, a mãe se tornou stripper e ele teve diversos padrastos na adolescência. yy Halle Berry – Atriz famosa pela atuação como Tempestade na série de filmes X-Men, da Marvel, presenciou o pai bater na mãe muitas vezes até que ele as abandonou quando Halle tinha 4 anos. Ela foi garçonete e morou em diversos abrigos para sem-teto. Essas informações mais detalhadas e outras estão disponíveis nos sites a seguir: yy BIA, Anna. Nem todos sabem, mas estes famosos têm histórias de vida duras que precisaram superar. In: @VIX. [S. l.]: Vix, c2005. Disponível em: https://www. vix.com/pt/entretenimento/572531/nem-todos-sabem-mas-estes-famosostem-historias-de-vida-duras-que-precisaram-superar. Acesso em: 29 ago. 2020. yy 13 CELEBRIDADES que passaram por dificuldades antes da fama. Incrível, [s. l.], [201-?]. Disponível em: https://incrivel.club/admiracao-famosos/ 13-celebridades-que-antes-dormian-en-la-calle-pero-ahora-poseenmansiones-422510/. Acesso em: 29 ago. 2020. yy 10 FAMOSOS que superaram uma infância complicada. Incrível, [s. l.], [201-?]. Disponível em: https://incrivel.club/inspiracao-historias/10-famososrevelam-como-superar-os-obstaculos-448360/. Acesso em: 29 ago. 2020. Se o interesse da turma for grande e você quiser dar continuidade à atividade, incentive os estudantes a já transformarem em arte as situações difíceis da vida deles ou de algum conhecido (nem todos se sentirão à vontade para falar da própria história). Eles podem criar um poema, um desenho ou um texto curto sobre a situação. Planeje com eles uma exposição artística para que exponham os trabalhos e também a história dos famosos de sucesso com passado difícil. Dê um título à exposição, por exemplo: “Histórias de superação”. Esse conteúdo contempla as habilidades descritas na BNCC para os com­ ponentes curriculares Língua Portuguesa e Linguagens e suas Tecnologias: EM13LGG101, EM13LGG103, EM13LGG104, EM13LGG301, EM13LGG302, EM13LGG303, EM13LGG603, EM13LP03, EM13LP19, EM13LP27 e EM13LP46, EM13LP53.

14


Propostas de atividades II Como professor de Língua Portuguesa, você pode (e deve) fomentar a intertextualidade do livro lido com outros campos do saber, e até buscar interação com professores de outras áreas para desenvolver atividades que explorem diferentes aspectos do romance de Caio Riter. A seguir há algumas sugestões de atividades que dialogam com outras disciplinas. Você encontrará mais informações sobre elas na seção Aprofundamento deste material.

História A referência às parcas no livro de Caio Riter é uma boa oportunidade para iniciar ou aprofundar pesquisas nas mitologias grega e romana com os estudantes. Após a releitura em sala dos trechos destacados a seguir, aprofunde a discussão sobre divindades da mitologia greco-romana e os motivos pelos quais o autor as citou em seu livro (para exemplificar que Matias queria fazer o próprio destino e lutar por um futuro melhor). Finalize com uma atividade divertida, detalhada mais adiante. Se o tempo não permitir tudo em uma aula só, deixe a atividade para a aula seguinte. As senhoras do destino, três irmãs que teciam e cortavam o fio da vida, eram chamadas de parcas na mitologia romana, e de moiras na mitologia grega. Com o tempo, o nome romano se estabeleceu e o grego foi um pouco esquecido. O nome individual de cada uma, porém, se manteve com grafia e pronúncia grega. Caio menciona as parcas algumas vezes. Segundo a mitologia, as divindades eram responsáveis pelo destino humano, determinavam o curso de vida dos mortais e cortavam o fio da vida quando julgavam ser o fim daquele indivíduo: Cloto tecia o fio da vida, Láquesis puxava e enrolava o fio e Átropos o cortava, dando fim à vida do mortal. Veja a seguir os trechos do livro: Três parcas tecem o destino: Láquesis, Átropos e Cloto. Esse trio tudo decide, segundo a mitologia grega. Tudo. Já eu prefiro interferir no que elas traçaram: aí dou um soco bem na cara do Osvaldo. E ele é filho da sora de Geografia. Então, se faltar à aula na sexta também, serão quatro dias. Será que assim eu mudo o destino que as parcas definiram pra mim? E o da minha mãe? É possível mudar? (p. 27). 15


O Frederico-Jabba acena lá da porta do bar, eu aceno de volta. E penso na mãe. Ela bem que... Ah, mas as tais parcas, como o sor Túlio falou (todo empolgado naquela aula sobre mitologia, que eu adorei e que o Aurélio e o Michael Douglas acharam um saco), as tais três irmãs que vivem isoladas no fundo de uma caverna, vão tecendo o destino das pessoas. Vai ver elas resolveram que a minha mãe vinha ao mundo pra passar trabalho; e eu e os meus irmãos, por tabelinha, também. O sor falou que, quando a gente nasce, uma delas (que eu não lembro bem se é a Láquesis ou a Cloto) tece um fio (o fio da vida da gente), aí ela vai passando pra outra irmã (que eu não lembro bem se é a Cloto ou a Láquesis), que vai tramando o fio. Este tramado são os acontecimentos que vão ocorrendo na vida da gente. E ninguém pode mudar o que foi tramado por uma das parcas, foi dizendo o sor. Nem os deuses, nem o destino. Aí, depois que tá tudo tramado, a terceira irmã, a mais temida de todas (essa eu lembro que é a Átropos), vem e corta o fio. Assim, sem mais nem menos: corta. E aí a gente morre. E fim (p. 28). O nome da atividade é “traçando o fio da vida” e será uma história criada por toda a turma: a narração da vida de um personagem com a interferência do destino, traçado pelas parcas. Traga um novelo de lã para a aula e escolha três alunas para representarem as parcas. Nomeie cada uma delas (Cloto, Láquesis e Átropos). O restante da turma deve permanecer sentado em seus lugares, enquanto as “parcas” ficam de pé. Cloto deve estar posicionada na frente da sala e no canto, diante do primeiro estudante, e Átropos deve esperar com uma tesoura na mão para finalizar a brincadeira. Cloto inicia a brincadeira enrolando a ponta do fio na mão e passando o novelo para Láquesis. Ao fazer isso, Cloto dá início à história: ela deve nomear e dar vida a um personagem (sugestões: João era muito pobre.../Maria tinha muitos amigos.../Pedro não gostava de estudar.../ Ana sonhava em ser famosa...). A seguir, Láquesis estica o novelo e dá uma volta com o fio no estudante mais próximo, que deve continuar a história de onde Cloto parou. Controle a narrativa para não deixar que os estudantes se estendam muito (eles podem formular uma frase ou duas, não mais), de modo que toda a turma tenha oportunidade de participar. Láquesis continua enrolando o 16


fio no estudante seguinte, que deve continuar a história do primeiro, e Átropos interfere na história dizendo uma palavra em voz alta que deve ser obrigatoriamente usada na narrativa. A brincadeira continua com Láquesis enrolando o fio de estudante em estudante, enquanto Cloto e Átropos se revezam dizendo uma palavra do destino para cada estudante. O último estudante pode falar mais que os outros, a fim de concluir a história do personagem a quem Cloto “deu vida” no início da brincadeira. Átropos decide o momento em que o personagem deve morrer e, consequentemente, acabar a história, cortando o “fio da vida” (do novelo). Esse conteúdo contempla as habilidades descritas na BNCC para os com­ ponentes curriculares Linguagens e suas Tecnologias e Ciências Humanas e Sociais Aplicadas: EM13LGG301, EM13LGG603, EM13CHS101, EM13CHS103 e EM13CHS104.

Arte O romance faz referência a dois grandes pintores, Frida Kahlo e Vicent Van Gogh, como observamos nos trechos a seguir. Alcunha significa apelido. Aprendi isso com a Jaqueline. Foi numa aula de Arte, acho, quando a sora falou que a Frida Kahlo, a artista que sofreu de poliomielite, recebeu a alcunha de Frida perna de pau (p. 42).

E aí, sei lá o porquê, me lembro daquela aula de Arte em que a gente tinha que fazer um quadro usando as pinceladas grosseiras do Van Gogh. A Jaque disse que iria pintar uma praia, com mar revolto se jogando contra as rochas (p. 67). Apresente a biografia e a arte de cada pintor à turma. Incentive-os a pesquisar informações sobre os artistas e prepare uma apresentação de slides no PowerPoint para apresentar aos estudantes com pinturas dos dois artistas. Deixe-os comentar livremente, mas traga também comentários prontos, de espe­ cialistas, sobre algumas obras, que você encontra facilmente em uma pesquisa

17


on-line. Muitas pinturas de Frida Kahlo, por exemplo, representam a dor física que a pintora experimentou ao longo da vida. Se não for possível apresentar os slides, pesquise na internet e traga para a sala de aula um vídeo sobre cada pintor, além de documentários sobre a história e o trabalho deles. Seguem abaixo alguns vídeos disponíveis on-line, como sugestão. yy 50 PINTURAS de FRIDA KAHLO. [S. l.: s. n.], 2016. 1 vídeo (8min49s). Publi­ cado pelo canal Videomax. Disponível em: https://www.youtube.com/ watch?v=lBKIuypUsvQ. Acesso em: 11 ago. 2020. yy 100 PINTURAS de Vincent van Gogh [S. l.: s. n.], 2018. 1 vídeo (13min52s). Publicado pelo canal Videomax. Disponível em: https://www.youtube.com/ watch?v=_ofr-ItgoiE. Acesso em: 11 ago. 2020. yy DOCUMENTÁRIO vida e obra de Frida Kahlo. [S. l.: s. n.], 2015. 1 vídeo (52min46s). Publicado pelo canal David Franco. Disponível em: https://www. youtube.com/watch?v=AZT-kRN2hCM. Acesso em: 11 ago. 2020. yy ENTENDA a história de Frida Kahlo através de suas obras! [S. l.: s. n.], 2019. 1 vídeo (8min8s). Publicado pelo canal Pensador. Disponível em: https://www. youtube.com/watch?v=7PCyGiJBtRo. Acesso em: 11 ago. 2020. yy OS IMPRESSIONISTAS – Vincent van Gogh. [S. l.: s. n.], 2012. 1 vídeo (23min44s). (Série Os Impressionistas, TV Escola). Publicado pelo canal Professor Linnell. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=StXzg7e8YKw. Acesso em: 11 ago. 2020. yy VAN GOGH – História da Arte (feat. Vivieuvi). [S. l.: s. n.], 2016. 1 vídeo (14min38s). Publicado pelo canal reVISÃO. Disponível em: https://www. youtube.com/watch?v=dU4YnSCL1xI. Acesso em: 11 ago. 2020. Esse conteúdo contempla as habilidades descritas na BNCC para o compo­ nente curricular Língua Portuguesa: EM13LP10, EM13LP27 e EM13LP29.

Música A música brasileira passou por verdadeira revolução no período da Ditadura Civil-Militar no Brasil, e o livro de Caio Riter faz referência a esse fato em alguns trechos, citando o movimento Tropicália e cantores como Geraldo Vandré e Chico Buarque, como vemos a seguir:

18


O Darth Maul pôs o nome do Deco de Geraldo Vandré. Sempre achei um nome meio estranho, nome que parecia ser de gente grande já. Daí que passei a chamar o meu mano de Deco e o apelido pegou. Ele é chamado assim em casa, na vila, na escola. Depois, bem depois, numa aula de História, a gente estava estudando a época da Ditadura Militar, aí o sor falou das músicas e tal, do papel delas na luta contra a opressão e eu fiquei sabendo do movimento da Tropicália, conheci a música do Chico Buarque e também a do Geraldo Vandré. A tal Caminhando e cantando e seguindo a canção. Todo mundo chama assim, mas o título é outro. Fala de flores: Pra não dizer que não falei das flores. O Aurélio aprendeu várias delas e, no recreio, a gente canta e tal. A Jaqueline e a Lucinda fazem uma dupla muito legal cantando Baby. O sor fica superfeliz com nossos saraus no recreio. Saraus que acontecem sempre às quartas-feiras (p. 44). Organize um sarau com a turma. Pode ser na sexta-feira, após a aula, ou mesmo durante o recreio, como no livro. Convide o professor de música ou algum estudante ou professor que toque um instrumento e selecione músicas do Tropicalismo. Você pode convidar a comunidade escolar e organizar o espaço com os estudantes, colocando cadeiras para todos que irão assistir ou apenas para pessoas com pouca mobilidade e deixar que os outros se acomodem como quiserem – dependerá do tempo disponível para o evento e do espaço escolhido. Os estudantes podem cantar, declamar e inventar uma coreografia para as músicas. As apresentações podem ser individuais ou em duplas, trios ou em grupos; em pé ou sentados em semicírculo. O ideal é criar um ambiente acolhedor e descontraído. Não deixe de incluir Alegria, alegria, de Caetano Veloso, e Domingo no parque, de Gilberto Gil. Outras sugestões: Panis et circenses e Minha menina (Os Mutantes); Cadê Tereza (Jorge Ben Jor; na época, Jorge Ben); Tropicália, Atrás do trio elétrico e É proibido proibir (Caetano); Aquele abraço e Louvação (Gilberto Gil); Baby (Gal Costa). Esse conteúdo contempla as habilidades descritas na BNCC para o compo­ nente curricular Língua Portuguesa: EM13LP19, EM13LP46 e EM13LP47.

19


Aprofundamento O trabalho com literatura em sala de aula exige que você se posicione criticamente. Para obter sucesso nesse processo, é preciso criar estratégias de trabalho com a leitura, de maneira a conquistar o leitor. Como mediador de leitura, você deve despertar nos leitores encantamento pela história que será trabalhada em sala. Para isso, leia o texto antes, com calma, a fim de conhecer seus pormenores e as possibilidades de interpretação. Apresentaremos aqui alguns subsídios e orientações para auxiliá-lo no trabalho com o livro Três dias e mais alguns em sala de aula. Dessa forma, você terá todas as ferramentas necessárias para despertar o prazer da leitura nos estudantes e levá-los à descoberta do universo de Caio Riter.

Gêneros literários Os gêneros são uma maneira de classificar os textos literários de acordo com suas características. Foi o filósofo grego Aristóteles (384 a.C.-322 a.C.) quem fez a primeira divisão no modo de narrar uma história em gêneros. Ele os classificou em lírico, dramático e épico (ou narrativo). Os gêneros apresentam ainda subdivisões que, ao longo do tempo, vão se modificando, quando novos gêneros são criados. O gênero lírico é a forma poética de narrar uma história e se caracteriza pela presença de ritmo e poesia narrados em primeira pessoa. Na Grécia antiga, a música era muito utilizada para narrar os sentimentos mais profundos do “eu lírico” e é daí que vem o termo “lírico”: remete à lira, um instrumento musical. As subdivisões do gênero lírico são poesia, soneto, sátira, idílio, ode, elegia, écloga, hino, epitalâmio e haicai. O gênero dramático é a forma de narrar uma história por encenação teatral e se caracteriza pela presença de atos e cenas. As subdivisões do gênero dramático são comédia, tragédia, auto, farsa, elegia, pantomima, melodrama e tragicomédia. O gênero épico – atualmente conhecido como narrativo – é a forma de narrar uma história real ou imaginária por meio de uma sucessão de acontecimentos. Esse gênero se caracteriza pela presença de tempo, espaço, personagem, enredo e narrador. As subdivisões do gênero narrativo são conto, crônica, novela, ensaio, epopeia, fábula e romance.

Estrutura do romance O livro Três dias e mais alguns faz parte do gênero narrativo e, por sua forma de construção, pode ser classificado como romance. A estrutura do romance 20


tradicional é constituída de quatro elementos: narrador, personagens, enredo, espaço e tempo narrativo. Podemos estruturar o romance de Caio Riter da forma explicada a seguir.

Narrador O personagem Matias é narrador em primeira pessoa e também protagonista da história. Observamos no texto os discursos direto e indireto. No discurso direto, o narrador apresenta a fala dos personagens em diálogos marcados por travessão; no discurso indireto, ele explica com suas palavras, em terceira pessoa, o que foi dito pelo personagem; e no discurso indireto livre ocorre a junção dos dois tipos de discurso: o narrador assume a fala e/ou sentimentos do personagem e os insere no seu próprio discurso, o que pode confundir o leitor sobre quem diz o quê, já que não há verbos de elocução (falar, dizer, comentar, responder, exclamar etc.). Veja nos exemplos a seguir as duas formas de discurso no texto de Caio Riter. yy Discurso direto: “Aí eu disse: – Ah, Pi, precisa estudar bastante. Muito e muito. E, depois, tem que ser bonita – e aí eu ri” (p. 41). yy Discurso indireto: “Não sei, eu respondi e já mudei de assunto, quando a minha mãe disse que tinha duas ligações do colégio registradas no celular dela e me perguntou se eu sabia o motivo” (p. 57).

Personagens Os personagens são os seres atuantes em uma narrativa e podem ser pessoas, animais, objetos e até locais. No texto de Caio Riter há uma série de personagens secundários, alguns mais atuantes que outros. O personagem principal, ou protagonista, é Matias, que também é o narrador da história. Os personagens secundários mais atuantes são a mãe de Matias e seus amigos Aurélio e MD.

Enredo O enredo ou a trama da narrativa é a sequência em que é narrada uma história, pode ser linear e não linear. No linear, as ações são apresentadas em sequência cronológica (apresentação, problema, clímax, desfecho); no não linear essa sequência se mistura. O enredo da obra de Caio Riter traz uma sequência linear de ações, composta da suspensão de Matias e dos acontecimentos que se desenrolaram naquele tempo.

21


Espaço O espaço narrativo são os locais em que se desenrola a história. O espaço dessa obra é, basicamente, a casa de Matias, a escola e a laje da casa do amigo MD.

Tempo O tempo narrativo é aquele em que se passa a história. Na obra de Caio Riter o tempo que se divide em cronológico – os três dias de suspensão mais o fim de semana, um total de 5 dias – e psicológico, que se refere ao tempo das reflexões íntimas do personagem e não segue uma “linha reta”, os acontecimentos não são narrados em uma linha cronológica, recuam no tempo para apresentar ao leitor algumas situações do passado, como a visita do pai ou Matias quando assistiu pela primeira vez a O império contra ataca. O romance de Caio Riter nos leva a mergulhar no mundo de Matias e observar, por seus olhos e sentimentos, a vida difícil de um adolescente em uma comunidade carente, além de todas as possibilidades de leituras que o autor nos oferece nesta narrativa rica de referências. Como afirmou o escritor e pesquisador italiano Umberto Eco (1985, p. 8), o romance é mesmo “uma máquina para gerar interpretações”. Eco complementa ainda que: [...] para contar é necessário primeiramente construir um mundo, o mais mobiliado possível, até os últimos pormenores. Constrói-se um rio, duas margens, e na margem esquerda coloca-se um pescador [...]. É o mundo construído que dirá como a história deve avançar depois (ECO, 1985, p. 21-26). Podemos observar esse cuidado na construção do texto literário no romance Três dias e mais alguns. Com pós-doutorado em Escrita Criativa e doutorado em Literatura, Caio Riter é um daqueles escritores que preza pela pesquisa e pelo trabalho árduo do texto como objeto de representação da arte e de sua forma de se expressar para o mundo. Assim, seu texto é bem elaborado e passa por cuidadoso esmerilhamento, que pole as arestas e deixa para o leitor um trabalho final cuidadoso e que, como toda boa literatura, se abre para muitas interpretações e caminhos intertextuais. Sobre o fazer literário, o autor disse em seu blog:

22


A linguagem esteticamente elaborada é importante. Mas não é ela que faz um texto ser literário ou não. É a capacidade que ele tem de ser comunicante, de ir ao encontro do outro, de tornar-se universal (e aí modismos, ou questões de estilo, de escola ou, simplesmente, de tempo ou de cultura, tornam-se nada diante da capacidade de falar à emoção de quem lê). O bom texto, a meu ver, é comunicante, em primeiro lugar. Por isso sempre defendi, em minha prática, em minhas palestras, em minhas oficinas, as duas esferas necessárias para se compor literatura: o que dizer? como dizer? [...] Borges diz que a literatura sobrevive, apesar da linguagem. Neste sentido (numa interpretação livre, talvez) o que fica não são as palavras. É mais. É a capacidade que um texto tem de falar com o altero, de provocar, de instigar, de “dramatizar” a vida (RITER, 2014).

Diálogos intertextuais A intertextualidade ocorre em todo o romance de Caio Riter. São muitas referências a outros textos e outros campos do saber. Muitas dessas referências já foram comentadas na parte das atividades deste manual, mas aqui você encontrará algumas informações extras para auxiliá-lo em suas aulas.

Star Wars A saga de filmes de ficção científica Star Wars é certamente a referência mais usada no livro, a ponto de podermos afirmar que as histórias se transpassam. O protagonista Matias a todo momento faz correlações entre os personagens da saga e as pessoas com quem convive. Acontecimentos de sua vida também são comparados a grandes eventos da saga. Assim, é importante que os estudantes sejam apresentados a esse universo, para melhor aproveitamento do romance. Ao final do Livro do Estudante e nas Referências complementares deste Manual, você encontra mais informações sobre essa série de filmes.

Autismo Não muito tempo atrás, o autismo era desconhecido da sociedade. Hoje, no entanto, já temos um pouco mais de informação, embora ainda seja necessário 23


discutir mais o tema nos bancos escolares para incentivar o respeito às diferenças e evitar bullying. Caio Riter nos apresenta o personagem Deco, irmão do protagonista, criança com traços de comportamento autista. A suspeita é confirmada no decorrer da narrativa, como fica claro nos trechos a seguir: A tal palavra sempre e sempre e sempre na minha cabeça. E eu sem coragem de digitar no Google. Até que tive: todos dormiam, eu não. E sem nada pra fazer, tomei a coragem e digitei lá: Autista, sintomas. E o que o Google me disse confirmou tudo o que a médica do posto tinha sugerido (p. 96).

[...] lembrei do Deco, das posturas do Deco, daquele jeito meio isolado dele, que parece que cada vez aumenta mais, feito cordão de puxa-saco (p. 97). A Revista Autismo é a plataforma digital mais respeitada sobre o autismo. Lá você encontra mais detalhes do assunto. Neste manual, no entanto, trazemos para você algumas informações importantes, como a definição desse transtorno (PAIVA JÚNIOR, 2020): O autismo – nome técnico oficial: Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) – é uma condição de saúde caracterizada por déficit na comunicação social (socialização e comunicação verbal e não verbal) e comportamento (interesse restrito e movimentos repetitivos). Não há só um, mas muitos subtipos do transtorno. Tão abrangente que se usa o termo “espectro”, pelos vários níveis de comprometimento — há desde pessoas com outras doenças e condições associadas (comorbidades), como deficiência intelectual e epilepsia, até pessoas independentes, com vida comum, algumas nem sabem que são autistas, pois jamais tiveram diagnóstico.

24


Alguns símbolos e datas são representativos na questão desse transtorno. O símbolo usado para representá-lo é um quebra-cabeça, que simboliza a diversidade e a complexidade do tema, e a cor que o representa é o azul. Essa cor foi escolhida porque, a cada cinco pessoas com autismo, quatro são do sexo masculino. A ONU estabeleceu o dia 2 de abril como Dia Mundial de Conscientização do Autismo. Nesse dia, em todo o mundo, importantes monumentos são iluminados de azul, como o Cristo Redentor, no Rio de Janeiro. O dia 18 de junho é o Dia do Orgulho Autista, criado em 2004 pela organização americana Aspies for Freedom. O objetivo é conscientizar as pessoas de que o autismo é uma característica do indivíduo que não o impede de viver em socie­dade. A “fita da conscientização” é utilizada como símbolo em outras causas, mas no autismo o padrão da fita é um quebra-cabeça, e ela é utilizada para marcar locais (escolas, restaurantes, lojas) onde pessoas com TEA são bem-vindas. O logotipo da neurodiversidade (o símbolo do infinito nas cores do arco-íris) representa a esperança e a diversidade, mas é menos utilizado. Veja a seguir alguns sinais do autismo. A pessoa: yy não mantém contato visual; yy faz movimentos repetitivos aleatoriamente; yy não fala ou não aponta coisas; yy não atende ao ser chamada pelo nome; yy não olha quando alguém aponta para algo; yy se isola socialmente; yy organiza objetos de forma alinhada; yy entra em crise ao sair da rotina; yy não brinca com brinquedos de maneira convencional; yy repete palavras ou frases sem motivo (ecolalia); yy gira objetos aleatoriamente; yy tem interesse restrito ou hiperfoco; yy não imita; yy não brinca de “faz de conta”. Esses sinais devem ser observados e investigados caso um indivíduo os repita com frequência. Entretanto, é preciso muito cuidado no diagnóstico, que deve ser feito apenas por especialistas, para que não seja dado um falso resultado. Nem todas as pessoas com algumas dessas características são autistas. 25


Outra referência no livro de Caio Riter, Frida foi uma importante pintora mexicana. Casada com o também pintor Diego Rivera, sua vida foi perpassada por muito sofrimento e dor. A poliomielite na infância deixou-a com sequelas nas pernas e ela passou a mancar. Sofreu na adolescência um terrível acidente, quando um caminhão bateu no bonde em que estava e uma barra de ferro atravessou seu corpo atingindo barriga e pelve, o que a levou a fazer mais de 30 cirurgias. Foi no longo período de repouso que começou Frida Kahlo. a pintar. Esses acontecimentos influenciaram sua arte para sempre. Frida foi grande representante da cultura mexicana, tanto em seus trabalhos, com muitas referências e cores típicas, quanto nas roupas que usava.

Bettmann/Getty Images

Frida Kahlo (Magdalena Carmen Frida Kahlo y Calderón – 1907-1954)

Museu d'Orsay, Paris

Van Gogh (Vincent Willem van Gogh – 1853-1890)

Autorretrato de Vincent van Gogh.

Van Gogh foi um pintor holandês impressionista que só obteve reconhecimento após a morte. Era um artista muito intenso e teve várias crises de depressão. Sua arte era mal compreendida e ele tinha dificuldades em se manter financeiramente. Em uma crise, chegou a cortar uma orelha. Sua morte ocorreu em condições muito suspeitas e gerou dúvidas se ele se suicidou ou foi assassinado a tiros. Van Gogh deixou muitas pinturas prontas que foram reconhecidas como geniais.

Para não dizer que não falei das flores é a música mais famosa desse artista, conhecida também como Caminhando. Embora fosse a favorita do público no Festival Internacional da Canção Popular de 1968, ficou em 2o lugar e foi proibida pela censura militar, que alegava que a música trazia palavras de ordem em favor da luta armada, o que o músico sempre negou. 26

Acervo Última Hora/Folhapress

Geraldo Vandré (1935-)

Geraldo Vandré se apresentando no 3o Festival Internacional da Canção Popular, em 1968.


Claudemiro/Acervo UH/Folhapress

Tropicália ou Tropicalismo Foi um movimento de vanguarda que se opôs à bossa nova, um estilo mais intelectualizado, e trouxe aspectos populares à música brasileira. O Tropicalismo provocou uma verdadeira revolução cultural por fazer análise crítica e provocar reflexão. Os jovens músicos do movimento usavam roupas psicodélicas, misturavam cores e estampas e influenciaram as gerações futuras. Os músicos que mais se destacaram foram Caetano Veloso e Gilberto Gil, que eram os líderes do movimento, além de Gal Costa, Jorge Ben Jor, Tom Zé e Os Mutantes (Rita Lee, Arnaldo Baptista e Sérgio Dias). Foi durante o III Festival de Música Popular Brasileira, em 1967, que Caetano e Gil deram início à Tropicália, com as músicas Alegria, alegria, de Caetano, e Domingo no parque, de Gil. O movimento tropicalista foi encerrado com a implementação do Ato Institucional no 5, em dezembro de 1968, quando Gilberto Gil e Caetano Veloso foram presos pelo Regime Civil-Militar. Em 1969, foram exilados na Inglaterra. Rebeca Fuks, doutora em Estudos da Cultura, analisou as principais músicas da Tropicália. Gilberto Gil e Os Mutantes interpretam a música “Domingo o Reproduzimos aqui alguns cono Parque” no 3 Festival de Música Popular Brasileira. mentários para auxiliá-lo na atividade sobre o assunto. Você encontrará maiores informações no artigo completo, veja a indicação na Bibliografia comentada. yy Alegria, alegria (Caetano Veloso) – Também conhecida pelo grande público como Sem lenço e sem documento, foi apresentada no terceiro Festival de MPB da TV Record (em 1967) e se consagrou como uma das mais importantes canções da Tropicália. Caetano Veloso foi um dos líderes do grupo e se apresentou com um conjunto argentino de rock que usava guitarras elétricas. O alvoroço se instaurou porque os instrumentos elétricos não eram bem recebidos nos festivais. A composição pretendia ser uma espécie de manifesto, criticando, inclusive abertamente, os intelectuais de esquerda. Ao longo da letra Caetano trata dos novos rumos estéticos do Brasil. É uma canção fácil, atual e cheia de atitude que se tornou uma verdadeira ilustração de seu tempo. 27


yy Aquele abraço (Gilberto Gil) – Uma declaração de amor ao Rio de Janeiro feita por um baiano, com uma série de referências culturais à cidade que foi o berço da cena musical brasileira durante algumas décadas. A música cita elementos da cultura de massa, como o bairro característico do subúrbio (Realengo), o programa de TV (Chacrinha) e o mais popular time de futebol carioca (Flamengo). Aquele abraço carrega um olhar solar, otimista, e é um registro do seu tempo. O título da canção é profundamente engajado e faz referência à política do pão e circo (instaurada durante o Império Romano). Na época, usava-se a comida e o entretenimento para distrair a população enquanto os políticos faziam o que desejavam. Na música, a crítica é personificada nas pessoas da sala de jantar, uma elite fútil e completamente alheia – mesmo alienada – diante do cenário político brasileiro de repressão.

A importância da leitura literária A leitura literária é um dos meios pelos quais descobrimos a forma de nos expressar para o mundo. Ao nos deixarmos envolver na leitura de um texto literário, vivenciamos diversas situações e podemos experimentar as vivências de personagens com realidades diferentes das nossas; assim, nesse processo de sermos outros, encontramos o sentido de nós mesmos. Sobre essa capacidade que o texto literário tem de nos modificar um pouco a cada leitura, Caio Riter pondera: Acredito que cada vez que saímos de um livro, saímos diferentes, mesmo que não o notemos. Saímos mais capazes, mais sensíveis, mais humanos. Saímos renovados. A leitura tem esta capacidade de, como um ourives, lapidar a humanidade que existe em cada ser, abrindo-lhe os olhos para o dentro e para o fora (RITER, 2005, p. 111). As atividades com a literatura em sala de aula levam o leitor a refletir sobre significações que emergem do texto, de acordo com a vivência de mundo daquele leitor, não se restringindo apenas à compreensão do sentido linear do texto. A pesquisadora Nelly Novaes Coelho (2000, p. 16) ressalta que:

28


A escola é, hoje, o espaço privilegiado, em que deverão ser lançadas as bases para a formação do indivíduo. E, nesse espaço, privilegiamos os estudos literários, pois, de maneira mais abrangente do que quaisquer outros, eles estimulam o exercício da mente; a percepção do real em suas múltiplas significações; a consciência do eu em relação ao outro; a leitura do mundo em seus vários níveis e, principalmente, dinamizam o estudo e conhecimento da língua, da expressão verbal significativa e consciente – condição sine qua non para a plena realidade do ser. A literatura é uma arte plena de saberes sobre a humanidade e o mundo, pois engloba uma infinidade de conhecimentos. Em um mesmo texto literário podemos nos deparar com elementos constituintes do conhecimento histórico, social, botânico, matemático; enfim, uma multiplicidade de ciências que já permeia naturalmente o ambiente escolar. Para ilustrar essa afirmação, destaca-se a famosa fala do semiólogo Roland Barthes publicada no livro Aula: Se, por não sei que excesso de socialismo ou de barbárie, todas as nossas disciplinas devessem ser expulsas do ensino, exceto uma, é a disciplina literária que devia ser salva, pois todas as ciências estão presentes no monumento literário (BARTHES, 2008, p. 18). É por essa razão que o trabalho com o livro literário em sala de aula possibilita uma série de diálogos interdisciplinares com outros campos do saber. O livro de Caio Riter é riquíssimo nesse quesito e deve ser aproveitado ao máximo com esse objetivo. No livro Letramento literário: teoria e prática, o pesquisador Rildo Cosson (2018, p. 28) afirma que: Ser leitor de literatura na escola é mais do que fruir um livro de ficção ou se deliciar com as palavras exatas da poesia. É também posicionar-se diante da obra literária, identificando e questionando protocolos de leitura, afirmando ou retificando valores culturais, elaborando e expandindo sentidos. 29


Cosson se refere à importância do letramento literário na escola, esse aprendizado crítico que se inicia do encontro particular com o texto, experiência única que cada estudante vive de seu jeito, de acordo com seu conhecimento de mundo, suas vivências e leituras.

Registro pedagógico A fim de melhor aproveitamento dos processos de leitura, debates e atividades do livro Três dias e mais alguns, sugerimos que você mantenha um registro de todo o percurso pedagógico ao longo do trabalho com a turma. A finalidade é obter um documento informal para seu uso pessoal, no qual você observará o aproveitamento de cada um e da turma, e destacará os pontos altos e os que podem melhorar. Dessa forma, o mesmo procedimento pode ser aprimorado para uso com outra turma ou em outro ano letivo. Com esse objetivo, crie fichas ou arquivos para cada ponto abordado durante o trabalho, faça anotações dos resultados, se foram positivos ou negativos e até que ponto. Veja alguns exemplos a seguir: yy Informações sobre a obra e autoria: biografia, bibliografia, gênero e estilo literário. yy Metodologia desenvolvida para o processo: leitura, apresentação, discussões, debates, feiras culturais. yy Atividades desenvolvidas e resultados obtidos individualmente e coletivamente com a turma. yy Pontos satisfatórios e pontos que devem melhorar.

Intertextualidade A fim de estimular ainda mais os estudantes na leitura literária, você pode apresentar outras produções contemporâneas que se articulem com a obra de Caio Riter: outros romances juvenis sobre o mesmo tema ou temas diversos, incluindo os citados no livro de Caio; filmes, animações livros inspirados em Star Wars etc. Alguns exemplos relevantes podem ser encontrados nas sugestões de Referências complementares, logo a seguir.

Referências complementares Muitas são as possibilidades para você incentivar os estudantes a se aprofundar na leitura do livro Três dias e mais alguns. Aqui você encontra sugestões de filmes 30


e séries de TV que dialogam de alguma maneira com o livro e podem enriquecer a leitura da obra, proporcionando aos estudantes a descoberta da intertextualidade com outras mídias. Após apresentar esses materiais, organize debates na sala de aula para discutirem suas observações e atentarem às relações entre a mídia assistida e o livro lido.

Sugestão de filmes A saga Guerra nas Estrelas (Star Wars, em inglês) narra sobre uma galáxia muito, muito distante e inclui toda uma gama de personagens de planetas diferentes e uma guerra entre o Império e a Aliança Rebelde. Até o momento, são nove filmes e duas séries, lançados fora de sua ordem cronológica. Basicamente, podemos organizá-los em três grandes eras: República – antes da ascensão de Darth Vader; Rebelião – Aliança Rebelde combatendo o Império de Darth Vader; e Resistência – tentativa de restabelecimento da Ordem Jedi. yy GUERRA nas estrelas: Episódio IV – Uma nova esperança. Direção: George Lucas. Estados Unidos: Lucasfilm; Twentieth Century Fox, 1977. 1 vídeo (121 min). Luke Skywalker se junta à Aliança Rebelde contra o Império e se une ao capitão Han Solo, Chewbacca e os droids C-3PO e R2-D2 para salvar a princesa Leia Organa, feita refém por Darth Vader. yy GUERRA nas estrelas: Episódio V – O Império contra-ataca. Direção: Irvin Kershner. Estados Unidos: Lucasfilm, 1980. 1 vídeo (127 min). Luke Skywalker inicia o treinamento Jedi com Mestre Yoda e aprende a controlar a Força. Darth Vader tenta levá-lo para o lado sombrio. Esse filme traz um dos momentos mais icônicos do cinema. yy GUERRA nas estrelas: Episódio VI – O retorno de Jedi. Direção: Richard Marquand. Estados Unidos: Lucasfilm, 1983. 1 vídeo (133 min). O Império começa a construir a Estrela da Morte. Luke tenta levar Darth Vader para o lado bom da Força. yy GUERRA nas estrelas: Episódio I – A ameaça fantasma. Direção: George Lucas. Estados Unidos: Lucasfilm, 1999. 1 vídeo (133 min). A história se passa 32 anos antes da história do filme de 1977, Uma nova esperança, e narra o início de toda a saga. yy GUERRA nas estrelas: Episódio II – Ataque dos clones. Direção: George Lucas. Estados Unidos: Lucasfilm; Recce & Production Services, 2002. 1 vídeo (144 min). A galáxia sofre a iminência de uma guerra civil. Os dois lados da Força se 31


enfrentam, Sith (lado sombrio) contra Jedi (lado bom). Anakin Skywalker é atraído para o lado sombrio da Força. yy GUERRA nas estrelas: Episódio III – A vingança dos Sith. Direção: George Lucas. Estados Unidos: Lucasfilm; Mestiere Cinema, 2005. 1 vídeo (140 min). As Guerras Clônicas devastam a galáxia. A República Galáctica utiliza seu exército de clones para subjugar a Confederação dos Sistemas Independentes. Os dois lados da Força se enfrentam, Sith contra Jedi. Anakin está cada vez mais atraído pelo lado sombrio da Força. yy GUERRA nas estrelas: Episódio VII – O despertar da Força. Direção: J. J. Abrams. Estados Unidos: Lucasfilm, 2015. 1 vídeo (135 min). O início dessa nova trilogia se passa anos depois da primeira. Luke Skywalker é agora uma lenda entre os Rebeldes. A princesa Leia Organa torna-se general e lidera a Resistência. Seu filho com Han Solo, Ben Solo, voltou-se para o lado sombrio da Força e passou a se chamar Kylo Ren. Este é o primeiro filme Star Wars com protagonismo feminino, da personagem Rey. yy ROGUE One: Uma história Star Wars. Direção: Gareth Edwards. Estados Unidos: Lucasfilm; Walt Disney Pictures, 2016. 1 vídeo (134 min). A história se passa entre os filmes III e IV, mas é importante ter assistido ao IV para entendê-lo. Uma dupla de rebeldes sai em uma missão para roubar informações sobre a Estrela da Morte a fim de destruí-la. Este é o segundo filme da saga que traz protagonismo feminino, desta vez com a personagem Jyn Erso. yy GUERRA nas estrelas: Episódio VIII – Os últimos Jedi. Direção: Rian Johnson. Estados Unidos: Walt Disney Pictures; Lucasfilm, 2017. 1 vídeo (152 min). Rey é treinada pelo Jedi Luke Skywalker, que estava recluso há anos. Ela se une ao piloto Poe Dameron e ao ex-stormtrooper (soldado do Império), Finn, em uma missão contra Kylo Ren e a Primeira Ordem. yy HAN Solo: Uma história Star Wars. Direção: Ron Howard. Estados Unidos: Lucasfilm; Walt Disney Pictures, 2018. 1 vídeo (135 min). Narra a história do jovem piloto Han Solo e como ele se tornou inimigo do Império Galáctico. yy GUERRA nas estrelas: Episódio IX – A ascensão Skywalker. Direção: J. J. Abrams. Estados Unidos: Walt Disney Pictures; Lucasfilm, 2019. 1 vídeo (142 min). A Resistência luta contra a Primeira Ordem para restaurar a paz na galáxia. Último filme da terceira trilogia, finaliza a história da família Skywalker. O filme a seguir narra a vida da famosa pintora mexicana e seu relacionamento com o pintor Diego Rivera. 32


yy FRIDA Khalo. Direção: Julie Taymor. México/Estados Unidos/Reino Unido: Handprint Entertainment, 2003. 1 vídeo (123 min). A série de filmes Jogos Vorazes é baseada nos livros de Suzanne Collins e se passa em uma região que um dia foi a América do Norte, hoje dividida em uma Capital e 12 distritos. Para manter seu controle sobre os distritos e seus recursos, a Capital realiza todo ano os Jogos Vorazes, em que um garoto e uma garota de cada distrito são escolhidos para lutar em uma arena até a morte. yy JOGOS Vorazes. Direção: Gary Ross. Estados Unidos: Lionsgate; Color Force, 2012. 1 vídeo (146 min). yy JOGOS Vorazes: Em chamas. Direção: Francis Lawrence. Estados Unidos: Lionsgate; Color Force, 2013. 1 vídeo (146 min). yy JOGOS Vorazes: A esperança – Parte I. Direção: Francis Lawrence. Estados Unidos: Lionsgate; Color Force, 2014. 1 vídeo (123 min). yy JOGOS Vorazes: A esperança – O final. Direção: Francis Lawrence. Estados Unidos: Lionsgate; Color Force, 2015. 1 vídeo (137 min).

Sugestão de séries yy ATYPICAL. Direção: Robia Rashid. Estados Unidos: Netflix, 2017. Série de TV. Série da Netflix sobre o jovem Sam Gardner (Keir Gilchrist), um autista de 18 anos, e suas dificuldades nos relacionamentos, no ambiente familiar, escolar e amoroso. Sam é altamente funcional, está no Ensino Médio, trabalha e até namora, seu grau do espectro autista é razoavelmente leve, a Síndrome de Asperger. Com episódios de 30 minutos, a série traz no elenco Jennifer Jason Leigh, Keir Gilchrist e Brigette Lundy-Paine. Recomendada para maiores de 14 anos.

Bibliografia comentada BARTHES, Roland. Aula. São Paulo: Cultrix, 2008. O livro traz o texto da aula inaugural de Barthes na cadeira de Semiologia Literária, lido por ele no Colégio de França, em 1977. BRASIL. Secretaria de Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, DF: MEC, 2018. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/ historico/BNCC_EnsinoMedio_embaixa_site_110518.pdf. Acesso em: 6 jul. 2020. 33


Documento que estabelece as competências gerais e específicas para a Educação Básica brasileira, da Educação Infantil ao Ensino Médio. É a base para a elaboração dos currículos nacionais. COELHO, Nelly Novaes. Literatura infantil: teoria, análise, didática. São Paulo: Moderna, 2000. Entre outros assuntos, Coelho aborda a importância da leitura literária em sala de aula. Embora se refira à literatura infantil, alguns trechos são adequados também à literatura juvenil e a leitores jovens. COLLINS, Suzanne. Jogos Vorazes. Rio de Janeiro: Rocco, 2010. Primeiro livro da série distópica americana que também virou série de filmes. COSSON, Rildo. Letramento literário: teoria e prática. São Paulo: Contexto, 2018. O pesquisador aborda a questão do letramento literário na infância e na adolescência em relação ao ensino de sala de aula. COUTINHO, Afrânio. Introdução à literatura no Brasil. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001. Livro teórico sobre a literatura brasileira. ECO, Umberto. Pós escrito a O nome da rosa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985. O autor fez uma análise do processo de criação de seu mais famoso livro: O nome da rosa. FUKS, Rebeca. As 10 maiores músicas da Tropicália. In: CULTURA GENIAL. [S. l.]: 7Graus, c2017-2020. Disponível em: https://www.culturagenial.com/tropicalia/. Acesso em: 21 out. 2020. Artigo da Dra. Rebeca Fuks sobre o movimento Tropicália no Brasil. IMBROISI, Margaret. Frida Kahlo. História das Artes, [s. l.], 4 maio 2016. Disponível em: https://www.historiadasartes.com/prazer-em-conhecer/frida-kahlo/. Acesso em: 11 ago. 2020. Informações sobre a vida e obra da artista mexicana Frida Kahlo. PAIVA JÚNIOR, Francisco. O que é autismo. Revista Autismo, São Paulo, 2020. Disponível em: https://www.revistaautismo.com.br/o-que-e-autismo/. Acesso em: 19 ago. 2020. 34


A missão da revista é disseminar informações de qualidade sobre o autismo. Primeira revista periódica da América Latina e primeira do mundo em língua portuguesa sobre o transtorno do espectro do autismo (TEA), é a maior plataforma jornalística da América Latina sobre o tema. PAULA, Josi de. Slam: literatura e resistência! Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 19, n. 30, 19 nov. 2019. Disponível em https://educacaopublica.cecierj.edu.br/ artigos/19/30/slam-literatura-e-resistencia. Acesso em: 18 ago. 2020. Informações sobre slam. Texto de Josi de Paula, poeta, idealizadora e slammaster do Slam Negritude. REINAÇÕES. Porto Alegre: Confraria Reinações, c2015. Disponível em: http:// confrariareinacoes.blogspot.com. Acesso em: 30 jul. 2020. Blog da Confraria Reinações, grupo que reúne mensalmente escritores e leitores em Porto Alegre e Caxias do Sul a fim de debaterem a obra de um autor ou um livro de literatura infanto-juvenil. A escolha do tema é feita previamente e divulgada no site. RITER, Caio. Ainda sobre o escrever e o emocionar. In: RITER, Caio. Blog Caio nas Palavras. [Porto Alegre], 21 jun. 2014. Disponível em http://caioriter.blogspot.com/ search/label/Sobre%20a%20escrita. Acesso em: 21 ago. 2020. Blog do escritor Caio Riter com informações sobre sua vida e obra, além de entrevistas e textos de sua autoria. RITER, Caio. Debaixo de mau tempo. Porto Alegre: Artes e Ofícios, 2005. Romance juvenil sobre um adolescente que sai para remar em um dia chuvoso e é pego por uma tempestade. Ao se refugiar em uma ilha, faz grandes descobertas. RODRIGUES, Maria Fernanda. Otávio Júnior, o livreiro do Alemão, conta o cotidiano das crianças nas favelas em dois livros. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 24 ago. 2019. Disponível em: https://cultura.estadao.com.br/noticias/literatura,otavio-junior-olivreiro-do-alemao-conta-o-cotidiano-das-criancas-nas-favelas-em-doislivros,70002980132. Acesso em: 21 ago. 2020. Conheça a trajetória e a obra do escritor Otávio Júnior.

35


Ficha técnica do material Elaborado por Flávia Côrtes Revisão Editoração eletrônica

Michele Sudoh Daniela Capezzuti


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.