Material Digital do Professor | Os Faroleiros e outros contos de Monteiro Lobato

MATERIAL DIGITAL DO PROFESSOR

OS FAROLEIROS E OUTROS CONTOS DE MONTEIRO LOBATO Arco 43

Adaptação em quadrinhos por Laudo Ferreira

Elaborado por: Maria Schtine Viana, doutoranda no Departamento de Estudos Portugueses da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, Portugal. Mestre em Filosofia pelo Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo (IEB-USP) e Bacharel em Letras (Português/Francês) pela FFLCH-USP. Estudou Artes Cênicas e atuou como atriz em várias companhias teatrais. É autora de livros de literatura, didáticos e destinados à formação de professores. Algumas de suas obras foram aprovadas em programas governamentais, como PNLD e PNBE, e receberam o Selo Altamente Recomendável da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ).

Sumário Carta ao professor e à professora............................. 3 Propostas de atividades I.......................................... 4 Pré-leitura.............................................................................. 4 Leitura................................................................................... 5 Pós-leitura............................................................................. 5

Propostas de atividades II....................................... 13 Elaboração de resenha crítica............................................ 13 Oficina de HQs................................................................... 15

Aprofundamento..................................................... 17 Os gêneros e as convenções literárias relacionadas ao livro................................................................................ 17 O fascinante mundo das HQs............................................. 22

Referências complementares................................... 27 Sugestões de artigos científicos......................................... 28 Sugestões de filmes............................................................ 29 Sugestões de músicas........................................................ 31 Sugestão de reportagem................................................... 32 Sugestões de sites.............................................................. 32

Bibliografia comentada........................................... 34

Carta ao professor e à professora No livro Que é a literatura? (1947), o filósofo, crítico e escritor francês Jean-Paul Sartre defende que o ato criador é apenas um momento incompleto e abstrato da produção de uma obra. Se o escritor existisse sozinho, poderia escrever quanto quisesse, mas sua obra como objeto jamais viria à luz e, depois de tanto esforço, só lhe restaria abandonar a pena e cair no desespero. Isso porque o ato de escrever implica o processo correlativo dialético – que é ler – e esses dois atos conexos necessitam de dois agentes distintos: o escritor e o leitor.

Ainda que a obra Que é a literatura? tenha sido escrita apenas um ano antes da morte de Monteiro Lobato, ocorrida em 1948, não há dúvida de que sempre foi claro para o criador da intrépida boneca Emília que o leitor é fundamental para todo escritor. Não por acaso, ele criou editoras com o intuito de vender seus livros e de seus contemporâneos e praticou formas inéditas de comercialização.

O sucesso de Monteiro Lobato como escritor e editor deveu-se também à sua preocupação real com os problemas do Brasil. Ele só conseguiu criar uma indústria editorial nacional por causa de sua maneira inovadora de pensar a infância, criando um mercado completamente novo para divulgar e vender o que escrevia.

Dono de um estilo dinâmico, claro, conciso e, ao mesmo tempo, poético e crítico, sua escrita fascinava, e ainda fascina, leitores de todas as idades.

Neste manual, apresentaremos algumas reflexões teóricas e sugestões de como trabalhar com os estudantes o livro Os faroleiros e outros contos de Monteiro Lobato, visando à troca de experiências de leitura, ou seja, a integração das experiências de todos com o texto, por meio da compreensão da linguagem oral e escrita, da ampliação do repertório literário, e da descoberta das infinitas possibilidades de leitura.

Dessa maneira, esperamos contribuir para que melhor se conheça a obra desse escritor tão plural, questionador e inquieto e que deixou um legado inestimável para a literatura brasileira, como escritor e editor.

Maria Schtine Viana

Propostas de atividades I Pré-leitura Organize os estudantes em grupos e distribua os seguintes trechos retirados da obra Como um romance, do escritor e professor francês Daniel Pennac, que enumera os dez direitos do leitor: [...]

4. Direito de reler: Reler o que anteriormente rejeitei, reler sem saltar passagens, reler sob outro ângulo, reler para verificar... temos todos esses direitos. Mas quando relemos, fazemo-lo gratuitamente, pelo prazer da repetição, pela alegria de nossas descobertas, para a intimidade. [...]

8. O direito de saltar de livro em livro (ou o direito de ‘debicar’) Eu debico, nós debicamos, deixemo-los debicar. É a autorização que concedemos a nós próprios de retirar qualquer livro da biblioteca, de o abrir onde nos apetecer e de mergulharmos nele por um instante, porque só nos dispomos desse instante. [...]

10. O direito de não falar do que se leu: O homem constrói casas porque está vivo, mas escreve livros porque sabe que é mortal.

Vive em sociedade porque é gregário, mas lê porque se sente só.

A leitura constitui para ele uma companhia que não ocupa o lugar de nenhuma outra, mas que nenhuma outra poderia substituir. Não lhe oferece nenhuma explicação definitiva acerca do seu destino, mas tece uma apertada rede de convivências entre a vida e ele. Ínfimas e secretas convivências entre a veda e ele. Ínfimas e secretas convivências que falam da paradoxal alegria de viver, mesmo quando referem o trágico absurdo da vida. Por isso as razões que temos para ler são tão estranhas como as que temos para viver. (PENNAC, 1992, p. 153, 161 e 166).

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Cada grupo deverá fazer uma síntese do que entendeu do trecho exemplificando com experiências pessoais de leitura. Abra espaço para a discussão das opiniões levantadas. Esclareça que não se está buscando uma resposta certa ou errada, mas a troca de experiências, e que eles podem (e você também) expor suas dificuldades com a leitura (com a obra lida e de modo geral).

Você pode fazer perguntas para estimular a participação deles, por exemplo: Para você, ler é sinônimo de prazer e conhecimento? Por quê? Que tipo de livro gosta de ler (ou por que não gosta de ler)? Existe diferença entre ler o que se gosta e ler como tarefa escolar? Por quê? Aproveite o momento para introduzir o livro Os faroleiros e outros contos de Monteiro Lobato e pergunte também: Você já leu alguma obra de Monteiro Lobato? Quais? Você conhece algum conto escrito por esse autor? Incentive-os a compartilhar suas experiências de leitura com os colegas.

Esse conteúdo contempla as seguintes habilidades descritas na BNCC para os componentes curriculares Língua Portuguesa e Linguagens e suas Tecnologias: EM13LGG101, EM13LGG602 e EM13LPO1.

Leitura Durante a leitura da HQ Os faroleiros e outros contos de Monteiro Lobato, você pode solicitar aos estudantes que comentem o enredo dos contos. Ajude-os a perceber o tema central de cada narrativa e a observar como Monteiro Lobato utiliza a ironia e o humor para abordar questões complexas, como o medo do desconhecido e o uso indevido dos recursos públicos. Para auxiliá-los, há um pequeno resumo dos temas abordados em cada conto no paratexto ao final do Livro do Estudante.

Ao longo do período designado para a leitura, você pode reservar um momento no final da aula para que eles compartilhem suas impressões sobre a leitura em andamento.

Esse conteúdo contempla as seguintes habilidades descritas na BNCC para o componente curricular Linguagens e suas Tecnologias: EM13LGG103, EM13LGG202 e EM13LGG302.

Pós-leitura A importância do contexto para enriquecer a leitura A produção literária de Monteiro Lobato e sua atuação como editor e intelectual estão intimamente ligadas ao momento histórico em que viveu. No paratexto destinado aos estudantes no final do Livro do Estudante, são descritos alguns 5

aspectos da vida e da obra de Monteiro Lobato. Entretanto, para melhor compreender muitos elementos de sua vasta produção, é importante conhecer também os fatos políticos, sociais e econômicos decorridos do último quartel do século XIX à metade do século XX. Apresentamos a seguir alguns tópicos desse período que podem auxiliar na contextualização da obra. Você pode sugerir aos estudantes uma pesquisa mais aprofundada de cada um deles. Como são informações de caráter histórico, é possível trabalhar em parceria com o professor de História.

Abolição da Escravatura e Proclamação da República No dia 13 de maio de 1888, a princesa Isabel assinou a Lei Áurea, que extinguiu a escravidão no Brasil. Mas essa lei não previu nenhuma medida para integrar os ex-escravizados à sociedade. Os ex-escravos foram abandonados à própria sorte e obrigados a conquistar por si mesmos a emancipação real.

A Proclamação da República ocorreu um ano e meio depois da abolição. Em síntese, no final do século XIX, os fazendeiros e senhores de engenho de diferentes regiões do país estavam insatisfeitos, pois não concordavam com a Abolição da Escravatura.

Os militares sentiram-se fortalecidos ao saírem vitoriosos da guerra contra o Paraguai e começaram a mostrar insatisfação em relação ao tratamento que recebiam do governo. E os líderes da Igreja Católica entraram em confronto com D. Pedro II, acusando-o de proteger clérigos que desobedeciam às ordens da Igreja. Esses são alguns dos fatores que contribuíram para o fim do Império no Brasil, que durou mais de 60 anos. Assim, no dia 15 de novembro de 1889, militares, chefiados pelo Marechal Deodoro da Fonseca, puseram fim à monarquia e a República foi proclamada.

A Primeira República Durante a Primeira República ou República Velha, de 1891 até 1930, a política no Brasil foi controlada pelos grandes proprietários de terra. Nesse período, vários fazendeiros ocuparam cargos políticos, inclusive o de governador do estado, e usaram o dinheiro público para beneficiar quem os apoiava politicamente e perseguir quem era contra suas ideias. Além disso, empregavam parentes e fraudavam o processo eleitoral.

Com o advento da Primeira Guerra Mundial, que durou de 1914 a 1918, os países europeus se fecharam comercialmente, devido à necessidade de reconstrução, e já não importavam tanta matéria-prima brasileira, contribuindo para uma crise econômica nacional.

Outro fator importante, ocorrido no Brasil na década de 1920, foi o Tenentismo. Esse movimento começou entre os jovens oficiais do Exército, que defendiam medidas como o fim do poder dos oligarcas, a instituição do voto 6

secreto e do direito ao voto pelas mulheres, além do fim da política econômica centralizada nos interesses dos fazendeiros de café.

A queda da Bolsa de Nova York, em 1929, também foi um fator internacional importante, pois abalou a economia brasileira, colaborando para uma crise na exportação do café. Os Estados Unidos eram o maior comprador do produto nacional e a queda nas exportações causou a falência de muitos cafeicultores e uma drástica diminuição dos empréstimos de capital pelo governo, o que garantia lucros aos produtores, a despeito das oscilações mercadológicas.

Esse fato abalou diretamente a vida financeira de Monteiro Lobato, que morava nos Estados Unidos na época e vendeu sua participação na Editora Companhia Nacional para investir em ações na bolsa.

Em 1930, um mineiro deveria ser indicado para concorrer ao cargo de presidente do Brasil, mas o paulista Washington Luís quebrou a hegemonia da Política do Café com Leite e apoiou a candidatura de Júlio Prestes, outro paulista.

Membros do Partido Republicano Mineiro romperam com os paulistas e aliaram-se a políticos do Rio Grande do Sul e de estados do norte e nordeste.

Getúlio Vargas foi apoiado como candidato a presidente e o paraibano João Pessoa concorreu como vice. Estava criada a Aliança Liberal, com um programa de amplas reformas econômicas e políticas, tendo também como meta a moralização da administração pública.

Júlio Prestes venceu as eleições, mas o vice de Vargas, João Pessoa, foi assassinado na Paraíba. Esse incidente, apesar de não se relacionar com a vitória de Prestes, foi um dos motivos usados para justificar o golpe de Estado encabeçado por Getúlio Vargas. Júlio Prestes não tomou posse. Em seu lugar, Getúlio Vargas assumiu a presidência. Esse fato ficou conhecido como Revolução de 1930 e pôs fim à Primeira República.

Desdobramentos da Revolução de 1930 Durante o governo do presidente Getúlio Vargas, foi instituído um Governo Provisório. Por um lado, implementou-se uma série de medidas que visavam ao favorecimento de classes sociais até então excluídas da vida política e econômica do país. Promulgaram-se algumas leis trabalhistas e os ministérios do Trabalho e da Indústria e do Comércio foram fundados. Por outro lado, passou a haver mais controle sobre as manifestações dos trabalhadores e repressão de pessoas de outros partidos, como os membros do Partido Comunista, que foram perseguidos e presos durante o governo varguista. Nessa época, houve também mudanças na esfera política e o direito ao voto foi estendido às mulheres. No âmbito econômico, foram criadas as bases que sustentariam o projeto de industrialização e modernização do país.

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Entre 1934 e 1937, o controle sobre os conflitos trabalhistas foi ainda mais intenso. Tentava-se sujeitar os trabalhadores do comércio e da indústria a condições bastante precárias e eram pagos baixos salários para atender às regras exigidas pelo trabalho urbano. A situação geral dos trabalhadores não mudou muito, apesar dos benefícios concedidos pela recém-criada legislação trabalhista. O arrocho salarial e a submissão dos sindicatos à tutela governamental também eram uma forma de controle.

Somaram-se a isso o crescimento do movimento comunista na Europa, sobretudo na Rússia e em outros países do Leste Europeu. Por um lado, as ideias socialistas influenciavam ideologicamente tanto intelectuais como líderes sindicais e trabalhadores de diferentes setores no Brasil, inclusive da zona rural. Por outro, movimentos do nazifascismo também ganhavam espaço nesse período entreguerras e influenciavam ideologicamente muitos brasileiros.

Essas ideias favoreceram a criação de duas linhas de militância político-ideológicas bastante antagônicas: de um lado, organizaram-se os aliancistas, ou membros da Aliança Nacional Libertadora (ANL); de outro, os integralistas, de forte tendência conservadora, que apoiavam Getúlio Vargas e a criação de um Estado forte e conservador.

O Estado Novo Em 1937, quando estava terminando o período de quatro anos como presidente, Getúlio Vagas, com o apoio do Exército e da maior parte dos governadores do país, deu um golpe de Estado e implementou uma ditadura que durou até 1945. Esse período ficou conhecido como Estado Novo.

Durante o Estado Novo, foi instituída a Lei de Segurança Nacional, por meio da qual passou a haver grande controle dos movimentos sociais, tanto na cidade como no campo. Os partidos políticos foram extintos e implementou-se a censura à imprensa. As eleições presidenciais foram suspensas e uma nova Constituição passou a vigorar. A partir daí, Getúlio Vargas governou por meio de decretos.

Foi criada a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), que assegurou direitos como férias remuneradas, salário mínimo e aposentadoria. Todavia, houve também grande empenho em enquadrar e reprimir a classe trabalhadora, controlando as atividades sindicais e as associações de trabalhadores.

Ao término da Segunda Guerra Mundial, as contradições da fórmula política adotada por Getúlio Vargas ficaram ainda mais evidentes. Se, por um lado, Vargas apoiava a luta contra o nazifascismo e o militarismo japonês – inclusive enviando integrantes da Força Expedicionária Brasileira (FEB) para combater o fascismo na Itália, em 1944 –, por outro, no âmbito nacional, vigorava uma ditadura com severa censura à imprensa, limitação do funcionamento dos poderes estatais 8

(Judiciário, Executivo e Legislativo) e perseguição às pessoas contrárias ao governo. Monteiro Lobato foi preso nesse período por denunciar funcionários públicos que estavam forjando relatórios sobre a hipótese de haver petróleo no Brasil para favorecer grupos internacionais.

Em 1945, diferentes grupos sociais, como operários, estudantes e políticos que se opunham ao governo de Getúlio Vargas, começaram a exigir o fim de seu mandato.

Várias mudanças passaram a ser adotadas pelos líderes do governo, como o restabelecimento das liberdades individuais e públicas, a anistia aos presos políticos e o fim da censura à imprensa.

Com todas essas reformas, Getúlio Vargas ainda tinha esperanças de ser eleito ou influenciar na escolha do novo presidente, mas integrantes dos partidos políticos UDN e PSD se uniram aos militares, invadiram o Palácio do Catete, no Rio de Janeiro, e exigiram que Getúlio Vargas renunciasse ao cargo em 29 de outubro de 1945.

O narrador, os personagens, o espaço e a linguagem As atividades seguintes foram pensadas considerando a análise de pontos específicos da obra Os faroleiros e outros contos de Monteiro Lobato. Elas podem ser realizadas individualmente ou em grupo, oralmente ou por escrito. O objetivo é incentivar os estudantes a explorar as narrativas mais a fundo.

O narrador Retome com os estudantes a função do narrador, ou seja, aquele que conta a história. A seguir, citamos três tipos de narradores observados na HQ, suas características e os contos nos quais prevalecem. Apresente à turma oralmente ou transcritos na lousa esses três tipos de narrador e suas características, e em seguida peça que identifiquem qual narrador é encontrado em cada conto.

Narrador-personagem

Participa da ação e relata os fatos de acordo com seu ponto de vista; em primeira pessoa.

“Os faroleiros”

Narrador-observador

Não participa da ação e só conta os fatos, sem revelar o que os personagens pensam e sentem; em terceira pessoa.

“Pedro Pichorra”

Narrador onisciente

Não participa da ação, mas revela o que os personagens pensam e sentem; em terceira pessoa.

“O luzeiro agrícola” e “Era no Paraíso...”

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Os personagens Para explorar os personagens, elabore um quadro com duas colunas: de um lado uma lista de personagens e do outro as características de cada personagem, como o quadro abaixo. Em seguida, peça aos estudantes que associem o nome do personagem à respectiva descrição física e/ou psicológica. a) Gerebita

( c ) No início da história, é um jovem poeta, que usa cabelos longos e barba, mas muda o visual e o comportamento para ser contratado como funcionário público.

b) Marianinha Pichorra

( a ) Homem misterioso que vive há alguns anos no Farol dos Albatrozes.

c) Sizenando Capistrano

( e ) Jovem sonhador que deseja conhecer o Farol dos Albatrozes, onde convive com um marujo misterioso e presencia um crime que o marcará por toda a vida.

d) Arcanjo Gabriel

( h ) Garoto de 11 anos que deseja se mostrar corajoso, mas acaba confundindo um vaso de barro iluminado por um vaga-lume com um saci.

e) Eduardo

( f ) Vivia em uma situação de ingenuidade no Paraíso, mas cai de uma árvore, machuca a cabeça e, desde então, passa a se comportar com base na lógica.

f) Adão

( g ) Por ironia do destino, ele vai parar no mesmo local em que vive e trabalha um homem que ele fizera sofrer no passado.

g) Cabrea

( d ) Alerta o Todo-Poderoso de que algo está a correr mal no Paraíso.

h) Pedro Pichorra

( b ) Mulher bonita e jovem, mãe de nove filhos.

O espaço O espaço também é muito importante e varia de conto para conto. Por isso, peça aos estudantes que descrevam os principais espaços físicos em que se desenrolam as ações de cada um dos quatro contos. A seguir, listamos alguns detalhes para ajudá-lo nesta atividade: 10

“Os faroleiros”

A narrativa desse conto ocorre principalmente em dois espaços distintos: o barco, onde a história é narrada por Eduardo a um ouvinte, e no Farol dos Albatrozes, onde ele vivera uma sinistra experiência.

“Pedro Pichorra”

A história transcorre na zona rural. Algumas cenas são ambientadas no sítio dos Pichorras, onde mora o protagonista, agora adulto, outras no sítio onde vivia com os pais na infância. Algumas cenas transcorrem na porta do sítio do senhor Nheco. Há também eventos que ocorrem na mata.

“O luzeiro agrícola”

A narrativa transcorre em uma cidade do interior. As cenas externas são ambientadas na rua ou na zona rural. As cenas internas se passam na sala de um editor, no gabinete do Ministério Agrícola, no quarto de solteiro e na casa do poeta Sizenando Capistrano, depois do casamento.

“Era no Paraíso...”

A narrativa transcorre em dois planos: no céu, onde Jeová conversa com o Arcanjo Gabriel, e na Terra, no Éden, espaço natural, onde Adão e Eva vivem com outros animais.

A linguagem O trabalho com a linguagem era preocupação permanente na produção de Monteiro Lobato. Apresente aos estudantes a seguinte frase, tirada de Emília no País da Gramática: “O que quero saber nesta cidade é de clareza e mais clareza, porque a clareza é o sol da língua”. Explique a eles que a propriedade de se expressar com clareza é resultado da prática de escrever e falar. Há muitas diferenças entre o oral e o escrito, ainda que isso não signifique negligenciar o fato de a língua estar em constante mudança ou discriminar a oralidade. Aliás, essa foi uma questão defendida por Monteiro Lobato. Ele introduzia nas falas de seus personagens traços de oralidade, pois acreditava que a falta da autêntica língua brasileira nos livros é que dificultava a leitura. Peça aos estudantes que encontrem, nas histórias em quadrinhos da obra, locuções populares ou traços de oralidade empregados pelo escritor. Depois, eles deverão reescrevê-las usando um registro mais formal.

Seguem algumas possibilidades de respostas. yy “Pois eu te digo, meu amigo, que tal conferência, ouvida por um faroleiro, o deixaria de olho parvo.” (p. 9) Pois eu te digo, meu amigo, que tal conferência, ouvida por um faroleiro, o deixaria perplexo.

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yy “Vá no sítio do Nheco e diz pra aquele tranca que dou o capadete pelos vinte e cinco mil-réis.” (p. 29) Vá ao sítio do Nheco e diga-lhe que posso vender o porco por vinte e cinco mil-réis.

yy “[...] de modos que, diga pro seu pai que neste causo eu não sustento o trato.” (p. 31) De maneira que, diga a seu pai que neste caso não sustento o acordo.

yy “Protege eu neste momento e afasta quarqué bicho ruim que tiver por aqui...

Querendo me assustá e fazê mal.” (p. 32) Proteja-me neste momento e afasta qualquer bicho ruim que houver por aqui... Querendo assustar-me e fazer mal.

yy “A égua velha empinou [...].” (p. 33) A égua velha empinou-se.

yy “Vamo, Bordado! Puxa, Malhado!” (p. 57) Vamos, Bordado! Puxa, Malhado!”

yy “Se será desse jeito, cortemos o mal pela raiz [...].” (p. 70) Se será desse jeito, acabemos totalmente com o problema, antes que piore.

Explique aos alunos que “cortar o mal pela raiz” é uma expressão idiomática, ou seja, a combinação de duas ou mais palavras cujo significado é diferente do significado das palavras isoladas e essa também é uma forma de oralidade.

Humor em Monteiro Lobato Um traço importante na produção de Monteiro Lobato é o humor. Ele surpreende o leitor com uma linguagem rica e exata mas também irônica, tanto para diverti-lo como para levá-lo a refletir sobre algum tema. Peça aos alunos que transcrevam ou comentem trechos do conto “O luzeiro agrícola”, em que o humor prevalece.

Respostas possíveis: Os alunos podem transcrever ou mencionar o seguinte diálogo travado entre o chefe do gabinete da agricultura e o poeta (p. 49): – Conheces culturas rurais?

– Cultivei batatas gramaticais.

– Entende de pecuária? Distingue um zebu de um galo Brahma?

– Cavalguei Pégaso em pelo!

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– Conhece a suinocultura? Sabe como se cria um porco?

– Sei comê-lo com tutu de feijão.

– Há! Há! Há! És um gênio! Talvez chegue a fazê-lo presidente da República!

Os estudantes devem perceber o tom irônico desse diálogo, em que, para cada pergunta do chefe do gabinete da agricultura, o poeta dá uma resposta estapafúrdia. O elogio final coroa esse jogo de palavras, ressaltando ainda mais o grotesco da situação. Também podem mencionar o fato de o ex-poeta ter escrito um estudo botânico industrial da beldroega, inspirado na briga com a esposa. O resultado do curso prático de policultura, ministrado por Sizenando, é um verdadeiro fracasso, mas ele escreve um relatório para o senhor ministro relatando o fato de outra maneira, reiterando o tom ufanista empregado durante toda a narrativa. Portanto, os alunos podem concluir que o conto todo é construído com muito humor, mas leva o leitor a refletir sobre questões como a burocracia, a discrepância entre o discurso e a prática na política e, sobretudo, a maneira criminosa pela qual são desviados os recursos públicos.

Esse conteúdo contempla as seguintes habilidades descritas na BNCC para os componentes curriculares Língua Portuguesa, Linguagens e suas Tecnologias e Ciências Humanas e Sociais Aplicadas: EM13LP07, EM13LP48, EM13LP51, EM13LP48, EM13LP49, EM13LGG401, EM13CHS602 e EM13CHS203.

Propostas de atividades II Elaboração de resenha crítica Antes de iniciar a atividade, explique aos estudantes que a resenha crítica é um texto simultaneamente informativo e argumentativo. Em outras palavras, o objetivo da resenha é fornecer informações sobre determinada obra e, ao mesmo tempo, fazer uma crítica dela. Diferentemente do resumo, na resenha crítica deve-se emitir a opinião pessoal, mas fundamentada em argumentos sólidos. Portanto, pode-se escrevê-la em um tom mais sóbrio e objetivo ou irônico e bem-humorado. O importante é que o autor expresse e argumente claramente sua opinião sobre a obra.

Ao ler uma resenha crítica, o leitor deve ser capaz de identificar a opinião do autor sobre a obra e se sua opinião é favorável ou desfavorável de maneira 13

justificada. Antes de propor à turma a redação da resenha crítica sobre a obra Os faroleiros e outros contos de Monteiro Lobato, explique os aspectos constituintes desse tipo de texto.

Estrutura de uma resenha crítica yy Referência bibliográfica: esse tipo de texto não tem título, as referências cumprem essa função. Elas devem ser registradas completas: autor, título da obra, local de edição, editora e ano da edição, número de páginas. yy Introdução: o primeiro parágrafo deve apresentar uma afirmação genérica sobre a obra ou o tema e uma breve opinião sobre ela. Se necessário, pode-se incluir uma biografia sucinta do autor para contextualizar a resenha crítica. yy Desenvolvimento: no corpo da resenha crítica, deve-se fornecer informações sobre a pertinência do conteúdo. Pode-se também estabelecer relação com outras obras, criando pontos de contato com textos que complementam ou refutam as ideias principais da obra analisada. yy Conclusão: no final da resenha crítica, pode-se retomar a ideia central, apresentada no início do texto, ampliando assim a importância da leitura.

Explique aos estudantes que, depois de escrever a primeira versão, é preciso fazer a primeira leitura de revisão. Por meio desse procedimento, é possível verificar se o texto está coerente, se há muitas repetições que podem ser eliminadas, se o texto está claro e as frases bem construídas. Nesse momento, é interessante também checar se há erros de ortografia, problemas com a pontuação e uso incorreto de acentos. Uma segunda leitura deve ser feita para revisar o texto dando mais atenção ao conteúdo tratado, retirar o que for desnecessário e acrescentar alguma informação importante que pode ter sido negligenciada.

Os alunos podem verificar os próprios textos, mas uma prática bastante produtiva é solicitar que os troquem com um ou mais colegas para que essas etapas de revisão sejam feitas por uma pessoa diferente do autor. Combine com a turma uma maneira de compartilhar as produções – pode ser leitura em voz alta, exposição dos textos em um mural ou, ainda, troca de textos por meio eletrônico, por exemplo.

Esse conteúdo contempla as seguintes habilidades descritas na BNCC para o componente curricular Língua Portuguesa: EM13LP28, EM13LP44 e EM13LP52.

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Oficina de HQs De acordo com a BNCC, um dos itinerários possíveis para criar situações de trabalho mais colaborativas, que se organizem com base nos interesses dos estudantes e favoreçam seu protagonismo são as oficinas: [...] espaços de construção coletiva de conhecimentos, técnicas e tecnologias, que possibilitam articulação entre teorias e práticas (produção de objetos/equipamentos, simulações de “tribunais”, quadrinhos, audiovisual, legendagem, fanzine, escrita criativa, performance, produção e tratamento estatístico etc.). (BRASIL, 2018, p. 471).

Você pode propor uma oficina de HQs com base nos textos do livro que não estão nessa linguagem: o trecho de Reinações de Narizinho, a carta escrita por Lobato para o colega e amigo Lima Barreto e as duas versões da fábula “A cigarra e as formigas”.

Na seção Aprofundamento, apresentamos uma discussão teórica sobre as características do gênero HQ e uma breve história da HQ no Brasil. Antes de encaminhar a oficina, leia os textos e selecione parte deles para compartilhar com os estudantes.

Apresente à turma os conceitos e características que eles precisam saber antes de criar uma história em quadrinhos descritos a seguir.

1. As HQs correspondem a suportes de uma narrativa sequencial, não restrita a uma figura ou vinheta, podendo tomar forma e desenvolver-se de modo mais breve ou mais extenso.

2. Nas HQs o discurso é apresentado na forma de uma história ou na projeção de ideias coerentes. A passagem do tempo deve ser expressa por meio de uma sucessão gráfica.

3. A linguagem verbal das HQs é mostrada por meio de diálogos, ideias e pensamentos registrados no interior de balões, de acordo com os propósitos expressos pelos personagens.

4. Há muitos tipos de balões. Por exemplo: balão-cochicho ou de sussurro, desenhado com linhas pontilhadas; balão de pensamento, traçado com o rabicho em forma de bolhas e usado para expressar a ideia de que os personagens estão pensando; balão-fala, traçado com contorno contínuo; balão-grito, que mostra que o personagem está gritando e é traçado com 15

contorno tremido; balão-uníssono, usado para indicar que vários personagens estão falando ao mesmo tempo; balão-transmissão, que indica que a mensagem está saindo de um aparelho eletrônico.

5. As legendas geralmente são compostas em retângulos e usadas para registrar a voz do narrador onisciente.

6. Nas HQs é comum o uso de interjeições e onomatopeias para dar mais veracidade à trama.

7. Nas HQs é recorrente o uso de metáforas visuais para expressar diferentes situações. Por exemplo, usa-se uma lâmpada acima da cabeça do personagem para indicar que ele teve uma ideia.

8. A possibilidade de usar espaços curtos ou longos, pranchas, tiras ou vinhetas e variar o número de páginas abre muitos caminhos para a densidade da estrutura narrativa e a diversidade técnica e gráfica.

9. As imagens e balões expressivos devem ser usados para reconstituir um universo de sons e movimentos. Assim, as HQs estão mais próximas da literatura em texto impresso do que do cinema ou da televisão. Nas HQs há leitores, não espectadores.

Passo a passo Organize os estudantes em grupos de três integrantes e sorteie entre eles os textos: Reinações de Narizinho (p. 24-25); a carta escrita por Monteiro Lobato para o colega e amigo Lima Barreto (p. 42); e as duas versões da fábula “A cigarra e as formigas” (p. 43).

Cada grupo deverá recontar seu texto no formato de história em quadrinhos, empregando as características do gênero. Esclareça que eles não devem “copiar” o traço do ilustrador Laudo Ferreira na adaptação dos contos de Monteiro Lobato, mas criar um estilo próprio.

As tarefas no grupo podem ser distribuídas da seguinte forma: um estudante escreve o roteiro, que deverá ser distribuído nos diferentes tipos de balões, outro faz o desenho e o terceiro finaliza colorindo ou pintando a HQ. Organize o cronograma com os estudantes para acompanhar a evolução dos trabalhos. Combine com eles uma data para a revisão final do material e, por fim, uma data para a exposição dos trabalhos à comunidade escolar.

As HQs podem ser digitalizadas, impressas e organizadas em forma de brochura para serem distribuídas a alunos de outras turmas ou expostas em um mural.

Também podem ser publicadas digitalmente em algum canal eletrônico da escola.

Esse conteúdo contempla as seguintes habilidades descritas na BNCC para o componente curricular Língua Portuguesa: EM13LP20, EM13LP52, EM13LP48 e EM13LP49.

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Aprofundamento Os gêneros e as convenções literárias relacionadas ao livro Na obra Os faroleiros e outros contos de Monteiro Lobato, alguns contos foram adaptados para a narrativa em quadrinhos. Entretanto, para ilustrar a extensa e plural obra literária de Monteiro Lobato, nele estão publicados também um trecho de Reinações de Narizinho (p. 24-25), uma carta destinada ao colega e amigo Lima Barreto (p. 42) e uma releitura da fábula “A cigarra e as formigas” (p. 43).

Por isso, nesse momento comentaremos algumas especificidades da produção de Monteiro Lobato, algumas características do gênero conto e a transposição desse gênero para os quadrinhos, além de características do gênero fábula. Dessa maneira, pretendemos contribuir para a melhor e mais dinâmica compreensão das convenções literárias relacionadas à obra.

Com o objetivo de auxiliá-lo a exercitar de forma sistemática a leitura crítica, criativa e propositiva do livro, no final desta seção há ainda informações sobre o gênero HQ, seguidas de um breve panorama da história em quadrinhos no Brasil.

Essas informações poderão ser parcialmente compartilhadas com a turma antes do Projeto Oficina de HQs, se você achar interessante.

Antes de Lobato já haviam sido publicadas algumas obras do segmento infantil e juvenil no Brasil, mas a grande reviravolta na edição de livros para crianças e jovens certamente aconteceu com Monteiro Lobato, que, em 1921, publicou A menina do nariz arrebitado. Cabe lembrar que a obra ganhou uma versão em formato menor, em preto e branco (portanto, mais econômica), sob o título Narizinho Arrebitado: 2 – Livro de Leitura, e vendeu a fabulosa tiragem de 50 500 exemplares, graças à compra de 30 mil exemplares pelo governo paulista para distribuição gratuita nas escolas.

Em 1917, Lobato já havia editado Saci.

Entretanto, sem dúvida o ponto de virada em sua carreira como editor e escritor foi a obra A menina 17

Editora Brasiliense

Monteiro Lobato: um marco na literatura infantil e juvenil do Brasil

Capa do livro Caçadas de Pedrinho, de Monteiro Lobato, publicado em 1962.

do nariz arrebitado (1921). Foi a partir desse sucesso de venda para as escolas que o escritor decidiu que o público infantil seria o foco principal de sua produção.

Na sequência, publicou As caçadas de Pedrinho (1924, versão ampliada para a edição de 1933), O Picapau Amarelo (1939), A chave do tamanho (1942) e O poço do Visconde (1943). Em 1934, veio a lume a versão definitiva de Reinações de Narizinho, que deixou de lado por completo a visão materialista/positivista ainda encontrada na edição de 1921.

A literatura lobatiana destinada à infância é composta de 17 volumes, na edição das obras completas de 1957. Todas as aventuras ocorrem no Sítio do Picapau Amarelo. Mesmo quando ocorrem em outras épocas e lugares, esse é o local de onde saem os personagens. Em alguns casos, é por meio da história contada por Dona Benta que as aventuras acontecem.

Ao criar um ambiente em que crianças convivem com seres incomuns – como uma boneca intrépida, falante e independente, a célebre Emília; um sabugo de milho humanizado, o sábio Visconde de Sabugosa; animais falantes, como o rinoceronte Quindim, que fugiu de um circo e foi parar no sítio –, Lobato rompe com o modelo bastante realista e nacionalista que, como vimos, grassava na produção literária para crianças até então.

As aventuras vividas por duas crianças, Pedrinho e Lúcia (mais conhecida como Narizinho), em um sítio, com forte presença de aspectos do maravilhoso mas também onde se pode brincar e aprender de forma divertida, e a ausência do tom retórico, que impregnava os livros infantis até então, caíram de imediato no gosto da criançada.

Outra grande ruptura foi criar um ambiente familiar em que não prevalecia a ordem patriarcal. No sítio, o comando da casa estava sob as ordens da avó, Dona Benta. Além disso, o rigor da instituição escolar também foi abolido, já que Pedrinho está sempre de férias no sítio onde mora a prima, Narizinho.

As peculiaridades do gênero conto No livro Os faroleiros e outros contos de Monteiro Lobato, quatro contos do escritor foram adaptados para a linguagem dos quadrinhos. Por isso, achamos relevante discorrer sobre as peculiaridades desse gênero.

A brevidade é, por certo, uma importante característica do gênero conto.

Disso decorre a necessidade de eliminar tudo o que é supérfluo, todas as ideias e situações intermediárias, as longas descrições e excessos ou que o romance exige.

Os contos são considerados monotípicos, ou seja, o mesmo personagem atua na mesma esfera de ação, pois é praticamente impossível apresentar intrigas secundárias e muitos personagens.

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A economia temporal é uma característica importante a ser considerada.

Dificilmente um conto daria conta das demoradas elucubrações e reviravoltas do gênero novela. Nele também não há tempo para as longas digressões e a forte carga emocional do romance.

O desfecho, ou parte final de um conto, ocorre quando há a resolução de um problema, mas há contos em que a situação fica em aberto. Caso o enredo do conto não aponte um problema a ser resolvido, somente uma sucessão de fatos, a conclusão pode ser um acontecimento novo, usado para fechar a narrativa.

Monteiro Lobato tinha plena consciência da potência concentrada do conto e do efeito de um desfecho inesperado como elemento essencial, como pode se ler em carta escrita ao amigo Godofredo Rangel, em 1990: Sou partidário do conto, que é como o soneto na poesia.

Mas quero contos como o de Maupassant e Kipling, contos concentrados em que haja drama ou que deixem entrever dramas. Contos que façam o leitor interromper a leitura e olhar para uma mosca invisível, com olhos grandes, parados.

Contos-estopins, deflagradores das coisas, das ideias, das imagens, dos desejos, de tudo [que] exista informe e sem expressão dentro do leitor. E conto que possa resumir e contar a um amigo – e que interesse a esse amigo. (SANTOS, [20--?]).

Os contos de Lobato, apesar de estruturados em uma lógica tradicional, com começo, meio e fim, sempre têm um final surpreendente, preparado com habilidade desde o início. Ele parece seguir a fórmula compartilhada com o amigo Rangel na carta citada acima. Seus contos podem ser narrados pelo leitor com facilidade para um amigo e interessá-lo justamente por causa do desfecho inesperado.

Outra grande habilidade de Monteiro Lobato é sua capacidade de criar personagens baseados em tipos humanos e sociais, como o Jeca Tatu, de “Velha Praga” e “Urupês”. Embora não sejam contos, mas artigos publicados em jornais, escritos para denunciar as queimadas em matas e fazendas, o termo acabou sendo usado para caracterizar um tipo específico de caboclo. O “jeca” pode ser encontrado em vários contos de Lobato, por exemplo, Pedro Pichorra e Nheco, personagens do conto “Pedro Pichorra”, recontado por Laudo Ferreira em quadrinhos no livro Os faroleiros e outros contos de Monteiro Lobato.

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A passagem do conto para HQs As HQs podem ser usadas para o aprimoramento cultural, técnico e literário dos estudantes, dos mais novos aos mais velhos, da Educação Infantil ao ambiente de ensino pós-graduado. Um bom exemplo foi a maneira magistral pela qual o talentoso e premiado quadrinista Laudo Ferreira transpôs os contos de Monteiro Lobato para o gênero quadrinhos.

Ao adaptar um conto para HQ é necessário fazer cortes ou transformar uma longa descrição em uma imagem, mas é importante ressaltar que Laudo Ferreira manteve a linguagem de Monteiro Lobato. Além disso, o enredo central dos contos, os personagens, o tempo e os locais das narrativas foram preservados.

A teórica canadense Linda Hutcheon, que estuda a adaptação e a tradução, discute vários conceitos que envolvem a tradução, a adaptação e a transposição de obras literárias. De acordo com essa autora (2011, p. 49): “Contar uma história em palavras, seja oralmente ou no papel, nunca é o mesmo que mostrá-la visual ou auditivamente em quaisquer das várias mídias performáticas disponíveis”. Isso porque a base de sua teoria está centrada no tripé determinado por três modos de engajamento: contar, mostrar e interagir.

Ao utilizar as “vozes” dos narradores para manter o andamento da ação, trazendo de certa forma o narrativo, que é próprio do contar, para a HQ, um gênero misto, em que se utiliza do texto, mas sobretudo de imagens, Laudo Ferreira conseguiu recontar as histórias de Lobato com maestria.

Isso oferece a oportunidade de trabalhar os contos nesse formato, explorando não só a riqueza da narrativa escrita, mas sobretudo icônica. Dessa maneira, podem se ampliar os conhecimentos da turma sobre a vasta produção lobatiana de maneira lúdica e divertida.

As peculiaridades do gênero fábula Na obra Os faroleiros e outros contos de Monteiro Lobato há duas versões da fábula “A cigarra e as formigas”. Neste item apresentaremos algumas características e origens desse gênero para ampliar seus conhecimentos.

As fábulas são narrativas curtas de intenção moralizante, que apresentam como personagens animais ou seres inanimados para representar alegoricamente características próprias dos seres humanos. Algumas visam transmitir um conselho, outras são uma tentativa de explicar fatos cotidianos, de forma a retirar-se deles alguma lição.

Se na atualidade é comum descrever o gênero apenas como “histórias em que os animais falam”, basta um olhar sobre a produção de fábulas de Esopo, Fedro 20

e La Fontaine para notarmos que esse conceito não compreende toda a produção desses fabulistas, pois encontramos nas recolhas assinadas por eles personagens humanos, deuses, plantas e objetos. Portanto, as “histórias de animais” é um dos recortes possíveis neste vasto território temático.

Na fábula a ação decorre sempre no passado e recorre ao riso, à sátira e ao absurdo. A moral pode estar diluída na narrativa, mas encontra-se quase sempre destacada. Pode estar em posição inicial ou em posição final.

Se ainda há controvérsias sobre as origens da fábula, não há dúvida de que o processo de fixação desse gênero literário deveu-se a Esopo. Também se credita a ele a forma da fábula como conhecemos na atualidade: composta de duas partes: a história e a moral que a acompanha.

Outro fabulista de renome foi o latino Fedro, responsável por traduzir do grego as fábulas de Esopo, dando àquela forma narrativa estrutura de poesia, com metrificação e ritmo. As produções desses dois fabulistas foram largamente copiadas e parafraseadas durante toda a Idade Média.

No século XVII, renova-se a linguagem, surgem as gramáticas nacionais e La Fontaine dá enorme contributo para o desenvolvimento da língua francesa pela sofisticação de sua produção literária.

La Fontaine trabalhou com uma noção de reconto, utilizando como fontes as primárias fábulas latinas, gregas e indianas. Mas inspirou-se principalmente na criação de Esopo. Em suas fábulas, os leitores são convidados a decifrar lições e, enquanto isso, usufruir de poemas bem escritos, de grande valor literário, indo da comédia ao drama.

O êxito das fábulas de La Fontaine não ficou só na França, já que se disseminaram pela Europa e pelo mundo, tendo perdurado e influenciado outros autores muito além do seu tempo, inclusive Monteiro Lobato, que recriou várias fábulas, até mesmo a famosa “A cigarra e as formigas”, apresentada na obra Os faroleiros e outros contos de Monteiro Lobato.

Durante a leitura das recriações de Lobato de uma das fábulas mais conhecidas de La Fontaine, observe que o escritor brasileiro apresenta duas versões.

Na primeira, “A formiga boa”, a cigarra é reconhecida como a cantora que alegrara as formigas no inverno e, portanto, é acolhida com carinho. Já na segunda versão, “A formiga má”, a cigarra pede emprestado restos de comida, que pagaria, ainda que os juros fossem altos, mas é repudiada pela formiga usurária e invejosa, pois não sabia cantar. Nessa versão, a cigarra morre de frio. Na moral, explicita-se que a cigarra representa os artistas, e a formiga, os capitalistas. Nessa releitura, Monteiro Lobato não perde a oportunidade de fazer uma crítica ao sistema capitalista de produção.

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O fascinante mundo das HQs Grosso modo, pode-se dizer que o cativante e complexo mundo das HQs é a literatura apresentada em um suporte impresso ou virtual, que coloca em diálogo permanente desenhos e textos, transformando imagens fixas e justapostas de modo sequencial em uma linguagem, cuja fruição e decifração formam um objeto, que é ao mesmo tempo um suporte.

De acordo com o escritor e professor português Rui Zink (1999, p. 20), o apelo das HQs “é a interacção dinâmica, não reiterativa nem pleonástica, entre elementos oriundos de um código verbal e um código icónico, constituindo-se num só e novo código. O que implica um novo modo de leitura e de contrato com o leitor”.

As HQs podem, portanto, ser definidas como um discurso narrativo, apresentado em suporte fixo e portátil, em que haja interação explícita entre o código linguístico (o texto) e o código icônico (a imagem), “constituindo-se em objeto estético uno, autónomo e autossuficiente, em que o todo seja mais do que a soma das partes” (PINTO; SARAIVA, 1996, apud ZINK, 1999, p. 20-21). Trata-se, portanto, de uma linguagem híbrida e original.

Brevíssima resenha histórica das HQs no Brasil É difícil estabelecer um momento inicial que marque de modo inequívoco o surgimento de uma forma narrativa baseada na relação entre texto e desenho (ou só desenho), fundamentada na sequência de desenhos e que cumpra um discurso figurativo portátil e passível de produção e consumo simultâneos em massa.

No Brasil, o primeiro exemplo dessa forma de arte e de comunicação que integra desenho e texto (ou literatura em estampas ou em gravuras, como chegou a ser proposto por Rodolphe Töpffer) foi “As aventuras de Nhô Quim ou impressões de uma viagem à Corte”, de autoria de Angelo Agostini, publicado na revista Vida Fluminense, em 30 de janeiro de 1869. Por esse motivo, essa é a data escolhida para celebrar o Dia Nacional das Histórias em Quadrinhos.

O estilo predominante na segunda metade do século XIX era o satírico, assumindo sobretudo a forma de charges ou de caricaturas, rapidamente multiplicadas como tiras, bastante populares à época. Na charge, a palavra não tem função primordial. Ela não é imprescindível à estrutura do discurso, já que a comunicação se estabelece preponderantemente por meio da imagem. A charge foi e ainda é um recurso bastante usado nos meios de comunicação brasileiros para criticar as situações políticas. Por meio delas, é possível provocar no leitor outra percepção sobre um acontecimento.

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Harvey Comics

Um dos suportes mais identificativos das HQs, a revista, surgiu já no século XX. Em 1905, foi lançado o número inaugural da primeira dessas revistas especializadas em HQ, O Tico-Tico (1905-1957), periódico inspirado em revistas infantis francesas como Le Petit Journal Illustré de la Jeunesse e La Semaine de Suzette, segundo concepção do desenhista Renato de Castro.

O Tico-Tico incluía um elenco de personagens que constituíram um primeiro universo de referências brasileiras para as HQs, como Lamparina, Reco-Reco, Bolão e Azeitona, Zé Macaco e Faustina, Pára-Choque e Vira-Lata e, com particular destaque, Chiquinho. Chiquinho terá sido fortemente inspirado, senão mesmo copiado, no personagem Buster Brown, do autor norte-americano Richard Felton Outcault, considerado por muitos o efetivo inventor da tira moderna de HQ se considerarmos suas características principais: o uso de balões, introduzidos na sua série “Hogan’s Halley”, em 1896, na qual sobressaía o personagem Yellow Kid. Na década de 1930, os suplementos ilustrados de jornais, como o Suplemento Juvenil, de Adolfo Aizen, (que se tornou autônomo do jornal A Nação, em que inicialmente fora inserido) ou o Globo Juvenil, de Roberto Marinho, e as revistas de HQs, como O TicoTico, Mirim, Gazetinha ou Gibi1, começaram a introduzir tiras e pranchas norte-americanas, apresentando aos leitores brasileiros autores, histórias e personagens norte-americanos como Ratinho Curioso (Mickey Mouse), Gato Maluco (Krazy Kat), Gato Félix, Flash Gordon, o Fantasma (The Phantom) ou Superman.

Todavia, essas publicações de formato tabloi­ de ou meio tabloide também serviram de palco para O Gato Félix foi um dos enredar personagens brasileiros, filiados no modelo personagens mais importantes e estilo dos comics americanos, principalmente nas das histórias em quadrinhos. Seu histórias de aventuras, de heróis e pulp fiction (de auge foi no início do século XX. mistério, ficção científica e terror). Abriu-se espaço para o trabalho de autores nacionais como Oswaldo Storni, Carlos Arthur Thiré, Monteiro Filho, Francisco Acquarone ou Renato Silva.

Vários clássicos da literatura foram quadrinizados nesses periódicos, como O guarani e As minas de prata, de José de Alencar. Deste caldo nasceram, assumidamente, os primeiros álbuns e as primeiras coleções de livros HQs no Brasil, como a Biblioteca Mirim ou a Coleção Gibi.

1 O termo gibi, que já havia aparecido nas páginas de O Tico-Tico, usado de modo pejorativo para referir-se a garotos negros, passou a ser sinônimo de revistas em quadrinhos.

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O período entre o início dos anos 1940 e o final dos anos 1950 foi marcado pelo profuso aparecimento e consolidação de editoras e grupos editoriais, cuja relação concorrencial estimulou a afirmação, o desenvolvimento, a diversificação e a complexificação das HQs no Brasil, incluindo gêneros como terror, erótico e romântico.

Destacaram-se casas editoriais como a Editora Brasil-América (Ebal), de Adolfo Aizen, considerado o grande precursor das HQs no Brasil; a Editora Globo/Rio Gráfica Editora, de Roberto Marinho; a editora O Cruzeiro, de Assis Chateaubriand; a Editora Abril, de Victor Civita; e a Editora Bloch, de Adolfo Bloch. A penetração dos heróis e dos personagens norte-americanos e a reação brasileira, contrapondo com suas próprias criações (muitas delas adaptações pouco disfarçadas do original norte-americano), gerou uma competição irrefreável para angariar leitores.

No início dos anos 1960, editoras de álbuns e principalmente de revistas deixavam sua marca, contribuindo para o surgimento de autores brasileiros. Casas de edição como a Continental (depois editora Outubro e ainda depois editora Taíka), O Cruzeiro ou o Serviço Social da Indústria (Sesi) foram o primeiro palco para autores incontornáveis das HQs brasileiras, como Mauricio de Sousa, Ziraldo (Alves Pinto), Joselito Matos (Reginaldo José Azevedo Fortuna), que estrearam em revistas como a Zaz Traz ou Sesinho.

Vários desses autores seguiriam depois autonomamente, construindo universos reconhecidos. Em 1960, por exemplo, Ziraldo lançou a revista Pererê, da chancela O Cruzeiro, fazendo desfilar a turma do Pererê, constituída por personagens inspirados no clássico de Monteiro Lobato, Sítio do Picapau Amarelo, cujas histórias eram ambientadas na Mata do Fundão, uma floresta brasileira tão fictícia quanto o Sítio do Picapau Amarelo, criado por Lobato.

A partir de 1960, Mauricio de Sousa ampliou o universo iniciado com o cãozinho Bidu na década anterior, recheando-o de personagens novos e compondo a Turma da Mônica, um verdadeiro colosso no seio da indústria editorial e do entretenimento no Brasil ainda na atualidade.

Entrementes, apareceram estruturas de apoio à produção, distribuição e venda de desenhos e histórias, como escolas ou centros e estúdios artísticos especializados e sindicatos, associações ou cooperativas de artistas e criadores de HQs, concedendo condições de estabelecimento de uma indústria pujante e oferecendo oportunidade de trabalho e publicação a gerações de desenhistas.

Além da qualidade gráfica, que melhorou sensivelmente com o uso da policromia em muitas publicações, a diversificação temática e de gênero prosseguiu, com entidades como a Editora de Revistas e Livro (Edrel), que projetaram o estilo mangá no contexto das HQs de origem brasileira.

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Biblioteca da ECA, USP

A criação, em 1968, da tira Ca­pitão Cipó, por Daniel Azulay, no jornal Correio da Manhã, satirizando a temática dos super-heróis; e o nascimento, em 1969, do semanário O Pasquim, pela mão do cartunista Jaguar (Sérgio de Magalhães Gomes Jaguaribe) e dos jornalistas Tarso de Castro e Sérgio Cabral, foram espaço de luta contra a Ditadura, instaurada em 1964.

Na contracultura, apostou-se na promoção do debate em torno de temas vistos como polêmicos, como a emancipação sexual feminina e o divórcio e O Pasquim sinalizou com perfeição as transformações em marcha.

Capa do semanário O Pasquim, de 1969, com os Perseguido pelo Regime Militar, o pe- cantores e compositores Gilberto Gil e João Gilberto. riódico foi um dos esteios da oposição política durante os anos da Ditadura, nele tendo participado ativamente nomes das HQs como Ziraldo, Millôr Fernandes, Miguel Paiva, Henfil (Henrique de Souza Filho) ou Fortuna.

Instituições como a Escola Panamericana de Arte e o estúdio artístico e de produção montado pela Editora Abril fomentaram o surgimento e a sedimentação de figuras como Primaggio Mantovi, que passou pela Rio Gráfica Editora e pela Editora Abril, ilustrando e roteirizando muitas histórias, além de dirigir o Centro de Criação do Grupo de Publicações Infantojuvenis (da Abril) e criar personagens como Sacarrolha, título homônimo de uma revista lançada pelo autor em 1972.

Por outro lado, a década de 1970 assistiu a um surto de acontecimentos que conferiram maior densidade e maturidade às HQs no Brasil. Em 1970, ocorreu o Primeiro Congresso Internacional de Quadrinhos, no Museu de Arte de São Paulo. No ano seguinte, surgiu no Rio Grande do Norte o Grupo de Pesquisa de História em Quadrinhos (GRUPEHQ), despontando ainda o fenômeno das designadas revistas independentes como Maturi (considerada mesmo underground), Gibi Notícias, Cabramacho ou Igapó.

Nessa época, o underground norte-americano e as bandas desenhadas franco-belgas e italianas se consolidaram de forma definitiva nas revistas e suplementos brasileiros de HQs. As HQs deixaram de ser esmagadoramente um

reduto infantojuvenil, assumindo uma natureza, um grafismo e um conjunto de propostas temáticas cada vez mais adultas.

Casas históricas como a Editora Vecchi também participaram dessa dinâmica, com a edição de revistas como Eureka, Mad ou Spektro. A diversidade e a complexidade das HQs tiveram eco na própria academia, que timidamente começou a considerá-las objeto de estudo e pesquisa. Em 1977, pela mão de Sônia Luyten, a Universidade de São Paulo iniciou a edição de Quadreca, uma revista científica sobre HQ publicada pela Editora-Laboratório Com-Arte.

Com a abertura política, na década de 1980, e a retomada da democracia, houve aprofundamento de tendências americanizantes, crescendo os fenômenos de publicação dos universos Disney, Marvel e DC, numa demonstração hegemônica da Editora Abril no âmbito desse tipo de HQ. Entretanto, a diversidade historicamente conquistada nunca abandonou o panorama das HQs no Brasil. Ao mesmo tempo que os grandes grupos disputavam os títulos, autores e personagens de grande consumo, as águas da contracultura e do alternativo fervilhavam de vida.

Naquela década, o humor corrosivo e iconoclasta ganhou estatuto de cidade em versão contemporânea. Foi este, em larga medida, o programa da Circo Editorial, fundada em 1984 por Toninho Mendes (Antônio de Souza Mendes Neto), editando as revistas Circo, Chiclete com Banana, Piratas do Tietê, Geraldão ou Níquel Náusea, e dando palco a artistas como Angeli (Arnaldo Angeli Filho), Glauco (Villas Boas), Laerte (Coutinho), Fernando Gonzales, Paulo Caruso e Luiz Gê (Luiz Geraldo Ferrari Martins).

A afirmação do desenhista/ilustrador/autor brasileiro adquiriu ainda mais força quando os artistas viram seu trabalho legitimado e consagrado por prêmios criados nessa época – por exemplo, o Prêmio Angelo Agostini (atribuído pela primeira vez em 1985), da Associação dos Quadrinistas e Caricaturistas do Estado de São Paulo (AQC-ESP), e o Troféu HQ Mix (inaugurado em 1989), da Associação dos Cartunistas do Brasil.

Os anos 1990 arrancaram com ímpeto visível para a realização da primeira e da segunda Bienal de Quadrinhos do Rio de Janeiro, em 1991 e 1993, iniciativas de alcance internacional que mobilizaram grande número de participantes. A bienal foi substituída pelo Festival Internacional de Quadrinhos (também bienal), que ocorre em Belo Horizonte desde 1999, no mesmo ano da primeira edição no Recife do Festival Internacional de Humor e Quadrinhos de Pernambuco. Multiplicaramse os fanzines, generalistas ou especializados (muitos deles em mangá e anime), e consolidou-se a presença das novelas gráficas (ou graphic novels), iniciada na década anterior.

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O século XXI acelera e acentua o fenômeno de inserção das HQs brasileiras no mundo virtual, sucedendo-se os blogs e as páginas dedicadas a essa forma de arte e de comunicação. O mercado não parece dar mostras de se refrear, apesar das movimentações no plano editorial, no qual as fusões, aquisições, encerramentos, surgimentos e até ressurgimentos de editoras passam a “prato do dia”.

Os álbuns e as revistas persistem, acolhendo uma grande variedade de artistas e gêneros.

A natureza plástica das HQs como elemento de riqueza estética e narrativa Os caminhos diversos que as HQs têm percorrido ao longo da sua existência fabricaram um mundo feito de complexidade e plasticidade, no qual se podem explorar morfologias, temáticas, expressões literárias (e não literárias) muito diferentes. A produção tipológica é riquíssima e incompatível com a definição de uma fórmula pura, pois as HQs vivem do hibridismo desde o início, sem que isso, contudo, represente o fim dessa linguagem e de seu carácter distintivo.

Esse caráter é específico porque funciona com base em códigos de comunicação reconhecidos, como os signos cinéticos: as metáforas gráficas ou as onomatopeias, mesmo que os subverta ou alargue seu escopo. Além disso, resulta da associação intrínseca de um texto escrito, cuja forma verbal final pode ou não constar da narrativa e de um texto icônico.

A presença de HQs em diversos suportes, com recurso a variadas técnicas, obedecendo a uma pluralidade de objetivos (desde o puro entretenimento até a função educativa e pedagógica, passando pela publicidade) e destinando-se a consumos mais massificados ou mais restritos e a um público de múltiplas faixas etárias, gerou um leque de opções que vai do cartoon à tira tradicional, da graphic novel ao underground, do mangá aos comics, do gibi à quadrinização de obras originalmente apenas textuais, como feito por Laudo Ferreira com os contos de Monteiro Lobato.

Referências complementares A BNCC da área de Linguagens e suas Tecnologias no Ensino Médio preconiza que sejam trabalhados cinco campos de atuação social: o campo da vida pessoal; o campo das práticas de estudo e pesquisa; o campo jornalístico-midiático; o campo de atuação na vida pública; e o campo artístico-literário. As sugestões a seguir visam trabalhar com cada um desses eixos.

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Sugestões de artigos científicos Os artigos científicos indicados a seguir podem ser lidos pelo professor para ampliar seus conhecimentos sobre os contos adaptados nesta antologia e a importância literária e didática das HQs. Dessa maneira, o seguinte campo será trabalhado: campo das práticas de estudo. yy CARNEIRO, Fabianna Simão Bellizzi. Da mitologia à ficção científica: o mundo (dis)utópico de Monteiro Lobato no conto “Era no paraíso”. Darandina Revista Eletrônica, Juiz de Fora, v. 12, n. 1, jun. 2019. Disponível em: https:// periodicos.ufjf.br/index.php/darandina/article/view/28036. Acesso em: 28 out. 2020.

Esse trabalho parte da hipótese de que a utopia, termo presente em várias narrativas de ficção científica, pode não se configurar como espaço sonhado por determinadas sociedades. A autora faz uma análise dos conceitos de utopia e distopia no o conto “Era no Paraíso...”, para buscar entender como os lugares idealizados podem ceder espaço a futuros catastróficos e decadentes. yy CESÁRIO, Carla Gonçalves. Histórias em quadrinhos: resultado de uma oficina pedagógica de leitura e escrita nos anos iniciais. 2015. Trabalho de Conclusão do Curso (Licenciatura Plena em Pedagogia) – Universidade Estadual da Paraíba, Campina Grande, 2015. Disponível em http://dspace.bc.uepb.edu. br/jspui/bitstream/123456789/7950/1/PDF%20-%20Carla%20Priscila%20 Gon%C3%A7alves%20Ces%C3%A1reo.pdf. Acesso em: 9 ago. 2020.

A autora analisou, mediante o recurso metodológico para oficinas de HQ, as práticas pedagógicas de leitura e escrita por meio das HQs nos anos iniciais de escolaridade. Ao longo do texto, discutem-se as práticas de leitura e escrita nos anos iniciais do trajeto escolar com uso das HQs, apresentando-se essa forma narrativa como suporte educativo importante para o processo de socialização das práticas de leitura e para a formação de leitores. yy LAVARDA, Tabatta Silva. Sugestões do uso de histórias em quadrinhos como recurso didático. In: CONGRESSO NACIONAL DE EDUCAÇÃO, 13., 2017, Curitiba. Anais [...]. Curitiba: [s. n.], p. 21100-21107. Disponível em https://educere. bruc.com.br/arquivo/pdf2017/25298_12321.pdf. Acesso em: 9 ago. 2020.

A autora sistematiza um conjunto interessante e útil de sugestões de como utilizar as HQ na área de Ciências Humanas e Ciências da Natureza envolvendo metodologias e estratégias pedagógicas para uso em contexto de aula com estudantes de todos os níveis de ensino. O texto termina com um conjunto de referências bibliográficas muito útil e abrangente, em que constam obras incontornáveis sobre pedagogia e HQ de autores como Adriana 28

Yumi, Alexandre Barbosa, Angela Rama, Francisco Caruso, Maria Cristina Silveira, Mirian de Carvalho, Túlio Vilela, Waldomiro Vergueiro. yy SILVÉRIO, Luciana B. Ramos; REZENDE, Lucinea Aparecida de. O valor pedagógico das histórias em quadrinhos no percurso do docente de língua portuguesa. In: JORNADA DE DIDÁTICA (O ENSINO COMO FOCO), 1.; FÓRUM DE PROFESSORES DE DIDÁTICA DO ESTADO DO PARANÁ, 1., 2012, [Curitiba]. Anais [...]. [Curitiba]: Cemad, 2012. p. 217-234. Disponível em: http:// www.uel.br/eventos/jornadadidatica/pages/arquivos/O%20VALOR%20 PEDAGOGICO%20DAS%20HISTORIAS%20EM%20QUADRINHOS.pdf.

Acesso em: 9 de ago. 2020.

As autoras apresentam os primeiros resultados de uma pesquisa realizada com professores de Língua Portuguesa no Ensino Fundamental em torno do uso da forma narrativa das HQ como recurso pedagógico. Com base em dados recolhidos por meio da aplicação de questionários a professores, a investigação revelou a aceitação das HQs como material pedagógico útil para o processo de valorização da leitura pelos educandos e para o desenvolvimento das próprias competências de leitura.

Sugestões de filmes Nesse item, indicamos três filmes baseados em personagens de Monteiro Lobato, Jeca Tatu, O Saci e O comprador de fazendas, que foi inspirado em um conto do livro O urupês. A série Sítio do Picapau Amarelo já ganhou cinco versões e adaptações para a televisão, uma das quais apresentamos abaixo. Outra sugestão é assistir com a turma ao filme O farol, que aborda a complexa relação de um faroleiro com seu ajudante, já que este é o tema central de um dos contos da HQ Os faroleiros e outros contos de Monteiro Lobato.

Os seguintes campos serão contemplados durante essas seções de cinema na escola: campo de atuação na vida pública e campo artístico. yy JECA Tatu. Direção: Milton Amaral. Brasil: Pam filmes, 1959. 1 vídeo (95 min).

Jeca Tatu, o emblemático personagem criado por Monteiro Lobato, surgiu em seu primeiro livro, Urupês, de 1918. O filme narra a história de um caipira preguiçoso e simplório, que vive num sítio no interior de São Paulo, com sua mulher e três filhos, sendo uma adolescente. Com dívidas no armazém da cidade Jeca Tatu decide oferecer pedaços de suas terras para quitar suas contas. O dono do armazém repassa as terras para o vizinho, um agricultor ambicioso e proprietário de uma grande área, o italiano Giovanni, que deseja expulsar Jeca dali para impedir o namoro entre seu filho e a filha do caipira.

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Vaca Brava, um valentão da cidade, também tem interesse em Marina, a filha do Jeca, e arma situações para indispor o caipira com o italiano. yy O COMPRADOR de fazendas. Direção: Alberto Pieralisi. Brasil: Companhia cinematográfica Maristela, 1951. 1 vídeo (96 min).

O filme retrata a vida de um fazendeiro que quer vender sua propriedade no Vale do Paraíba. Sua mulher anuncia a propriedade no jornal. Eles recebem um telegrama de um possível comprador. Moreira, o fazendeiro, faz um acordo com seus credores e juntos concordam em se fazerem passar por empregados para dar ao lugar melhor aparência e valorizar o imóvel. O interessado na fazenda, um pintor de paredes, apresenta-se, na verdade, apenas para se aproveitar da situação e passar um bom fim de semana no campo. yy O FAROL. Direção: Robert Eggers. Estados Unidos: New Regency Pictures, 2019. 1 vídeo (110 min).

No final do século XIX, um novo zelador chega a uma remota ilha na Nova Inglaterra para ajudar o faroleiro local, mas o isolamento causa tensão na convivência entre os dois homens. O novato tenta desvendar os mistérios que envolvem a vida de seu chefe. yy O SACI. Direção: Rodolfo Nanni. Brasil: Brasiliense filmes, 1953. 1 vídeo (65 min).

O filme O Saci foi a primeira vez que a turma do Sítio do Picapau Amarelo saiu dos livros para as telas. A história mostra as aventuras de Narizinho, Emília e Pedrinho. O Tio Barnabé passa algumas instruções para o garoto, que decide capturar um Saci em uma garrafa. Pedrinho consegue realizar a façanha, mas depois conta com a ajuda do Saci para libertar Narizinho, que fora enfeitiçada pela Cuca. yy SÍTIO do Picapau Amarelo. Direção: Geraldo Casé. Brasil: Globo, 1977-1986.

Série de TV. Provavelmente essa foi a mais famosa das versões já adaptadas da obra de Monteiro Lobato. Inicialmente prevista para ter 265 episódios, a produção da década de 1970 ficou no ar por nove anos, totalizando 1 436 episódios e marcou a infância de muitas pessoas na época, eternizando algumas das mais conhecidas obras de Lobato. A série resultou de um convênio entre a Globo, a TV Educativa e o Ministério da Educação e Cultura. Sítio do Picapau Amarelo unia entretenimento a um conteúdo de informação e instrução, sem adotar uma linguagem didática. O contexto rural, característica da produção de Monteiro Lobato, foi conservado, possibilitando criar uma ligação maior das crianças com a natureza. É possível ver trechos dessa versão e assistir ao depoimento de vários artistas que participaram da série.

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Sugestões de músicas Nesse item, apresentamos músicas que foram dedicadas tanto a Monteiro Lobato quanto a seus personagens. Você pode propor a audição dessas músicas antes da leitura da obra, para estimular os alunos a conversarem sobre o que conhecem do universo literário do autor. Pode também compartilhar as informações sobre os artistas que participaram dessas criações com a turma antes da audição.

Os seguintes campos serão contemplados nesta atividade: campo artístico e campo da vida pessoal. yy O MUNDO encantado de Monteiro Lobato. Intérprete: Eliana Pittman.

Compositores: Batista, Darci, Helio Turco, Jurandir e Luiz. In: É PRECISO cantar. [S. l.]: Copacabana, 1966. 1 CD, faixa 1. Disponível em: https://www.letras. mus.br/eliana-pittman/o-mundo-encantado-de-monteiro-lobato/. Acesso em: 21 dez. 2020.

A música foi interpretada originalmente por Jamelão, como enredo apresentado pela escola de samba Mangueira, no desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro, em 1967. Foi a primeira vez que uma escola de samba apresentou um enredo baseado na literatura infantil brasileira. Monteiro Lobato foi a personalidade destacada no desfile. O samba-enredo foi gravado pela primeira vez pela cantora Eliana Pittiman, em 1967. yy SÍTIO do Picapau Amarelo. [S. l.]: Som Livre, 1977. 1 CD. Vários intérpretes.

Disponível em: https://immub.org/album/sitio-do-picapau-amarelo-trilhasonora-do-seriado-infantil-da-rede-globo. Acesso em: 21 dez. 2020.

A trilha sonora foi dirigida pelo cantor e compositor Dori Caymmi. A música de abertura, Sítio do Picapau Amarelo, de Gilberto Gil, foi um dos marcos do programa. A música Emília, que serviu como tema principal para a famosa personagem do Sítio do Picapau Amarelo, foi composta por Sergio Ricardo. A música-tema da personagem Narizinho destaca suas aventuras no Reino das Águas Claras. Ela foi composta por Ivan Lins e Vitor Martins e interpretada por Lucinha Lins. João Bosco e Aldir Blanc criaram a faixa Visconde de Sabugosa, interpretada por João Bosco. Dorival Caymmi também criou alguns temas e interpretou a canção-tema de Tia Anastácia. Caetano Veloso compôs Peixe, interpretada pelos Doces Bárbaros (Caetano, Gilberto Gil, Gal Costa e Maria Bethânia). São canções maravilhosas escritas e interpretadas por nomes de peso da música popular brasileira, que podem ser usadas para ampliar o repertório musical e cultural da turma.

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Sugestão de reportagem Você poderá apresentar as reportagens a seguir afim de levantar diferentes debates sobre o escritor Monteiro Lobato e sua vasta produção. Dessa forma, os seguintes campos serão tangenciados: campo jornalístico-midiático e campo da vida pessoal. yy GLOBO Repórter: 100 anos de Monteiro Lobato (1982). [S. l.]: [Rede Globo], [1982]. 1 vídeo (33min28s). Publicado pelo canal Almanaque Urupês.

Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=ozrWJz-btl0. Acesso em: 20 ago. 2020.

A reportagem de Rodolfo Gamberini dedicada a Monteiro Lobato retrata Taubaté e outros lugares que o escritor percorreu ao longo de sua vida intelectual e como militante dos interesses do país. Apesar de a reportagem ser datada, pois também retrata a cidade natal de Lobato e São Paulo, em 1982, nela são abordados diversos momentos da história do Brasil, intercalados com a biografia de Monteiro Lobato. Há depoimentos de familiares, editores, amigos e da primeira roteirista da obra de Lobato para a TV, a também escritora Tatiana Belinky.

Sugestões de sites Nesse item indicamos sites sobre a obra de Monteiro Lobato e histórias em quadrinhos. Esses sites podem ser usados como fonte de pesquisa tanto por você quanto pelos estudantes. Dessa maneira, os seguintes campos serão trabalhados: campo das práticas de estudo e campo artístico. yy BALBÚRDIA. [S. l.: s. n.], [2016]. Disponível em: https://balburdia.net. Acesso em: 20 ago. 2020.

Página de internet, em formato de blog, mantida por um coletivo muito atento ao panorama brasileiro, com comentários, análises e reflexões críticas efetuadas com base em enfoques variados que denotam um elevado grau conhecimento e qualidade. Conta com uma newsletter bastante útil. Existe desde 2016. yy BIBLIOTECA NACIONAL DIGITAL. [Rio de Janeiro]: BN, c2020. Disponível em: http://bndigital.bn.gov.br/. Acesso em: 20 ago. 2020.

A Fundação Biblioteca Nacional (FBN), localizada no Rio de Janeiro, conta em seu acervo digitalizado com 28 arquivos sobre Lobato, entre eles 26 cartas trocadas com o também escritor Lima Barreto e com o historiador Nelson Werneck Sodré.

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yy CINEMATECA BRASILEIRA. [S. l.], [20--?]. Disponível em: http://cinemateca. org.br. Acesso em: 29 out. 2020.

No site da Cinemateca existe um banco de dados com fotos de filmes baseados nas obras de Monteiro Lobato, como O Saci, de Rodolfo Nanni, O comprador de fazendas, de Alberto Pieralis, e Jeca Tatu, de Milton Amaral, entre outros. yy MONTEIRO LOBATO. [S. l.: s. n.], c2018. Disponível em: http://www. monteirolobato.com. Acesso em: 20 ago. 2020.

No site, criado pelos familiares de Monteiro Lobato, é possível ver detalhes sobre a vida e a obra do autor, além de fotos e imagens. yy OBSERVATÓRIO DE HISTÓRIAS EM QUADRINHOS – USP. [São Paulo]: USP, [20--?]. Disponível em: http://observatoriodehistoriasemquadrinhos. blogspot.com. Acesso em: 20 ago. 2020.

Página eletrônica do Observatório de Histórias em Quadrinhos da USP (anteriormente denominado Núcleo de Pesquisas de Histórias em Quadrinhos ou NPHQ), constituída como, segundo as próprias palavras do site, instrumento de comunicação e informação “destinado à divulgação de pesquisas, publicações, eventos e produção acadêmica relacionada com histórias em quadrinhos e áreas correlatas”. Existe desde 2010. Dirige-se essencialmente a interessados no estudo e conhecimento aprofundado sobre HQ numa perspectiva acadêmica, fornecendo muitas informações institucionais. yy THE GRAPHIC NOVEL RESOURCE FOR EDUCATORS AND LIBRARIANS. [S. l.]: Diamond Comic Distributors, c2020. Disponível em: https://www. diamondbookshelf.com. Acesso em: 20 ago. 2020.

Página de internet em inglês, muito completa e abrangente, dirigida especificamente a profissionais de educação e de bibliotecas. Fornece gratuitamente um conjunto rico de entrevistas, comentários, análises, testemunhos e reflexões sobre o uso das HQs para fins pedagógicos e educativos. Oferece ainda pistas de leitura, críticas e informações sobre lançamentos e novidades, bem como uma lista de livros de referência, glossário e links de indiscutível utilidade, além de uma amostra de planos de aulas (lesson plans). yy UNIVERSO HQ. [S. l.: s. n.], c2020. Disponível em: http://www.universohq. com. Acesso em: 20 ago. 2020.

Página de internet animada por um coletivo, que inclui podcasts (com o título “Confins do universo”) e um canal do YouTube. Existe desde o início do ano 2000. Essa plataforma multicanal é uma página recheada de conteúdos exclusivamente dedicada às HQs, constituindo uma referência incontornável e uma fonte privilegiada para iniciados e iniciantes.

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Bibliografia comentada BARBOSA, Alaor. O ficcionista. São Paulo: Brasiliense, 1996.

O livro de Alaor Barbosa conta as circunstâncias em que cada texto de Monteiro Lobato foi escrito conforme o momento de vida em que estava. É possível descobrir os bastidores da escrita de Monteiro Lobato. Há também os neologismos do autor, constituindo um inventário das expressões criadas por ele, que evidencia suas bem-humoradas contribuições para a língua portuguesa falada no Brasil.

BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular: Ensino Médio.

Brasília, DF: Ministério da Educação, 2018. Disponível em: http://basenacionalcomum. mec.gov.br/images/historico/BNCC_EnsinoMedio_embaixa_site_110518.pdf.

Acesso em: 15 jan. 2021.

O documento do Ministério da Educação organiza as propostas de conteúdos e normas para a aprendizagem do que é essencial para o Ensino Médio. Sendo assim, é possível encontrar nele as diretrizes, competências e habilidades que devem ser desenvolvidas pelos estudantes em sua trajetória nessa etapa de estudo.

CAGNIN, Antonio Luiz. Os quadrinhos: linguagem e semiótica – Um estudo abrangente da arte sequencial. São Paulo: Criativo, 2014.

Edição atualizada sobre obra originalmente publicada em 1975, o livro de Antonio Luiz Cagnin desbravou caminho no então inexplorado planeta HQ. Em suas páginas sistematiza-se conhecimento sobre HQ como forma expressiva e unidade narrativa iconográfica, ao mesmo tempo que se dissecam conceitual e metodologicamente os modos como essa modalidade narrativa diferenciada entretece signo pictórico e textual e como essa articulação gera um nexo que afeta a leitura e a decifração de sentido.

CIRNE, Moacy. História e crítica dos quadrinhos brasileiros. Rio de Janeiro: Europa; Brasília, DF: Ministério da Cultura – Fundação Nacional de Artes, 1990.

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Um dos muitos títulos de Moacy Cirne, pioneiro nas aproximações teóricas às HQ no Brasil, essa obra faz a convergência de uma jornada histórica panorâmica com a análise dos quadrinhos no Brasil. O autor segue um estilo ensaístico, no qual envolve com maestria a historicização do fenômeno social e comunicacional HQ, numa explicação global crítica, capaz de suscitar uma leitura teórica da natureza revolucionária dessa forma de arte, que coloca em evidência estruturas conceituais e estéticas vistas como arcaicas.

COELHO, Nelly Novaes. Panorama histórico da literatura infantil/juvenil. São Paulo: Ática, 1993.

O livro apresenta um panorama da literatura infantojuvenil no Brasil considerando tanto suas origens populares como as influências europeias. A obra é dividida em duas partes: “Das origens indo-europeias à Era Romântica (da narrativa primordial à Literatura Infantil Clássica)” e “Do Brasil entre séculos ao contemporâneo (dos precursores da Literatura Infantil Brasileira ao surto de criatividade dos anos 70/80)”. Trata-se de uma leitura fundamental para os estudiosos de literatura para a infância e a juventude.

EISNER, Will. Comics and Sequential Art: expanded edition print and computer.

Tamarac, Flórida: Poorhouse Press, 2001.

Will Eisner, o grande autor de HQ norte-americano, que concebeu universos e personagens como Spirit e cunhou o termo graphic novel, leva o leitor a atravessar o mundo das HQ, aqui batizado de arte sequencial. Essa obra, que se tornou num clássico contemporâneo instantaneamente, teve origem na sistematização de material sobre métodos e técnicas, teorias e sugestões que o mundialmente aclamado autor recolheu para um curso sobre HQ que leccionou durante anos na School of Visual Art de Nova York. Trata-se de um livro de referência, no qual Eisner ilustra com maestria como suas ideias e reflexões podem ser aplicadas à arte de contar histórias desenhadas, tendo sido concebido fundamentalmente para estudantes, professores e profissionais (e aspirantes a profissionais) da cultura visual e textual, de desenho e de HQ. Existe uma edição brasileira, Quadrinhos e arte sequencial, publicada pela WMF Martins Fontes, em 2010.

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FEIJÓ, Mário. Quadrinhos em ação: um século de história. São Paulo: Moderna, 1997.

Nessa obra, para uso de professores, Mário Feijó apresenta uma panorâmica histórica das HQs, demonstrando como ocorreram o surgimento e a expansão de uma indústria mundial com epicentro nos Estados Unidos e como esse poder industrial de comunicação foi utilizado para fins ideológicos e de configuração e transmissão de valores. O propósito final do autor é levar o leitor a refletir sobre seus próprios hábitos de consumo cultural e os efeitos disso na sua percepção do mundo, tornando essa autoconsciência num tópico de ensino rico e produtivo. O livro contém um suplemento de trabalho interessante e de relevância pedagógica, remetendo a um uso escolar tanto no Ensino Médio quanto no Superior.

GONÇALO JUNIOR. A guerra dos gibis: a formação do mercado editorial brasileiro e a censura aos quadrinhos, 1933-1964. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.

O livro de Gonçalo Junior aprofunda dois aspectos fundamentais da história das HQs no Brasil, que ajudam a entender como essa forma de arte, narrativa e comunicação se transformou no principal produto editorial brasileiro. O fio seguido pelo autor é a construção de um processo em que se entrelaçam a história das editoras e dos grupos editoriais em torno da edição de HQ, tornada uma realidade a partir dos anos 1930, com a afirmação das revistas e dos suplementos maioritária ou totalmente devotados a essa forma narrativa, que correspondeu igualmente à entrada do modelo norte-americano de HQ. A guerra dos gibis é a batalha pela supremacia ou pelo melhor quinhão do mercado de HQ no Brasil, altamente disputado por figuras centrais e por empresas de edição. E é também a guerra política, ideológica, cultural e moral contra as HQs, explicando-se como o processo de grande e rápido crescimento desse mercado gerou um surto censório e persecutório de ataques aos quadrinhos.

HUTCHEON, Linda. Uma teoria da adaptação. Florianópolis: Editora da UFSC, 2011.

Nessa obra, a autora apresenta uma proposta de análise das relações dialógicas e intertextuais passíveis de estabelecer nos diferentes meios, considerando, além 36

da literatura e do cinema, outras possibilidades, como a ópera, o video game, os musicais e o teatro.

KOSHIYAMA, Alice Mitika. Monteiro Lobato intelectual, empresário, editor. São Paulo: Edusp, 1982.

O livro consiste em uma grande bibliografia sobre Monteiro Lobato, mas se diferencia dos demais e ganha grande destaque por estudar a importância do escritor para a indústria editorial no Brasil. A autora, além de escrever seus livros, passou a editá-los também, como um meio de divulgar sua própria obra literária.

Apresentando reproduções de imagens da época, o livro aborda as dificuldades encontradas pelo empresário na produção e divulgação de livros, seu contexto histórico e seus erros e acertos em um mercado literário que ainda estava no início de sua consolidação.

LUYTEN, Sônia M. Bibe (org.). Histórias em quadrinhos: leitura crítica. São Paulo: Edições Paulinas, 1984.

Nessa obra precursora, organizada por Sônia Luyten, pioneira dos estudos acadêmicos e do ensino universitário das HQs, sublinha-se o valor educacional e as possibilidades pedagógicas das HQs no quadro de uma reorientação do olhar, procedendo-se a uma leitura crítica cujos propósitos mais evidentes são três: deixar de tomar as HQs como tendo um estatuto cultural e estético inferior (sub-literário ou subartístico), recuperar e valorizar o patrimônio dos quadrinhos brasileiros e apresentar suas potencialidades didáticas.

MCCLOUD, Scott. L’Art Invisible: Comprendre la Bande Dessinée. [Paris]: Vertige Graphic, 2000.

Nessa obra, originalmente publicada em inglês com o título Understanding Comics: the Invisible Art, o reconhecido autor de HQ Scott McCloud explica, de uma forma acessível e apelativa (tanto no texto quanto no desenho), os mecanismos que regem o funcionamento do universo HQ. Pela mão e pela arte de McCloud, o leitor é iniciado de modo inteligente e cativante no mundo e no pro37

cesso de composição, leitura e interpretação das HQs, descortinando os segredos não só dessa forma específica e autônoma de arte e de narrativa literária mas também da cultura visual tomada no seu sentido (ou nos seus sentidos) mais amplo(s). Tal como o livro seminal de Will Eisner, esse volume tornou-se num clássico contemporâneo. Existe uma edição brasileira, Desvendando os quadrinhos, publicada pelo MBOOKS em 2004.

MILLER, Ann. Reading Bande Dessinée: Critical Approaches to French-language Comic Strip. Chicago: Intellect Book, 2007.

Ann Miller procede nesse livro a uma análise da banda desenhada (bande dessinée) franco-belga, convidando o leitor ao seu estudo como uma arte narrativa visual. Para isso, a autora insere seu itinerário interpretativo inscrevendo as HQs no contexto das discussões em torno da sua legitimidade como manifestação artística, examinando suas implicações culturais, o panorama sócio-histórico de seu aparecimento e afirmação e sua relação com a subjetividade corporal.

PENNAC, Daniel. Como um romance. Lisboa: Asa, 1992.

Nessa obra, o professor e romancista Daniel Pennac apresenta, com bom humor, as diferentes maneiras de abordar a leitura no processo educativo e formativo, com seus conflitos, temores e bloqueios. Acima de tudo, de acordo, com o autor, a leitura deve ser um prazer e os leitores da atualidade têm de usufruir de alguns direitos inalienáveis: como o direto de soltar páginas, não acabar um livro, reler, amar os “heróis” dos romances, ler não importa onde, ler em voz alta e não falar do que leu.

RAMA, Angela; VERGUEIRO, Waldomiro (org.). Como usar as histórias em quadrinhos na sala de aula. São Paulo: Contexto, 2014.

Quebrando preconceitos, contextualizando abordagens e propondo metodologias, esse livro fornece um conjunto de exemplos e de recursos para utilização das HQs em contexto escolar, orientando um discurso verdadeiramente multidisciplinar, colaborativo e bem suportado cientificamente para educadores e forma38

dores com interesse em explorar vias pedagógicas e universos referenciais ricos e interessantes, sem o compromisso do rigor e da qualidade.

REIS, Carlos. Dicionário de estudos narrativos. Lisboa: Almedina, 2018.

Sem narrativas, orais ou escritas, não sobreviveríamos, porque nossa experiência do tempo, do espaço e da relação com os outros ficaria irremediavelmente mutilada.

Essa obra apresenta termos e conceitos sobre o estudo da narrativa no campo da literatura mas também a respeito do contexto televisivo, jornalístico e de outras mídias.

RENARD, Jean-Bruno. A banda desenhada. Lisboa: Editorial Presença; São Paulo: Livraria Martins Fontes, 1981.

Essa obra é pioneira no tratamento às HQs como objeto de abordagem reflexiva e de estudo, dentro e fora da academia. É um dos primeiros livros a dedicar-se às HQs e a reconhecer-lhes um estatuto adquirido susceptível de ser abordado academicamente. Jean-Bruno Renard procura fornecer ferramentas e sistematizar formas de enquadramento e interpretação que possibilitem aos leitores uma análise das HQs nos seus fundamentos sob três pontos essenciais: o trajeto histórico, as técnicas e códigos de linguagem e o papel social e cultural no contexto do último quartel do século XX. SANTOS, Nelson Ricardo Cândido dos. Conto. In: DICIONÁRIO DA TEORIA LITERÁRIA E ESTÉTICA DE MONTEIRO LOBATO. [S. l.: s. n], [20--?]. Disponível em: http://dicionariodemonteirolobato.blogspot.com/2007/03/conto.html. Acesso em: 15 jan. 2021.

O blog elenca diversas citações de Monteiro Lobato sobre diversos assuntos, incluindo sua preferência pelo gênero narrativo “conto”.

SARTRE, Jean-Paul. Que é a literatura? São Paulo: Ática, 1993.

Nessa obra, Jean-Paul Sartre se propõe a refletir sobre o pacto entre o escritor e o leitor, desconstruindo o ideário romântico, que circundava a escrita e tornava o escritor um ente especial, quase mítico. Autor estimado por seus ensaios literários e filosóficos, Sartre nunca deixou de ser um escritor engajado politicamente e 39

sempre entendeu a literatura como estreitamente relacionada, cúmplice, testemunha ou crítica da condição humana em sociedade.

ZINK, Rui. Literatura gráfica? Banda desenhada portuguesa contemporânea. Oeiras: Celta Editora, 1999.

Nesse livro, que corresponde a uma versão da sua tese de doutorado, o pesquisador e professor universitário Rui Zink procede a uma exploração das histórias em quadrinho observando, descrevendo, questionando e dialogando com as dimensões literárias das HQs como peças narrativas de índole gráfica. O autor contesta a assimilação imediata das HQs como produto de comunicação de massas, defendendo que suas riquezas e diversidades morfológicas, estilísticas e temáticas convocam uma capacidade criativa muito mais vasta do que aquela que tende a ser restrita ao registo editorial na imprensa periódica. Por outro lado, Zink procura desmontar os estereótipos que persistem em associar as HQs a uma literatura menor, desinteressante, simplista ou dedicada exclusivamente a um público infantil.

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Ficha técnica do material Elaborado por Maria Schtine Viana Direção-geral Vicente Tortamano Avanso

Direção editorial Felipe Ramos Poletti

Supervisão editorial Gilsandro Vieira Sales

Edição Paulo Fuzinelli

Assistência editorial Aline Sá Martins

Auxílio editorial Marcela Muniz

Apoio editorial Maria Carolina Rodrigues

Supervisão de artes Andrea Melo

Editoração eletrônica Daniela Capezzuti

Supervisão de revisão Dora Helena Feres Revisão Elis Beletti, Gabriel Ornelas

e Martin Gonçalves