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“Eu precisei   tomar muitas DECISÕES na minha vida. E,    talvez, a mais  importante de  todas foi: ser     sempre eu      mesmo.”

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CAPÍTULO 3

De quais matérias escolares você gosta?

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Quando estava na escola, gostava de poucas matérias. História e Educação Física eram as que mais me agradavam. E sempre pensava comigo:

“Estou ferrado! Qual trabalho eu conseguiria desenvolver a partir dessas duas matérias? Qual profissão bem remunerada exigiria conhecimentos de História ou Educação Física?”.

Eu nunca consegui decorar os conteúdos escolares para fazer provas. Isso me cansava muito, pois tinha que estudar mais que a maioria. Por algum tempo, até acreditei que meu Q.I. era menor, visto que os outros colegas da sala decoravam a matéria com facilidade.

No meu caso, era necessário estudar, estudar e estudar para que eu pudesse entender o que havia lido e, só depois, responder com as minhas palavras, mesmo que isso me fizesse tirar notas mais baixas. Nunca fui um aluno nota 9 ou 10, aliás, sempre tirava notas medianas ou um pouco acima da média.

Eu, até meus 17 anos, praticava muitos esportes, precisamente o futebol. Jogava bola na escola e também em uma escolinha especializada cuja mensalidade era arcada por minha avó. Cheguei até a jogar no Ituano (categoria de base) e realmente sonhava em ser um jogador de futebol profissional!

Porém, nem sempre os sonhos tornam-se realidade, pois, para isso, é necessário, além de tempo e dedicação, aptidão. Sem a aptidão, ainda que haja muito esforço, dificilmente os sonhos irão se concretizar.

No futebol de salão eu jogava muito bem nas posições de zagueiro, fixo ou goleiro, pois saía jogando muito com os pés e ajudava demais o meu time. Eu me sentia muito bem nessas posições, até porque fazia bons jogos, e, consequentemente, ganhava vários campeonatos. Já no gramado, eu jogava como meio-campo, pois tinha visão de jogo e colocava meus colegas atacantes em situações de gol.

Porém, tanto no futebol de salão como no de campo eu era um atleta mediano, assim como na escola. Ou seja, nunca me sobressaía a ponto de fazer jogos espetaculares que pudessem atrair o olhar de algum empresário.

E novamente vinha a pergunta que me deixava sem chão:

“O que eu vou ser na vida? Das matérias de que gosto na escola pouco conseguirei usá-las na vida real. No futebol, não sei em que posição jogar, pois sou ‘’mais ou menos’’ em tudo que faço. O que fazer da minha vida?”.

Não me tornei jogador de futebol, historiador, professor de Educação Física ou personal trainer. Quando conclui o Ensino Médio na escola pública, sabia que não era bom em Matemática, Português, Geografia, Física e Química. Diante disso, qual curso superior poderia fazer? Para qual área de atuação poderia enviar currículo ou tentar um trabalho? Não sou excelente em nada, aliás, sou bem limitado. O que fazer?

Foi bem aí que tudo começou a fazer sentindo.

Consegui um trabalho em uma usina de cana e açúcar chamada WD, em Minas Gerais. Lá, fui ferramenteiro, ou seja, cuidava do estoque de ferramentas. As pessoas que trabalhavam nessa usina retiravam pela manhã suas ferramentas e as devolviam ao final do dia. Era esse o meu trabalho: emprestar ferramentas e fiscalizar se todos as tinham devolvido ao término do dia.

Nesse cargo, percebi por que a História era uma importante disciplina escolar. Por muitas vezes, em determinados momentos do dia, eu ficava ocioso. Então, nesses momentos, eu fechava a ferramentaria e ajudava outros funcionários, como torneiros, soldadores, caldeireiros, entre outros. Quando abordava um

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26 desses colegas, eu fazia inúmeras perguntas e os questionava se poderia auxiliálos, como eles começaram em seus respectivos cargos, quais eram as tarefas mais difíceis ou mais fáceis em suas atividades, como faria para alcançar o mesmo que eles etc. Diante dessas perguntas, eles acabavam contando suas histórias. Aliás, quem não gosta de falar um pouco de si? E, dessa forma, além de fazer colegas na empresa, eu ainda aprendia coisas novas e reconhecia como a matéria de História, que se fundamenta em questionamentos, e a Filosofia, que traz reflexões sobre muitas interrogações, são importantes para a vida.

Porém, até então não tinha ficado clara a serventia das matérias de Educação Física e História para mim. Clareou, mas não ao ponto de decolar a minha trajetória profissional.

Após um curto período nessa usina, percebi que, se eu quisesse chegar ao cargo de gerente geral ou diretor na usina, precisaria cursar Química, que eu odiava, bem como dominar tecnicamente muitas funções estratégicas lá dentro. Ou seja, seriam necessários de 15 a 20 anos de trabalho para chegar a esse posto e, ainda, com possibilidades de não alcançá-lo. Também, como não havia um processo de trainee na usina, seria necessário que alguém do topo saísse para que a vaga fosse aberta. E eu sempre quis crescer rápido, ganhar acima da média do brasileiro e ter tudo que minha família não teve condições: carro zero, salário acima dos R$10.000,00, casa rebocada, com portão automático e em um bairro que não fosse periférico ou em algum condomínio fechado.

Eu estava morando em Patos de Minas, estudando Gestão Ambiental e fazendo estágio na prefeitura. Optei por Gestão Ambiental porque sou Goiano e sempre vivi desde menino na roça. Minas Gerais é puro verde, e precisava focar em um curso que tivesse campo de atuação no estado em que morava, bem como coubesse no orçamento. Engenharia Ambiental saía do orçamento e fazer ENEM também era bem difícil. Sempre fui um aluno mediano e alunos medianos não passam no ENEM. A alternativa era estudar, mas aluno que estuda em escola pública e que até os 18 anos leu apenas um ou dois livros gosta de estudar?

Meus colegas do curso de Gestão Ambiental eram muito legais e o clima da sala era harmonioso. Havia matérias de que gostava muito, como Marketing, mas outras, aproximadamente 80%, não. Como estava em Minas Gerais, precisava achar um curso que contivesse “verde” para estudar. Porém, não estava me encontrando novamente.

Em um belo dia de dezembro, fui passar as festas de final de ano em Salto, interior de São Paulo, onde minha mãe morava. Ela, então, aconselhou-me:

“João, volta! Já pensou na diferença entre um estudante de Administração de Empresas que trabalha em uma renomada concessionária e um estudante de Gestão Ambiental que faz estágio na prefeitura? Pense, meu filho!”.

Eu não acho nenhuma profissão inferior e todas são úteis para a população. No entanto, esse foi um “start”, momento em que pude refletir que não estava sendo eu mesmo. Minha mãe, muito sábia, realmente sabia o que eu queria, pois seu conselho foi como música para os meus ouvidos.

Então, voltei para Salto, concorri para uma vaga em uma renomada concessionária e me inscrevi na faculdade para cursar Administração. Nesse período, minha avó me ajudava a pagar a faculdade e dizia que só faria isso caso eu cursasse Direito ou Administração, pois a mensalidade não ultrapassava R$500,00.

No momento de escolher o curso, novamente veio uma interrogação e a mesma pergunta que me corroía a alma voltava a ser feita: “João, você sabe o que quer da vida?”.

Pensei por um momento em fazer Engenharia Mecânica, pois todas as minhas atribuições no trabalho giravam em torno de pós-venda, oficina, peças, serviços mecânicos – este era o ar que eu respirava. Mas dessa vez eu ouvi minha mãe e minha avó e fiz Administração de Empresas. Graças a Deus elas estavam certas!

Entrei na concessionária como garantista, que é um cargo no qual tinha a tarefa de pegar as informações com os técnicos mecânicos e intermediá-las com os engenheiros da fábrica, tendo como foco fornecer garantia do problema para o cliente. Saí de lá como coordenador geral, aos 23 anos.

Durante esse tempo, entendi que a matéria de História assemelhava-se à área comercial e que Educação Física me trazia um espírito de trabalho em equipe e desenvolvia minha habilidade de ser competitivo, ou seja, de fazer o meu melhor a cada dia.

As perguntas corretas feitas às pessoas certas trazem resultados. Para a área comercial, você precisa perguntar ao cliente o que ele busca e, após saber isso, atender às suas necessidades. É simples! E isso foi o que a matéria de História me ensinou. Já a Educação Física me fez compreender que é preciso realizar um trabalho coletivo, cada um fazer sua função e lutar para chegar ao topo. Em um ambiente empresarial, pessoas que têm bom relacionamento interpessoal trazem resultados e são elas que, muitas vezes, tornam-se líderes. Perceba o trabalho de um técnico de futebol. Ele deve observar bem os jogadores, saber o que cada um tem de melhor e, em um trabalho conjunto, buscar a vitória. Para isso, precisa gostar de estar no meio de pessoas, gostar de se comunicar e de direcionar todos

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a um único objetivo. Todas essas competências são, aos poucos, desenvolvidas quando se pratica esportes coletivos nas aulas de Educação Física.

Após esse entendimento, fiquei seguro e consciente de que eu tinha que atingir o meu objetivo profissional/financeiro focando em profissões que necessitassem ter essas habilidades: comunicação, liderança, área comercial e trabalho em equipe. Com 25 anos entrei como trainee no Atacadão (Atacadista do Grupo Carrefour), e foi onde realmente encontrei minha área de atuação.

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