Manual de Pesquisa Clínica Aplicada à Saúde

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Manual de pesquisa clínica aplicada à saúde

Saúde Pública e Coletiva, pois as investigações produzem cortes instantâneos, como se fossem uma fotografia (snapshot), sobre a situação de saúde de uma população ou comunidade, fornecendo informações sobre distribuição e características do evento estudado, o que produz indicadores globais de saúde para o grupo investigado. Por esse motivo, podem ser úteis para a avaliação e o planejamento das necessidades de serviços de saúde, ao mapeamento de uma população para melhor caracterizá-la, ou para criação de programas de promoção de saúde. Os estudos transversais podem ser aplicados com o intuito de inferir causa e inves­ tigar a associação entre fatores de risco e efeito, contudo, devido à exposição e ao desfecho serem avaliados simultaneamente, isso não é possível. Em um ponto no tempo, os sujeitos são avaliados para determinar se foram expostos ao agente a ser estudado e se apresentam o desfecho de interesse. Além disso, caracteriza-se por ser um estudo rápido e de baixo custo, potencialmente descritivo e de simples análise, porém com baixo poder de evidência científica e muito vulnerável a vieses. Os vieses, ou biases, são decorrentes de erros sistemáticos que ocorrem durante o planejamento e/ou a execução do estudo. No caso dos estudos transversais, um exemplo de viés durante o planejamento é não ter clara a definição dos parâmetros de diferenciação de uma população, o que a torna igual, mesmo esta não sendo. O viés de execução pode ocorrer quando um grupo de indivíduos deixa de responder ao questionamento, seja por medo de exposição ou por possuir opinião diferente. Nesse caso, apenas o grupo que compactua com as ideias irá responder, não sendo possível ter uma amostra representativa, assim haverá um mesmo padrão de respostas. O viés de seleção prejudica a validade interna do estudo; o viés de resposta, a validade externa. Os estudos transversais têm como principais vantagens: poderem citar sua contribuição aos estudos de etiologia de doenças, principalmente doenças de início insidioso e de longa duração; serem capazes de estimar a proporção de expostos na população e não apresentarem perda de acompanhamento. Apenas um grupo é observado, as mensurações são realizadas apenas uma vez, entretanto, múltiplas exposições e desfechos podem ser analisados. Esses estudos podem fornecer subsídios para estudos mais complexos, auxiliando a “geração de hipóteses”. Porém, como todo estudo, também apresenta algumas desvantagens, tais como a dificuldade de estabelecer relação causal ou relação temporal entre exposição e efeito e ter baixa utilidade em eventos raros. Em situações de emergência em Saúde Pública, como nos casos mais recentes da pandemia do vírus influenza H1N1, ou da epidemia do Ebola em países africanos, a tomada de decisão deve ser rápida e certeira para evitar a morte, seu pior desfecho. Depois sim, poderão ser realizados novos estudos a fim de se estabelecer a melhor conduta terapêutica e até mesmo para esclarecer a evolução da doença. Além do rigor em que se deve estabelecer a amostra para que ela seja representativa, é necessário que sejam definidos claramente os limites da sua população, e recomenda-se o emprego de instrumentos simplificados, equipes bem treinadas, a fim da coleta de dados ser realizada o mais rápido possível, pois se por dificuldades operacionais o tempo de coleta for muito estendido, o pesquisador poderá se deparar com problemas metodológicos graves.

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