Oliver Reimann

Page 1

Oliver Reimann


Este trabalho se trata de um exercício da disciplina de História do Design da Universidade Federal de Pernambuco, no primeiro semestre de 2015, ministrada pela prof. Dra. Oriana Duarte, com monitoria da aluna Hannah Sá. A proposta foi desenvolver uma narrativa ficcional ambientada na escola Bauhaus na primeira metade do século XX e tem como objetivo uma outra possibilidade de apreensão do saber histórico. Os conteúdos apresentados aqui não devem ser usados como documentos históricos

Produzido por :

Edilene Mendes

Caroline Lima


1924

Querida irmã, Eu gostaria de começar essa carta pedindo-lhe desculpas por ter ido embora dessa maneira. Eu precisava de um tempo para mim, e cuidar de você e da sua família estava me consumindo. Contudo, eu sabia que você conseguiria lidar com isso sem mim. Estou tentando me desculpar lhe contando, através dessa carta, o que tem me acontecido desde que vim para cá. Quando eu saí de Frankfurt, em 1920, sabia da existência de uma escola de artes aplicadas e arquitetura na qual o ensino era diferente das escolas existentes e que parecia promissor. Foi quando cheguei aqui a Weimar que eu entrei da Bauhaus, e tenho que te dizer, tudo foi e ainda é incrível. O meu primeiro estágio foi o Vorkurs, onde meu mestre era o tten, e ele me deixou muito inspirado para continuar a pesquisar e estudar sobre as artes e a arquitetura em suas aulas. Apesar de chamadas de aulas, não é exatamente o que acontece aqui. Aqui não há um professor de quem os alunos recebem o conhecimento, todos juntos buscamos isso de formas mais práticas que teóricas. E foram nessas aulas que eu aprendi coisas como conceitos de cores, formas e texturas. Além de, é claro, ter conhecido várias pessoas, incluindo pessoas que vieram de outros países, o que de fato me surpreendeu, visto que é incomum a presença de estrangeiros para nosso país por não serem muito bem vindos pelas pessoas mais tradicionais.


Weimar,1924 Eu sempre penso muito em você, cara irmã, enquanto estou aqui. Lembro-me de você frequentemente quando vejo que aqui na Bauhaus as mulheres também podem estudar, aprender e contribuir. De fato, suas habilidades de tecelagem seriam muito bem quistas por aqui. Bom, de qualquer forma, depois de passar pela Vorkurs, decidi seguir para a oficina de carpintaria/marcenaria com Walter ropius, que na verdade é ninguém menos que o fundador e diretor da Bauhaus, e também com meu amigo e parceiro Marcel Breuer. E juntos, nós fizemos inúmeros projetos nessa cadeira, que nomeamos Wood-Ripas. Meu parceiro, porém, foi embora para Paris há algumas semanas após nossa formatura. E eu continuo aqui, minha irmã, dando palestras e trabalhando com ropius na oficina com os alunos mais novos. Desejando que você e sua família estejam bem, Oliver Reimann


Querida Irmã

Escrevo-lhe agora de um endereço diferente. Mudei-me para Dessau quando a Bauhaus trocou de endereço por ter sido acusada de bolchevismo e judaísmo. Mas, não se preocupe, tudo ainda está dando certo. Gropius me convidou para que eu o substituísse como professor após a mudança e eu não pude recusar essa oferta tão honrosa. Os que continuaram na escola nos acompanharam e nós recebemos novos alunos por aqui. Não se preocupe com minha saúde e estadia, saiba que estou bem, estou saudável e tenho uma casa aqui onde morar. É a chamada Casa dos Mestres, onde nós mestres da universidade moramos. Eu realmente gostaria, minha irmã, que você pudesse estar aqui vivenciando tudo isso comigo. É muito empolgante e satisfatório ensinar o que eu sei a esses alunos interessado, ao mesmo tempo em que aprendo com eles. A oficina em que eu estou trabalhando agora se chama Oficina de Móveis, e é nela que eu tento passar aos meus alunos o que a Bauhaus tem que melhor. Inovação, tecnologia, estímulo ao senso crítico e à criatividade são só alguns dos métodos utilizados no ensino aqui na Bauhaus. É incrível como a proximidade em os mestres e os alunos e a união entre arte e artesanato resultam em resultados realmente satisfatórios. Afinal, as peças produzidas são feitas após trocas de experiência que fazem com que elas alcancem o auge da qualidade funcional.


Casa dos mestres- Dessau, 1926

E, além de serem normalmente criadas em materiais leves e não ocuparem mais espaço que o necessário, essas peças desenvolvidas ainda podem ser produzidas em larga escala. Estou, minha irmã, muito orgulhoso do meu trabalho e do trabalho dos meus companheiros e alunos. E acredito que não vá demorar para que você possa encontrar móveis criados e produzidos por nós aí em Frankfurt. Espero receber sua uma carta quando chegar esse momento, me contando o que achou do nosso trabalho. Espero que vocêesteja bem, e também a sua família.

Oliver Reimann


1928

Querida irmã, Expresso nessa carta a minha preocupação com o que acontecerá daqui para frente com a universidade e comigo. Recentemente, ropius declarou que deixaria de ser diretor da Bauhaus e isso deixou muitas pessoas chocadas. É um pouco preocupante, considerando que ele é o criador da Bauhaus e a administrou até agora. Eu ainda não sei o que acontecerá, minha irmã, mas espero lhe mandar boas notícias em breve. Os motivos dados por ropius, porém, foram bem condizentes com a decisão dele. Aparentemente, ele não estava recebendo tanto apoio por suas decisões políticas. Pelo que ele me falou, o governo parece acreditar que Modernismo é algo que se aproxima demais do comunismo para que seja considerado inofensivo. Além, é claro, de todo o desgaste que ele sofreu até então, nesses nove anos de Bauhaus, sendo responsável por todas as funções administrativas da universidade. Então, segundo ele mesmo, ropius decidiu deixar a escola enquanto ela está indo tão bem, enquanto está tão estável. A maturidade e a experiência da universidade me dão esperança de que vai dar tudo certo nessa nova fase da Bauhaus, sob direção de Meyer, e esperamos que os atritos entre a Escola e o governo diminuam, de forma a não atrapalhar o futuro promissor que a Bauhaus com certeza terá. Mas, estamos todos esperando que ropius possa seguir com seus outros objetivos, como, por exemplo, voltar a realizar seus próprios projetos e ser mais livre no exercício da sua tão amada profissão, ao invés de se prender à administração da universidade.


Minha Wassily, conhecida como Modelo B3

1926

Bauhaus Balconies,1926

De qualquer forma, minha irmã, mesmo estando preocupado com o que acontecerá a seguir, eu tenho esperanças de que meu papel aqui não mude, pois eu gosto muito do que faço e sinto que continuo progredindo. Estou com saudades, de você e de sua família, e gostaria que vocês pudessem me visitar em breve. Dê-me notícias sobre tudo o que acontece por aí. Saudosamente, Oliver Reimann


1929

Querida irmã, Preciso dizer-lhe que minhas suspeitas e meus medos se concretizaram. Desde a mudança de direção, as coisas têm sido diferentes por aqui. Tenho assistido tristemente todas as mudanças que vêm ocorrendo e sinto como se estivesse perdendo uma parte de mim. Uma parte essencial, importante. A Bauhaus não é mais a mesma, a universidade está perdendo todo o espírito, tudo o que a faz ser especial e diferente. Vejo a ciência se separando cada vez mais da arte e lembro-me de tudo o que ropius desejava para a universidade, e tudo só me entristece. ropius realmente levou com ele todo o sentido, toda a razão de existir da Bauhaus, que antes era uma escola, onde mestres e aprendizes podiam construir conhecimento juntos, e agora não passa de uma academia de arquitetura com seções anexas de desenho. Tudo o que construímos, minha irmã, eu vejo se perdendo. A Escola já estava consolidada, era um centro onde projetávamos e produzíamos protótipos de produtos para a indústria, com o objetivo de conseguirmos independência do dinheiro público. Hannes, porém, em sua direção, está destruindo tudo o que foi construído de forma cruel. Antes, nossos alunos tinham contato com o artesanato e, mesmo que os projetos fossem discutidos em grupo, suas produções eram individuais, e todos participavam e aprendiam sobre cada processo da realização de suas ideias. Hoje, porém, todos estão distantes de tudo o que está sendo feito, criando as coisas em modo de produção, sem nenhum amor à arte envolvido na criação.


Dessau, 1928 Hoje, minha irmã, eu lhe escrevo essa carta decepcionado com o que foi perdido. Eu lhe deixei e deixei nossa cidade e me mudei para descobrir a Bauhaus e começar a viver um sonho. Comecei como aluno, a acompanhei em sua mudança me tornando um docente, passei pela renúncia de ropius e assisti a queda de toda uma ideologia. Não sinto mais que essa é a Bauhaus que foi, por um breve, porém intenso, período de tempo, a minha vida. Por isso, estou me demitindo e voltarei a Frankfurt em breve. Recebi uma proposta de emprego em um lugar perto da cidade e a aceitei. Espero ver você e as crianças em breve. Com amor, Oliver Reimann


Referências

BAUHAUS ONLINE. Marcel Breuer (-Hecht). <http://bauhaus-online.de/en/atlas/personen/i Marcel-breuer-hecht> PROFESSOR RICARDO ARTUR CARVALHO. História do Design I. <http://ricardoartur.com.br/historia/files/2012/11/Aula08-Bauhaus2.pdf> PUC-Rio. Bauhaus. <http://www2.dbd.puc-rio.br/pergamum/tesesabertas/0210198_04_cap_05.pdf> ENCICLOPÉDIA ITAÚ CULTURAL. Bauhaus.



Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.