300 dias de bicicleta: 22 mil km de emoções pelas Américas

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INTRODUÇÃO Que dia é hoje mesmo? Faz semanas que estou pedalando pelos Andes peruanos, passando diariamente por estradas de terra sinuosas, atravessando passos gigantescos e cruzando vales profundos com rios caudalosos. Passo os dias sozinho. Raramente a estrada corta algum pequeno vilarejo andino ou alguma chácara isolada. De longe, avisto campos coloridos que formam uma espécie de mosaico onde pastam lhamas e alpacas. Em poucas horas atravesso zonas climáticas muito diversas e com a mais variada vegetação. Paisagens áridas e pedregosas alternam-se com prados de verde intenso e regiões subtropicais, com cactos e arbustos. Nas áreas mais baixas, passo por bananais, mangueiras e mamoeiros. Para enfrentar o frio intenso acima de 4.000 m, necessito de luvas, casaco de inverno e gorro de lã. Em compensação, nos vales, com 30 graus à sombra, o suor escorre pela pele. É comum que os grandes rios corram ao lado das estradas. Com o tempo, suas águas indomadas cavam fendas profundas em flancos tão íngremes que passar de bicicleta por ali torna-se extremamente difícil. Olho rapidamente para trás e fico petrificado de susto. Três homens com pedaços de pau na mão correm atrás de mim e gritam: “Pare, gringo!” Uma descarga de adrenalina percorre minhas veias, pedalo com mais força e tento escapar. Recordo imediatamente as muitas histórias que ouvi sobre assaltos na América Latina e fico tenso. Meu pulso atinge o limite máximo e as mãos, agarradas às manoplas do guidão, ficam totalmente contraídas. Só então ouso dar mais uma olhada no retrovisor e vejo três jovens com varas de pescar improvisadas, feitas de bambu, e um pequeno cão, todos correndo atrás de mim. “De onde você vem e para onde vai?”, pergunta um dos garotos quando paro e eles me alcançam. “Não quer dar uma parada aqui no nosso vilarejo para descansar?” Quinze minutos mais tarde estamos – eu e minha bicicleta – na praça de La Esmeralda, na Cordilheira de Vilcabamba, rodeados por cerca de dez crianças. “Quer comer figo-da-índia?”, pergunta um

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