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“O Dito e o Feito”: A saúde reprodutiva da mulher no distrito de Jacy-Paraná, município de Porto Velho-RO

Fernanda Pereira Batista GUIMARÃES Bacharel e Licenciada em Enfermagem Fundação Universidade Federal de Rondônia – UNIR / Ex - Bolsista do PIBIC/CNPq / Brasil Fernandap_batista@hotmail.com Profª. Drª. Kátia Fernanda Alves MOREIRA Orientadora e Coordenadora do Projeto de Pesquisa. Drª em Saúde Coletiva do Departamento de Saúde Coletiva, da Fundação Universidade Federal de Rondônia – UNIR / Brasil katiaunir@gmail.com

Resumo Este artigo buscou investigar as características sóciodemográficas e a saúde reprodutiva das mulheres residentes no distrito de Jacy – Paraná, Porto Velho-RO. O presente estudo é constitutivo de projeto maior, de cunho transversal, na forma de inquérito de saúde domiciliar, realizado em junho e julho de 2009 no Distrito. Do total de 966 domicílios, 663 informantes (68,6%) eram do sexo feminino e encontravam-se em idade reprodutiva (55,5%), em união estável (76,3%) e com ensino fundamental (58,8%). As atividades domésticas foram referidas por 49,5%, com renda de um a dois salários mínimos (51,5%). Em relação à Saúde Reprodutiva, 59,0% não utilizavam contraceptivos, 32,4% informaram de um ou mais episódios de abortos, 54,1% não tiveram as mamas examinadas por profissional de saúde. A mamografia foi realizada por 20,6% dessas com intervalo igual há 12 meses (39%) 66,8% relatam não usar preservativos durante as relações sexuais. O exame colpocitológico foi referido por 82,2% das mulheres entrevistadas. Os resultados obtidos permitiram conhecer e descrever a realidade da saúde reprodutiva das mulheres do distrito. Além disso, proporciona a realização de outras pesquisas, para evidenciar a melhoria da qualidade da atenção à saúde reprodutiva das mulheres. Palavras-chave: Planejamento Familiar, Saúde da Mulher, Políticas Públicas.

Abstract This article investigates the sociodemographic characteristics and reproductive health of women living in the district of Jacy - Paraná, Porto Velho-RO. This study is the incorporation of larger project, the transverse seal in the form of home health survey, conducted in June and July 2009 in the District. A total of 966 households, 663 respondents (68.6%) were


female and were of reproductive age (55.5%) in stable (76.3%) and education (58, 8%). Domestic activities were reported by 49.5% with an income of two minimum wages (51.5%). Regarding Reproductive Health, 59.0% did not use contraceptives, 32.4% reported one or more episodes of abortions, 54.1% had their breasts examined by health professional. Mammography was performed for 20.6% of those with an interval equal to 12 months (39%) 66.8% reported not using condoms during sexual intercourse. The smear test was reported by 82.2% of women. The results helped to understand and describe the reality of women's reproductive health in the district. It also provides the other research to highlight the improved quality of reproductive health care for women Keywords: Family Planning, Women's Health, Public Policy.

1.Introdução

O

programa de saúde materno infantil criado no final dos anos 60 enfocava prestar assistência aos filhos das mulheres que não tinham acesso aos serviços de saúde, constituindo a atenção pré-natal a única ação de caráter universalista com relação à saúde da mulher (VILLELA & MONTEIRO, 2005). Já o Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher (PAISM), criado em 1983, inclui em sua pauta o planejamento familiar como política pública, e por isso, considerado um marco para a saúde da mulher brasileira (Brasil, 2005; OSIS et al., 2004). De acordo com o PAISM, mulheres, homens ou casais têm autonomia para decidirem quantos filhos querem ter e quando querem tê-los; a autonomia na escolha dos métodos e do controle da fecundidade deve ser garantida através da educação em saúde e sexualidade, assim como através da oferta dos métodos contraceptivos (MAC) (naturais ou comportamentais; de barreira; hormonais; Dispositivo IntraUterino - DIU e irreversíveis) e a atenção em Planejamento Familiar (PF) deve ser realizada no contexto da atenção à saúde, sob as diretrizes do princípio de integralidade da saúde (COSTA et al., 2006; OSIS et al., 2004). Em 2004, o Ministério da Saúde (MS) lançou a Política Nacional de Assistência Integral à Saúde da Mulher (PNAISM), uma espécie de versão atualizada do PAISM, que incorpora o debate dos últimos 20 anos e amplia conceitos, enfoques e propostas. A política dá ênfase a questões que haviam sido pouco abordadas anteriormente, como à saúde mental, ao climatério, à participação masculina no planejamento familiar, à saúde das mulheres lésbicas, trabalhadoras rurais, negras, indígenas, adolescentes e mulheres em situação prisional. Em seu texto, faz-se referência explícita a importância do gênero como instrumento conceitual e político para a compreensão das formas de adoecimento de homens e mulheres, inclusive aquelas relacionadas com a vivência da sexualidade e da reprodução (Brasil, 2004). A assistência à saúde das mulheres brasileiras vem apresentando avanços nas últimas décadas, mas existem ainda descompassos entre os avanços na formulação de leis, normas, diretrizes e políticas voltadas à saúde sexual e reprodutiva e à garantia dos direitos reprodutivos. Dentre esses descompassos, tem-se: a manutenção de índices elevados de


mortalidade materna; significativa morbimortalidade feminina em conseqüência de abortamentos inseguros; baixa participação masculina no planejamento familiar; falta de serviços que ofereçam atenção à infertilidade; dificuldades de acesso a recursos para o diagnóstico precoce do câncer de colo uterino e mama (TAVARES et al., 2007). Uma adequada saúde reprodutiva não depende somente do acesso à contracepção, mas também nas consultas de pré e pós-natal, pois estas são ótimas oportunidades para a promoção de orientação e tratamento em saúde da mulher em geral, ou seja, no diagnóstico, prevenção e tratamento de anemia, infecções e Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST), entre outros. (KHELA et al., 2004). É relevante, portanto, que se obtenham informações sobre o perfil da saúde reprodutiva da mulher residente na zona rural do município de Porto Velho-RO, o que fornecerá subsídios concretos para que os serviços de saúde possam atuar de forma mais efetiva na população. Este artigo buscou descrever as características sócio-demográficas e reprodutivas das mulheres do Distrito de Jacy–Paraná, situado a 93 Km do município de Porto Velho-RO as margens da BR 364 sentido Acre. Isto porque esse distrito não é mais apenas espaço de produção agropecuária, pois sofre o impacto econômico, social e de saúde com a construção da Usina Hidrelétrica (UHE) de Jirau. 2. Material e Métodos O presente estudo é constitutivo de projeto maior, intitulado “Diagnóstico e monitoramento de saúde da população do entorno da usina hidrelétrica Jirau, Porto Velho-RO” (MOREIRA et al., 2009), de cunho transversal, na forma de inquérito de saúde domiciliar. Por desconhecimento do número de domicílios existentes, trabalhou-se com a estimativa domiciliar realizada em dezembro de 2008, pelos agentes de endemias da Secretaria Municipal de Saúde (SEMUSA) de Porto Velho-RO, que contava com 1.741 domicílios na área urbana do distrito. Abaixo o mapa de localização do distrito Figura 01: Mapa da zona rural área terrestre, do Município de Porto Velho-RO

Fonte: Departamento de Atenção Básica (DAB)/SEMUSA


A coleta de dados foi realizada nos meses de junho e julho de 2009, sendo treinados 40 alunos do curso de Enfermagem da Fundação Universidade Federal de Rondônia (UNIR) para o trabalho de campo (oito alunos distribuídos entre os cinco bairros existentes na zona urbana do distrito). Os supervisores de campo eram os docentes envolvidos na pesquisa e técnicos da SEMUSA. Em cada domicílio visitado, era convidado quem atendia o entrevistador para responder as questões, desde que tivesse idade igual ou superior a 15 anos. Quando homem, respondiam os módulos sóciodemográficos, sanitário e domiciliar, Sintomas gerais e doenças referidas, Cardiorespiratório, Qualidade de vida, Acesso aos serviços de saúde. Sendo mulher, além dos módulos anteriores, respondiam também os módulos referentes a violência contra à mulher e saúde reprodutiva da mulher. Do total de 966 sujeitos entrevistados nos domicílios, 663 informantes (68,6%) foram do sexo feminino. Foi obedecido o protocolo da pesquisa com seres humanos, com aprovação pelo CEP/UNIR sob o nº 0042.0.047.000-09. Os dados foram trabalhados estatisticamente através dos programas Excel e Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) 15.0 e a análise dos resultados é apresentada em tabelas à luz da literatura pertinente. 3. Resultados e Discussões A Tabela 1 mostra a distribuição das mulheres conforme características socioeconômicas e demográficas. TABELA 1 – Características sócio-demográficas das entrevistadas. Distrito de Jacy-Paraná/Porto Velho-RO, 2009 Idade N % 15 – 35 36 – 55 56 e + Estado Civil

368 226 69 N

55,5 34,1 10,4 %

Casada/Companheira

506

76,3

Solteira Outro (viúva, separada/divorciada)

93 64

14,1 9,6

Escolaridade

N

%

54 390 174

8,1 58,8 26,3

Ensino superior Ocupação

45 N

6,8 %

Mercado formal

107

16,1

Mercado informal Empregadora (autônoma)

151 9

22,7 1,4

Aposentada Do lar Não trabalha

20 328 48

3,1 49,5 7,2 Continua

Nunca estudou Ensino fundamental Ensino médio


N

Continuação %

< 1 Salário Mínimo 1 - 2 Salários Mínimos 3 - 4 Salários Mínimos 5 e + Salários Mínimos

214 341 51 57

32,2 51,5 7,7 8,6

TOTAL

663

100

Renda Familiar

Na Tabela 1, verificou-se que 55,5% das mulheres estudadas estavam na faixa etária de 15 a 35 anos, revelando uma predominância de mulheres em idade reprodutiva. Em relação ao estado civil, 76,3% eram casadas, 58,8% possuíam ensino fundamental, evidenciado baixa escolaridade. No caso da escolaridade, existe uma relação positiva entre a elevação do nível de escolaridade e a adoção de comportamentos mais favoráveis à preservação da saúde reprodutiva (LACERDA, 2005; BRASIL, 2008). Com relação à ocupação, 49,5% são do lar. Já 16,1% trabalham no mercado formal, 22,7% trabalham no mercado informal, e 11,7% encontram-se nas categorias autônoma, aposentada e sem trabalho. Na pesquisa de Souza et al. (2006), realizada no município de Maringá, com 284 mulheres, 54,2% delas declararam exercer atividade de trabalho não remunerada. Tal fato também foi identificado por Andrade & Silva (2009), os quais constataram que 46,0% das mulheres, participantes do seu do Rio de Janeiro, não realizavam trabalho remunerado. Na distribuição das mulheres, de acordo com a renda familiar, verificou-se que das 663 mulheres, 83,7% recebiam até dois salários mínimos. Destas, 51,5% apresentavam renda familiar entre um e dois salários mínimos. Apenas 16,3% das entrevistadas relataram renda a partir de três salários. Os achados dessa pesquisa permitem supor que a maioria das mulheres que referiu não possuir ocupação remunerada era, possivelmente, dependente economicamente de seus cônjuges e/ou parceiros, exercendo o papel tradicional feminino no lar. Ou seja, que a maioria dessas mulheres se ocupava dos afazeres domésticos e cuidados com os filhos, tendo em vista que 76,3% delas viviam em união estável. Evidência esta igualmente identificada por Oliveira & Ariza (2001), ao discutirem sobre a submissão feminina e a ausência de remuneração. Verificou-se que 258 mulheres (38,9%) referiram utilizar algum MAC, enquanto 59,0% referiu não fazê-lo. Independente do estado civil das mulheres torna-se necessário lembrar a importância de orientação sobre o uso de dupla proteção, ou seja, associação de dois métodos contraceptivos mutuamente, pois existe uma concepção de que na parceria sexual fixa, o contágio por DST/ Human Imunodeficiency Virus (HIV) é remoto, agravos estes que vêm apresentando crescimento entre mulheres casadas e jovens (PANIZ et al., 2006).


Os achados desse estudo divergem da pesquisa de Paniz et al. (2006) realizada com 1991 mulheres (56,2%), em que 67,9% usavam anticoncepcional e 31,2% não. As características do contraceptivo usado pelas mulheres no distrito de Jacy-Paraná são apresentadas na Tabela 2. TABELA 2 - Distribuição do tipo de MAC usado pelas mulheres. Distrito de Jacy-Paraná, Porto Velho-RO, 2009 Tipo de MAC usado Oral

N 143

% 55,5

Injetável trimestral Adesivo tópico

12 1

4,6 0,5

DIU Laqueadura tubária

1 63

0,5 24,3

Preservativo masculino

38

TOTAL

258

14,6 100

Os métodos anticoncepcionais mais usados pelas mulheres em Jacy-Paraná são anticoncepcional oral (55,5%), laqueadura tubária (24,3%) e preservativo (14,6%). Os demais mencionados, com menor freqüência são injetável trimestral (4,6%), DIU e adesivo tópico em 0,5%, respectivamente. É importante salientar que todas as mulheres que compuseram esse estudo referiram conhecer algum MAC. Outros estudos, também, evidenciaram o conhecimento da variedade de MAC entre mulheres (Brasil, 2008; SCHOR, 2000; ESPEJO et al., 2003; OSIS et al., 2004). Estudos evidenciam que a laqueadura tubária é um dos métodos mais utilizados por mulheres brasileiras. No Programa Nacional de Demografia e Saúde da Criança e da Mulher (PNDS) (2006), 21,8% das mulheres encontravam-se esterilizadas (Brasil, 2008; DIAS-DACOSTA et al., 2002), dados semelhantes encontrados no presente estudo. Fernandes (2003) constatou esse fato em seu estudo com 400 mulheres em idade reprodutiva de 15 a 49 anos. A distribuição das mulheres entrevistadas, segundo recebimento de orientações sobre MAC, está apresentada na Tabela 3. TABELA 3 – Caracterização de quem orienta às entrevistadas sobre a utilização dos MAC, no Distrito de Jacy-Paraná, Porto Velho- RO, 2009 Quem Orienta Automedicação Balconista da farmácia Enfermeiro Médico Não informa TOTAL

N 53 20 44 134 7 258

% 20,5 7,8 17,0 51,9 2,8 100


Através desses dados, observou-se que as respostas relacionadas à indicação do uso dos contraceptivos foram variadas. O médico foi o profissional mais citado (51,9%) como fonte de orientação de MAC. Outras fontes de informação sobre MAC foram profissional enfermeiro (17%) e balconista da farmácia (7,8%). Constatou-se, ainda, que 20,5% das mulheres referiram automedicação, e que os Agentes Comunitários de Saúde (ACS) e técnicos/auxiliares de enfermagem não foram citados como fonte de orientação sobre MAC. Várias pesquisas apontam que a principal forma de atuação do profissional médico em PF é a consulta clínica (MOURA et al., 2007; OSIS et al. 2006). Schimith & Lima (2004) destacam que no Programa Saúde da Família (PSF), o médico configura-se como principal profissional que realiza o atendimento clínico, em virtude de seu processo de se pautar ainda no modelo hegemônico. A Tabela 4 apresenta o número de abortos referidos pelas mulheres em Jacy-Paraná. TABELA 4 - Distribuição de números de casos de aborto referidos pelas entrevistadas no Distrito de Jacy-Paraná, Porto Velho-RO, 2009 Aborto N % Não 427 64,5 Uma vez 142 21,5 Duas vezes 52 7,8 Três e + 21 3,1 Não informa 21 3,1 TOTAL 663 100 Do total de mulheres entrevistadas, 64,5% referiram nunca ter feito aborto, 21,5% informaram ter tido pelo menos um aborto, 7,8% relataram ter feito dois abortos e 3,1% referiram três e mais abortos. Das mulheres entrevistadas 32,4% referiram ter sofrido aborto, não sendo questionado se foi espontâneo ou provocado. No estudo de Andrade & Silva (2009), entre mulheres com 18 anos ou mais, 40% disseram ter tido aborto. Esses achados divergem dos encontrados em nosso estudo. Das 663 mulheres investigadas, 359 (54,1%) relataram não terem as mamas examinadas por profissional de saúde, enquanto que 293 (44,2%) realizou o exame clínico, sendo que destas, apenas 23,5% foram submetidas ao Exame Clínico das Mamas (ECM) anualmente, conforme preconizado na capacitação oferecida aos profissionais pelo MS. Em estudo realizado em Botucatú, no ano de 2003, com amostra de 261 mulheres com idade igual e superior a 30 anos, entrevistadas por telefone de modo aleatório, verificou-se que 76,2% referiram terem sido submetidas ao exame clínico das mamas nos últimos dois anos, antes da realização da pesquisa (MOLINA et al., 2003). Dados que estão muito superiores dos encontrados no presente estudo.


TABELA 5 - Prática do exame clínico da mama referidos pelas entrevistadas no Distrito de Jacy-Paraná, Porto Velho-RO, 2009 Quantidade de ECM

N

%

< 1 ano 1 - 2 anos 3 e + anos Não informa/não lembra

69 105 111 8

23,5

TOTAL

293

35,8 37,9 2,8 100

Observa-se que apenas 23,5% receberam o ECM anualmente, conforme preconizado na capacitação oferecida aos profissionais. Amorim et al. (2008), encontraram na população estudada na cidade de Campinas-SP, freqüência de 61,8% de ECM no ano que antecedeu a entrevista do estudo. Com relação às questões sobre a prática do exame de mamografia, participaram apenas as mulheres com idade igual ou superior a 40 anos. Sendo que, das 663 mulheres que participaram desse estudo, 200 mulheres encontravam-se nessa faixa etária, dentre essas, 41 mulheres (20,6%) disseram já terem sido submetidas à mamografia; 147 (73,6%) referiram que nunca realizaram e 12 mulheres (5,8%) não souberam informar ou não lembraram terem sido submetidas ao exame. A Tabela 6 apresenta as informações acerca da realização do último exame de mamografia. TABELA 6 - Informações referentes à realização do último exame de mamografia em mulheres com idade igual ou superior a 40 anos. Distrito de Jacy-Paraná, Porto Velho-RO, 2009 Data do exame

N

%

Até 1 ano 2 - 4 anos 5 e + anos

16 18 7

39,0 44,0

TOTAL

41

17,0 100

Neste estudo observa-se que 39,0% realizaram a mamografia nos últimos 12 meses antes da realização da pesquisa. Todavia, 44,0% fizeram o exame entre 24 a 48 meses e 17,0% referiram que há mais de cinco anos não fazem uma mamografia. As taxas de países como os Estados Unidos da América (EUA), mostram que aproximadamente 70% das mulheres com idade entre 40 e 69 anos realizam o rastreamento mamográfico conforme meta estabelecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS), com intervalos de um ou dois anos (CHAPGAR & MCMASTERS, 2007), percentual muito superior e bastante divergente aos achados deste estudo. Para Marchick & Henson (2005), em algumas localidades, a utilização da mamografia tornase impossível, devido à inexistência de mamógrafos, o que transforma a necessidade de se realizar uma mamografia em um desafio para muitas mulheres. No distrito de Jacy-Paraná,


até o final de 2009, não havia qualquer mamógrafo disponível para atender a população usuária do Sistema Único de Saúde (SUS). As mulheres tinham que se deslocar a Porto Velho-RO para poder fazer o exame. Tal fato aumenta ainda mais a importância da realização do ECM e das ações de educação em saúde, que visem aumentar o conhecimento e a consciência das mulheres sobre o câncer de mama pela Estratégia Saúde da Família (ESF) do distrito. A Tabela 7 apresenta a prática do exame preventivo pelas entrevistadas. TABELA 7 - Prática da realização do exame Colpocitológico referidos pelas entrevistadas. Distrito de Jacy-Paraná, Porto Velho-RO, 2009 Realização do exame preventivo

N

%

Sim Não

545 118

TOTAL

663

82,2 17,8 100

Observa-se que 82,2% das mulheres entrevistadas afirmaram ter realizado o procedimento pelo menos uma vez, a cada três anos, conforme recomendação do MS considerado como prática adequada, e 15,0% nunca fizeram o exame. Rafael & Moura (2010), constataram com a realização de inquérito domiciliar, na população de cobertura da ESF, em Comendador Soares, região de Nova Iguaçu, Rio de Janeiro, com amostra de 281 mulheres, que somente 5% não realizaram o exame colpocitológico, dado similar aos encontrados neste estudo. A abordagem considerada mais efetiva para o controle do câncer cérvico uterino (CCU), é o rastreamento por meio da realização anual de exame colpocitológico, pois é pouco oneroso, rápido e efetivo para a detecção precoce (RACHO & VARGAS, 2007). A oferta do exame Colpocitológico vista de forma isolada, enquanto medida preventiva do CCU, não é suficiente para garantir a redução do índice de mortalidade entre mulheres acometidas por essa patologia. O efeito benéfico esperado pelo exame depende dos graus de conscientização e adesão à prática deste procedimento, com a periodicidade recomendada pelo MS. A Tabela 8 observa-se o uso de preservativo durante as relações sexuais. TABELA 8 - Caracterização do uso regular de preservativo durante as relações sexuais referido pelas entrevistadas. Distrito de Jacy-Paraná, Porto Velho-RO, 2009 Uso de preservativo

N

%

Sim Não

169 494

25,5 74,5

TOTAL

663

100

Dentre as mulheres entrevistadas, 469 (70,7%) narraram ter vida sexual ativa. Entretanto, 25,5% referiram fazer uso do preservativo masculino e 66,8% não utilizavam o preservativo masculino durante a relação sexual. Vale salientar que nenhuma mulher fez menção ao uso do preservativo feminino.


Pesquisa realizada, em 2000, com desenho transversal, de base populacional entre mulheres de 15 a 49 anos, mostrou que 72% das mulheres não usavam preservativo (DIAS-DA-COSTA et al., 2002). Em inquérito nacional, realizado em 2004, entre indivíduos de ambos os sexos, de 15 a 54 anos, 25,3% da população sexualmente ativa faziam uso regular de preservativo (SZWARCWALD et al., 2004), dados semelhantes ao nosso estudo.

4.

Conclusão

Os resultados e discussão do estudo permitem concluir que: As mulheres do estudo encontram-se predominantes na faixa etária de 15 a 35 anos (55,5%), 76,3% são casadas, (58,8%) apresenta escolaridade até o ensino fundamental, 49,5% têm como principal função atividades do lar e 51,1% apresentam média de um a dois salários mínimos. Foi observado que nas questões concernentes ao uso de contraceptivos, 59,0% das entrevistadas referem não usavam qualquer tipo de MAC, apesar de todas conhecerem algum MAC. Os métodos mais usados foram a pílula (55,5%) e a laqueadura tubária (24,3%). A maioria das entrevistadas (82,2%) referiu a realização anual do exame colpocitológico, no entanto, em relação à prevenção de câncer de mama, somente 35,8% realizaram o exame clínico das mamas com intervalo de um a dois anos, quando se sabe que o correto é o exame clínico anual, independente da faixa etária da mulher. Já a mamografia está restrita a 39,0% da população feminina com realização nos últimos 12 meses, contados até a data da entrevista. Com os resultados obtidos pode-se dizer que as ações educativas das equipes do Programa Saúde da Família (PSF) praticamente são incipientes, no que tange à saúde reprodutiva da mulher, apresentando baixa eficácia e baixa resolutividade. Apesar das campanhas educativas sobre a importância da utilização da camisinha 66,8% das mulheres afirmam não fazer uso. Esse dado pode significar que o casamento ou união estável para essas entrevistadas se apresenta como fatores protetores de gravidez não planejada e DST/AIDS. O presente estudo permitiu conhecer e descrever a realidade da saúde reprodutiva das mulheres do distrito de Jacy-Paraná, em que se percebe a necessidade de capacitar os profissionais da ESF, para que possam trabalhar de forma sistematizada a educação em saúde, principalmente no que diz respeito ao empowerment da mulher. Também é importante que o PF no distrito, tenha maior efetividade e abrangência na comunidade, com ênfase na informação, orientação e o acesso à anticoncepção, levando em conta os princípios dos direitos reprodutivos.


Apesar das limitações desse estudo, foi possível constatar a baixa assistência à saúde das mulheres no referido distrito. Além disso, é importante a realização de outras pesquisas na qualidade de saúde reprodutiva em Jacy-Paraná.

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