Vereda Digital Literatura

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A primeira época medieval (I) – Trovadorismo

Capítulo 6

Classificação das cantigas As cantigas trovadorescas costumam ser assim classificadas: Gênero lírico

Gênero satírico

Cantigas de amigo

Cantigas de escárnio

Cantigas de amor

Cantigas de maldizer

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Cantigas de amigo Originárias da península Ibérica, as cantigas de amigo constituem a manifestação mais antiga e original do lirismo português. Nelas, o trovador procura traduzir os sentimentos femininos, falando como se fosse uma mulher. A palavra amigo, nessa época, significava namorado ou amante. Dirigindo-se diretamente ao homem ou conversando com a mãe ou as amigas, a mulher fala de seus problemas sentimentais, de suas expectativas amorosas, das saudades do amigo. Às vezes, procura um ambiente solitário e se desabafa com a natureza. É difícil perceber a beleza das cantigas sem a melodia que as acompanha, pois elas foram feitas para serem cantadas. São letras de canções e não textos para serem apenas lidos em silêncio. Ao ler, a seguir, a cantiga de amigo de D. Dinis, tente imaginar alguém cantando os versos e um coro entoando o refrão. Para que se percebam as rimas e o ritmo da cantiga, reproduzimos o texto na língua original (galego-português). Ao lado, apresentamos uma transcrição em português moderno.

Leitura – Ai flores, ai flores do verde pino, se sabedes novas do meu amigo? ai, Deus, e u é?

– Ai, flores, ai flores do verde pinheiro, sabeis notícias do meu amigo? ai, Deus, onde está?

Ai flores, ai flores do verde ramo, se sabedes novas do meu amado? ai, Deus, e u é?

Ai, flores, ai flores do verde ramo, sabeis notícias do meu amado? ai, Deus, onde está?

Se sabedes novas do meu amigo, aquel que mentiu do que pôs comigo? ai, Deus, e u é?

Sabeis notícias do meu amigo, aquele que não cumpriu o que combinou comigo? ai, Deus, onde está?

Se sabedes novas do meu amado, aquel que mentiu do que mi á jurado? ai, Deus, e u é?

Sabeis notícias do meu amado, aquele que não cumpriu o que tinha jurado? ai, Deus, onde está?

– Vós me preguntades polo voss’amigo? E eu ben vos digo que é san’e vivo: ai, Deus, e u é?

– Vós me perguntais pelo vosso amigo? E eu bem vos digo que está são e vivo. ai, Deus, onde está?

Vós me preguntades polo voss’amado? E eu ben vos digo que é viv’e sano ai, Deus, e u é?

Vós me perguntais pelo vosso amado? E eu bem vos digo que está vivo e são. ai, Deus, onde está?

E eu ben vos digo que é san’e vivo, e será vosc’ant’o prazo saído: ai, Deus, e u é?

E eu bem vos digo que está são e vivo e estará convosco antes de terminar o prazo. ai, Deus, onde está?

E eu ben vos digo que é viv’e sano, e será vosc’ant’o prazo passado: ai, Deus, e u é?

E eu bem vos digo que está vivo e são e estará convosco antes de passar o prazo. ai, Deus, onde está?

D. DINIS. In: MOISÉS, Massaud. A literatura portuguesa através dos textos. 12. ed. São Paulo: Cultrix, 1982. p. 25.

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