A filosofia no período clássico
Capítulo 14
O conhecimento pelas causas Aristóteles define a ciência como conhecimento verdadeiro, conhecimento pelas causas, por meio do qual é possível superar os enganos da opinião e compreender a natureza da mudança, do movimento. Para tanto, recusa a teoria das ideias de Platão e sua interpretação radical sobre a oposição entre mundo sensível e mundo inteligível. Para entender a teoria aristotélica, vamos descrever três distinções fundamentais realizadas pelo filósofo: substância/essência-acidente; ato-potência; forma-matéria. Esses conceitos, por sua vez, servem para compreender a teoria das quatro causas.
Costuma-se dizer que Aristóteles “trouxe as ideias do céu à terra” porque, para rejeitar a teoria das ideias de Platão, reuniu o mundo sensível e o inteligível no conceito de substância: cada ser que existe é uma substância. A substância é “aquilo que é em si mesmo”, o suporte dos atributos. Esses atributos podem ser essenciais ou acidentais. A essência é o atributo que convém à substância, de tal modo que, se lhe faltasse, a substância não seria o que é. O acidente é o atributo que a substância pode ter ou não, sem deixar de ser o que é. Por exemplo, a substância individual “esta pessoa” tem como características essenciais os atributos de humanidade – Aristóteles diria que a racionalidade é a essência do ser humano. Os acidentais são, entre outros: ser idoso ou jovem, gordo ou magro, alto ou baixo, atributos que não mudam o ser humano na sua essência.
Matéria e forma Além dos conceitos de essência e acidente, Aristóteles recorre às noções de matéria e forma. Todo ser é constituído de matéria e forma, princípios indissociáveis. Matéria é o princípio indeterminado de que o mundo físico é composto, é “aquilo de que é feito algo”. Quando nos referimos à matéria concreta, trata-se de matéria segunda.
Photo Scala, Florence/GlowimaGeS Stanza della SeGnatura, Vaticano
Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Substância: essência e acidente
No detalhe de A Escola de Atenas, Platão aponta para o alto – o mundo das ideias – enquanto Aristóteles indica a realidade concreta.
Forma é “aquilo que faz com que uma coisa seja o que é”. Nesse sentido, a forma é geral (o que faz com que todo animal ou vegetal seja o que é). A forma é o princípio inteligível, a essência comum aos indivíduos da mesma espécie pela qual todos são o que são, enquanto a matéria é pura passividade e contém a forma em potência. O movimento (devir) é explicado por meio das noções de substância e acidente, de matéria e forma. Para Aristóteles, todo ser tende a tornar atual a forma que tem em si como potência. Por exemplo, a semente, quando enterrada, tende a se desenvolver e a se transformar no carvalho que é em potência.
315
filosofia_U4_Cap14_296a327.indd 315
8/22/12 6:41 PM