Ecos da Palavra

Page 131

dizia não fazer falta a ela, mas e se acontecesse algo? Uma emergência médica, um fato difícil na família, nunca se sabe o que nos espera. Ela ficaria muito arrependida, culpada mesmo. Consciência leve não tem preço e pretendia continuar assim. Iria se ajeitar, tinha fé em portas que iriam se abrir daqui para frente. Ao pisar no primeiro degrau da escada em direção ao quarto, Efigênia, a dona da pensão, diz: — Olhe, pediram para você telefonar neste número — entrega-lhe um pedaço de papel. — Disse que é urgente. Alaíde. Você conhece? — Sim, é vizinha de minha mãe. Mas não disseram do que se trata? Ela mesma que ligou? — fala, pegando o papel. — Ela mesma. Parece coisa séria. Repetiu várias vezes. — A senhora me dá licença de usar o telefone? — Vai, minha filha, vai. Veja logo o que há. Longos minutos de angústia se passam até conseguir falar com a vizinha. Num telefonema curto, Alaíde relata que a mãe estava doente, precisando de tratamento caro, cirurgia, e pedia que voltasse, a situação tornara-se insustentável. Ela mesma estava tomando conta de Sofia, a mãe passava a maior parte do tempo na cama. Sai do telefone e senta-se no degrau. Vai absorvendo a gravidade do problema, lentamente. Mais uma vez a vida lhe cobrava uma atitude. Sua escolha, seu erro. Sua escolha, seu sucesso. — Então, menina? O que aconteceu? — Efigênia demonstra preocupação. Ela conta o que ouviu. O pensamento fervilha, tem que fazer alguma coisa e rápido. — Preciso usar de novo o telefone. Liga para a rádio pedindo o endereço de Clotilde. Em seguida, pede um táxi. Felizmente o trânsito estava leve e o carro chega ao destino em vinte minutos. Ela a aguardava. Doroteia tinha pedido à rádio que telefonasse e, caso estivesse em casa, que ficasse a sua espera. Pelo semblante da colega, a benfeitora percebe que algo além da dúvida a corroía. Estava muito diferente. Fecham-se na sala de estar. — Quer água, refresco? Está pálida. O que há? A jovem recusa o oferecimento e anda pra lá e pra cá. Clotilde aguarda. Por fim, senta-se na beira do sofá e a encara. — Eu pensei...bom, desde ontem eu... — remexe-se no assento, passa as mãos pelos olhos, — é que...— puxa um suspiro profundo — Clotilde, eu estava

131


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.