O livro dos prazeres proibidos - Trecho

Page 10

2

A

madrugada dissipara a neblina da noite anterior. O sol do amanhecer penetrava pelos vitrais da catedral, em cujo interior começava a primeira audiência do julgamento dos três maiores falsários de que o Sacro Império Romano Germânico se recordava. Os homens haviam sido presos quando tentavam vender livros falsos que fabricavam, com grande talento para tais procedimentos obscuros, nas lúgubres ruínas da abadia de Santo Arbogasto, nos arredores de Estrasburgo. Quando o cônego que presidia o tribunal deu a ordem, os réus, um a um, foram obrigados a se sentar na cadeira curial, cujo assento de madeira tinha um buraco no centro. O primeiro, um homem alto, magro e de barba vasta chamado Johann Fust, levantou a falda de sua túnica de fina seda e se sentou de tal modo que seus genitais desnudos ficaram pendendo dentro do orifício. Outro religioso se pôs aos seus pés, fechou os olhos, esticou o braço e levou a mão à parte inferior do assento. Com todos os seus sentidos concentrados no tato, sopesou as partes do acusado. Depois de comprovar a consistência touruna dos testículos que repousavam na concavidade de sua mão direita, o religioso virou a cabeça para os juízes e disse em voz alta:

7a prova - O LIVRO DOS PRAZERES PROIBIDOS.indd 13

11/9/2013 17:14:57


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.