WAIMIRI ATROARI

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Aquela notícia assustou-nos, pois estávamos alí, exatamente numa tentativa de pedir a suspensão dos trabalhos de construção da estrada, para reavaliamos tudo que já tinha sido feito e tentar reorganizar os trabalhos de Atração. E aquela informação não nos dava nenhuma esperança com relação a sorte dos índios. Dizendo, que a “estrada tem que ficar pronta, mesmo que para isso tenhamos que abrir fogo contra esse índios assassinos”, o General Comandante, assumia séria responsabilidade quanto a sorte dos índios Waimiri Atroari. Complementando o seu discurso, o General disse: “temos um compromisso de entregar a estrada pronta. E não vai ser um grupo de índios assassinos que vai impedir o prosseguimento da obra”. As palavras do General feriam os nossos ouvidos, pois tanto eu como Gilberto, havíamos acabado de retornar da área Waimiri Atroari, após exaustiva busca de nossos companheiros que tinham sido vítimas do ataque dos índios, cujos ataques acreditávamos teria sido provocado pela presença nas proximidades de suas malocas de caçadores desobedientes às normas fixadas por nós, e alem disto estávamos convencidos de que os índios teriam agido de forma defensiva. E que era necessário muito cuidado para que eles não vissem em nós o desejo ou comportamento com finalidade vingativas. A presença de soldados do Exército, armados dentro da área, mesmo que não viessem a disparar nenhum tiro, possivelmente seria considerada pelos índios como intenção de vingança. Entretanto, por mais que não quiséssemos acreditar no que estávamos ouvindo, o General era incisivo quanto a possibilidade dos soldados que seguiram para área Waimiri Atroari, terem que realizar demonstrações de forças, através de disparos de suas potentes e mortíferas armas de guerra. Antes de saímos da sala do Comando, o General Comandante dirigindo-se diretamente a Gilberto perguntou “Que é que você acha disso?” Gilberto com os olhos cheios de lágrimas, mal respondeu. Disse apenas: “General, na tentativa de fazer amizade com os índios Waimiri Atroari, mais de 60 funcionários entre FUNAI e Serviço de Proteção aos Índios já morreram procurando nunca tomar medidas repressivas contra aquele povo. Agora que o senhor esta me dizendo que fez e vai fazer, torna o sacrifício dos que perderam suas próprias vidas em defesa daqueles índios em vão. Saímos calados e triste. Perguntávamos um ao outro: e agora? Tudo que foi feito, teria sido inútil ? e que fazer de agora em diante?. Voltamos a conversar sobre o assunto, na sede da FUNAI em Manaus. Quando imaginamos o que poderia já ter ocorrido dentro da área Waimiri Atroari, sem que soubéssemos pois a posição do General Comandante não deixava dúvidas quanto a possibilidade de que antes de termos conhecimento, já teria ocorrido manobras “defensivas” por tropas do Exército dentro da área Waimiri Atroari. Talvez, tenha sido até mesmo a causa do ataque dos índios aos Postos de Atração e não aquela razão, que antes de termos conhecimento das intenções do Comandante, imaginávamos. Comunicamos o fato à sede da FUNAI em Brasília e ficamos no aguardo de providências no sentido de voltarmos a reativar nossos trabalhos na frente de atração Waimiri Atroari.

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