Farmácia Observatório n37

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BIMESTRAL • JUL/AGO ‘13

FARMÁCIA 37 OBSERVATÓRIO Antidepressivos e Ansiolíticos

OBSERVATÓRIO

Análise de Mercado de Antidepressivos e Ansiolíticos 2012 Antidepressivos

Ansiolíticos

O número de embalagens dispensadas de medicamentos antidepressivos cresceu 7,7% em 2012 face ao período homólogo, com maior impacto no grupo dos antagonistas dos receptores de serotonina/ɑ-2 e serotonina. Contudo, verifica-se uma quebra em valor de 17,7% nos antidepressivos, sendo a maior redução verificada no grupo dos inibidores selectivos da receptação da serotonina e/ou noradrenalina, resultado das reduções administrativas de preços e entrada de novas substâncias activas em Grupo Homogéneo.

Analisando o mercado dos Ansiolíticos, observa-se um crescimento quase nulo no volume de embalagens dispensadas de 2012 face ao ano de 2011 (0,44%), resultante maioritariamente do aumento no consumo de Hipnóticos não benzodiazepínicos e na redução no consumo do grupo dos Derivados de plantas. O valor total de 2012 sofre uma redução de 2,17% com decréscimo em quase todos os grupos à excepção dos Hipnóticos não benzodiazepínicos. Volume (Embalagens) de Ansiolíticos

8,00 7,00 6,00 5,00 4,00 3,00 2,00 1,00 0,00

0,48 1,08

0,54 7,7%

1,21 0,81

0,80

4,53

4,85

2011

2012

Milhões

Milhões

Volume (Embalagens) de Antidepressivos

Outros Antagonistas dos receptores da serotonina/ɑ-2 e serotonina Antidepressivos tricílicos Inibidores selectivos recaptação de serotonina e/ou noradrelina

20,00 18,00 16,00 14,00 12,00 10,00 8,00 6,00 4,00 2,00 0,00

-17,7%

15,88 16,17 4,08

104,72 78,44

2011

2012

Outros Antagonistas dos receptores da serotonina/ɑ-2 e serotonina Antidepressivos tricílicos Inibidores selectivos recaptação de serotonina e/ou noradrelina

0,68 2,11

0,44%

2,18

13,75

13,64

2011

2012 Hipnóticos benzodiazepínicos Ansiolíticos: Benzodiazepinas e Buspirona

Valor (Euros) de Ansiolíticos

Milhões

Milhões

13,46 16,88 4,15

2,25

Derivados de Plantas Hipnóticos não benzodiazepínios

Valor (Euros) de Antidepressivos 140,00 120,00 100,00 80,00 60,00 40,00 20,00 0,00

0,74 2,01

80,00 70,00 60,00 50,00 40,00 30,00 20,00 10,00 0,00

6,56 5,32 6,51

-2,17%

6,47 5,46 6,43

58,19

56,56

2011

2012

Derivados de Plantas Hipnóticos não benzodiazepínios

Hipnóticos benzodiazepínicos Ansiolíticos: Benzodiazepinas e Buspirona


FARMACOEPIDEMIOLOGIA

A Evolução do Consumo de Antidepressivos, Ansiolíticos, Hipnóticos e Sedativos e as Metas dos Planos Nacionais de Saúde (PNS) Os psicofármacos (que incluem antidepressivos, ansiolíticos, hipnóticos, sedativos, antipsicóticos e lítio) representam o segundo grupo farmacoterapêutico de maior peso na despesa do SNS com medicamentos (12,5% em 2009). Pela sua relevância e impacto na saúde dos Portugueses, o Ministério da Saúde, instituiu indicadores e metas específicas de monitorização deste grupo farmacoterapêutico nos Planos Nacionais de Saúde: 2004-2010 e 2012-2016. O CEFAR realizou um estudo com o objectivo de analisar a tendência no consumo destes indicadores, durante os períodos de vigência dos Planos de Nacionais de Saúde, com recurso ao Sistema de Informação de Consumo de Medicamentos (SICMED) do CEFAR, que possui este histórico, e ao Sistema de Informação hmR. O principal indicador em análise foi a Dose Diária Definida (DDD) por 1.000 habitantes, por dia (DHD). Foi calculado o custo total em euros e o custo por DDD para os medicamentos genéricos e medicamentos de marca.

Vigência do Plano Nacional de Saúde 2004-2010 Resumo do Póster apresentado no Congresso Nacional dos Farmacêuticos, Novembro de 2012, Lisboa, Portugal. O Plano Nacional de Saúde (PNS) 2004-2010 estabeleceu a saúde mental como uma das 4 áreas de intervenção prioritárias e definiu como meta, no final de 2010, uma redução de 20% do consumo agregado de antidepressivos (AD), ansiolíticos, hipnóticos e sedativos (AHS). No período em análise, o consumo agregado de AD e AHS, em Portugal, aumentou linearmente (beta=6,3; R2=0,91; p=0,0007) de 149,8 DHD, em 2004, para 192,6 DHD, em 2010, representando um crescimento total de 28,6% [Figura 1]. Este valor contraria, claramente, a meta definida no PNS 2004-2010 de redução de 20% no final de 2010.

240.0 DDD/1.000hab/dia

02 Farmácia Observatório n.º37, Julho’13

Figura 1. Consumo anual, em DHD, de AD e AHS (Genéricos vs. Marcas)

y = 6,3x + 147,1 R2 = 0,91

200.0 160.0 120.0 80.0 40.0 0.0

2004

2005 Total Marcas

2006

2007

2008

2009

Genéricos Linear (Total)

2010

Numa análise detalhada desta série temporal, verificou-se que ambos os consumos de AD e de AHS cresceram significativamente ao longo do tempo. Sublinha-se, ainda, que o aumento de consumo de AHS foi muito mais elevado que o esperado (aumento de 14,3%), demonstrando o reduzido impacto das políticas de saúde nesta área. Aliás, Portugal tem um dos mais elevados níveis de utilização de benzodiazepinas, a nível europeu. Tal facto motivou uma recomendação do International Narcotics Control Board para a adopção de medidas de prescrição e utilização racional destes medicamentos. No que respeita à análise de mercado de medicamentos genéricos vs marcas, verificou-se que a quota de mercado dos AD genéricos, em DHD, aumentou de 25,3%, em 2004, para 50,2%, em 2010. Em igual direccionalidade, a quota de mercado dos AHS genéricos, em DHD, subiu de 10,1% (2004) para 30,3% em 2010. Embora o indicador agregado do consumo de AD e AHS seja um indicador controverso, o não cumprimento da meta de redução de 20% no consumo destes psicofármacos deve fazer reflectir sobre a necessidade da adopção de estratégias necessárias à melhoria da prescrição e utilização destes medicamentos.

Novas Metas do Plano Nacional de Saúde 2012-2016 No novo PNS 2012-2016, o Ministério requereu a continuidade da monitorização do consumo de antidepressivos, ansiolíticos, hipnóticos e sedativos em ambulatório. No entanto, ao contrário do Plano anterior, o novo PNS destrinçou o consumo de AD e AHS e atribuiu metas máximas de consumo diferentes. Assim, como metas de consumo máximo para 2016, foi definindo o consumo de 103,3 DHD para os AD e de 72,5 DHD para os AHS. Desde 2004, o consumo total de AD aumentou linearmente de 50 DHD em 2004 para 87,5 DHD em Junho de 2013 (crescimento total de 75%), devido essencialmente ao aumento da utilização dos Inibidores Selectivos da Recaptação da Serotonina (34,5 DHD para 60,9 DHD). Em Junho de 2013, o consumo de AD encontrava-se abaixo do valor máximo inscrito no Plano. O Alentejo foi a região do país onde se verificou maior utilização de antidepressivos (99,04 DHD em Junho 2013). Ao nível do princípio activo, o consumo de Fluoxetina e Paroxetina decresceu ligeiramente, ao contrário do Escitalopram e Sertralina (moléculas recentemente comercializadas) [Figura 2].


FARMACOEPIDEMIOLOGIA

Consumo de Antidepressivos e Suicídio em Portugal Resumo do Póster apresentado no Congresso Europeu de Epidemiologia, Setembro de 2012, Porto, Portugal.

10 5 0

2004 2005

2006

2007

Escitalopram Paroxetina Trazodona

2008 2009

2010

2011

2012

Fluoxetina Sertralina Venlafaxina

YTD Jun 2013

No que respeita aos AHS, o consumo aumentou de 110 DHD em 2004 para 128,9 DHD em Junho de 2013 (crescimento total de 16,9%), essencialmente, devido a benzodiazepinas, como o alprazolam e o lorazepam (crescimento de 34,3% e 23,4%, respectivamente). Em Junho de 2013, o consumo de AHS encontrava-se 77,8% acima do valor máximo inscrito no Plano, denunciando a urgência de políticas e tomada de decisão nesta matéria. Embora a utilização de antidepressivos tenha aumentado, o custo médio por DDD reduziu de 0,83 €, em 2004, para 0,30 €, em Junho de 2013. Tal tendência de decréscimo também se verificou nos AHS, sendo que o custo médio por DDD diminuiu de 0,21 €, em 2004, para 0,16 € em Junho de 2013. A redução observada no custo total por DDD deveu-se essencialmente ao aumento da utilização de medicamentos genéricos em detrimento dos medicamentos de marca, acompanhada pelas sucessivas decisões governamentais em reduzir o preço dos medicamentos, quer nos medicamentos genéricos quer nos medicamentos de marca. Figura 3. Evolução do consumo, em DHD, de AHS por DCI 40 35 30 DHD

25 20 15 10 5 0

2004 2005

2006

Alprazolam Diazepam Lorazepam

2007

2008 2009

2010

Bromazepam Loflazepato Zolpidem

2011

2012

YTD Jun 2013

100

15

80

10

60 40

5

20 0

2004

2005 DHD

2006

2007

2008

2009

2010

0

Taxa de Suicídio

Em Portugal, ao contrário de outros Países europeus como a Noruega, a Suécia, entre outros, apesar do consumo de antidepressivos ter aumentado, não foi encontrada uma associação entre o consumo de antidepressivos e o suicídio. Contudo, a interpretação deste resultado deverá ser lida à luz das limitações inerentes ao modelo ecológico (utilização de dados populacionais e não ao nível do doente), salientando-se, igualmente, tal como supra explicitado, a parca fiabilidade e validade dos dados do registo do suicídio portugueses. Por outro lado, verificou-se que a medida de diminuição de comparticipação dos antidepressivos, implementada em Outubro de 2010 (69% para 37% no regime geral e de 84% para 52% no regime especial), não teve qualquer impacto no consumo destes medicamentos. Bibliografia: WHO (2013). World Suicide prevention day. Disponível em: http://www.who.int/mediacentre/ events/annual/world_suicide_prevention_day/en/index.html DGS. Plano Nacional de Prevenção do Suicídio 2013-2017. Disponível em: http://www.portaldasaude.pt/NR/rdonlyres/BCA196AB-74F4-472B-B21E-6386D4C7A9CB/0/i018789.pdf

03 Farmácia Observatório n.º37, Julho’13

15

Taxa de Suicídio

DHD

20

(por 100,000 hab)

25

O suicídio representa inequivocamente um grave problema de Saúde Pública. Segundo a Organização Mundial de Saúde, suicidam-se, diariamente, em todo o mundo cerca de 3.000 pessoas – uma a cada 40 segundos – e, por cada pessoa que se suicida, 20 ou mais cometem tentativas de suicídio. Em Portugal, apesar do suicídio constituir um fenómeno, reconhecidamente, subdeclarado e resultando por isso na pouca validade e fiabilidade dos seus dados de registo, o suicídio apresenta maior predominância na população idosa e é mais marcado na zona sul do País. Em 2010, segundo os dados do Eurostat, a taxa de suicídio foi de 10,3 por 100.000 habitantes, taxa superior à morte por acidentes de viação ou acidentes de trabalho. Pela importância deste problema de saúde em Portugal, a Direcção Geral da Saúde, através do Programa Nacional para a Saúde Mental, criou o Plano Nacional de Prevenção do Suicídio 2013-2017. Os estudos farmacoepidemiológicos sugerem que a utilização de antidepressivos no tratamento da depressão é um factor importante para a descida das taxas de mortalidade por suicídio ao nível das populações. Neste sentido, o CEFAR realizou um estudo ecológico com o objectivo de analisar a tendência no consumo dos antidepressivos e a geração de hipóteses sobre o seu eventual impacto na taxa de suicídio, em Portugal, no período entre 2004 e 2010 [Figura 4].

DHD

Figura 2. Evolução do consumo, em DHD, de AD por DCI


HIGHLIGHTS HIGHLIGHTS

CEFAR

Centro de Estudos e Avaliação em Saúde

A FARMÁCIA BASEADA NA EVIDÊNCIA

Consultoria Científica CRO (Contract Research Organization), Grupo ANF Parceiro da hmR (Health Market Research)

Screening de Doentes com Sintomas de Depressão nas Farmácias Um Estudo realizado pela Universidade de Cincinnati, EUA, entre Fevereiro de 2010 e Março de 2011, demonstrou resultados positivos da intervenção dos farmacêuticos na identificação e referenciação precoces (screening) de doentes com sintomas de Depressão [1]. Das 108 farmácias da cadeia Kroger em Cincinnati, 32 farmácias são designadas de Patient Care Centers, uma vez que prestam diversos serviços farmacêuticos (screenings, vacinação, educação e coaching da Diabetes, programas de perda de peso, gestão de doentes hipertensos ou com dislipidemia) comparticipados pelos Planos de Saúde das entidades patronais e oferecidos aos seus colaboradores no package salarial. Os farmacêuticos frequentaram formação prévia do National Committee for Quality Assurance sobre a gestão da Depressão com resolução de case studies sobre a gestão de efeitos adversos à terapêutica antidepressiva e a comunicação com os doentes não aderentes ou em possível risco de suicídio. Foi fornecido um protocolo de contacto urgente a estabelecer no caso de identificação de possíveis doentes com pensamentos / ideias suicidas que incluía o médico assistente e, em segunda linha, o National Suicide Prevention Lifeline. A intervenção dos farmacêuticos consistiu na aplicação da escala Patient Health Questionnaire (PHQ) a doentes com idade igual ou superior a 18 anos a participar num ou mais programas patient care, em 2 etapas: 2 primeiros items da escala PHQ-9 (de 9 items) e, em caso positivo, restantes items para avaliação dos sintomas e frequência. Foram avaliados 3.726 doentes, tendo sido identificados positivamente 67 (1,8%). Dos 64 que completaram o PHQ-9, 17 (26%) registaram pontuação maior ou igual a 10 e foram referenciados ao médico assistente via fax. Destes, 10 (59%) iniciaram ou alteraram a terapêutica. Adicionalmente, 5 outros doentes apresentaram pensamentos suicidas, de acordo com os critérios protocolados, e foram referenciados para tratamento urgente. Este Estudo evidenciou um potencial para identificação e referenciação precoce de doentes com sintomas de Depressão nas farmácias, com recurso a escala validada e protocolos acordados, confirmando resultados de Estudos anteriores [2].

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1. Rosser S, Frede S, Conrad WF, Heaton PC. Development, implementation, and evaluation of a pharmacist-conducted screening program for depression. J Am Pharm Assoc. 2013; 53 (1):22–29 (doi: 10.1331/JAPhA.2013.11176, consultado em 27-03-2013). 2. Bell S, McLachlan AJ, Aslani P, Whitehead P, Chen TF. Community pharmacy services to optimise the use of medications for mental illness: a systematic review. Aust New Zealand Health Policy. 2005 Dec 7;2:29.

Observatório da Farmácia e da Política do Medicamento Estudos de Mercado Estudos de Sensibilidade do Preço Perfil do Doente / Consumidor Inquéritos às Farmácias / Médicos Generic Watch® Estudos Consumer Health Estudos Qualitativos Farmacoepidemiologia Estudos de Prevalência Estudos de Padrão de Utilização de Medicamentos Estudos Observacionais (Adesão/Persistência, Segurança e Efectividade)

Economia da Saúde Estudos de Preços & Comparticipações Impacte na Despesa do SNS Dossiers de Valor Avaliação Económica Pricing Position® Avaliação de Resultados em Saúde Avaliação de Programas de Adesão nas Farmácias Clinical Outcomes Research Qualidade de Vida Patient Reported Outcomes (PROs) Avaliação da Satisfação Estudos Qualitativos Cliente Mistério Estatística Aplicada à Saúde Planos de Amostragem e Planos de Análise Estatística Análise Estatística – Modelos Multidimensionais

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FARMÁCIA OBSERVATÓRIO Propriedade: Associação Nacional das Farmácias Rua Marechal Saldanha, 1, 1249-069 Lisboa • Tel. 21 340 06 00 • Fax 21 347 29 94 • E-mail: anf@anf.pt • www.anf.pt Direcção: PAULO DUARTE • Direcção Técnica: SUZETE COSTA • Coordenação Técnica: SÓNIA ROMANO • Coordenação Editorial: ROSÁRIO LOURENÇO Periodicidade: Bimestral • Publicação digital • Distribuição gratuita aos associados da ANF Produção: LPM Comunicação • Av. Infante D. Henrique, 333H, Escritório 49, 1800-282 Lisboa • Tel. 21 850 81 10 • Fax 21 853 04 26 • E-mail: lpmcom@lpmcom.pt


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