A garota no trem paula hawkins

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pulinho na rua para comprar aquele Merlot que ele adora, então arrumo Evie, afivelo-a no carrinho e rumamos para o mercado. Todo mundo me disse que era loucura eu aceitar me mudar para a casa de Tom. Mas todo mundo também achou loucura eu me envolver com um homem casado, ainda por cima casado com uma esposa extremamente instável, e nisso provei que estavam errados. Não importa o quanto ela tente causar problemas, Tom e Evie valem a pena. Mas quanto à casa, eles tinham razão. Em dias como hoje, de sol, ao andar pela nossa ruazinha — ladeada de árvores, toda ajeitadinha, não exatamente uma rua sem saída mas com a mesma sensação de comunidade —, tudo pareceria perfeito. As calçadas estão cheias de mães como eu, com cachorros em coleiras e criancinhas de patinete. Poderia ser ideal. Poderia, não fosse o barulho estridente dos trens freando. Poderia, contanto que você não se virasse e olhasse para trás, na direção do número 15. Quando volto, encontro Tom sentado à mesa da sala de jantar olhando para alguma coisa no computador. Ele está de short, mas sem camisa; observo os músculos dele se retesando sob a pele conforme ele se movimenta. Até hoje me derreto só de olhar para ele. Digo oi, mas ele está no seu mundinho particular e, quando coloco a mão em seu ombro, ele dá um pulo. O laptop se fecha num estalo. — E aí — diz ele, se levantando. Ele está sorrindo, mas parece cansado, preocupado. Então pega Evie do meu colo sem nem me olhar nos olhos. — O que foi? — pergunto. — O que aconteceu? — Nada — responde ele, e se vira para a janela, balançando Evie apoiada em seu quadril. — Tom, o que foi? — Nada. — Ele se vira com uma expressão estranha e já sei o que vai dizer antes de abrir a boca. — Rachel. Outro e-mail. — Ele balança a cabeça. Parece tão deprimido, tão chateado, e eu detesto isso, não aguento mais. Às vezes tenho vontade de matar aquela mulher. — O que foi que ela falou? Ele simplesmente balança a cabeça de novo. — Não importa. É só... o de sempre. Ela só fala merda. — Sinto muito — digo, e não pergunto que merda exatamente, porque sei que ele não vai querer me contar. Ele detesta me chatear com esse assunto. — Está tudo bem. Não é nada. É só papo de bêbado, como sempre. — Meu Deus, será que ela não vai parar nunca? Será que ela não pode simplesmente deixar a gente ser feliz? Ele vem até mim, nossa filha entre nós, e me beija. — Nós somos felizes — diz ele. — Nós somos.


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