Revista VOCARE - 2º Edição/2012

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Caminhos nômades, linhas de fuga e continuidade... Luciana Schwinden Artista Vocacionada, Ex-Diretora da Divisão de Formação e atual Diretora do Centro Cultural da Penha O Vocacional resiste ao longo desses anos porque enfrenta e combate os processos de alienação constantes em nosso tempo. A prática e conhecimento artístico impulsionam o processo de emancipação. O trabalho criativo é descoberto a cada encontro, no cotidiano dos vocacionados e orientadores, as orientações artísticas estão relacionadas aos processos de alteridade, de escuta, de contínua experimentação. A realidade dura das longas distâncias, da formação das turmas, das idas e vindas no desenvolvimento dos projetos da Divisão, não impede que os artistas e suas criações quebrem barreiras. Isto só acontece com o apoio de todos os gestores e diretores envolvidos diretamente naquilo que é a vocação do Departamento de Expansão Cultural: expandir e fomentar a Cultura na cidade de São Paulo. Trabalhar no Vocacional é estar em constante pesquisa, em constante aprendizado. A composição da equipe é formada por artistas inquietos, que se arriscam e tem espaço para isso em seus processos artísticos - políticos - pedagógicos. A deriva, o movimento, a fuga da inércia e das convenções. Estes projetos buscam a produção de novos territórios, terrenos livres para a imaginação; a possibilidade da organização de grupos de artistas que propagam suas vozes pela cidade, o aprendizado e reconhecimento das funções que compõem a estrutura de um coletivo de artistas; o conhecimento da arte para aguçar um olhar expandido, um olhar que vê possibilidades de caminhos que serão percorridos por passos nômades e curiosos. Em tempos de sufocamento dos horizontes - cada vez mais é necessário imaginar, para ampliá-los. Projetos como estes resgatam o direito do acesso à Cultura, e a descoberta de outras referências que não aquelas viciadas pelo impacto da indústria cultural e de to dos seus produtos culturais embalados. Os Vocacionados gritam e desejam ser visíveis. Tantos seres múltiplos nas suas contradições, antes corpos sozinhos, hoje se encontram e estão nômades, percorrendo os equipamentos públicos da cidade, vivenciando as Mostras dos processos criativos, exercitando processos de cidadania e promovendo encontros artísticos entre olhares e vozes. Os vocacionados também são agentes culturais. Apreciar é princípio pedagógico, e é verbo diferente de 10 VOCARE 2012 Revista do Programa Vocacional

julgar, pois cada integrante do Vocacional seja ele vocacionado, orientador, coordenador, tem a possibilidade de ser singular, fortalecendo assim, o pleno respeito pelas diferenças. A busca do ser autônomo em primeira instância abre espaço para a emancipação de coletivos de artistas agregadores. Grupos formados pelo Vocacional, também se lançam em voos na profissionalização, e muitos destes grupos foram contemplados pelas políticas públicas de cultura como o Programa VAI e o Fomento ao Teatro - outros programas da Secretaria Municipal de Cultura da cidade de São Paulo que merecem total atenção, pois são políticas públicas de referência no cenário da cultura nacional. As ocupações dos espaços públicos e a ação cultural, também se apresentam como princípios pedagógicos fundamentais e são engrenagens que movimentam os processos culturais vivenciados pelas equipes nos dois programas da Divisão de Formação. Que o Vocacional continue sendo o lugar da experiência, do risco, do novo, da estranheza. E que o Programa de Iniciação Artística tenha uma trajetória tão relevante quanto o caminho já percorrido. Cenários complexos sempre trazem o receio de um possível cessar destes projetos. É bom lembrar, que gestores públicos, firmam compromissos de responsabilidade pública ao apoiar programas como o Vocacional e o Programa de Iniciação Artística. Convido a todos que conheçam os percursos dos programas, leiam seus números, tão relevantes, apreciem os seus resultados e ouçam as vozes vocacionadas que estão por toda a cidade... Continuem essa história. É o que desejo, vida longa Vocacional e PIÁ! Agradeço a todos por participar destes caminhos, por conhecer tantos artistas incríveis e ouvir tantas falas inspiradoras, por aprender tanto e por me lançar em novos terrenos de pesquisa. Peço licença para deixar aqui meu depoimento, preciso dizer que fazer parte da equipe do Vocacional por tanto tempo me deu coragem de partir, de sair pela cidade, de vivenciar outras regiões e ser nômade, dentro de um propósito claro – o caminho da gestão cultural. Obrigada! Evoé!


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