Cristianismo Pagão

Page 114

Senhor ou ao pão da Eucaristia.40[40] A palavra “corpo” tinha sido evacuada de seu outro significado: A igreja. Por conseguinte, a Ceia do Senhor distanciou-se bastante da idéia da Igreja reunindo-se para celebrar o partir do pão.41[41] A mudança de vocabulário refletia esta prática. A Eucaristia não tinha nada a ver com a Igreja, mas chegou a ser vista como “sagrada” em si mesma — mesmo quando colocada na mesa. Envolvida em uma mística religiosa. Vista com assombro. Tomada pelo sacerdote com uma sombria disposição. Completamente divorciada da natureza comunal da ekklesia. Todos estes fatores deram apoio à doutrina da transubstanciação. No século IV, explicitou-se a crença de que o pão e o vinho se transformavam em corpo e em sangue real do Senhor. A transubstanciação foi, portanto, a doutrina que explicava teologicamente como essa mudança ocorria.42[42] (Esta doutrina funcionou do século XI ao XIII). A doutrina da transubstanciação trouxe consigo um sentimento de medo em torno dos elementos. O temor foi tão intenso que o povo de Deus vacilava aproximar-se dos elementos.43[43] Acreditava-se que quando as palavras da Eucaristia eram ditas, o pão literalmente virava Deus. Tudo isto converteu a Ceia do Senhor em um ritual sagrado levado a cabo por gente sagrada, bem distante das mãos do povo de Deus. Isto ficou tão fixo na mentalidade medieval que o pão e o cálice viraram “oferenda” até mesmo para alguns dos reformadores.44[44] Mesmo descartando a noção católica da Ceia do Senhor enquanto sacrifício, os modernos cristãos protestantes continuaram abraçando a prática católica da Ceia. Observe qualquer Ceia do Senhor (muitas vezes chamada de “Santa Comunhão”) em qualquer igreja protestante e você verá o seguinte: A Ceia do Senhor composta por um biscoitinho (ou pedacinho de pão) e um dedalzinho de suco de uva (ou vinho) em nada se assemelha a uma ceia de verdade, o mesmo ocorre na Igreja Católica. O humor é sombrio e taciturno. Como na Igreja Católica. O pastor diz à congregação que cada um tem que se examinar com respeito ao pecado antes de participar dos elementos. Uma prática que veio de João Calvino.45[45] Como o sacerdote católico, muitos pastores ministram a ceia e recitam as palavras da instituição: “Este é o meu corpo” antes de distribuir os elementos à congregação.46[46] Da mesma forma que a Igreja Católica. Com apenas algumas poucas mudanças, tudo isso vem do catolicismo medieval. Sumário Por nossa tradição, esvaziamos o verdadeiro significado e o poder por trás do batismo na água. Propriamente concebido e praticado, o batismo na água é a confissão de fé inicial do crente diante dos homens, demônios, anjos e Deus. O batismo é um sinal visível que revela nossa separação do 40[40]

Jesus and the Eucharist, pp. 125-127. Para muitos escravos e gente pobre a Ceia do Senhor era a única real refeição deles. De forma interessante foi apenas no Sínodo de Hippo em 393 d.C. que o conceito da Ceia do Senhor ligeira começou a emergir (The Lord’s Supper, p. 100). 42[42] The Early Christians, pp. 111-112. O corpo doutrinário da transubstanciação é creditado a Tomás de Aquino. A este respeito, Martinho Lutero acreditava que a “opinião de Tomás” não passava de palpite e não deveria ser considerada dogma da igreja (Christian Liturgy, p. 307). 43[43] Edwin Hatch, The Growth of Church Institutions (Hodder and Stoughton, 1895), p. 216. A transubstanciação foi definida como doutrina no Concílio de Lateran em 1215 d.C. após 350 anos de controvérsias com a doutrina do Ocidente (Gregory Dix, The Shape of the Liturgy, New York: The Seabury Press, 1982, p. 630; Christian Priesthood Examined, p. 79; Philip Schaff, History of the Christian Church: Volume 7, Michigan: Eerdmans, 1910, p. 614). 44[44] Ilion T. Jones, A Historical Approach to Evangelical Worship (New York: Abingdon Press, 1954), p. 143. 45[45] Protestant Worship: Traditions in Transition (Louisville: Westminister/John Knox Press, 1989), p. 66. I Coríntios 11:27-33 não é uma exortação para o auto-exame com respeito a pecado pessoal. É, na realidade, uma exortação para o auto-exame com respeito a tomar a Ceia de uma “maneira digna”. A congregação de Corinto desonrava a Ceia por não esperar seus irmãos pobres chegarem para comer juntamente com eles, além disso, estavam se embebedando com vinho. 46[46] Mateus 26:25-27; Marcos 14:21-23; Lucas 22:18-20. 41[41]

114


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.