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Nº 02

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ALETHEIA Publicação digital de sociologia e filosofia do CEP

Semana Cultural 2014 III Bienal Impressões de Cuba 30 anos sem Foucault      1


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Projeto Aletheia

www.projetoaletheia.wordpress.com

Objetivo Geral:

Objetivos Específicos: Incentivar a produção de texto, a análise, síntese e reflexão a respeito dos conheci-

Elaborar plataformas

mento adquiridos.

e estratégias comu-

Promover a livre expressão e autonomia, convidando o estudante a ser um coautor na produção

nicativas educativas (mídias escolares)

do conhecimento e sua divulgação. Desenvolver uma comunicação didática que permita ao aluno estabelecer uma relação com o que se aprende em sala de aula e sua própria prática. Motivar a curiosidade e o interesse pelas matérias de humanas através de técnicas comunicativas.

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ALETHEIA

Publicação digital de sociologia e filosofia do CEP

Nº 02

Conteúdo: Michel Foucault

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Trançando ideias

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Novidades Semana Cultural

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III Bienal de Arte

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Sala Foucault

Cuba

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Ex p ed iente Grupos de trabalho

Coordenações de sociologia e filosofia do CEP

Educação - Leonardo Camargo, Vilma Luiza, Simone Hay, Fernando Ciello. Comunicação - Eli Passos, Ney Jansen, Julliane Picetskei, Eliana dos Santos. Editoração - Dirlô Saldanha

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2014 ano do

Projeto Aletheia

Professores: Fernando, Murilo, Tatiana, Ney (sociologia), Vilma, Eli (filosofia)

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www.projetoaletheia.wordpress.com As ideias são conceitos a respeito das coisas, pensar é estabelecer e comunicar formas em nossa experiência com o mundo. Nosso mundo é o mundo da educação, os professores em sua lida diária procuram estabelecer um diálogo a respeito do conhecimento, trabalho árduo que busca as diversas estratégias e ferramentas possíveis no universo das salas de aula, expondo, sensibilizando, problematizando, mas também comunicando os conteúdos. O projeto Aletheia é uma ideia a respeito da comunicação na educação, interação entre espaços de aprendizagem e conteúdos específicos, experiências entre alunos e professores, desenvolvimento de novas

práticas educativas e não somente uso de tecnologia da comunicação na educação. O caminho a seguir na estrada do desenvolvimento do aprender vai passar por uma relação de equilíbrio, entre as tecnologias e suas ferramentas e o papel do professor como meio e parte do processo de aprendizagem. Os professores de sociologia e filosofia buscam desenvolver esses novos processos educativos no trabalho, com antigos conceitos e com a criação de novos, assumindo o seu papel no difícil caminho para a qualidade do ensino público e gratuito em nossa sociedade.

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Michel Foucault (15/10/1926 – 25/06/1984 França)

Vilma Luiza, professora de filosofia do CEP

Michel Foucault estudou os marginalizados: a criança, o louco e o delinquente. Sofreu influências de Heidegger e Nietzsche. Usava como método a genealogia e a arqueologia. Entre suas principail obras estão As palavras e as coisas, Vigiar e Punir, A história da loucura, Microfísica do poder, entre outras. A história da sexualidade é sua última obra, prevista para conter seis volumes, mas apenas três foram finalizados. Aqui vamos abordar o volume I A vontade de saber onde o autor faz uma introdução ao seu projeto de escrever A história da sexualidade. Nesta obra o autor levanta a questão do discurso da repressão associado à ideia de sexo como pecado. Formula a tese de que a opressão sexual, na sociedade burguesa, se dá sob a aparência de liberdade. Portanto não sabemos se realmente somos reprimidos, mas dizemos que somos. O autor contesta a hipótese de que somos reprimidos com as seguintes questões: A opressão seria uma evidência histórica? No século XVII instaurou-se um regime de

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repressão sexual? A mecânica do poder é repressiva? É exercido por meio da interdição, censura e negação? Criticar o poder repressivo é de fato oposição ou faz parte do jogo de poder? Em outras palavras: Crítica ao poder ajuda a manter o poder? O autor sugere que no século XVII, quando a burguesia tornou-se a classe dominante, ela assume ares de quem vai promover a liberdade sexual questionando e criticando a repressão sexual e a ideia de que sexo é pecado. No entanto, essa classe adota mecânismos tão severos e eficazes de controle sexual quanto os que já haviam sido criados até o momento. Esse mecânismo consiste na aparente liberdade sexual no sentido de falar livremente, ou melhor: aparente liberdade de discurso sexual. “...o fato de falar-se do sexo livremente e aceitá-lo em sua realidade é tão estranho à linguagem direta de toda uma história, hoje milenar e, além disso, é tão hostil aos mecanismos intrínse-

cos do poder, que isto não pode senão marcar passo por muito tempo antes de realizar a contento sua tarefa.” (p.15) A pretensão de Foucault é demonstrar que a repressão sexual burguesa é apenas mais um capítulo na história da repressão sexual e depende de como se analisa e interpreta essa história. O autor vai mostrar uma nova forma de analisar: como que por tráz de um discurso de liberdade se esconde uma intenção de repressão, mas não nega a possibilidade de que a crítica de seu tempo – século XX- possa ser de fato uma ruptura com milênios de repressão sexual. Disso resulta a importância da leitura de Foucault para olharmos com cuidade e não festejarmos nenhuma vitória da chamada revolução sexual do séc. XX. Quem, como e por que criou-


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-se o discurso da repressão? Qual regime de poder instaurou esse discurso? Com que objetivos e por quais razões? Para o autor é a vontade saber que lhe dá suporte e instrumento. A vontade de saber que o poder dominante tem, uma vontade intensa de conhecer os mínimos detalhes da sexualidade de seus dominados, talvez para melhor controlá-los. O discurso da repressão sexual seria um dispositivo de poder. Para fazer funcionar esse dispositivo incita-se de um lado, silencia-se de outro, sempre com a intenção de domínio. Dispositivo é como um mecanismo que cria-se para controlar e como todo controle é repressão, falar de sexo é uma forma de repressão. Segundo Foucault “O dispositivo, portanto, está sempre inscrito em um jogo de poder, estando sempre, no entanto,

ligando a uma ou a configurações de saber que dele nascem mas que igualmente o condicionam. É isto o dispositivo: estratégias de relações de força sustentando tipos de saber e sendo sustentadas por eles” (Microfísica do poder) As análises de Foucault referem-se ao séc. XVIII, inicio da sociedade burguesa e depois da instauração da sociedade vitoriana, período de grandes exageros morais que exigia o silêncio. Toda e qualquer referência a sexualidade era tido como falta de pudor. Em seguida ocorreu uma “explosão discursiva” com invenção de metáforas e criou-se um novo código de decência. Institucionalizou-se. Criou-se o especialista em sexo. O autor faz comparações entre a pastoral católica e a protestante, diz que ambas se utilizam da incitação ao falar, porém a grande preocupação burguesa é com a utilidade. De qualquer forma não há censura, há sim o estímulo para se falar de sexo, contar tudo com mínimos detalhes. “...constituiu-se uma aparelhagem para produzir discursos sobre o sexo, cada vez mais discursos, susceptíveis de funcionar e de serem efeito de sua própria economia.” (p.26) Agora fala-se de sexo não mais do ponto de vista moral, mas racional. Passou-se a “gerir” o sexo. Não se fala mais em lícito e ilícito, mas de útil ou não.. O Estado passa a se interresar por sexo, no uso que cada um faz de seu sexo. A sexualidade na adolescência torna-se um problema público. Fala-se em controle de natalidade, em taxas de natalidade e morbidade, em expansão demografica, etc. “A conduta sexual da população” é interesse de Estado. Os médicos são aqueles que devem falar e saber o que calar, há muitos silêncios intencionais. Com a psiquiatria no séc. XIX surgem as

perversões sexuais e o judiciário também entra nesse discurso. A polícia tem que se encarregar do sexo. Toda essa incitação a fazer falar sobre o sexo sempre se tomando o cuidado de mantê-lo em segredo é como um jogo de faz de conta. É importante compreender que não é qualquer um que pode falar de sexo e nem é para qualquer um a quem se deve falar, mas para as pessoas autorizadas e que possuem autoridade, no caso os especialistas. O dispositivo sexualidade é um mecânismo que atua fazendo falar e despertando o desejo de ser interpretado. Explora-se esse prazer de ser interpretado que já estava presente na confissão cristã, agora pelos mais diversos meios como exposição na internet e biografias. Assim é a produção da verdade sobre sexo, por meio de “dispositivos de poder e de saber, de verdade e de prazeres” que em vez de reprimir produzem discursos que induzem prazeres e geram poderes. Finalizando, Foucault nos diz que o dispositivo sexualidade busca analisar o poder sem associá-lo ao Estado e às leis jurídicas considerando que o poder é relação de forças diversas. A família é o lugar onde atua esse dispositivo e também por meio da exaltação do corpo. Referências:

Foucault, Michel. Sécurité, territoire, population: Cours au Collège de France (1977-1978).Ed. Senellart, Michel. Gallimard; Seuil: Paris, 2004. _____________. Microfísica do poder. Organização e tradução de Roberto Machado. - Rio de Janeiro: Edições Graal, 4ªed. 1984. _____________. A história da sexualidade. Vol.I A vontade de saber. Tradução de Maria Thereza da C. Albuquerque e J. A. Guilhon Albuquerque. - Rio de Janeiro: Edições Graal, 1988.

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Novidades da

Semana Cultural 2014 A semana cultural do CEP, neste ano, teve uma nova concepção. Professores, alunos, GECEP, PIBID e convidados trouxeram a arte, o movimento, as ciências, a história, a sociedade, a filosofia, bem como a cultura produzida pelo coletivo dos homens para dentro do CEP. Neste sentido, a semana cultural no CEP efetivamente oportunizou a produção e fruição cultural. Foram mais de 25 oficinas para alunos de todas as séries que passarão por muitas palestras, oficinas, exposições, mostras, declamações e visitas. Dezenas de atividades diariamente, tanto no período da manhã como no período da tarde. A efervescência de conhecimento produzido envolveu toda a comunidade escolar do CEP. A organização da Semana Cultural destaca a nova concepção que o evento tomou neste ano. De acordo com texto produzido

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pela equipe, “a Semana traz o movimento, as ciências, a história, a sociedade, a filosofia, bem como a cultura produzida pelo coletivo dos homens para dentro do CEP.


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Várias apresentações foram realizadas nos corredores

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Há 30 anos o mundo perdia um dos seus mais brilhantes

Durante a semana cultural os professores de Filosofia e Sociologia do CEP organizaram oficinas sobre Michel Foucault. No dia 01/10, com a participação da professora Arlinda Arboleya da UFPR, o tema da oficina da manhã era “Aspectos Gerais” do pensamento de Foucault e, a tarde, o tema da oficina foi“Foucault e a Ciência” ministrado pelo historiador João Pedro Dolinski. Dia 02/10 o tema da oficina da manhã foi “Foucault e a Loucura”, ministrado pelo professor de sociologia do CEP Fernando Ciello. Na oficina, o professor Fernando apresentou uma breve história da loucura e, de que maneira, a partir do período clássico (renascimento) emergiu um discurso de viés científico baseado na segregação e num “higienismo social” do considerado “desviante” (o “louco”, o pobre, a prostituta, o ladrão, etc). A medicina, a psiquiatria e a psicologia tornaram-se saberes visando a normatização de sujeitos e disciplinamento de corpos, além de saberes institucionalizados (hospícios, por exemplo) produtores/fabricantes de “loucos”

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intelectuais

Ao lado participação dos alunos

“...o que eu faço, ao final das contas, não é nem história, nem sociologia, nem economia. Mas é bem qualquer coisa que, de uma maneira ou de outra, e por razões simplesmente de fato, tem a ver com a filosofia, quer dizer, com uma política da verdade, pois não vejo outra definição da palavra ‘filosofia’ senão aquela.” (Sécurité, territoire, population)


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Semana Cultural 2014 - Sala Michel Foucault

Professores Fernando Ciello (sociologia) e Vilma Dolinski (filosofia). professora Arlinda Arboleya da UFPR

No dia 02/10 o tema da oficina da manhã foi “Foucault e a Loucura”, ministrado pelo professor de sociologia do CEP Fernando Ciello

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Semana Cultural 2014

Trançando ideias Neli Gomes Rocha e Willian Barbosa

Dia 01/10/2014, durante a semana cultural do CEP, realizou-se oficinas sobre Cultura Afro com a presença de estudantes de Ciências Sociais da UFPR, bolsistas do PIBID/MEC (Programa Institucional de Incentivo a Docência) e de membros do coletivo “Trançando Ideias”. Na parte da manhã ocorreu um debate sobre racismo, pré-conceito, estigmas e esterótipos, seguida de uma oficina de produção de fanzines de “afro-colagem” sobre racismo, discriminação e preconceito. Na parte da tarde ocorreu uma dinâmica de grupo que abordou questões como estereótipos, noções de beleza, ações afirmativas, racismo. Paralelamente, as tranças eram feitas nos cabelos dos aluno(a) s. Um debate muito rico envolveu todos os presentes! Como dito pelo oficineiro Will, “o objetivo das tranças é mexer na cabeça das pessoas”. O sentimento de todos os presentes foi que realmente “mexeu”, provocando importantes reflexões sobre as diferenças e desigualdades étnico-raciais no Brasil. Semana Cultural CEP, Oficina Levante Popular da Juventude: Muralismo, grafite, estêncil, HIP-HOP, break, Movimentos So-

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ciais, auto gestão e participação estudantil. A arte como movimento de luta, inspiração e motivação, para a critica e problematizações

tão perenes em nossa sociedade. Organização: Professora de sociologia Tatiana L. Azevedo


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Oficina Levante Popular da Juventude

Muralismo, grafite, estêncil, HIP-HOP, break, Movimentos Sociais, auto gestão e participação estudantil. A arte como movimento de luta, inspiração e motivação, para a critica e problematizações tão perenes em nossa sociedade.

Alunos participantes do evento

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III Bienal de Arte Estudantil - 2014 O Colégio Estadual do Paraná e o Departamento de Arte Escolinha de Arte promoveram a III Bienal de Arte Estudantil, edição 2014. O evento foi realizado de 16 a 30 de outubro, com abertura no dia 16 às 19 horas no Palacete dos Leões, localizado na Avenida João Gualberto, nº 530. O Evento já é tradicional no calendário do Colégio, acontecendo a cada dois anos. O objetivo da Bienal é promover e divulgar a vivência e a produção de Arte dos alunos das escolas de Curitiba e Região Metropolitana que estejam cursando o Ensino Médio na rede pública ou particular de ensino.

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Salão de Arte do Colégio Estadual do Paraná


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Palacete dos Leões

Os candidatos concorreram nas

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desenho,

pintura, gravura, escultura e fotografia aos primeiro, segundo, terceiro lugares, assim como menção honrosa. As obras selecionadas permaneceram em exposição no Palacete dos Leões entre 16 e 30 de outubro de 2014.

A direção esteve presente, juntamente com professores da escola de arte

Professores e alunos da escola de arte do Cep

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Impressões

sobre Cuba Eliana Maria dos Santos, professora de sociologia do CEP

A ilha socialista de Cuba é um dos temas polêmicos e recorrentes da política brasileira. A “ameaça comunista” foi utilizada como argumento pela direita para justificar o golpe civil militar de 1964. Também foi utilizada nas disputas eleitorais de 1989, 1994, 1998, 2002, 2006, 2010 e agora em 2014 ela continua balizando os debates das disputas, sendo também massificado nas redes sociais. Muitas pessoas comentam e reproduzem argumentos sem conhecer, há muita manipulação nas informações veiculadas sobre Cuba, revelam um desconhecimento total sobre a ilha, seu povo e sua história. Este ano pude realizar um sonho de consumo conhecer a Ilha de Fidel e de Che e relato aqui algumas impressões desta viagem. Para ir a Cuba é mais fácil do que se pensa tudo pode ser feito pela internet compra de passagem e reserva de hotel, ou comprar ou organizar sua viagem através de uma agência. Outra possibilidade e hospedar-se em casa de moradores cubanos, os preços são baixos e a possibilidade de interação é maior. O visto para ingressar no país também não é difícil com o comprovante de viagem e reserva de hotel pode-se pagar a taxa direto com a empresa de viagem, a

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COPA disponibiliza o serviço. Fui com um grupo de amigas bastante curiosas para conhecer a tão famosa ilha, no aeroporto em Habana contratamos uma empresa de turismo para nos levar ao hotel em Varadero cerca de 2h de viagem. Pudemos observar estradas muito boas e bem sinalizadas, outra coisa comum é a fiscalização, as empresas turísticas assim como os serviços de taxi são estatais, mas há licenças para a prestação de serviços desde que se paguem os impostos. No caminho vimos também algumas plataformas de petróleo, ficamos sabendo pelo motorista que há petróleo em Cuba porém, de baixa qualidade, mas há uma refinaria de petróleo sendo construída na cidade de Cienfuegos, que fará o refino do petróleo venezuelano. Ficamos encantadas com Varadero, a tonalidade do mar, em tons de turquesa belíssimo, da para entender a ficção dos norte-americanos por essa ilha. Antes da Revolução a ilha era o local preferido de férias dos norte-americanos, pela proximidade e beleza e também pela liberdade de uso de jogos, cassinos, prostituição, etc. Quando perderam Cuba construíram Cancun, formada pelo ajuntamento e aterramento de várias ilhotas. Varadero é com-

posto por um complexo hoteleiro de luxo voltado para o turismo externo, bastante procurado pelos brasileiros, além de lindíssimo, a comodidade do sistema all incluso agrada o turista. As redes hoteleiras são compostas em parcerias do Estado Cubano e redes internacionais, o complexo conta com vários hotéis e também um grande Centro de Convenções. Varadero fica na Península de Hicacos , cerca de 22 km de extensão, antes da Revolução grande parte deste território pertencia a um multimilionário que construiu uma mansão, Mansão Xanadu e um campo de golfe para o seu prazer, também era o lugar preferido de Al Capone. A vida noturna também é bastante movimentada em Varadero com várias casas de música, shows, festivais de dan-


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ça, entre outros entretenimentos. A caminho de volta a Habana observamos condomínios modestos, diferente no Brasil que o acesso a beira mar é limitado ao poder aquisitivo. Outro conjunto de sobrados nos chamou a atenção e o motorista nos informou que tratava-se de casas destinadas aos médicos cubanos em missão na Venezuela. Habana considerada pela UNESCO Patrimônio Cultural da Humanidade encanta a preservação dos prédios históricos, do casario do período colonial e dos carros antigos coloridos e muito bem conservados. O Museu da Revolução é um lugar que merece ser visitado, resgata a memória do processo revolucionário as batalhas, com fotos, objetos, carros de combate, e também o YateGranmaum dos ícones da reto-

mada revolucionária em 1956. Há muito museus, cafés e restaurantes super charmosos em Habana, o sistema de turismo também é bem eficiente com ônibus aberto com dois pisos, um bilhete pode ser usado durante todo o dia. Há muita musicalidade e ritmo nos cubanos, muita cor, expressa nas pinturas e obras espalhadas pela cidade. A população desfruta de uma programação cultural intensa, com festivais de todos os tipos. No fim do dia muitos jovens e moradores se encontram no

calçadão a beira mar o famoso “El Malecon”, lugar de ouvir música, paquerar e ver o pôr-do-sol. Outra vista maravilhosa é do Hotel Nacional, um hotel cheio de histórias, assim como o Habana Libre, que serviu como quartel-general da revolução, morada de Fidel Castro por vários anos. Um espetáculo imperdível é ver o Buena Vista Social Club, que se apresenta em um restaurante, além percorrer a feira de artesanato local, com pinturas belíssimas e bastante coloridas. Também visitamos a região de Pi-

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nar del Rio, com paisagens montanhosas e muito verde, conhecemos uma fábrica de aguardente e também uma plantação de tabaco e fabricação de charutos. Esta viagem foi muito significativa e merece retorno, tem muita coisa ainda para ver e explorar em Cuba. Recomendo a quem tiver oportunidade que o faça, importante algumas informações a respeito de Cuba: Cuba é um arquipélago formado por duas grandes ilhas Cuba e Ilha da Juventude e 4.195 ilhotas e ilhas, com uma superfície total de 109.886,19 km2. População pouco mais de 11 milhões de habitantes, caracteriza-se pela mistura de descendentes de espanhóis, africanos, chineses e em menor número por imigrantes franceses, árabes, haitianos, jamaicanos e italianos, entre outros. Antes da Revolução de 1959 a divisão político – administrativa era de 6 províncias (estados) atualmente o país é constituído por 15 províncias (estados) e 168 municípios. O sistema socialista é organizado de forma que haja a participação e todos os cidadãos nas decisões, composto por um parlamento formado pela assembleia nacional, cujos representantes são eleitos nas assembleias provinciais e estes pelas assembleias municipais e o conselho de estado que tem a base das províncias e municípios, a base da estrutura são os conselhos populares. O Partido Comunista é o partido oficial de Cuba atualmente o presidente é Raúl Castro irmão de Fidel. O turismo é dos principais setores da economia cubana, seguido pelo tabaco, o rum, o café, a cana de açúcar. Nos últimos anos a indústria farmacêutica e a biotecnologia, assim como a prestação de serviços especializados em outros

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países nos campos da saúde, da educação, do esporte e da cultura entre outros tem movimentado a economia do país. A educação em Cuba é gratuita e obrigatória até o 9º ano, o país erradicou o analfabetismo em 1961. A população dispõe de educação desde a creche, o ensino primário, secundário, técnico e pré-universitário até os centros universitários disseminados em toda a ilha. Cuba recebe estudantes estrangeiros em vários convênios principalmente na área de saúde que procuram a Escola Latinoamericana de Medicina. Vários congressos são sediados em Cuba na área de educação, saúde, literatura, entre outras. O setor de cultura também é bastante procurado por estrangeiros que buscam a escola de cinema, os festivais de dança, teatro entre outras manifestações culturais. O festival latinoamericano de cinema ocorre em dezembro, completa sua 36ª edição este ano, e tem como objetivo reconhecer e difundir os valores artísticos e a identidade cultural latinoamericanas e caribenhas. Antes de fazer qualquer pré-julgamento sobre Cuba é importante conhecer sua história. A luta pela independência de Cuba teve inicio em 1868 e encerrou em 1898, um dos heróis referenciados neste período foi Jose Marti, poeta, escritor e fundador do Partido Revolucionário Cubano, Marti morreu em combate em 1895. Importante destacar que em 1898 as forças navais norte-americanas de forma oportuna entraram na guerra contra a Espanha e no final Cuba foi passada aos Estados Unidos pelo acordo de Paris. Em 1901 EUA

impõe a emenda Platt inserido na Carta Constitucional de Cuba, que autorizava os EUA a intervir no país a qualquer momento que interesses recíprocos fossem ameaçados. A emenda Platt mantinha Cuba como um “protetorado” estadunidense. Foram eliminadas as forças representativas do movimento libertador cubano e Cuba passou a ser uma nova colônia agora dos EUA, com instalação de base militar. Na década de 1930 aparece Fulgêncio Batista y Zaldivar que presidiu o país de 1952 a 1959 como ditador. Batista tinha apoio diplomático e militar dos Estados Unidos, que o ajudou a conter as forças rebeldes, instaurou um regime tirânico, corrupto e repressor, fez fortuna para si e aliados. Em 1959 o regime foi derrubado pelas forças rebeldes comandadas por Fidel Castro, Che Guevara, Raúl Castro e Camilo Cienfuegos. De lá pra cá ocorreram muitos conflitos contra-revolucionários patrocinados pelos EUA, com sabotagens, ações terroristas, tentativa de invasão, bloqueio comercial, entre outras ações. Segundo relatório da ONU de 2005 o bloqueio já causou um prejuízo de 89 bilhões de dólares a Cuba. Além disso, os EUA mantém base militar na Baia de Guantánamo em Cuba desde 1903, uma área de 116 km2, não há fiscalização no que acontece nesta base, que mantém prisioneiros de guerra e outros conflitos.


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Adiche Por Luciana Paula da Silva de Oliveira (professora de Sociologia no CEP).

Adiche é uma escritora nigeriana e escreveu Hibisco Roxo (2005), Meio Sol Amarelo (2006) e Americanah (2013), ganhadora de diversos prêmios é considerada uma das mais importantes autoras de língua inglesa e está na lista dos vinte autores mais influentes com menos de 40 anos. Começou a escrever enquanto fazia faculdade nos EUA, e seus professores achavam que seus textos não eram suficientemente africanos. Suas experiências enquanto morava entre os americanos, onde era vista como um ser exótico, são o combustível para uma análise ácida e certeira sobre as relações inter-raciais e internacionais. Em Hibisco Roxo conta, num tom de intimidade feminina, a história de uma menina nigeriana e sua família de classe média. No desenrolar da trama entra-se em contato com a cultura local, suas comidas e costumes, bem como o impacto que a colonização europeia trouxe à população. Essa família procura se aproximar da “civilização” evitando falar o idioma ancestral (que é aprendido e falado por todos) e utilizar-se da religião tradicional de sua et-

nia (preservada entre os mais velhos e os mais pobres), preferindo, ao invés disso, o inglês e o catolicismo. Ao fazer isto, laços entre o chefe da família e seu pai são rompidos, a submissão extrema da esposa ao patriarcalismo católico leva às tragédias que ilustram bem a construção e a reconstrução da identidade cultural nigeriana. Os personagens são cheios de humanidade, é possível se colocar no lugar deles e sentir suas dúvidas e suas dores, e sabe-los nigerianos é ter uma sensação de ter vivido lá, um

calor abafado, casas com jardins e hibiscos, terra batida… Já em Meio Sol Amarelo Adiche mistura ficção com realidade ao narrar o processo de independência fracassado de Biafra, uma região da Nigéria habitada pela etnia ibo, com forte presença de petróleo. A violência e a rivalidade entre as etnias desmentem uma certa homogeneidade racial e cultural que muitos imaginam existir em toda África. A personagem principal é uma intelectual nigeriana que estudou fora do país e volta à sua terra natal, vive uma história de amor com um professor universitário em meio a uma guerra civil que os fazem enfrentar a realidade dura das pequenas vilas do interior do país. É um texto intenso e emocional, em que o leitor torna-se um ibo e sente a humilhação dos que são civis numa guerra em que não podem vencer. Seja qual for o livro a maior qualidade da narrativa de Adiche é a sua impressionante capacidade de fazer com que seus leitores sintam-se um pouco nigerianos ao lê-la.

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Centro de Línguas Estrangeiras Modernas

Semana Cultural 2014 Alunos participaram da oficina de leitura em língua inglesa, ofertada pelo CELEM e organizada pelas professoras Susi e Naoeli. O objetivo foi incentivar a leitura e conhecer o acervo da biblioteca do CEP na área. A oficina ofereceu atividades elaboradas para descobrir o título dos livros por meio de suas sinopses, e também palavras cruzadas para serem encontradas em diferentes páginas de cada livro, orientando assim, os alunos a manusearem as obras literárias. “Dessa forma, o aluno busca as informações dirigidas pelas atividades, e, quando termina, intera-se da história de forma geral. As estratégias usadas despertam a curiosidade

e a vontade de ler as obras popr inteiro.” diz Susi Husak, Coordenadora do CELEM/CEPP.

Sobre a liberdade

Emilia Hermsdorff, 15 anos, 1°ano ens. médio, 2014

Parei, e perguntei-me se sou mais livre que alguém que está atrás das grades. Dos quais insistem em chamar de prisão, sem nos dar conta de que também estamos em uma. No rancor, na ira, na falta de perdão, na falta de receber amor, na falta de dar amor. E quando você, que se diz tão livre, o mesmo que não consegue perdoar o

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próximo, amar o próximo e libertar-se de tal sentimento. Na verdade, está tão preso quanto aquele que não consegue abrir a cela e pisar na grama. E libertar-se. Então, não acredito em liberdade neste plano, principalmente pelas coisas imutáveis, a faticidade. Acredito que somos uns mais presos que outros, uns menos presos que outros.


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ALETHEIA Nos ensina Heidegger que “na essência da verdade como do desencobrimento vige uma espécie de luta com o encobrimento e com o retraimento. (...) encobrimento, ao contrário, nós conhecemos, seja porque as próprias coisas e seus contextos se ocultam a nós e para nós, seja porque nós mesmos antecipamos, realizamos e admitimos um encobrimento, seja porque ambos, um encobrir-se das ‘coisas’ e um encobrir-se deste encobrimento ocorrem num jogo mútuo por nosso intermédio”. Mais adiante ele afirma “‘Verdade’ não é jamais, ‘em si’, apreensível por si, mas necessita ser ganha na luta.” Temos então que aletéia significa desencobrimento, desvelamento, no sentido de tirar o véu ou descobrir. Tudo isso Heidegger nos diz quando interpreta o poema de Parmênides, filósofo que viveu aproximadamente em 530 a 460 a.n.e. Nesse poema Parmênides diz que foi até a morada de aletéia, que seria uma deusa, a verdade. Note que não é a deusa “da” verdade, mas “a verdade”

“Parmênides nos relata acerca de uma deusa. O aparecer de um ‘ente divino’ no pensamento de um pensador nos é estranho. Primeiro, simplesmente, porque um pensador não tem a anunciar a mensagem de uma revelação divina, mas traz à fala, em si mesmo, o próprio interrogado. Também, mesmo quando os pensadores pensam sobre ‘o divino’, como acontece em toda ‘metafísica’, este pensar é ( o divino), como Aristóteles diz, um pensar a partir da ‘razão’ e não uma reprodução de sentenças de uma ‘fé’ cúltica e eclesiástica. Em particular, porém, causa estranheza o aparecimento ‘da deusa’ no poema doutrinário de Parmênides pelo motivo de que ela é a deusa ‘Verdade’. Pois ‘a verdade’, como ‘a beleza’, ‘a liberdade’, ‘a justiça’, tem valência para nós como algo ‘universal’. Este universal é extraído do particular e atual, do que é cada vez verdadeiro, justo e belo, e é, então, representado de modo ‘abstrato’, num mero conceito. Fazer ‘da verdade’ uma ‘deusa’, isto significa certamente fazer de uma mera noção de algo, ou seja, do conceito da essência da verdade, uma ‘personalidade’”. Vilma Luiza, professora de filosofia do CEP (texto completo no blog do Projeto Aletheia)

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