4 minute read

A biografia de Alexandre Farto, A.K.A vhills

VHILS IN VENICE, CALIFORNIA

Alexandre Farto Aka Vhils (1987)

Advertisement

Alexandre Farto (a.k.a. Vhils) nasceu em Lisboa em 1987. Cresceu no Seixal, na Margem Sul. Tinha apenas 10 anos quando se interessou pelo graffiti e começou a pintar (mais a sério) na rua com 13 anos. Primeiro nas paredes e mais tarde em comboios, com amigos ou sozinho. Em Portugal e depois um pouco por toda a Europa. Viajava para ir pintar comboios.

Diz que o graffiti lhe deu a base para decidir o seu futuro profissional. Passou da lata de spray para ostencil e mais tarde explorou outras ferramentas e processos.Começou a perceber que o graffiti vive num círculo fechado de pessoas mas que na rua havia grande potencial de comunicação. Já farto de pintar em paredes ilegais, passou para os posters de publicidade. Pintava-os de branco e escavava as camadas de anúncios acumulados. Experimentou voltar às paredes e esculpi-las também. E foi assim que conquistou o mundo.

Desde os 19 anos que vive em Londres, onde tirou um curso de Belas Artes na St. Martin’’s School. Foi lá que começou a ser conhecido, e conseguiu que a sua street art de retratos anónimos em paredes danificadas ou fachadas de casas devolutas lhe valessem o reconhecimento mundial.

Convidaram-no para expor no Cans Festival, evento organizado pelo Banksy e foram surgindo bons convites como a Lazarides Gallery, em Londres e a Studio Cromi, em Itália. Tem trabalhos espalhados em espaços públicos de várias cidades do mundo como Londres, Moscovo, Nova Iorque, Los Angeles, Grottaglie, Bogotá, Medellín e Cali. Por cá, um pouco por todo o lado, Torres Vedras, Porto, Lisboa (por exemplo na Lx Factory ou na Fábrica do Braço de Prata). Normalmente é o Alexandre que escolhe o lugar onde crava a sua arte mas também tem recebido convites para fazer intervenções em vários locais. Acredita que o processo de trabalho é mais importante do que o resultado final e por isso filma todo o processo. “Um dos conceitos fundamentais que exploro reside no ato de destruição enquanto força criativa, um conceito que trouxe do graffiti – um processo de trabalho através da remoção, decomposição ou destruição ligado à sobreposição de camadas históricas e culturais que nos compõem.

Acredito que, de forma simbólica, se removermos algumas destas camadas, deixando outras expostas, podemos trazer ao de cima algo daquilo que deixámos para trás”. Escolhe rostos anónimos baseados em fotografias. Gosta de dar um rosto à cidade e de dar poder a pessoas comuns.

Usa explosivos e martelos pneumáticos para esculpir e dar textura, técnica que tem vindo a desenvolver. Mas não só, também usa lixívia, produtos de limpeza, ácidos corrosivos e café juntamente com os tradicionais sprays, stencils e tintas. A convite da editora holandesa Lebowski publicou o livro Vhils/Alexandre Farto Selected Works 2005-2010, uma compilação dos seus trabalhos em paredes e suportes como metal ou madeira. Recentemente esculpiu numa parede de Berlim um retrato da chanceler alemã Ângela Merkel. É conhecido em todo o mundo como Vhils. Os seus retratos contrastam o novo com o antigo, de forma complexa e ambiciosa mas poética.

Vhils abre um precedente

Enquanto as áreas abandonadas do South Bronx continuavam a testemunhar uma intensa atividade de graffiti, as paredes da cidade de Lisboa foram preenchidas com esculturas em baixo-relevo de Vhils durante os primeiros anos do milénio. E não deixavam nada a desejar ao trabalho dos seus colegas e congêneres norte-americanos da galeria Fashion Moda, inaugurada nos anos 1980 no Bronx. Com alguns resquícios de intervencionismo artístico, caracterizado pela modificação de objetos, ambientes e espaços, Vhils revelou em Scratching the Surface e no London Cans Festival 2008 as suas já famosas imagens riscadas. E aí, certamente, Vhils revolucionou a abordagem tradicional a esta técnica clássica com o seu trabalho sobre a superfície dos edifícios, um ato que foi profundamente influenciado pelas transformações que o crescimento urbano português experimentou durante os anos 80 e 90. Vhils, ciente da reorganização dos espaços da cidade e da fragilidade de algumas fachadas, percorre não só o lado mais “superficial” delas, mas também os seus aspectos estruturais. Por isso gosta de modificar e “destruir” o ambiente, para que os telespectadores fiquem mais conscientes de que a imobilidade dos edifícios e a segurança do ambiente são apenas uma quimera.

Vhils afirma que “ser artista nunca esteve entre os seus planos, nunca foi uma ambição” e que aprendeu na escola de graffiti de rua o que é “disciplina”. A arte transformadora de Vhils, somada a este tipo de enunciados particulares, não só o fizeram destacar-se como uma referência de vanguarda, mas também como alguém comprometido e humano, muito humano. Isso fica demonstrado em seus discursos pelo mundo, onde além de nos fazer refletir sobre o transitório, ele nos remete a uma realidade imediata e, infelizmente, dura. Vhils sabe que sua arte pode ser um instrumento de protesto e uma faca de dois gumes: de um lado, o retrato de pessoas comuns convertidas em ícones do espaço cidadão; de outro, o uso de técnicas arriscadas como explosões e modelagem 3D, que integram sua filosofia de destruição às novas tecnologias.

Obras notáveis de Vhils

Embora Vhils seja conhecido principalmente por seus trabalhos murais, a verdade é que os retratos urbanos são apenas parte de seu catálogo artístico. Fazendo uma resenha das obras mais marcantes e marcantes de Vhils dos últimos tempos, encontramos algumas peças como a Flicker Series de 2016, em formato de videoinstalação com resquícios da Pop Art e da cultura asiática; a série Highlight do mesmo ano em que Vhils cria retratos 3D com espuma e arame montados; a Gleam Series feita de luzes neon, que mais uma vez nos transportam para aquelas ruas das noites japonesas e americanas que têm gosto de Blade Runner e retro-futurismo; ou a Série Diminish e o Palimpsesto, de 2018 e 2019 respectivamente, que funcionam como cartazes publicitários recolhidos diretamente na rua. Das últimas instalações, destaca-se a Overexposure de 2019, que, sem perder a intencionalidade humanística dos habituais retratos Vhils,, ou a Série Gamut 2020, que deixam as mais espetaculares videoinstalações para os olhos e os sentidos.

This article is from: